A moda sempre foi um sonho. Aos 24 anos e com um filho de dois, tornou-o realidade com o lançamento da marca Januca. Andreia Nunes é, hoje, uma empreendedora de sucesso com muitos objetivos a concretizar. Considera-se uma lutadora e, enquanto não atinge os seus objetivos, não baixa os braços. Desistir não faz parte dos planos e observa que os comentários negativos a fazem ganhar mais força e que nada a faz parar.
Aos 18 anos, decidiu tirar o curso de cake design e abrir o próprio negócio. Foi uma decisão arriscada ou inevitável dado o seu espírito empreendedor?
Inevitável! Na altura, os meus pais eram empresários e eu estava ao balcão, [o cake design]era algo que era pedido constantemente. Fui investigar o porquê de tanta procura e o que poderia fazer para suprimir as necessidades dos nossos clientes. Os clientes da pastelaria eram os clientes dos meus pais, então, quando decidi abrir a minha empresa de cake design, que era um serviço que os meus pais não tinham, foi mesmo pela procura. Era uma coisa que não poderia ignorar! (risos)
Do mundo dos bolos, passou para o mundo da moda. No entanto, disse, em tom de brincadeira a uma seguidora que, se a sua marca de roupa não desse certo, voltaria ao cake design. Assume que o seu coração se divide entre estas duas paixões?
Exatamente. Se formos a ver, as duas são criativas. Mesmo num bolo, personalizava os bonecos, mesmo que fossem da Disney tinham uns toques de Andreia. As pessoas olhavam para o bolo e sabiam identificar que aquele bolo tinha sido feito por mim. Tanto numa coisa como na outra, consigo ser criativa, consigo passar a minha imagem, portanto, são duas profissões que me vejo a fazer.
Iniciou um curso de moda três meses depois de ter sido mãe, com 22 anos. O que foi mais difícil perante estes dois grandes desafios?
O mais difícil é quando temos que abrir mão do tempo com o nosso filho, para ir atrás de um sonho. Mas, se nos mentalizamos que tudo faz parte da vida, que são ciclos da vida, que é para o bem dele, que não somos apenas mães, mas também mulheres que corremos atrás de um sonho… é mais fácil. Quando definimos bem isso para nós, não é por tirarmos um bocadinho com o nosso filho que vamos ser más mães.
“Nunca nada vai sair 100% correto, é arriscar”
Diz muitas vezes no Instagram que “o maior problema é o medo, o medo do que as pessoas vão achar, o medo de achar que não conseguimos, o estarmos sempre a nos comparar com outros que achamos que são melhores” e que “somos os nossos próprios inimigos”. Isto aplica-se ainda hoje? É, neste momento, uma mulher segura e confiante?
Já não é tão frequente ter esse tipo de pensamentos. Já testei, sei ir para o mercado, percebo a diferença e tenho o feedback das pessoas, a minha confiança vai aumentando. Numa fase inicial de negócio, é normal. Às vezes, não é o estar perfeito, é o ir-se fazendo e depois, sim, chegar ao patamar que queremos. A perfeição não existe. Por muito que tentemos controlar todos os lados, nunca nada vai sair 100% correto, é arriscar. Demorei dois anos a chegar aqui, acho que podia ter encurtado esse tempo.
Pelo que sei, deu o nome do seu filho Jaden Nunes Cavaleiro à marca, Januca. Foi uma homenagem assumida?
Pensei: tenho que escolher um nome de responsabilidade, que não me deixe desistir, nem nos momentos difíceis. Vou entrar como uma marca intermédia, criar o meu valor, mas preciso de uma responsabilidade, um nome que, sempre que acordar, mesmo nos dias difíceis, consiga pensar: “Não Andreia, é o nome do teu filho que está lá, não vais desistir. Levanta-te, vai trabalhar, faz a homenagem que tens de fazer ao menino, porque isto é tudo por ele.” É o que me move, é o nome do meu filho que está ali. Ninguém me vai fazer desistir dos meus objetivos com aquela responsabilidade.
O seu objetivo para 2020 era lançar a marca, abrir a loja ao público e, só depois, lançar o site. A loja está pronta, mas ainda não chegou a abrir ao público porque, entretanto, se deu a pandemia Covid-19. Fez o que não queria e lançou a marca apenas online. Sente que, de certa forma, iniciou o projeto de uma maneira agridoce?
Para a loja, quis o conceito lifestyle, o objetivo é a pessoa conhecer o produto. Queria que primeiro a pessoa conhecesse o conceito e, se quisesse comprar, tinha de vir cá e experienciar esse dia connosco. Depois, sim, lançar o online, já com a experiência dessas meninas. Não foi possível, mas daqui a um mês vou conseguir lançar. Não sinto que tenha sido agridoce, tudo acontece por algum motivo e o universo dá-nos as respostas que precisamos nas alturas certas. Esta vertente do online foi fundamental para a loja, não me arrependo. Todos os conselhos que posso dar a futuros empresários é que não tenham medo do online, nem de mostrar o produto antes das coisas estarem terminadas. Já podia estar a vender há muito tempo, mas tinha receio de começar, o que não se justifica.
