Foi como “moranguito” que se iniciou na representação e a partir daí não parou. Agora, com 25 anos, o seu futuro perspetiva-se promissor. Hoje, o ator da SIC fala na primeira pessoa sobre a sua vida pessoal e profissional.
A sua família está ligada ao teatro amador, portanto, desde miúdo tem essas vivências. Foi isso que o levou, aos 17 anos, a decidir candidatar-se ao workshop dos “Morangos com Açúcar – série 9” e, assim, iniciar-se no mundo da representação?
Não, não foi. É verdade, a minha família sempre esteve muito ligada ao teatro. Aliás, os meus pais já não, mas os meus tios continuam muito ligados ao teatro amador e sempre vivi com essa realidade muito perto, muito presente na minha vida. Mas longe de pensar que o meu futuro iria passar por aí. Uma das minhas grandes paixões são os animais e sempre achei que ia ser qualquer coisa relacionada com isso. Portanto, completei os estudos até ao 12º ano na área de Ciências. De repente, apareceu essa oportunidade de fazer o casting. Fiz como uma experiência de vida e acabei por ser selecionado. Acabei por perceber que tinha limitações e fragilidades e que ia ter de trabalhar sobre elas. Mas que me via a fazer isto e que me sentia confortável a fazer disto vida. Então, a partir daí, decidi arriscar. Mas, sobretudo, acho que as coisas não acontecem por acaso, ou seja, o facto de eu ter tido esse passado e da minha família ter raízes no teatro amador, de algum modo, me foram transmitidas sem eu saber, sem eu querer, sem eu fazer por isso.
Considerou, no ano de 2016 em declarações à “Caras”, que “o importante é fazermos aquilo que nos faz sentir bem”. O que é que lhe dá mais prazer na vida?
No ano passado, descobri o teatro. Descobri fazer teatro, descobri-me em cima de um palco, descobri o que sentia em cima de um palco. Foi a minha primeira experiência no teatro e foi fantástico! Quando se gosta de representar é o expoente máximo da representação. É tudo ali, tudo com o público, tudo no momento, é sem rede. Está-me a dar muito prazer poder explorar isso! Neste momento, estou a fazer televisão, mas em setembro já tenho um projeto em teatro e outros para o próximo ano. Quero muito explorar o teatro, sinto-me muito bem em cima de um palco. Uns dias corre melhor, outros corre pior, mas até esse risco me fascina e me tem aliciado muito.
“Uns dias corre melhor, outros corre pior, mas até esse risco me fascina e me tem aliciado muito”
Na mesma entrevista, confidenciou ter dito muitas vezes à sua mãe que “deviam vir morar para cá” (Lisboa), para viverem mais próximos de si. Qual o papel da família na sua vida (pessoal e profissional)?
Não nasci em Lisboa, a minha família está toda no centro do país, em Mortágua. Ao início, foi complicada esta mudança. Tinha 17 anos e foi tudo muito rápido. É uma idade em que, ainda, precisas dos teus pais, de um apoio. Por acaso, tive sorte porque vim fazer um projeto em que éramos todos muito jovens. Fomo-nos apoiando sempre muito uns aos outros, dávamo-nos todos muito bem, e facilitou. Mas, pensava muitas vezes se seria mais fácil se tivesse nascido aqui, com certeza que seria. Tudo é uma experiência, são aprendizagens. Tenho uma relação incrível com a minha família e não passo muito tempo sem estar com eles e sem os ver. Fazem-me muitas vezes falta, ainda hoje em dia. Sinto falta e preciso de ir lá a cima [Mortágua] para estar com eles, ou de lhes ligar. É verdade que se não fosse a minha família, o apoio deles, teria sido muito mais complicado fazer o percurso que fiz até aqui. Não foi sempre fácil. Não tive sempre trabalho e estive algum tempo a estudar. Eles foram e são incansáveis, ajudaram-me e ajudam-me muito no que eu preciso, sem dúvida.
Já trabalhou em teatro, cinema e televisão (séries e novelas). Qual o formato em que se sente mais confortável?
Cinema ainda fiz muito pouco, umas participações pontuais. Sinto que no cinema há muito tempo para fazer e estudar cenas e planos. É tudo muito pensado. A televisão é um ginásio! É tudo muito rápido, não tens tempo. Ou vais com o trabalho de casa muito bem feito, ou não tens tempo para pensar. É chegar lá e fazer, umas vezes corre bem, outras menos bem. Esse é o fascínio da televisão, é correr contra o tempo. Aquilo é alucinante! Às vezes, gravamos 20 cenas por dia; muitas das vezes, um filme tem 20 cenas. Não tem 20, mas tem 50 ou 60 cenas. Portanto, o que gravas num dia para uma telenovela, para ficar bem, tens de trabalhar em casa, porque lá não há tempo. Lá não há tempo para trabalhar, há tempo para fazer. Acho que esse é o grande desafio da televisão. O teatro é apaixonante! Porque é sempre diferente. É sempre a mesma coisa, mas é sempre diferente! Todos os dias descobres coisas novas. Estás dois ou três meses a trabalhar num produto, que depois vai estrear, mas em cada espetáculo aperfeiçoas ou percebes uma coisa diferente. Num processo de 5 ou 6 meses, todos os dias sobre a mesma coisa, a perceber coisas novas. Portanto, é explorar uma coisa que à partida está no ponto, e nunca está. Além disso, tens o público contigo. É uma partilha gigante de emoções não só com o público, mas com os teus colegas. Podes fazer um monólogo, mas há sempre partilha, há sempre interações entre ti e o público. É fascinante por isso, nota-se que há ali muita massa humana e isso é muito bom.
