Sinopse:
“Na escuridão atrás de mim, ela cheirava a suor, luz do sol e baunilha, e, nessa noite de pouco luar, eu pouco mais podia ver além da sua silhueta, mas, mesmo no escuro, consegui ver-lhe os olhos – esmeraldas intensas. E não era só linda, era também uma brasa.”
Alaska Young. Lindíssima, esperta, divertida, sensual, transtornada… e completamente fascinante. Miles Halter não podia estar mais apaixonado por ela. Mas, quando a tragédia lhe bate à porta, Miles descobre o valor e a dor de viver e amar de modo incondicional.
Nunca mais nada será o mesmo.”
Crítica:
“À Procura de Alaska” foi o primeiro livro escrito por John Green, baseado nas suas próprias experiências durante o ensino secundário. Talvez por isso seja o seu livro mais real e cru – tanto que foi recentemente adaptado para série pela Hulu. Neste livro são expressas as dificuldades do primeiro amor, das influências e da depressão.
Conta a história de Miles, um rapaz estranho que se vê numa nova escola com a qual terá de lidar em conjunto com os colegas Coronel e Takumi, bastante mais corajosos que ele. Metem-se em aventuras e o jovem acaba por conhecer Alaska, por quem se apaixona imediatamente. Pelo menos, assim é escrito, pois Miles é o narrador, e ele próprio pensa amá-la. A verdade é que não sabe nada sobre ela, à exceção de ela gostar de fumar com ele e com os amigos e do seu livro favorito ser “O General no seu Labirinto”. A própria Alaska é um labirinto do qual não sabe sair. Tal como Miles, nunca a chegamos a conhecer realmente. É isso que torna o livro interessante: o mistério de Alaska.
Logo pelas primeiras interações de Miles com ela, percebemos que esta não é uma rapariga exatamente estável. Alaska tem uma depressão, e esta vai piorando ao longo do livro. Diz fumar para morrer e está constantemente a entrar em monólogos sobre o significado da vida, que encantam Miles ainda mais, não se apercebendo da seriedade da situação. Nem Green se apercebe da seriedade da situação, romantizando-a demasiado, se bem que isso pode ser também atribuído ao ponto de vista de Miles, que no final de contas, é uma representação do autor.
Os temas da depressão e do suicídio são tratados de maneira insensível e romantizada. Apesar de serem assim tratados devido ao ponto de vista da personagem principal, o autor deveria ter tido mais cuidado com este tratamento, visto que o público-alvo do livro são os jovens. Transmite a ideia que depressão é parte da personalidade de uma pessoa, que a pode fazer mais ou menos atrativa, em vez de ser retratada como uma doença mental. Tenta passar uma mensagem de esperança com as suas frases marcantes, mas acaba por apenas ser sucedido no que toca a Miles e à sua dor. Quanto a Alaska, nunca conseguimos ver esperança para ela pela forma como está escrita a sua situação. Nunca nos é apresentada uma perspetiva positiva, uma conversa séria sobre a condição dela, uma possibilidade de melhoria. A história está escrita como se existisse apenas uma solução para ela.
Miles, eventualmente, apercebe-se que não conhecia Alaska, e que esta nem pensava nele duas vezes. Via apenas a superfície de rapariga atrativa e misteriosa, que vai a festas e fuma. Nada mais.
Algo que a obra retrata muito bem: o fumo. Apesar de ser um livro juvenil, não mostra o ato de fumar como algo mau, nem como algo bom, apenas como algo que acontece. É uma realidade que existe em adolescente que fumam – pelas mais variadas razões. Green escreve o livro do ponto de vista de um deles, por isso, o fumo é normal. Não faria sentido, do ponto de vista de Miles, estar a dar lições acerca do tema. Por isso, o fumo é mostrado como perigoso, mas natural na nossa sociedade. É pouco saudável, mas é algo da nossa realidade, pelo que seria impossível escrevê-la sem o mencionar.
Miles é um dos personagens mais bem desenvolvidos e complexos escritos por Green. É uma pena este desenvolvimento ser à custa das suas interações com Alaska, que se torna numa ferramenta para avançar a história mais do que numa personagem. Sentimos sempre que ela está distante, tal como sente Miles. A segunda parte do livro, que se foca no crescimento do jovem depois de se aperceber da realidade – que nunca sequer conheceu a rapariga ideal – é a mais interessante e a que nos traz as passagens mais marcantes. Mesmo assim, a razão do seu crescimento volta a ser Alaska. Por muito que não a conheça, ela influencia a sua vida de forma irreversível.
Este livro é um romance solitário: a história de um rapaz e uma ideia, em que apenas ele pode amar e não se apercebe disso. Recomendo a todos os que gostam de histórias de amor, mas querem fugir dos clichés e ler algo mais sério, que retrate o mundo como é. Um livro que nos faz repensar as relações com as pessoas na nossa vida.
Se gostaste de “À Procura de Alaska”, também vais gostar de “As Vantagens de Ser Invisível” de Stephen Chbosky