Antiga concorrente do “Ídolos”, vencedora do Festival da Canção 2020, com a música “Medo de Sentir”, Elisa é ainda um nome desconhecido para o grande público, muito por culpa da pandemia, que impossibilitou a sua ida à Eurovisão. Mas esta cantora e compositora madeirense não desistiu nem desanimou, bem pelo contrário. Lançou um álbum de originais, continua a estudar [na Escola Superior de Música em Lisboa] e está a preparar o seu próximo trabalho.
Como é que a música surgiu na sua vida?
Desde sempre que tenho uma conexão muito grande com a música. Os meus pais estavam constantemente a ouvir música em todo o lado, sobretudo Beatles, que é a minha banda favorita e a do meu pai. Era impossível não criar este gosto.
Quando aceitou o convite da compositora Marta Carvalho para ser intérprete no Festival da Canção 2020, alguma vez achou que poderia vencer?
Não, foi uma grande surpresa, era algo que nem nos passava pela cabeça. Aceitámos o convite da RTP por sermos muito fãs do festival e quando uma oportunidade destas surge temos que agarrá-la. Para nós, o mais importante era aproveitar o momento e o facto de ser uma rampa de lançamento. Há muitas pessoas a acompanhar o festival e que ficariam a conhecer o nosso trabalho. Ganhar era a última opção na lista, até porque eu não era conhecida de todo pelo público nacional e a Marta estava no início da carreira, por isso pensámos que as pessoas não levariam tão a sério a nossa participação.
Acabou por não pisar o palco do Festival da Eurovisão, cancelado devido à pandemia. Sentiu-se triste ou injustiçada por não a terem chamado para atuar no ano seguinte?
Triste, sim. Quando uma pessoa pensa em Festival da Canção também pensa na Eurovisão, mas não fiquei de modo algum a sentir-me injustiçada. Acho que o Festival em si já é um evento histórico na música portuguesa e, desde que o Salvador Sobral apareceu e ganhou, começou a haver uma nova base de fãs, sobretudo jovens. Com isto, o interesse pelo mesmo aumentou. Creio que por isso é que não fui como candidata à Eurovisão no ano seguinte, porque iria tirar a vários artistas e compositores a oportunidade de participar neste fantástico evento.
Ainda assim, considera que só o facto de ter vencido o festival lhe abriu portas?
Sem dúvida, eu já era conhecida na Madeira porque cantava em bares e festas, mas não a fazer originais. Nesse aspecto, o Festival da Canção foi a rampa de lançamento para eu começar nesta nova aventura de mostrar a verdadeira Elisa. Claro que as músicas que cantava eram escolhidas por mim e cantava-as porque me identificava com elas, mas quando somos nós a escrever é diferente. O festival foi muito bom para o público madeirense conhecer a nova Elisa e para o público nacional conhecer a Elisa.
Em 2021, lançou o seu primeiro álbum “No meu Canto”. Qual a sua música favorita?
Um dos temas que gosto sempre de cantar é “Na Ilha”. O público torna o momento e a música sempre muito bonita. A ter que escolher uma favorita seria essa, apesar de gostar muito de todas, mas esta é diferente quando a canto — sobretudo quando tenho pessoas da Madeira a ouvirem e a cantarem o tema comigo. É como se estivéssemos ali a partilhar um momento íntimo.
“A minha realidade é o que mais me inspira”
Em quê, ou em quem, é que se inspira para escrever e produzir as suas músicas?
Inspiro-me muito nas minhas vivências, nas coisas que eu já passei e nos meus amigos e família. Diria que sem dúvida a minha realidade é o que mais me inspira.
Aos 17 anos, decide entrar no Conservatório da Madeira para tirar o curso de Jazz, mas mais tarde opta pela Escola Superior de Música de Lisboa, que é onde se encontra a estudar até hoje. Porquê esta escolha? Está a corresponder às suas expectativas?
