Presidente da Junta de Freguesia de Benfica há dois anos e meio, Ricardo Marques conta com um mandato marcado pelas apostas na cultura, sustentabilidade e juventude. Montou uma “máquina de guerra” no combate à pandemia e, hoje, uma das suas maiores ambições é construir uma freguesia mais “verde” em parceria com a Universidade Autónoma de Lisboa e a Câmara Municipal de Lisboa. Nascido em 1978 no bairro que hoje dirige, Ricardo Marques é licenciado em História pela Autónoma e, em 2013, antes de se tornar presidente, foi vogal na área da formação, educação e juventude da freguesia de Benfica.
Apesar de Ricardo ter sido o braço direito de Inês Drummond, a sua antecessora, o objetivo quando se tornou vogal não era ser presidente de junta. No entanto, começou a almejá-lo, ainda para mais tendo nascido em Benfica. O seu propósito sempre foi, e é, desenvolver uma estratégia de educação de excelência. “Quando me tornei vogal, a antiga presidente integrou-me em áreas muito específicas que eram, no fundo, as minhas: educação, formação e cultura. Portanto, acabou por ser um papel lógico que foi desenvolvido com Carla Sofia Rothes, e penso que qualquer um dos dois estava apto para vir a exercer o cargo de presidente”, explica.
Desde o início do mandato, a Junta de Freguesia de Benfica, em conjunto com a Câmara Municipal de Lisboa, tem-se revelado bastante interventiva naquilo que é a área da habitação social. “Todo o processo orçamental é gerido e regulamentado pela câmara”, sendo o papel da junta, enquanto entidade pública, integrar o gabinete de bairro para intervir na seleção de famílias e, posteriormente, criar apoios sociais nas fases de transição. Inclusive, no dia 19 de novembro de 2022, o presidente reuniu-se com a vereadora da habitação, Filipa Roseta, para determinar a que habitações a autarquia irá concorrer, numa premissa de criar mais condições habitacionais, além dos novos fogos que se têm vindo a construir no bairro da Boavista.
Gestão da pandemia e inflação
Alicerçado nos apoios sociais, durante a pandemia de COVID-19 foi constituída uma “máquina de guerra” para apoiar os cidadãos da freguesia. Para o efeito, foram criados call centers, reforçaram-se os meios de higienização de áreas comuns na freguesia, distribuíram-se diariamente mais de 3000 refeições e também se conseguiu manter o Mercado de Benfica aberto durante todo o período pandémico, tendo sido esse fator imprescindível no abastecimento de toda a comunidade de Benfica e, ao mesmo tempo, no apoio provido ao comércio local. “Posso dizer que, sem dúvida alguma, os comerciantes foram os nossos maiores parceiros durante o período da pandemia.” Por isso, e fazendo um balanço geral, a gestão da pandemia, segundo o autarca, foi positiva.
Recorde-se que logo após o período pandémico começou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e, consequentemente, a conjuntura económica nacional não ficou favorecida. Ricardo Marques afirma que “os dados são esmagadores” e que quem cobra impostos é o Governo, não a junta, não há nada que a freguesia possa fazer para alterar esse cenário, além de manter a capacidade de investimento em diversas áreas e dar apoios sociais aos mais desfavorecidos. “Até agora, o número de pedidos de ajuda de cabazes alimentares tem-se mantido estável, mas alto. Benfica é das freguesias que mais cabazes distribui, mensalmente ronda os 600.”
Apesar de Lisboa estar a retomar da pandemia aos poucos e receber cada vez mais turistas, essa tendência traz consigo mais impostos, além de lucros. O presidente de Benfica diz que, na prática, as autarquias só ficam com os custos, não com as receitas, o que depaupera as juntas e, desse modo, reduz a sua capacidade de investimento que, neste momento, é um forte aliado no serviço à comunidade.