“O que fez a diferença foi agir, ir fazendo sempre alguma coisa”
Há uns meses, respondia a uma seguidora que “10 minutos a agir é melhor que 10 anos a sonhar”. Esta frase foi muito partilhada nas redes socias como motivação ao empreendedorismo. Agora que a marca está oficialmente lançada, este continua a ser o seu lema?
Continua e até já estou a entrar noutros projetos. Quando comecei a dizer que queria entrar para moda, diziam-me: “Mas tu achas que agora vais-te meter nisso, o que é que isso tem a ver com a tua profissão? Já viste como é que está o mercado hoje em dia, o que não falta aí são marcas, ainda por cima marcas online.” Lembro-me de aquilo me dar mais força. Todos os dias, mesmo antes de pensar em estudar, ia fazendo alguma coisa para a marca. Nem sabia o que era moda, mas delineava coleções para mim, o que idealizava. O que fez a diferença foi agir, ir fazendo sempre alguma coisa. Arranjei, na altura, uma designer para vir comigo para as fábricas, mas não percebia nada do que os fornecedores falavam com ela, até que disse: “Vou tirar moda! Assim falo a mesma ‘língua’ que eles e as coisas vão ser mais fáceis.” É isso, agir e aprender porque isto é uma constante aprendizagem.
Tem recebido feedback desde o lançamento da marca, inclusive já há caras bem conhecidas a elogiar a sua roupa e a usá-la. O sonho está a ir ao encontro das expectativas ou ainda há muito a melhorar?
Fui a primeira a levá-la à televisão, no Goucha. Depois, com a Helena [Coelho] foi do nada. Tínhamos mandado um e-mail e ela retribuiu a dizer que já ia ser consumidora e que queria trabalhar connosco, adorava a marca. Tinha receio de falar com essas pessoas, pensava: “elas lá vão vestir a minha marca”. Uma coach incentivou-me e ela respondeu logo, até disse que a Cristina Ferreira deu muito bom feedback do fato. As expectativas foram cumpridas, esgotámos todos os artigos. Agora, tenho de produzir rápido, já não temos quase produto. Estávamos a especular pelo menos dois meses para cada coleção e esgotámos tudo no primeiro mês, o que é ótimo. Agora, como ultrapassaste as tuas expectativas, crias outras, porque uma empresária é mesmo assim: vemos oportunidades em todo o lado.
Produzir tudo em Portugal sempre foi opção e é para si o que faz sentido. No entanto, diz que um dos motivos que a levou a criar uma marca foi o facto de não precisar de estar presa a um só lugar. Ambiciona, no futuro, que a marca esteja presente em várias partes do globo?
Temos investidores que querem levar o conceito para fora, assim como está montado. Estamos a averiguar e a montar um modelo de negócio, sim, internacionalmente, claro. Na altura do cake design, estava a viver fora. A fazer bolos, tinha que andar sempre com as máquinas e perdia clientes. Na moda, consigo trabalhar em todo o lado, o computador é a chave que preciso. No negócio é fundamental pensar além. Todas as decisões que tomo é a pensar já lá na frente. Se só pensasse “vou lançar uma loja em Portugal”, não tinha atingido tantas coisas porque não estava a ser tão ambiciosa.
“Nunca foi o meu objetivo crescer tantos nas redes sociais”
Conta com quase 100 mil seguidores no Instagram e é uma pessoa que comunica bastante nessa rede social. Acha que a sua presença assídua nesta plataforma e a maneira como comunica foi uma boa rampa de lançamento da marca?
Foi. Às vezes, não tinha com o que me entreter e gostava ali da presença. Os meus amigos e família criticavam-me, hoje toda a gente me dá os parabéns pelo que criei de forma inconsciente. Foi uma coisa que construí sozinha e, sem dúvida, foi a minha rampa de lançamento! Nunca foi o meu objetivo crescer tanto nas redes sociais, mas agora vou potencializar mais um bocadinho, dar mais conteúdo da marca… porque há interesse. As pessoas, agora, vão ter de se adaptar à nova Andreia, que não tem tempo para as redes sociais. Estou a abrir um canal no Youtube para quem quiser saber mais. Nunca tinha pensado nisso, mas as pessoas estão tristes e a pedir para voltar a criar conteúdo…
Quais foram os maiores desafios e quais as dicas que pode dar a quem, como a Andreia, quer lutar pelos seus sonhos?
O maior desafio foi na comunicação. Nas primeiras 15 fábricas a que fui, não consegui negociar com ninguém. Quando mudei isso, conseguia fechar com toda a gente. No mundo dos negócios, a comunicação tem de ser diferente. Não podemos pensar que ninguém nos está a dar uma oportunidade, nós também estamos a dar uma oportunidade às pessoas, a oportunidade de consumirem o nosso produto, a nossa marca. O que aconselho a uma nova empresária é estruturar tudo e, quando for negociar, já ter tudo fixo, confiante naquilo que está a fazer, porque isso influencia a resposta da outra pessoa. Faz a diferença traçar bem o que vai ser a marca, o propósito e ter um business point bem feito.