Realizado por David Fincher, “A Rede Social” é um dramático filme baseado no livro “Milionários Acidentais”, de Ben Mezrich. Adaptado ao cinema por Aaron Sorkin, este filme conta a história da criação do Facebook e a sua polémica. Vencedor de 170 prémios, segundo dados do Imdb, esta obra é, sem sombra de dúvida, dos mais bem realizados filmes de Fincher.
Harvard,Outono de 2003. Após o final de um relacionamento amoroso, Mark Zuckenberg (Jesse Eisenberg), angustiado, insulta e ridiculiza a sua ex-namorada Erica Albright (Rooney Mara) num blogue. Entre bebidas alcoólicas e no meio desta angústia, após ouvir uma ideia do seu companheiro de quarto, decide criar o site “FaceMash” que compara raparigas pela sua aparência e poder de atração. O site torna-se viral e leva a que o servidor da internet da universidade vá abaixo. Este facto motiva uma ida à administração, com base em dois assuntos: a criação deste polémico projeto e o roubo de dados para utilização no mesmo. Apesar da subsequente suspensão académica e da sua má fama junto do universo feminino, a malfeitora (mas habilidosa) ação leva a que seja abordado pelos irmãos Tyler e Cameron Winklevoss (Armie Hammer) e por Divya Narendra (Max Minghella), que lhe pedem para ser programador de uma rede social exclusiva para estudantes de Harvard, a “Harvard Connection”. Mark inicialmente aceita fazer parte do projecto, mas opta mais tarde e com o financiamento do seu melhor amigo, Eduardo Saverin (Andrew Garfield), por tomar vantagem e aproveitar a ideia: concebe, então, o “Thefacebook”. Envolto em polémica, a criação do hoje conhecido simplesmente como Facebook viria a ser alvo de um processo em tribunal, de Mark contra os irmãos Winklevoss e Narendra. Em causa estava a propriedade intelectual da ideia e um caso de traição, que opõe Mark ao seu melhor amigo, Eduardo Saverin.
Com uma realização de excelência que poucos conseguem alcançar, David Fincher oferece-nos mais uma vez uma grande obra, muito por conta do grande argumento (vencedor do Óscar de Melhor Argumento Adaptado) que Aaron Sorkin lhe fornece. Os diálogos (principalmente o primeiro) são sempre precisos e nunca aborrecidos, a narrativa alternando entre os planos da conceção do Facebook e os depoimentos dos casos judiciais muito eficaz; a banda sonora e o trabalho de som a marcarem o ritmo e a criarem bem o ambiente; a fotografia de Cronenweth fiel à estética escura de Fincher e com bons enquadramentos e movimentos de câmera; a montagem muito bem conseguida. Tecnicamente, é um filme bem conseguido ao potencializar a história e vê-se bem o reflexo da colaboração entre os diversos profissionais neste processo. É um filme à Fincher e que espelha bem que é da sua autoria.
As atuações também são boas. Jesse Eisenberg consegue dar carisma à sua personagem (Mark) e faz passar o que, na base, é a sua imagem de marca. O traço identificativo do ator (o falar rápido), ao contrário do que acontece em outros projectos menos bem conseguidos, neste filme consegue ser importante na imagem da personagem: a imagem de uma pessoa sarcástica, arrogante e, mais do que tudo, um autêntico “cretino”, engraçado de se ver por toda essa pretensão. Mark é, sobretudo, alguém que não se importa de destruir uma amizade em prol da criação do Facebook e isto leva a que questionemos o seu caratér – por exemplo quando uma associada da advogada representante de Mark (Rashida Jones), hipoteticamente, revela uma pergunta que podia levar aos jurados (caso fosse a tribunal) de forma a criar dúvidas. Este diálogo consegue, de facto, criar um efeito de dúvida no espectador: será que Mark está (ou não) por detrás dessas ações, dúvida que apenas acontece porque conhecemos o seu caráter.
Andrew Garfield também consegue representar bem a sua personagem, Eduardo, alguém que, por entre toda a dificuldade que é lidar com Mark, consegue, ainda assim, ser o seu melhor amigo (ou, aliás, ex-melhor amigo). Esta relação de amizade é destruída em parte pela entrada em cena do “paranóico” e “imprevisível” Sean Parker (Justin Timberlake), que agita em muito a divergência dos dois, e pela inveja que Mark tem de Eduardo, por este ter entrado num clube social universitário. A machadada final na relação é o clímax da imagem de Mark criada ao longo do filme e a última frase um grande reflexo disso.
Armie Hammer também consegue ter uma boa atuação no papel dos irmãos Winklevoss (ressalva para o CGI utilizado), personagens que processam Mark por roubo e usurpação de ideias. O diálogo entre os Winklevoss e o reitor da universidade, acerca da conduta de Mark e do potencial da ideia, é também muito preciso. As atrizes Rooney Mara e Rashida Jones também conseguem cumprir o trabalho que lhes é dado, tão bem como os restantes atores.
“A Rede Social” conta a história de como o Facebook se tornou uma das mais revolucionárias ideias da nossa (pós)modernidade. Mas, mais do que isso, é a dramatização da polémica em torno da sua criação, e que passa por uma amizade destruída e pela emergência de inimigos. É um filme que é bem conseguido pelo grande cineasta que é David Fincher, que sabe adaptar da forma certa o que está no papel para o ecrã. Será a sua melhor obra? É dificil de dizer, depois da realização de grandes filmes como “Sete Pecados Mortais”, “Clube de Combate”, “Zodiac” ou “Em Parte Incerta”. Talvez o mais adequado seja dizer que este é mais um grande filme no conjunto da (enorme) filmografia do realizador.