Fui para o curso de Jazz no Conservatório da Madeira porque ainda não sabia bem o que queria fazer na minha vida. Gostava muito de fazer música, mas para isso é preciso ter bases, e eu não as tinha, apenas cantava em vários sítios. Passei esse ano lá, com o objetivo de as ganhar. Mais tarde, opto por ir para a Escola Superior de Música de Lisboa, porque considero ser um dos melhores locais para aprender, mas não consigo entrar e foi aí que me deu uma revolta e pensei em desistir deste meu sonho. Mas depois lá consigo, ao fazer a audição pela segunda vez. Quanto às minhas expectativas, sabia que iria ser complicado. Estive um ano sem estudar música e a informação que tinha ganho durante o curso de jazz “evaporou-se” da minha cabeça. Além disso, várias coisas aconteceram na minha vida, foi o Festival, lançar um álbum, assinar com a Warner, tudo isso me retirou tempo. Mas está a ser muito bom, todo o conhecimento e as pessoas com quem tenho privado ao longo desta caminhada.
É difícil entrar no mundo da música em Portugal?
Sim, apesar das coisas me terem acontecido muito ao acaso. Fui uma privilegiada. Fui “descoberta” numa jam session em que cantei e tinha a cantora brasileira Tainá a ouvir. Ela gostou muito e disse-me para passar no estúdio onde estava a gravar o seu primeiro álbum. Passei lá, gostaram de me ouvir, e tornei-me artista. No sentido figurado, diria que todos os ramos são complicados, tudo é difícil de se atingir. O mais importante é confiarmos nas nossas capacidades e trabalharmos, porque sem trabalho não vamos chegar a lado nenhum. Temos de estar no sítio certo à hora certa, mas também temos que fazer por isso.
Como se define?
Considero-me uma pessoa abstrata, emotiva e intensa. Sinto que ninguém é apenas uma pessoa, somos várias pessoas, tendo em conta a forma como falamos com os amigos, com a família, como agimos quando estamos sozinhos, e é disso que falo no “Este Meu Jeito” quando digo “ Sou Joana D’Arc/ sou zé ninguém/ sou quem eu for quando eu quiser/ e se incomoda ainda bem/ eu sou assim/ sou como sou/ um palácio inacabado/ um infinito atrás do fim”. Sou apaixonada por tudo o que faço, por todas as pessoas com quem me cruzo e sou muito divertida. Além disso, uma coisa que descobri recentemente, é que apesar de ser emotiva sou extremamente forte.
Está a preparar um novo álbum…
Sim, estou super entusiasmada para que as pessoas ouçam aquilo que ando a compor. Depois do primeiro álbum, pensei que não teria mais ideias para escrever outro, até porque aconteceu numa altura em que passei pelo fim de uma relação que era muito importante para mim. Era como se o mundo estivesse todo a cair e eu não soubesse o que fazer. Muita gente disse que isso era perfeito enquanto cantora, pois é nessas alturas que surge uma maior inspiração, mas não me surgia nada. Comecei a desafiar-me, a estar mais com os meus amigos e a aproveitar todos os momentos e a inspiração lá começou a aparecer. Não a tristeza, mas a felicidade de estar a começar uma nova vida. O novo álbum baseia-se muito nisso, no crescimento pessoal. E não será tão melancólico, mas algo feliz, onde se vai notar um crescimento da Elisa enquanto artista e pessoa.
Considera-se uma pessoa realizada a nível pessoal e profissional?
Ainda não. Falta muita coisa para me sentir realizada… sou muito nova e ainda tenho um longo percurso pela frente. Quero lançar mais álbuns, músicas, dar mais concertos, viver muitos amores na minha vida, conhecer outras pessoas, viajar imenso, conseguir viver só da música e não ter de pedir ajuda monetária aos meus pais. Estou muito feliz e orgulhosa com o que atingi até agora, mas sei que ainda preciso de fazer muitas outras coisas.