Nascido em 1986, em Sintra, Pedro Taborda — mais conhecido por Tatanka — é músico, compositor e pai. Um percurso de quase 30 anos que se divide entre os The Black Mamba e a sua carreira a solo.
Pedro Taborda, vou começar pela pergunta que muitas pessoas se colocarão… porquê Tatanka?
Há muitos anos, um amigo começou a chamar-me Tatanka e nunca percebi muito bem porquê. Na altura, não gostava muito que me tratasse dessa forma. Apesar de demonstrar o meu desagrado, a alcunha foi ficando, ao ponto de todos, em Sintra, me tratarem dessa forma. Hoje agradeço-lhe, porque é um nome artístico.
Como é que a música entra na sua vida?
Foi através dos meus pais. Eles gostavam muito de música e havia sempre alguém a tocar ou a ouvir e rapidamente pensei: “tenho que aproximar-me mais disto”. Curioso, comecei logo a querer saber como se tocavam os instrumentos todos. O meu pai tocava e toca guitarra e passou-me esse gosto. Foi ele que me ensinou as primeiras coisas. Mais tarde, entrei numa escola de música e foi lá que dei o primeiro concerto, com dez anos. Mais ou menos com 16 ou 17 anos comecei a tocar reggae com os meus amigos e desde então nunca mais parei.
Entre 2010 e 2011 a sua vida muda por completo. Torna-se vocalista, muda-se para Lisboa e os The Black Mamba transformam-se numa banda de sucesso, dando cerca de 260 concertos nesse ano. Como caracteriza esta mudança?
Começámos por ser uma banda que tocava versões de outros artistas. Tínhamos que tocar durante duas a três horas por noite e rapidamente crescemos. Enquanto tocávamos em bares eu já tinha outros projetos simultaneamente. Em 2011, acabei por fazer cerca de 300 concertos, dos quais os The Black Mamba representaram grande parte, algo que me deixou extremamente desgastado. Percebi que não era aquele caminho que nós queríamos e decidi dizer-lhes: “eu tenho músicas, vamos gravá-las”. Surge, então, o nosso primeiro disco — que começámos a gravar no fim de 2011 e lançámos em maio de 2012.
Continua dividido entre os projetos a solo e os The Black Mamba. Como é conciliar ambos?
Infelizmente, ninguém consegue estar em dois sítios ao mesmo tempo. Desde que ganhámos, em 2021, o Festival da Canção, temos estado a gravar o novo disco e a priorizar a banda. Posteriormente, focar-me-ei no meu projeto a solo. Apesar de ser difícil, uma coisa não invalida a outra, porque acabamos por conseguir manter os dois.
“A solo canto só em português e com a banda só cantamos em inglês”
Em algum momento sentiu que não era compatível?
Não, porque são projetos muito diferentes. A língua é a linha principal que os divide. A solo canto só em português e com a banda só cantamos em inglês. O estilo de música é muito diferente. No meu projeto é muito mais singer songwriter, anglo-saxónico e no outro é mais soul, funk, blues e rock and roll. Na verdade, estas diferenças, são o que me faz sentir bem e acabam por se complementar.
“Love is on my side” foi a música que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção 2021. De onde surgiu a inspiração para compor esta música?
A inspiração veio de Amesterdão, em 2018, quando passámos por lá em digressão. Surgiu através de uma história de vida de uma ex-prostituta, que tinha fugido do seu país, em busca de liberdade, mas acabou por correr tudo ao contrário. A mulher, mesmo assim, ainda achou que tinha tido amor e que tinha valido a pena. Com isto, escrevi a música “Love is on my side”. Ironicamente acabou por ser na Holanda, quando lá fomos representar Portugal, que a música se tornou conhecida pelo mundo inteiro. Com a Eurovisão, ganhámos muitos fãs holandeses, pois as pessoas tomaram conhecimento desta história e identificam-se bastante com ela. É, inclusive, o segundo país do mundo que mais nos ouve no Spotify. Esta música acaba por ser um marco histórico, porque, apesar de termos muito público, não éramos uma banda de mainstream e esta acabou por ser um ponto de viragem. Abriu-nos várias portas.
Tem uma carreira com mais de 25 anos. As referências ainda são as mesmas de antes?
Vão aparecendo novas referências. A base continua a ser aquela que os meus pais me passaram, que foram, para mim, os anos dourados. Na altura, começou pelos The Doors, Jim Morrison, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Bob Marley e muitos mais. Ao longo do tempo, os meus gostos foram-se moldando, mas algumas das minhas referências continuam a ser as minhas maiores inspirações artísticas. Mais tarde, quando fui viver para Lisboa, comecei a descobrir o estilo funk e soul, como os Sly and The Family Stone, James Brown, Stevie Wonder, Donny Hathway e Otis Redding.
Depois de ter sido pai pela primeira vez houve alterações ou sentiu dificuldades enquanto compositor? Teve implicações no processo criativo?
Dificuldade não houve, as coisas apenas mudaram. Quando se forma uma família, tem que se mudar de forma instintiva, porque começas a ter pessoas a depender de ti. De um momento para o outro, tens que parar e passar a ser muito mais altruísta do que egocêntrico nesta maneira de estar na vida. Na verdade, isso acaba por ser inspirador e ajudou a compor algumas das melhores músicas que já escrevi, na minha opinião, vale o que vale. Antigamente, tinha um modo de estar muito boémio, era viver o hoje e o amanhã “logo se vê” e de um dia para o outro tive que começar a programar a vida para daqui a dez anos ou 15 anos, porque tenho, neste momento, quase três pessoas a depender de mim. Não encarei a paternidade como só mais uma da minha vida, tal como outra qualquer. Veio e tive que saber abraçá-la e tirar a inspiração daí.
Como se imagina daqui a 20 anos? Onde gostaria que a sua música chegasse?
Eu tenho um sonho desde que formámos os The Black Mamba, que é tornarmo-nos numa banda de sucesso internacional. O festival da canção acabou por ser uma rampa de lançamento. Acabámos por ter a sorte de passar e de poder mostrar as nossas músicas a milhões de pessoas. Esta é uma das coisas em que ambiciono ver-me daqui a 20 anos. Quero provar, ainda, que os portugueses também conseguem ter sucesso lá fora, a fazer música anglo-saxónica.