Apresentador, ator, guionista, humorista, locutor de rádio e atleta amador, Pedro Fernandes acorda todos os dias cedo — ainda que com algum sacrifício —, mas chega sempre ao estúdio da RFM com boa disposição. Com passagem por vários canais e programas de televisão, foi na rádio que assentou arraiais e onde se sente mais realizado.
Estudou Marketing e Publicidade na Escola Superior de Comunicação Social e chegou a trabalhar como designer gráfico. Em que momento se perdeu o designer e ganhou o comunicador?
Trabalhei como designer gráfico numa agência publicitária durante dez anos. Fui conciliando os trabalhos de guionista, ator e apresentador ao mesmo tempo que trabalhava nessa agência. Houve um dia que o meu chefe me confrontou com essa realidade, porque passava mais tempo fora da empresa do que dentro. Percebemos que não dava para continuar e tive de arriscar. Fui um bocado atirado aos tubarões. Tinha muito a ideia do emprego para a vida — aquele ordenado seguro ao fim do mês — e tinha medo de arriscar. Mas acho que foi o melhor que me aconteceu.
Uma das suas primeiras aparições em televisão foi nos programas Zapping e Fenómeno, ambos transmitidos na RTP2. Sentiu-se nervoso ou foi algo natural?
As primeiras vezes que fiz coisas em televisão estava muito nervoso, apesar de não serem em direto — eram sketches gravados. É novidade, estás a ser observado por muitas pessoas, não queres falhar, tens de fazer boa figura para que te convidem mais vezes. Fico sempre nervoso antes de começar, mas são apenas os primeiros dez minutos, depois passa tudo.
“Estou sempre à procura de novidades”
Esteve em vários canais televisivos, como RTP1, RTP2, TVI e SIC. Passou também pela Antena 3 e está na RFM desde 2016. Quais as maiores diferenças que sentiu entre os dois formatos?
A rádio é mais imediata e temos mais proximidade com o público que nos ouve, neste caso, os ouvintes. Na televisão, a relação é muito mais passiva: as pessoas estão apenas como espectadores. Na rádio, as pessoas intervêm e fazem parte de um grupo de amigos que se encontram no Café da Manhã, da RFM.
A sua abordagem continua a passar muito pelo humor. Como é o seu método criativo para construir conteúdos humorísticos?
Depende do conteúdo. Se for uma música, uma entrevista ou uma rubrica, muitas coisas vêm da inspiração do dia a dia, depois fico a pensar ‘isto, se calhar, dava um bom momento na rádio’. Muitas rubricas do Café da Manhã e da RFM surgiram daí. ‘Qual é a música?’, uma rubrica em que tentamos adivinhar o que as crianças estão a cantar, aconteceu porque o meu filho andava a cantar uma música há vários dias e eu e a Rita, a minha mulher, ficávamos a olhar e a pensar: ‘mas que música será esta?’ Então houve um dia em que decidi levar para a rádio. Toquei na rádio e começámos a discutir que música é que seria, os ouvintes começaram a enviar mensagens e assim nasceu. Estou sempre à procura de novidades.
“Gosto muito deste papel de apresentador do Café da Manhã. Dá-me muita liberdade e muito gozo fazê-lo”
Está prestes a completar dez anos na RFM. Qual foi o momento mais marcante desse percurso?
A pandemia. Atravessámos um momento muito complicado. Não foi assim há tanto tempo, mas já passaram cinco anos, na verdade. Lembro-me perfeitamente que, de um dia para o outro, termos de ir todos para casa, mas sabíamos que a rádio não podia parar. As pessoas esperavam continuar a ter aquele “bocado normal” nas suas vidas. Houve um esforço tremendo por parte da equipa da RFM: montaram-se estúdios em casa de cada um. Na altura, éramos cinco no Café da Manhã. Nunca parámos de fazer o programa. Foi um período muito complicado, mas que nos uniu ainda mais enquanto equipa. Foi, até hoje, o episódio que mais me marcou na RFM.
Entre representar, apresentar programas, ser humorista e trabalhar na rádio, qual é o género que mais gosta?
Gosto muito deste papel de apresentador do Café da Manhã. Dá-me muita liberdade e muito gozo fazê-lo.
Fez parte do grupo de apresentadores que, em 2009, estreou o programa 5 Para a Meia-Noite, o qual lhe trouxe o primeiro grande reconhecimento público. Qual foi o momento mais marcante para si nesse projeto?
O que mais me marcou no 5 Para a Meia-Noite foi sermos tão novos no que tocava a fazer televisão. Falhámos muito e fizemos asneiras em direto. O que guardo melhor desse programa foi realmente a oportunidade que tivemos de falhar em direto. Atualmente, querem-se resultados imediatos e, ao primeiro falhanço, as pessoas são logo encostadas a um canto. Pronto, foi a tua hipótese. Falhaste.
“Foi um pouco stressante ser avaliado pelo chef Ljubomir”
Em 2024, participou no Hell ‘s Kitchen, na SIC. Como foi estar do outro lado, como concorrente, e ser avaliado pelo chef Ljubomir Stanisic?
Foi um pouco stressante ser avaliado pelo chef Ljubomir… Havia muita pressão para que os pedidos saíssem a horas. Percebemos que um prato tem vários componentes, tudo tem de sair ao mesmo tempo para ir para a mesa. Quando há uma mesa com três ou quatro pessoas que pedem coisas diferentes, a orquestra tem que ser muito bem gerida por um maestro — seja o chef Ljubomir ou os chefes de equipa. Percebo que tem de haver essa intensidade e pressão, por isso fiquei a admirar ainda mais quem trabalha em restauração. É uma profissão muito dura e as pessoas trabalham muitas horas. Trabalhávamos 12 horas por dia durante as gravações, acabava com dores nas costas enormes. Foi bom enquanto durou, mas já não repetia a experiência.
Entre as suas muitas atividades e aventuras está o triatlo…
Sim. Tenho gostado imenso de dedicar-me ao triatlo. Gosto de ter desafios novos. Já corria há muito tempo e, de repente, os meus amigos desafiaram-me para nadar e pedalar. Tenho mais dois triatlos para fazer este ano, logo vejo se quero continuar ou não, mas há de aparecer outra coisa qualquer, de certeza.
Tudo isso ocupa tempo. Em entrevista ao UALMedia, realizada em 2018, afirmou que era difícil ter mais tempo para a sua família e que os seus filhos começaram a tratá-lo por outro nome, de forma irónica. Atualmente, como tem equilibrado a sua vida pessoal com a profissional?
Vai-se gerindo dia a dia. Tenho de arranjar sempre espaço para a família, mas nem sempre é fácil. Há fases mais difíceis do que outras e com o triatlo ainda mais complicado fica. Aproveito para treinar enquanto eles estão na escola, tento que a partir do horário de saída já esteja livre para ir buscá-los ou estar mais com eles. Não é fácil, mas é sempre conciliável, até agora não acho que tenham razões de queixa. Já sabem o meu nome outra vez, portanto está tudo bem [risos].
Se tivesse de dar um conselho ao Pedro Fernandes no início de carreira, qual seria?
Tinha-lhe dito para não fazer alguns sketches, porque teria vergonha no futuro. Mas acho que acabei por tomar boas decisões, todas as que fui tomando com consciência. Quando tomamos decisões nos caminhos da nossa vida, tomamos sempre com base no conhecimento que temos na altura, portanto, é muito difícil depois mudar de direção. Por isso, dava-lhe só uma palmada nas costas e dizia: ‘faz o que fizeste porque as coisas vão correr bem’.




