Apresentadora da RTP e uma das personalidades mais carismáticas da televisão portuguesa, Sílvia Alberto está de volta à antena com mais uma edição do Got Talent Portugal. Nesta entrevista recorda os passos de uma carreira que começou com apenas 19 anos, no Clube Disney, e reflete sobre o (novo) mundo do entretenimento.
É licenciada em Dramaturgia pela Escola Superior de Teatro e Cinema, mas seguiu um caminho bastante distinto. De que forma é que a televisão e o entretenimento surgiram na sua vida?
Fiz o secundário na área das Artes e praticava teatro amador. A partir daí, decidi seguir esse caminho na faculdade mas, ao contrário do que se pensa, não me formei como atriz, e sim como dramaturgista. A minha família era de classe média baixa e fazia-me falta ganhar algum dinheiro extra. Tinha uma amiga que era fotógrafa, que na altura já pertencia a uma agência, e que me ia puxando para castings. Com 15 anos, participei no programa Alta Voltagem e o prémio dava direito a um curso de formação como manequim e um contrato de agenciamento pela Central Models, o que, efetivamente, me abriu portas para começar a trabalhar na televisão e entrar no mundo do entretenimento.
Ao longo da sua carreira, tem estado à frente de uma série de projetos que marcaram a televisão portuguesa. De que forma os primeiros desafios ajudaram a moldar o seu percurso profissional até aos grandes projetos em que está envolvida até hoje?
Sem dúvida, a grande aprendizagem foi no Clube Disney, onde tudo começou. Tive excelentes mentores na realização que me ensinaram o básico: como posicionar o rosto, o queixo, como encarar a luz, a distância do microfone, o ângulo em relação à câmara e até como apontar para a outra pessoa. Comecei na RTP, lá está, no Clube Disney, passei depois pela SIC, onde apresentei o programa Ídolos. Já de volta à RTP, estive com o Dança Comigo, Operação Triunfo, MasterChef, TopChef, Festival da Canção, Festival Eurovisão e, mais tarde, abracei o Got Talent. Já estou há mais de oito edições no Got Talent e, neste momento, estamos em gravações da edição 2025.
“Apresento dois ou três projetos por ano e depois desapareço. Talvez isso faça com que não haja assim tanto cansaço da minha imagem”
A televisão é um meio altamente competitivo e em constante mudança. Como é que tem conseguido manter uma carreira tão sólida e duradoura, num ambiente onde muitas carreiras são efémeras?
Creio que, quando falas comigo, estás perante um caso paradigmático, no sentido em que eu comecei a fazer televisão com 19 anos e, aos 43, ainda não desapareci do ecrã. A pergunta é: por que é que isso acontece? Na minha teoria, isso acontece porque tenho entrado em projetos fortes e especiais na televisão portuguesa e esses projetos foram espaçados no tempo. Quero com isto dizer que há projetos em que o público aceita com facilidade ver o mesmo rosto — por exemplo, as manhãs eram sempre apresentadas pelo Goucha e pela Cristina e o público mantinha-se fiel, sem grandes transições — mas, para uma apresentadora de horário nobre, é mais complicado estar constantemente no ar sem que o público não comece a sentir um certo cansaço, com a sensação de “lá vem ela outra vez’, ‘outra vez o mesmo rosto’. Talvez isso não tenha acontecido no meu caso, felizmente, porque não estive sempre no ar. Apresento dois ou três projetos por ano e depois desapareço. Talvez isso faça com que não haja assim tanto cansaço da minha imagem com o público. Tudo o que é de mais cansa (risos). E depois acho que é preciso trabalhar a tua sorte: pode haver talento, mas há pessoas que ocupam lugares durante um curto espaço de tempo e depois desaparecem. Outros, que com consistência, vão-se afirmando no terreno e ficam. A realidade é que é um meio altamente competitivo e muito pequeno. É crucial gerir bem a forma como nos posicionamos.
Ao longo da sua carreira, tem notado algum impacto na televisão devido ao surgimento de novas formas de entretenimento como o TikTok?
