Catarina Gouveia, uma jovem, atriz de 27 anos, partilha com o público algumas das suas formas de ver o mundo, os seus objetivos e os seus projetos.
Em criança, sonhava ser arquiteta, mas acabou por tirar uma licenciatura em Psicologia, em Coimbra, e hoje é atriz. As duas primeiras áreas estão excluídas da sua vida? O seu futuro passa só pela representação?
A psicologia nunca estará posta de parte. Da mesma forma que a representação sempre me fascinou, o comportamento humano é uma área da qual nunca me vou conseguir “desligar”. Aliás, de certo modo, há uma relação direta entre a psicologia e a representação ou interpretação de personagens, ou seja, se queremos interpretar, temos que construir, com base no conhecimento de um conjunto de características humanas que compõem a personagem, aí surge a psicologia. Numa perspetiva futura, e sendo, assumidamente, apaixonada pelas duas áreas, gostava de poder conciliar as duas profissões. Já a arquitetura, reconheço que foi uma paixão infantil e que a deixei adormecer em mim.
“A minha mãe teve sorte mas, como filha, também tive sorte com a minha mãe. Sei que, desde muito cedo, houve uma preocupação rigorosa com a minha educação, a todos os níveis”
Já teve oportunidade de trabalhar em televisão, teatro e cinema. Em qual se sente melhor?
Há sempre muitas borboletas na barriga! Ser ator, torna-se apaixonante e até viciante, pelo simples facto de ser tão excitante pisar um palco, mesmo que seja a centésima vez que o façamos. O mesmo se passa na televisão. Há determinadas capacidades que são postas à prova. Como quando surge uma cena acrescentada à última da hora e o nosso tempo de estudo é tão limitado que não podemos racionalizar a cena, temos de vivê-la e de fazê-la na hora. No teatro, são requeridas outras. Não há um “corta”, quando as coisas não correm como o previsto. Portanto, a capacidade de improvisação é treinada. Tal como a concentração, por exemplo. Se tens vontade de te rir, quando o momento é para chorar, tens que lutar contra “ventos e marés” porque há um público ali, de olhos postos em ti. Já em televisão, relaxamos e sabemos que temos a oportunidade de começar tudo de novo. Gosto de tudo o que me desafie e me torne mais competente e profissional.
Entre sessões de autógrafos, reconhecimento do público na rua, produções fotográficas… Como lida com a fama?
De uma forma saudável, harmoniosa e, acima de tudo, equilibrada. Sou muito focada no meu desempenho profissional e acabo por relativizar tudo o que se passa à volta.
Aparentemente, a Catarina é uma pessoa calma, ponderada, paciente. É uma imagem construída como uma personagem ou foi algo que veio com a maturidade? Ou em adolescente também deu muitas dores de cabeça à sua mãe?
De facto, a minha mãe teve sorte mas, como filha, também tive sorte com a minha mãe. Sei que, desde muito cedo, houve uma preocupação rigorosa com a minha educação, a todos os níveis. A minha personalidade é apenas um reflexo da educação que tive. Vivi uma infância feliz, tranquila e sossegada. O mesmo aconteceu com o período da adolescência e, felizmente, prolonga-se até hoje. Sou naturalmente calma e paciente. No entanto, também tenho o outro lado mais desastrado, distraído e impulsivo.
As suas contas nas redes sociais como o Facebook ou o Instagram estão repletas de mensagens positivas. Esta é a Catarina do dia-a-dia? Preocupada com os outros e de bem com a vida?
Sem dúvida! Acho que sou a positividade em pessoa. Costumam dizer que “somos os livros que lemos”. A verdade é que já li tantas coisas sobre a força de uma mente positiva que, inconscientemente, me tornei muito positiva. Deixei-me contaminar, totalmente, por esta filosofia. Não consigo sequer ter uma conversa muito demorada com uma pessoa que perceba que não vê a vida da mesma forma do que eu. Talvez nem o devesse assumir, mas a verdade é esta. Quando percebo que alguém gosta de se vitimizar ou de lamentar a vida, das duas, uma, ou afasto-me ou alerto a pessoa. Faço o que posso para dar a volta a esta perspetiva que, infelizmente, se torna cada vez mais comum. Quando sinto que há pouco recetividade, prefiro afastar-me.
Personagens
Desde Fátima, a sua primeira personagem nos “Morangos com Açúcar”, até à professora Ana na série “Água de Mar”, notou-se o seu amadurecimento. Como atriz, acredito que também tenha mudado. O que mais mudou na Catarina atriz? O à vontade com os atores, a segurança nas expressões, nas falas…?
Em tudo na vida, basta querermos muito para nos tornarmos melhores! Ou melhores pessoas, melhores filhos, melhores amigos, melhores namorados. O mesmo se passa, na nossa área profissional. Tenho em mim, uma vontade muito grande de me tornar cada vez melhor, a nível pessoal, mental, espiritual e, claro, profissional. Esta vontade já existe em mim, há muito tempo. Não me consigo considerar mais segura agora, apesar de ter trabalhado muito nos últimos anos. O iniciar de um novo projecto traz-me sempre a mesma sensação de quando comecei os “Morangos (com Açúcar)”. É incrível. Quando entro na sala para o primeiro ensaio do projecto, sinto as pernas a tremer, a boca seca. Contudo, há sempre uma sede de fazer mais e melhor e fico feliz, se isso faz a diferença da Catarina de há uns anos para a Catarina de agora.
A Beatriz foi a personagem com carga emocionalmente mais pesada. Uma mulher traída pelo marido, pela mãe e impossibilitada de ter filhos. Como trabalha este tipo de personagens? É destes desafios que gosta ou prefere um registo menos pesado?
Não, adoro! Amo de paixão! A Beatriz foi uma personagem que nasceu de forma muito cuidada. Tive muito ensaios, muita preparação, mas quando arranquei como Beatriz, estava tão envolvida que, por mim, passado um ano, nem me apetecia parar. Ela era uma mulher muito mais adulta do que eu. Trabalhar com todas aquelas emoções foi desafiante. Ao mesmo tempo, descobri que é realmente no drama que me sinto bem. Gosto de gerir e tenho muita facilidade em fazê-lo com determinadas emoções, como a tristeza, o medo, a raiva. Consigo ligá-las e desligá-las facilmente, para além do prazer que me dá representá-las.
“Fui-me tornando uma pessoa cada vez mais positiva e termos medo é contrariar essa positividade”
Fátima, Jú, Beatriz, Ana… qual foi a mais desafiante? A que gostou mais de interpretar?
Sem dúvida, a Beatriz. Tenho um carinho muito grande por todas as personagens que tive a honra de interpretar, mas a Beatriz foi a que mais exigiu de mim. Com ela descobri os meus próprios caminhos, enquanto atriz.
Há uns anos, a Catarina e a sua família foram afetados por uma situação pela qual muitos portugueses passam, a falência da empresa familiar. Hoje, o futuro é algo que a preocupa ou tenta não pensar muito nele?
Fui-me tornando uma pessoa cada vez mais positiva e termos medo é contrariar essa positividade. Preocupo-me em viver um dia de cada vez e esforço-me por ser uma pessoa confiante no futuro.
A pergunta da praxe: que conselhos deixa a quem quer ser ator/atriz?
Só nos realizamos quando acreditamos. Este é o melhor conselho que posso dar a quem se propõe realizar os seus sonhos. Juntando à força do acreditar uma boa dose de empenho, disciplina e dedicação.
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Técnicas Redactoriais”, no ano letivo 2014-2015, na Universidade Autónoma de Lisboa.