Decidido a transformar a representação na sua forma de vida, João Bettencourt espera construir as bases certas para continuar a fazer aquilo que mais adora. Em entrevista, o jovem de 20 anos lembra como surgiram as primeiras oportunidades nos ecrãs e como aquilo que sempre julgou ser inatingível se tornou realidade.
Realizou um curso de Representação, Televisão e Cinema. Como surgiu a opção de frequentar esta formação? Sempre teve esse objetivo?
Comecei por fazer figuração. Fui tendo participações relativamente boas nas novelas “Na Corda Bamba” e na “Prisioneira”, da TVI. Um dia, falaram-me nesse curso. Sabia que tinha de tirar formação porque é muito importante. Quando as oportunidades começaram a surgir com as participações e uma maior visibilidade, investi na formação. Surgiu, mas não foi uma coisa que soubesse que iria fazer.
Como surgiram estas oportunidades?
A hipótese de participar em anúncios apareceu quando estava a gravar. Na altura, entrei para a minha primeira agência, a Blast. Aí, surgiu o casting da Garnier e, depois, quando comecei a fazer figuração, fui conhecendo novas pessoas, novos contactos e surgiu a oportunidade de ir para onde estou atualmente, a klip Agency, onde fiz o casting da Telepizza. As participações nas novelas vieram com o acumular da figuração, do conhecimento das pessoas e foram simplesmente acontecendo. Participei no casting para entrar na novela “Na Corda Bamba”, mas não foi através de agência nenhuma, fui por mim mesmo. Mas é muito mais fácil se estivermos numa agência.
A novela “Amor Amor”, da SIC, onde atualmente dou vida à personagem Lucas, surgiu através da agência onde me encontro agora. Primeiro, realizei um casting para a SP e para a SIC para me verem e ficarem com os meus dados. Também fiz uma Self Tape e, passado duas semanas, repeti outro casting na minha agência. No dia a seguir, a minha agente ligou-me a dar a novidade. Quase chorei.
“Às vezes, chego ao estúdio, já estou a rir e ainda ninguém falou comigo.”
Como se prepara para se transformar na personagem Lucas?
Apesar de o Lucas ser muito parecido comigo, também tem coisas com as quais não me identifico. Nos ensaios, achava que o Lucas era o contrário de mim, extrovertido e sem vergonhas. No entanto, nas gravações, vamos descobrindo coisas sobre as personagens que interpretamos e fui percebendo que ele é muito parecido com o pai. Ao longo da história, o Lucas vai ficando mais adulto e mais responsável. Dou-me muito bem com o Paulo Rocha (Bruno em “Amor Amor”, pai de Lucas) e vamos ensaiando os dois. O Lucas é muito mais assertivo do que o João, por exemplo, ele já sabia o que dizer aqui (risos). Tem tudo na ponta da língua. Ao trabalharmos como atores, temos de ouvir os nossos parceiros, quem está a contracenar connosco e, ao mesmo tempo, responder. Mas para não parecer que já sabemos o que vamos dizer, é preciso assimilar tudo muito depressa e só depois retorquir. Tenho muita ajuda dos meus colegas. Confesso que o Paulo foi uma das minhas bases fundamentais, mas ao longo da novela, dos ensaios, toda a equipa foi muito importante no meu processo evolutivo de construção da personagem.
O João e o Lucas têm algumas características em comum?
Já achei que tivéssemos mais, mas as características em comum são o sorriso e o facto de o Lucas ser muito carinhoso, quando quer. O sorriso é muito parecido com o meu, também estou sempre muito contente, principalmente, quando estou a fazer aquilo que gosto. Às vezes, chego ao estúdio, já estou a rir e ainda ninguém falou comigo. É muito isso, é ser muito positivo, alegre.
Como o trabalho de um ator pode ser muito intenso, tem sido difícil desligar-se após as gravações?
Gravamos muitas horas, chego a casa e é um pouco complicado desligar da personagem porque tenho de continuar a trabalhar em casa para as cenas de amanhã. Na minha personagem, não tem muito mal desligar porque é um jovem, mas, se interpretarmos um vilão, é muito mais complicado porque temos de saber desligar. Há muitos atores que têm o método de levar a personagem durante as gravações todas e só desligam quando acabam os sete ou oito meses de gravações, mas é exaustivo. Sei desligar, mas como também tenho tanto para trabalhar com a personagem, acabo por desligar uma a duas horas por dia.
“É uma responsabilidade muito grande, mas também é um prazer enorme.”
Como é contracenar com atores com um enorme percurso profissional?
É um peso louco. Estava habituado a vê-los apenas na televisão. Para mim, eram e são muito importantes. Era quase uma aspiração inatingível. Mas agora, com o passar do tempo, com as gravações, o convívio entre nós, acaba por ser melhor. No entanto, continua a ser um enorme peso porque não quero falhar, não posso falhar. Aliás, podemos falhar, mas não quero, não quero ser o cocho. É uma responsabilidade muito grande, mas também é um prazer enorme.