“É chegar lá e fazer, umas vezes corre bem outras menos bem. Esse é o fascínio da televisão, é correr contra o tempo”
Atualmente, interpreta Joel, em “Vidas Opostas”, um rapaz pragmático, multifacetado e responsável. Identifica-se com as características da sua personagem?
Nem por isso. Identifico-me com as caraterísticas físicas [risos], mas de resto acho que não. O Joel tem sido uma agradável surpresa. Confesso que no início, quando recebi a sinopse da personagem, fiquei um pouco receoso, pois é uma personagem muito diferente de tudo aquilo que tenho vindo a fazer. Tem uma energia muito própria, com um nervoso miudinho sempre nele, muito interessante. Perguntei-me se estaria à altura de dar corpo, voz e vida a este personagem. Tenho-me divertido imenso, tudo cabe no Joel, tudo é possível. Não há restrições quase nenhumas. É um “puto” muito despachado, é sempre tudo muito possível, e isso é muito giro. E, depois, estou com um núcleo, a Maria João Luís e a Joana Santos que são atrizes brilhantes que me têm ajudado imenso. Não acho muito parecido comigo. Lá está, quando um ator interpreta uma personagem dá-lhe voz e corpo. Depois vai ser sempre o nosso ponto de vista em relação à cena, portanto tem sempre muito de nós, muito de mim. Mas, na prática, não reajo assim. O meu instinto não é reagir como o Joel.
Confessou, em 2014 (“A Vida em 360 Graus”), ser um jovem perfecionista. Alguma vez ficou desiludido com o produto final do seu trabalho?
Orgulho-me de todos os trabalhos que fiz, mas claro que há uns que marcam mais do que outros. Há sempre trabalhos que chegas ao fim e dizes: “sim, era por aqui que queria ir e consegui manter esta linha”. Desiludido nunca fiquei, acho que vi sempre o lado positivo, que é “Okay já percebi o que é que está mal o que é que não resulta, bora lá fazer melhor.” Fui sempre muito por aí.
O reconhecimento do público não lhe traz “grandes aborrecimentos” (“Caras”, 2016). Qual o momento mais caricato por que passou?
As pessoas em Portugal são muito engraçadas, mas em Lisboa não se sente muito isso. As pessoas cruzam-se com pessoas que aparecem na televisão, que fazem cinema ou que são apresentadores, o que quer que seja. Em Lisboa isso é muito recorrente, portanto, as pessoas nem notam. As pessoas em Lisboa nem sequer olham umas para as outras, a verdade é esta. Portanto, não tenho assim grandes histórias. Quando sais de Lisboa, as pessoas são muito engraçadas, porque dificilmente vêm falar contigo, assim abertamente, mas sentes a comentarem. Acham que estão a ser muitos discretas, mas notas que estão a falar. Acho que as pessoas em Portugal não são muito intrusivas e são sempre muito simpáticas, portanto, nunca tive nenhuma história aborrecida. Caricata, assim de repente, também acho que não. Nunca tive grandes stresses.
É ator e modelo. Sente-se realizado a nível profissional?
Não sou modelo! Imagina que tinha feito algumas coisas como ator, mas há não sei quantos anos não trabalho como ator: não sou ator. Não trabalho como modelo, portanto, não posso dizer que sou modelo. Fiz algumas coisas, campanhas mais na parte comercial. Às vezes, as fotos assim mais arrojadas que se possam tirar são para o nosso trabalho, para a nossa divulgação de imagem enquanto atores. Não posso considerar que sejam trabalhos de moda, porque não são. Neste momento, sinto-me muito realizado com o meu trabalho. Tive dois anos, desde que entrei na representação, mais complicados. Pus em causa se seria por aqui [o caminho]. Mas, de há três anos para cá, tenho tido muito boas experiências e sinto-me muito realizado.
“Não sou modelo!”
O que é visto em televisão não é, grande parte das vezes, fruto de uma primeira gravação. Por vezes, ocorrem percalços. Qual o momento mais constrangedor que viveu em gravação de cena?
Sei lá, há tantos. [risos] Ainda na semana passada, quando estávamos a gravar uma cena. O Joel tem aquele sangue sempre a ferver, havia uma cena em que ele dizia para a mãe: “não sei que caraças”. Era o que estava no texto. Saiu-me uma asneira daquelas [risos] inenarráveis, a cena caiu. Estava o estúdio todo a rir-se, estava-me a desmanchar a rir, foi muito engraçado. Depois há sempre situações muito engraçadas, quando alguém está a fazer uma cena numa sala ou numa cozinha, entras em cena e estiveste a rir de outra coisa qualquer. Entras ainda a recordar a outra cena, é sempre muito engraçado. É muito fixe conseguires dar o salto e mudares sem desmanchar. São sempre momentos muito engraçados! Lá está, a televisão é fixe por isso, dá para ter esses momentos em que é possível voltar atrás e brincar com isso. Depois, é voltar atrás e fazer melhor. É engraçado.