Lesliana Pereira tem 26 anos, mas conta já com um vasto currículo em televisão e em cinema. O UALMedia quis saber mais sobre a vida da Miss Angola 2008 e desvenda como correu a sua estreia no grande ecrã.
A Miss Angola 2008 é atriz, apresentadora e designer de moda. “Njinga – A Rainha de Angola” é o seu mais recente trabalho, filme no qual interpreta com garra a rainha Njinga, uma figura bastante importante na história angolana. O filme teve o seu lançamento em Angola e, mais recentemente, no Brasil.
Tem noção da imagem que representa para muitas mulheres angolanas?
Sinceramente, não tenho. Quando os jovens, e até pessoas mais velhas, vêm ter comigo, acabavam por olhar para mim e ter uma certa admiração que, sinceramente, não consigo perceber. Eu sou uma jovem como outra qualquer. Mas há dias que me ‘toco’, como se diz na gíria, e percebo que realmente tenho impacto na sociedade.
O filme “Njinga – A Rainha de Angola” tem sido um sucesso, tanto em Angola como no Brasil. Como tem vivido esse momento?
Foi a minha primeira grande participação numa produção do género, embora tenha participado numa primeira, em 2009, num filme infantil da Xuxa Meringuel. Este filme tem uma carga dramática muito maior e é muito mais importante, pela dimensão histórica que tem a rainha Njinga, uma figura que não só é conhecida na história angolana, mas também na história mundial. O retorno tem sido espetacular. As salas do cinema têm estado cheias. Vi pessoas a saírem da sala a chorar! Sinto-me muito lisonjeada, porque percebo que é o trabalho de uma equipa inteira. Não é só o meu trabalho, mas o trabalho de todas as pessoas que estiveram envolvidas. Em termos de carreira, sei que é um início fantástico. Ter a oportunidade de desempenhar o papel de um dos maiores ícones da nossa história, como atriz, é realmente muito bom.
Foi difícil interpretar este papel?
Difícil foi, sobretudo em termos físicos. Fiz várias mudanças na minha rotina para me poder adaptar. Na altura, estava a apresentar o “Revista África” e tive que coordenar a minha agenda de trabalho com a agenda de preparação do filme. Mas foi algo que meu deu muito prazer. Valeu a pena ver o resultado e a reação das pessoas ao perceberem o meu empenho e a minha dedicação. A maior parte das pessoas fixou-se no meu registo de ‘miss’. Com este filme, puderam ver outra pessoa, outra Lesliana, fora do estereótipo de ‘miss’.
Ao interpretar um papel deste género, “nasceu” uma outra Lesliana? Uma Lesliana que estava adormecida?
Não estava adormecida para mim! Mas era algo que sabia que estava em mim, dentro de mim. Era uma Lesliana que eu já conhecia, que gosta de interpretar, de brincar com essa “coisa” de mudar. Este papel deu-me a oportunidade de expor um outro lado meu. E outros ainda estão por vir ao de cima.
A fama
Como é lidar com a fama, com as intrigas, os engates em Angola?
Felizmente, em Angola, temos uma imprensa cor-de-rosa que respeita muito as figuras públicas. No entanto, temos um outro fator: somos uma sociedade muito pequena. São ainda poucas as pessoas que têm acesso à internet, o núcleo é muito reduzido. Claro que não me sinto confortável quando vejo que uma crítica pode chegar ao meu pai, ao meu tio, a alguém próximo da família, claro que não é positivo. Mas, fora isso, lido muito bem com essa situação. Em relação ao engate, sinceramente, não sou muito assediada. Sou uma pessoa que tem uma postura muito séria, muito madura, sempre fui muito precoce. Acho que as pessoas olham para mim como se tivesse mais idade. Penso que, quando nos respeitamos e nos fazemos respeitar, o assédio não se impõe. Das poucas vezes que me senti menos à vontade em alguma situação, muito rapidamente resolvi a questão, pondo a pessoa no lugar, mostrando respeito, claro, e educação. Portanto, o assédio não é uma coisa que me aflija.
Como vê a juventude de hoje? O que acha que falta nesta juventude de hoje, tanto na angolana como na portuguesa?