Com a estreia de ‘Amor Amor’, a exposição publica aumentou. Como tem sido a abordagem do público?
Tem sido boa e positiva. Há uns dias, fui gravar a Penafiel e fui muito bem recebido pelas pessoas de lá. Queriam tirar fotografias e eram sempre muito simpáticas para mim. Existem também pessoas que gostam de despejar ódio só porque sim. Leio muito frases como: “tu tens de morrer” e “tu vais morrer”. As pessoas não sabem separar a ficção da realidade. Por exemplo, no início, falei muito mal para a filha do Romeu. Ela atropelou-me, mas depois eu é que estive mal porque ela é que era a coitadinha. As pessoas não sabem distinguir, mas dou-me muito bem com a Joana Aguiar (Sandy, filha do Romeu). Digo isto, mas em cem pessoas, são apenas cinco as que fazem estes comentários porque a abordagem tem sido muito positiva.
A fama, por vezes, traz muitas desvantagens, nomeadamente a falta de privacidade. Consegue distanciar a sua vida pessoal da profissional? Tem receio que algum dia aconteça, ou já acontece?
Por mais que queiramos distanciar a nossa vida pessoal da profissional, não conseguimos. Ou melhor, conseguimos, mas há-de haver um certo ponto que não dá. Vivo numa zona em que basicamente toda a gente se conhece. Por vezes, estou a andar na rua e é os olhares, é uma foto…o que é muito bom, mas não tenho a privacidade de antigamente. Gosto, mas há atrizes e atores que não. Isto é uma vida que já se sabe mais ou menos para o que é que se vai. Tudo o que é exagero é capaz de ser um pouco cansativo. É aproveitar o momento. O que está a acontecer é bom, o que tem vindo a acontecer ainda é melhor e por isso é deixar ir.
“Gosto quando partilham histórias do Instagram comigo. É ótimo sentir o amor e o carinho das pessoas.”
Vivemos numa era de redes sociais e tem uma presença bastante ativa no Instagram. Como faz essa gestão?
Faço a minha gestão das redes sociais para que seja tudo muito orgânico e não seja muito forçado. Agora coloquei uma fotografia a andar de skate, não sei muito bem andar, mas fiz uma brincadeira. Tem de se ter muito cuidado com o que se publica nas redes sociais, mas faço tudo de forma muito, não digo espontânea, é planeado, mas tudo muito natural. Não gosto de forçar as coisas.
Também gosto de juntar a parte da representação e de mostrar às pessoas o que estou a fazer, mas por outro lado também revelo um bocadinho do João. As pessoas na novela já veem o Lucas. Querem também conhecer quem é o João. Por isso, também é um misto. Gosto quando partilham histórias do Instagram comigo. É ótimo sentir o amor e o carinho das pessoas.
Gosta de desporto, em especial, futebol e equitação. Nos últimos tempos, todos os sábados tem realizado diretos no Instagram a praticar exercício, com os seus atuais colegas da novela “Amor Amor”, numa iniciativa a que chamou “Get fit with”. O que o levou a criar este projeto?
Baseei-me na forma como Paulo Teixeira, personal trainer, dá os seus treinos. Sempre gostei de treinar e sempre publiquei nas redes sociais. Recebia muitas mensagens de pessoas a dizer que também queriam, mas não tinham força de vontade. Então, pensei que podia criar um projeto só comigo a treinar, mas já que tenho o privilégio de me dar tão bem com os meus colegas,achei engraçado podermos criar um treino para as pessoas e, depois, no final, ainda ter um tempo de perguntas e respostas. Gosto de treinar, obrigo os meus colegas a treinarem, muitas pessoas treinam connosco e ainda têm um tempinho para as perguntas. É muito interativo.
Sente que é uma forma de conciliar duas paixões? O exercício físico e a representação, tendo os seus colegas da novela?
Sim. Antes de ser ator, queria ser jogador de futebol. Sempre adorei desporto e se não fosse futebolista iria ser personal trainer. No entanto, acabou por surgir a área da representação e é mesmo uma maneira de conciliar duas atividades de que gosto.
A representação é o caminho que quer seguir na sua vida profissional?
Se Deus quiser e com trabalho, quero muito sim, é algo que adoro. Quando era pequenino, via os “Morangos com Açúcar” e gostava muito de os imitar. Mesmo em filmes, sempre olhei muito para a vertente da representação e não só para a história. Se calhar, já estava cá o bichinho. Sempre achei que a área da representação fosse algo inatingível porque não tinha conhecimento nenhum. Não conhecia agências, cursos, não sabia de nada. Na escola, não temos a noção da quantidade de áreas que podemos explorar, não sabemos realmente o que se queremos e aquilo que gostamos, informação que considero fundamental para o nosso desenvolvimento. Espero estar confiante com o meu trabalho. Olhar para trás e ver uma evolução. Quero aprender, trabalhar cada vez mais e sentir que estou a tornar-me num bom ator. Formar-me com as bases, educação e formação adequadas e também com a cabeça no sítio certo. Um João ponderado. Que venham muitos projetos.