Não acredito que as redes sociais acabem com a televisão, mas acredito que a televisão, como eu a conheci — e não como tu a conheces — vai deixar de existir. Mas a evolução dos tempos não significa o fim do meio: é apenas a sua transformação. Nasci nos anos 80 e cresci nos anos 90, onde o telejornal era obrigatório pois reunia as famílias à mesa. De manhã, tinha de acordar à hora certa para ver os meus desenhos animados. Se tivesse de fazer uma pausa para o pequeno-almoço ou para ir à casa de banho, ficava muito chateada porque sabia que não ia conseguir ver o meu episódio. A evolução dos tempos fez com que, hoje, as coisas fossem radicalmente diferentes. Já não me vejo a sentar-me à frente da televisão como me sentia antes, aliás, não me sento com os meus filhos a ver televisão como os meus pais se sentavam comigo. Atualmente, procuro o programa que quero ver em canais como Netflix ou Disney+. Ainda existem alguns acontecimentos nacionais que tentamos ver todos ao mesmo tempo, tal como existem alguns programas pontuais que reúnem a nação, mas são muito raros. Fora isso, cada um escolhe, dentro da enorme diversidade de programação, o que quer ver. Canais como a RTP1, canais de serviço público, vão continuar a existir enquanto houver uma população envelhecida, como a nossa, que segue os horários tradicionais e que precisa dessa companhia. Já a população mais jovem, como a tua, consome conteúdo de uma maneira completamente diferente.
Considera que, na área da comunicação, a presença nas redes sociais é uma exigência constante ou consegue gerir a sua imagem de forma mais estratégica e equilibrada?
Não considero que todos nós tenhamos de ser influencers. No meu caso, como trabalho na área da comunicação, sinto-me na obrigação de ter uma página para divulgar o meu trabalho, como uma forma de marcar a minha existência, quase como um currículo digital, mas não sinto que a minha vida seja de alguma forma beneficiada por publicar o que faço no meu dia-a-dia. No meu caso, é muito difícil estar nas redes sociais de forma natural, como se fosse uma extensão do meu braço. O meu telemóvel não é uma extensão do meu corpo e, muitas das vezes, tenho-o desligado. Tento usá-lo e não ficar ausente sabendo que a tua geração e as mais novas estão constantemente na internet, e que é para aí que caminhamos, mas, para mim, é um exercício difícil e esforçado.
“É muito importante ter foco e saber onde queremos chegar”
Sente que, pelo fato de sermos um país pequeno, o alcance de alguns projetos televisivos acaba por ser mais limitado?
Portugal é um país pequeno e quando se pensa em implementar um projeto, a dimensão que esse projeto pode atingir está limitada ao país e ao público potencial que se pode alcançar. É muito diferente estar, por exemplo, nos Estados Unidos ou até aqui ao lado em Espanha, e projetar algo com a ideia de que o público poderá ser de 50 milhões de pessoas. Em Portugal, no horário nobre de uma televisão privada, grande parte do público que se pode alcançar é de 1 milhão e 600 mil pessoas. As redes sociais, no entanto, alargam um pouco esse espectro, permitindo que qualquer pessoa, mesmo sem emissão televisiva, consiga ter uma boa fatia de público.
Para terminar… que conselhos daria a alguém que esteja a começar na indústria do entretenimento, especialmente a um jovem que queira seguir uma carreira semelhante à sua?
É muito importante ter foco e saber onde queremos chegar. Até chegarmos ao lugar onde queremos estar, o caminho vai passar por muitas outras estradas. É também muito importante, o mais cedo possível, começar a trabalhar dentro do setor onde gostaríamos de vir a trabalhar, mesmo que não seja a fazer exatamente o que gostávamos. Não vale a pena passar uma vida inteira a trabalhar numa loja de roupa e depois dizer que gostaríamos de ser jornalistas. Mas vale bem a pena ser estagiária e levar cafés quando for preciso (risos) numa redação porque é aí, onde as coisas vão acontecer, que devemos estar.