Filipe Marques de 23 anos, natural de Amora, Seixal, é uma referência no paratriatlo português na categoria PTS5. O problema no pé esquerdo que lhe provoca perda de força muscular e limita a amplitude do tornozelo não o impediu de conquistar a medalha de bronze no Campeonato da Europa de 2021, em Valência, Espanha. Quando regressou a Portugal, o atleta do Sporting Clube de Portugal venceu a Taça do Mundo de Paratriatlo em Alhandra, a sua primeira vitória internacional.
Sempre gostou de desporto e começou no futebol. Quando era criança, sonhava ser jogador de futebol?
Em criança, sempre vi futebol e era isso que achava que queria fazer no futuro. Comecei a jogar no Seixal Futebol Clube. O meu sonho sempre foi o futebol, nunca pensei no triatlo…
Numa entrevista à Sapo afirmou: “Não fui atrás do triatlo, foi o triatlo que foi ter comigo.” Quando sentiu que o triatlo era uma opção?
Foi quando recebi um convite do meu treinador. Participei nos treinos com a equipa e, ao longo das semanas, vi que gostava do triatlo e comecei a esquecer o futebol. Nessa altura, só pensava no triatlo a nível competitivo, foi mais ou menos quando tinha 11 ou 12 anos.
Porque é que escolheu o paratriatlo e não apenas a natação, modalidade onde se iniciou, o ciclismo ou até o atletismo?
Eu já praticava natação, sempre gostei de andar de bicicleta e de correr, até participei nos corta-matos da escola. A modalidade em que talvez eu esteja numa melhor performance no paratriatlo é a natação, porque tem menos impacto no meu desequilíbrio e na minha limitação. Mas sempre gostei das três modalidades e juntá-las foi algo que queria muito.
Começou no paratriatlo na Associação Naval Amorense e, em 2019, foi para o Sporting Clube de Portugal. Como foi essa mudança?
Foi uma mudança necessária. As coisas não estavam bem no meu antigo clube e surgiu a oportunidade de ir para o Sporting Clube de Portugal. Agarrei-a e fiquei muito feliz, foi uma mudança para melhor. O Sporting acaba por ser um clube com outras capacidades para me apoiar e para me ajudar a evoluir. Comecei a ter outras facilidades para treinar, outro nível de equipamentos e, para além disso, o clube ajuda nas deslocações para as provas. Com esse apoio, consegui evoluir muito e é isso que quero continuar a fazer.
Esteve para deixar a modalidade, mas graças à Federação Paralímpica voltou e está a seguir os seus sonhos. De que forma o paratriatlo mudou a sua vida?
Deixei de treinar durante dois ou três meses até receber o convite da Federação de Paratriatlo para integrar o projeto paralímpico. Foi algo que mudou muito a minha vida, comecei a participar em provas internacionais e a representar Portugal. Depois, ainda recebi apoios financeiros, tanto para a modalidade como para ajudar no pagamento das propinas da faculdade.
“Para além de ter as suas limitações, um atleta paralímpico é capaz de praticar desporto, de se levantar, de ir à luta e de conseguir grandes êxitos a nível do desporto”
Tem conseguido conciliar os treinos com o curso que está a fazer na Faculdade de Motricidade Humana, a Licenciatura em Ciências do Desporto. Quando terminar o curso, pensa seguir algo nessa área e conciliar com o paratriatlo?
Sim. Ainda não sei bem o que vou fazer a seguir, mas quero continuar a minha carreira desportiva e, se conseguir, conciliar com a minha profissão. Se não, quando terminar a minha carreira desportiva, tentarei seguir algo como treinador ou professor na área do desporto.
Como consegue conciliar os estudos com os treinos?
É algo complicado, mas consigo. A faculdade é no Jamor e onde eu faço os meus treinos de natação é exatamente lá, no Complexo de Piscinas do Jamor. A corrida faço de manhã, perto de casa, e as aulas são à tarde. Por isso, consigo conciliar bem.
Em 2018, participou no Campeonato da Europa realizado na Estónia, a sua primeira prova internacional, onde alcançou o sétimo lugar. O que sentiu quando experienciou esta competição?
Estavam lá os melhores da Europa e fiquei muito feliz em ter participado. Fiquei em sétimo lugar mas, para quem estava pela primeira vez numa prova internacional, até foi muito bom o resultado. Deu-me forças para continuar e para conseguir o terceiro lugar nos Campeonatos da Europa, em 2021. Agora, quero continuar a evoluir para chegar ao primeiro lugar.
Depois de conquistar a medalha de bronze no Campeonato da Europa de 2021, em Valência, regressou a Portugal e venceu a Taça do Mundo de Paratriatlo, em Alhandra, Vila Franca de Xira, a sua primeira vitória internacional. Como se sentiu e o que pensou no momento em que passou a meta?
Em relação ao Campeonato da Europa, fiquei muito feliz e um bocado surpreendido. Não achei que estivesse preparado para conseguir fazer melhor do que um quinto lugar, mas no dia senti-me capaz de alcançar o pódio. No momento em que atravessei a meta e soube que tinha ficado em terceiro lugar, fiquei muito feliz, vi que um dos meus principais objetivos, que era ficar no pódio numa grande competição, tinha sido concretizado. O primeiro lugar na Taça do Mundo foi outra grande alegria, por ter sido a minha primeira vitória internacional, ainda por cima em casa, o que é sempre especial e algo que me deu forças para continuar a seguir o meu caminho. Semanas depois, tive o Campeonato do Mundo em Abu-Dhabi, que me motivou muito para esta nova época.
Sente que deveriam existir mais provas de paratriatletismo em Portugal, de forma a que seja mais valorizado?
Sim. Nós somos poucos atletas e é normal que não exista tanta competição a nível nacional. É difícil, mas gostava que a competição fosse maior.
Como é que se pode caracterizar um atleta paralímpico?
É alguém que tem força de vontade e, para além de ter as suas limitações, um atleta paralímpico é capaz de praticar desporto, de se levantar, de ir à luta e de conseguir grandes êxitos a nível do desporto. O Comité Paralímpico está em crescimento, em termos de marketing e de media, e as pessoas estão mais informadas e apoiam mais os paralímpicos.
Qual é o seu maior sonho enquanto atleta paralímpico?
É o mesmo de todos os atletas paralímpicos: chegar aos Jogos Paralímpicos. Neste caso, os próximos são os de Paris, em 2024, e eu não quero só chegar lá, quero tentar um grande resultado e trazer uma medalha. É algo que ambiciono muito e estou a treinar para isso. Em 2024, estarei pronto o suficiente para estar frente a frente com os melhores do mundo. Depois é continuar e ir às próximas competições. Nos Campeonatos da Europa, já consegui uma medalha, mas gostaria de melhorar esse terceiro lugar. No Campeonato do Mundo, também gostaria de receber uma medalha ou mesmo ser campeão do mundo.
Como o sonho comanda a vida, o que ainda tem para conquistar?
Quero ir à luta e conseguir grandes resultados, mas acima de tudo quero ser uma referência mundial no paratriatlo. Ainda estou muito no início e acho que já consegui alcançar algum respeito por parte dos meus adversários, mas ainda não alcancei grandes resultados. É esse o meu foco.