Sinopse:
“Charlie tem 15 anos e ainda sonha com o primeiro beijo. Tímido, introvertido, não tem qualquer amigo. Acaba de entrar no décimo ano e já conta os dias que lhe faltam para acabar o secundário. Olha à sua volta e sabe que não pertence a nenhum grupo. É apenas um miúdo sensível, com uma inteligência superior à média, dividido entre viver a vida ou fugir dela. Na dúvida, prefere ser invisível, como uma flor no papel de parede, que está lá mas em quem ninguém repara.
Não se vai manter invisível durante muito tempo. Sente a pressão do primeiro encontro, da primeira namorada. Em seu redor há festas, sexo, drogas e um suicídio que o marca para sempre. Mas há também Sam, uma finalista por quem se apaixona perdidamente, e o meio-irmão dela, Pat, que é homossexual, mas ninguém sabe. Os dois vão acolher Charlie, iniciá-lo num mundo de descobertas, guiá-lo ao longo dos misteriosos anos da adolescência.”
Crítica:
A história contada por Stephen Chbosky, já adaptada a filme, é uma história com a qual nos conseguimos relacionar. Passa-se no primeiro ano do secundário de Charlie, um rapaz socialmente inábil que conhece Sam, uma rapariga gentil com opiniões fortes, e o seu irmão Pat, um jovem homossexual e confiante. Sam e Pat ‘adotam’ Charlie quando se apercebem da sua dificuldade em fazer amigos e acabam por, acidentalmente, levá-lo para situações com as quais Charlie não tem capacidade de lidar.
Charlie é arrastado para uma nova vida para a qual apenas olha, sem agir, sem a tentar mudar, completamente passivo. Passivo, mas complexo. Compreendemos a ansiedade de Charlie, o seu medo, a razão de ser como é. Conhecemo-lo através de cartas anónimas que compõem cada “capítulo”, escritas a um amigo desconhecido como um desabafo.
É representada a ansiedade de forma impecável, todas as dificuldades que enfrenta, especialmente como jovem, bem como a pressão do Secundário. Sentimos por Charlie, queremos apoiá-lo, assegurar-lhe que ele irá melhorar. Os amigos à sua volta também compreendem e o carinho que têm por ele acaba por ficar traduzido em nós.
Um dos aspetos mais positivos deste livro é o quão reais são todos os adolescentes que nele participam. Apela a jovens por essa razão: qualquer um conseguir-se-á ver em pelo menos uma das personagens, sem que estas caiam em cliché. Sam não é uma rapariga misteriosa que existe apenas para ser o interesse romântico, ela tem opiniões e age maternalmente para com Charlie; Pat não é o amigo gay estereotípico, mostra conflitos internos complexo e um carinho platónico por Charlie. Todos são únicos, mas comuns.
O livro lida com assuntos sensíveis, como drogas, suicídio, sexo, e homofobia. Pensar-se-ia que por tentar lidar com tudo, não conseguiria lidar com nada, mas Chbosky mostra uma capacidade de desenvolver todos estes temas importantes devidamente e coloca-os naturalmente na história. Isto deve-se à natureza de Charlie – como ele é sempre “arrastado”, acreditamos que se veria nestas situações.
A construção e evolução da personagem Charlie é de louvar. Começa como um rapaz traumatizado, sem amigos, passa por todas as experiências negativas da juventude num só ano, prevalece, aprende que não pode ser apenas “uma flor no papel de parede”, mas tem de participar na sua vida se realmente quer chegar a algum sítio.
Teria sido interessante o autor jogar mais com o conceito das cartas a um remetente mistério, remetente que acaba por nunca ser descoberto pelo leitor talvez para passar a ideia que somos nós o “amigo secreto”, o que nos coloca a ver tudo por fora, tal como Charlie. Acaba por ser apenas uma forma criativa de apresentar a história.
O que realmente nos atrai é o facto de ser sobre adolescentes, mas não estar escrito como se fosse um adulto a contar o que ele crê ser um jovem na atualidade: nunca é apontado o dedo a Charlie por usar drogas ou fazer sexo, nem mesmo quando espanca, num ato de heroísmo súbito, os rapazes homofóbicos que iam atacar Pat. As situações não são apresentadas como boas ou más, apenas como realidades. É uma realidade que são vendidas drogas a jovens e que estes são cativados por mais velhos para as usar. É uma realidade que jovens podem ter depressões e, eventualmente, cometer suicídio. É uma realidade que dois rapazes têm de namorar às escondidas no Secundário pelo enorme preconceito que ainda existe, mesmo entre jovens. Mas o julgamento final é deixado ao leitor. Ficamos a perguntar-nos: “O que faria eu?” A verdade é que a maior parte de nós, tal como Charlie, ficaríamos a olhar, escolhendo ser invisíveis. Mas até Charlie eventualmente tem de agir contra os problemas à sua volta.
É uma história de esperança e de crescimento. Crescemos com Charlie, apercebemo-nos que ninguém pode ser invisível para sempre, todos queremos desesperadamente ser vistos. Recomendo a todos os jovens, especialmente aos introvertidos. Uma leitura que nos faz pensar e querer ser a melhor pessoa que podemos ser.
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