Ligação à Universidade Autónoma de Lisboa
A linha orientadora da Junta de Freguesia de Benfica no que diz respeito à sustentabilidade tem sido guiada pela redução dos custos e da pegada ambiental. Deste modo, e com vista a alcançar esse objetivo, Ricardo Marques e a sua equipa iniciaram um projeto de construção de um jardim em parceria com o Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa. O projeto “In Citus” será um jardim comunitário que fará a retenção da água da chuva e, a posteriori, abastecerá todo o jardim mediterrânico com o sistema de rega gota a gota, além de permitir que a comunidade faça uso da mesma.
Já que o compromisso ambiental de Benfica passa pela redução da pegada ambiental e dos custos envolvidos, a junta pretende “contaminar” a população com as medidas tomadas. Assim, foram investidos centenas de milhares de euros no primeiro jardim mediterrânico, com árvores autóctones e, aliado a esse passo, instalados sistemas de rega automática no bairro das Pedralvas, o maior da freguesia, de modo a racionar o gasto de água global. Em conjunto com a autarquia está ainda a ser desenvolvido um projeto que prevê uma maior eficiência energética do terminal rodoviário do Colégio Militar.
“Muita da atuação da freguesia tem sido vocacionada para a criação de eventos que agarrem a rapaziada”
A ideia da Biblioteca Municipal em Benfica já vem de há muitos anos. Segundo Ricardo Marques, “não havia espaço e a Câmara Municipal de Lisboa não priorizava o seu investimento mas, quando soubemos que o vereador Manuel Salgado colocou como contrapartida à Teixeira Duarte na construção da mais recente urbanização a criação de um equipamento de 2000 m2 para dar à câmara, os ‘astros alinharam-se’”. Nessa altura, o presidente de Benfica, em conversa com o escritor António Lobo Antunes, sobre as mais de 30 mil peças, obras e fascículos que o autor possui de toda uma vida “ligada à palavra”, chegou à conclusão que era injusto perder este espólio para uma universidade estrangeira e, assim, manter-se-ia a ligação “umbilical” entre o escritor Lobo Antunes e a freguesia de Benfica.
“Entre marchas e manjericos” numa conversa com o Presidente da República, este mostrou-se bastante sensível à situação, tendo convocado Isabel Alçada, personalidade bastante importante nesta resolução, Fernando Medina, então presidente da câmara de Lisboa, e a família Lobo Antunes, para se decidir aquele que seria o futuro do vasto espólio literário do escritor. A proposta inicial foi aceite por todos e, hoje, a biblioteca já se encontra em construção, sendo que será um espaço virado para estudantes, pois “em Benfica existem 12 mil jovens estudantes e é fundamental que esta biblioteca acomode as suas necessidades, já que muita da atuação da freguesia tem sido vocacionada para a criação de eventos nesta zona da cidade que agarrem a rapaziada”, afirma o presidente entusiasmado.
Considera ainda que é fulcral tornar a freguesia apelativa à juventude de Benfica por ser das mais jovens do município de Lisboa e, por isso, aprovar a criação de novos espaços, como é o caso do icónico cine teatro Turim que vai ser restaurado com um estilo moderno, para que seja possível abrir “cortinas” aos jovens artistas para se lançarem.
“Ainda é cedo para ponderar uma recandidatura”
Ricardo Marques considera que ainda há muito trabalho a fazer no espaço público antes de pensar numa recandidatura à presidência da Junta de Freguesia de Benfica no fim deste mandato. Explica que se precisa de dotar a freguesia com melhores condições sociais e que é fundamental virar a freguesia para os seus habitantes mais jovens, sendo que neste momento existem 2000 casas fechadas e poucas habitações que estejam de acordo com o orçamento de famílias de classe média baixa, famílias essas que consequentemente se vêm obrigadas a ir para fora da freguesia. O foco do atual presidente da junta de Benfica prende-se, assim, com o presente e as tarefas a realizar até ao fim do seu mandato.