O Estádio José de Alvalade recebeu o encontro entre o Sporting e o Dumiense (do quarto escalão do futebol português), a contar para a Taça de Portugal. Uma partida que terminou numa previsível goleada de 8-0 para a equipa da casa, mas que não apaga a boa imagem deixada pelos jogadores e adeptos da equipa oriunda do concelho de Braga.
Numa tarde fria de domingo, o Sporting recebe em casa o Dumiense num jogo a contar para os dezasseis avos de final da Taça de Portugal. A equipa vencedora passa aos oitavos de final da prova rainha e pode continuar a sonhar com a final no Jamor. “O meu filho veio hoje porque tenho a certeza que o Sporting vai ganhar [risos]”, afirma Daniel Silva, adepto do Sporting que levou o filho ao estádio pela primeira vez.
Por muito ansiosos que estejam, os adeptos leoninos não prescindem da habitual ida às rulotes. Para muitos é o chamado ‘pré-jogo’. O relógio marca 16:00h, duas horas antes do jogo começar, os adeptos reúnem-se junto ao Jardim do Campo Grande pois é lá que se aquecem as vozes e sacia a fome. Está tudo alinhado para que seja uma excelente tarde, sorrisos, gargalhadas e brincadeiras entre os mais novos. Os mais velhos vão brindando, como já é costume, com uma cerveja. Para acompanhar não podia faltar a tradicional bifana.
Olha-se em volta e o ambiente caloroso é notório. Algumas tochas de fumo verde acesas, amigos e familiares à conversa e alguns entoam cânticos alusivos ao clube verde e branco. É um ambiente que transpira futebol. “É um momento pelo qual uma pessoa espera a semana inteira, duas horinhas antes do jogo, é um momento agradável”, revela Francisco Melo que se faz acompanhar com mais dois amigos, João Fernandes e Dinis Costa.
O grupo de amigos encontra-se sempre na rulote Parybeb antes e após o jogo em Alvalade. João Fernandes declara que esta é mesmo a parte mais importante. “O jogo é secundário. É o que temos sempre, o bónus. Se der, depois do jogo ainda vimos.” Mesmo numa tarde fria os adeptos deslocam-se para o estádio para ver o seu clube e o João é um de muitos. “O Sporting e o convívio são o que me fazem sair de casa”, acrescenta.
A entrada para o estádio José de Alvalade
Todas as pessoas fazem-se acompanhar de uma camisola ou de um cachecol referente ao clube e oportunidades não faltam para comprar um aos vendedores de rua que gritam: “olha o cachecol a cinco euros, cinco euros!” Alguns sportinguistas ainda aproveitam a Black Friday para fazer compras na loja verde. Nas imediações do estádio, encontramos uma senhora de idade que em todos os jogos é vista a tocar numa melódica a música “My Way” de Frank Sinatra, essa que é tão querida pelos adeptos.
Já na fila para entrar são discutidos o 11 inicial e as opções do treinador. “Ele hoje tem é de apostar nos miúdos”, refere Diogo Silva, adepto assíduo do clube. Depois de passar pela revista dos seguranças, está na altura de validar o bilhete no torniquete e avançar para a sua posição, a bancada.
Ao entrar, vemos a bancada cheia de famílias, as crianças fazem com que esbocemos um sorriso por tão contentes e ansiosas que estão. Tiago Borges veio de Évora e trouxe pela primeira vez o filho ao estádio. “É uma emoção grande, ele está ansioso e eu também estou um bocadinho.”
A festa da taça proporciona a aproximação das famílias ao futebol e a família Borges é um exemplo disso mesmo. O avô, o pai e o filho, três gerações de uma família que hoje se juntam por um amor em comum, o Sporting Clube de Portugal.