Penso que nós, os jovens, sofremos de um mal. O mal da incerteza. Estamos inseguros de como vai ser o amanhã. É uma situação que aflige todos nós. Também passo por isso, mas optei por sair do país à procura de melhores condições de vida. Em Angola, infelizmente, ainda temos muitos jovens que esperam uma resposta. Muito acostumados a ouvir dizer que o Governo tem que resolver a sua situação. O importante é ser pró-ativo, é ter coragem, força de vontade. Temos vários exemplos em Angola de jovens que começaram realmente de baixo e que não estão no centro da cidade, mas nas periferias. Criam o seu próprio negócio, com um espírito inovador e é esse o espírito, uma coragem planeada.
Tem um novo programa na Tv Zimbo, “Lesliana com Você”. O que espera alcançar com mais este projeto?
Estive durante seis anos no programa “Revista África”, da TV Globo. Foi onde comecei. Foi uma grande oportunidade, uma grande escola. O programa era o único na grelha africana. Para mim, este programa é muito mais do que um programa de entretenimento. “Lesliana com Você” é a minha marca, é um programa onde todos os dias tenho a oportunidade de aprender com a minha equipa. O programa é produzido pela minha produtora, é feito por mim para a estação TV Zimbo. É um projeto que me deu um friozinho na barriga no início, algumas dúvidas, mas está a valer muita a pena. Estou muito feliz, tenho uma equipa fantástica. Somos todos angolanos, todos jovens com formação na TV Globo. É um bom começo ter a minha produtora, poder produzir um programa independente. E é a marca que estou a criar para mim, para o meu futuro, a Lesly Produções.
Olhando para trás, faria tudo de novo ou mudava alguma coisa?
Acho que mudava: fazia mais! Miss Angola foi a minha “estreia” em Angola. Infelizmente, quando participamos neste tipo de concurso, não temos muito a noção da oportunidade que temos à nossa frente. O comité Miss Angola é uma instituição muito forte e muito respeitada. Certamente, com um pouco mais de visão e de maturidade (que eu não tinha), teria tido mais oportunidades.
Lesliana na intimidade
Como é a Lesliana na vida privada?
Não sou uma pessoa de muitos amigos. O meu círculo de amizades é muito pequeno. Mas acho que não nos devemos limitar. Hoje tenho visibilidade, sou conhecida, mas isso não me limita na questão das novas amizades. Pessoas boas e más existiram no passado e também existem no presente. É no dia-a-dia que percebemos quem são os nossos amigos. E estamos sempre sujeitos a deceções, como em qualquer área da vida. A família é importante para nos apoiar. Tanto dentro como fora da família acontecem determinado tipo de situações. Por exemplo, vemos quem hoje é “mais família” do que no passado, percebe-se claramente. Por ser muito ligada ao meu trabalho, acabo por perder muito dos ambientes familiares. Mas, no meu núcleo mais privado, estão a minha mãe, o meu irmão, a minha irmã, os meus sobrinhos e as minhas sobrinhas. Acabam por ser os mais próximos e unidos. Acho que a união familiar é parte da essência do “ser-se angolano”.
Portugal acaba por ser o seu “país refúgio”?
Portugal é um país que amo de paixão. Tem as pessoas com quem cresci, tem um sabor especial. Também gosto muito do Brasil, do Rio de Janeiro, onde também me sinto em casa. Portugal tem outro sabor, de refúgio, de saudosismo. Os lugares que visitei, onde estudei, os autocarros que apanhava, os sítios onde ia… Acho que a melhor palavra para definir Portugal é o saudosismo, a saudade.
Que conselho deixa a quem sonha um dia ser apresentador de televisão?
É muito importante a formação. Portanto, o meu conselho é: estudem! As oportunidades estão no meio, elas estão onde estivermos. Se nos rodearmos de pessoas negativas, vamos receber negatividade; se nos rodearmos de pessoas positivas, recebemos positividade. Se estivermos rodeados de jornalistas e se queremos realmente ser jornalistas, então, há mais possibilidades. Acho que é isso. Procurar ter noção de onde estamos e daquilo que queremos.
Oiça a entrevista na integra, disponível no podcast Ponto Com.
Trailer do filme “Njinga – a Rainha de Angola”:
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Técnicas Redactoriais II da licenciatura em Ciências da Comunicação.