Conversa de bancada
Um quarto de hora para começar o jogo e a bancada vai ficando cada vez mais composta. Ainda entram pessoas e elas que se apressem porque está na altura de cantar a Marcha do Sporting. “Rapaziada, ouçam bem o que eu lhes digo e gritem todos comigo: Viva ao Sporting!” cantam os adeptos em uníssono enquanto as três equipas entram em campo. Tudo a postos para começar o jogo, mas antes, o speaker do estádio diz “sportinguistas é a altura do nosso Mundo sabe que esses cachecóis bem lá em cima!” Dito isto, todas as pessoas nas bancadas estão de pé, de cachecol bem erguido para juntas cantarem o seu amor pelo clube da casa e dar tudo o que têm para que os jogadores sintam a alma da bancada.
O árbitro Bruno Costa apita e começa o jogo no Estádio José Alvalade, a claque do Dumiense veio em força e puxam pela equipa ao cantar com toda a força que têm. A claque do Sporting não fica atrás. A ‘curva belíssima’ empurra a equipa verde e branca para a frente e mostram porque é que não ficaram em casa.
Noite fria? Chuva de golos em Alvalade
O primeiro golo vem pintado de verde e branco, aos oito minutos, na sequência de um canto. Luís Neto aponta não só aquele que é o primeiro golo da partida (de cabeça), mas também o seu primeiro pelo clube leonino. Aos 28 minutos, os cachecóis verdes e brancos voltam a abanar e desta vez o culpado é Paulinho. O avançado do Sporting faz o segundo dos leões e os sportinguistas levantam-se para festejar e cantar a famosa música: “Se o Paulinho mostra os dentes, eles até caem.”
Com o fim da primeira parte, veio a altura dos adeptos trocarem ideias sobre o jogo e tirarem fotografias. Há até quem aproveite para jantar no estádio.
É um domingo frio e hoje a chuva foi de golos! Na segunda parte, os jogadores comandados por Rubén Amorim deram um recital onde marcaram mais seis golos à equipa do Dumiense. Os sportinguistas não se fartaram de comemorar. Com dois golos de Paulinho, um de Francisco Trincão, um do capitão Coates e outro de Nuno Santos de penálti, o Sporting entra no minuto 80 com uma vantagem de sete golos. O último golo foi marcado por Viktor Gyökeres, que entrou aos 62 minutos com uma grande euforia vinda das bancadas. O avançado sueco é bastante acarinhado pelos adeptos. “É uma máquina” e “ninguém o pára” são comentários que exprimem o prazer e alegria entre os leões.
Ouve-se o apito do árbitro em Alvalade que indica o fim do encontro, o Sporting vence o Dumiense por 8-0 e os jogadores são aplaudidos pelas respetivas claques.
Os jogadores do Dumiense caíram, mas caíram de pé. 18 mil adeptos do Sporting mostram o seu fair-play e aplaudem de pé a equipa adversária que, apesar da derrota, sai satisfeita de Alvalade por ter feito parte de uma bonita noite de futebol. A claque da equipa bracarense nunca parou de apoiar durante os 90 minutos e mostra o seu orgulho pela prestação do Dumiense na prova rainha.
A festa continua
A caminho das rulotes, os sportinguistas cantam a tão conhecida música “Dia de Jogo”. É lá que se comemora a vitória dos ‘leões’. Já nas rulotes, um grupo de três crianças grita efusivamente o nome de Sebastián Coates e de Viktor Gyökeres — o capitão e a estrela do clube são certamente os favoritos dos mais novos. Enquanto comem a célebre bifana, discutem os lances do jogo e falam sobre os temas atuais do desporto. “Viste o golo do Garnacho? É golo para ganhar o Puskás”, afirma Diogo Silva.
Seja nacional ou internacional, o futebol é o tema de conversa entre as centenas de pessoas que se reúnem depois da partida para conviver com os amigos ou em família. Dinis Costa, admite que “é muito bom e gratificante, estarmos todos aqui unidos em prol do Sporting Clube de Portugal”. Os sorrisos são evidentes e há uma razão para assim ser: os leões saíram de barriga cheia.