Guarda-redes profissional de futebol e campeão nacional pelo Sporting CP, André Paulo, de 27 anos, conta com uma carreira cheia de desafios e conquistas. Desde a formação no Algarve até ao salto para Lisboa com o sonho de estudar e jogar futebol, passando pelo encontro com Ruben Amorim que acreditou no seu talento e lhe abriu as portas de clubes históricos. Esta época vai jogar no Alverca.
André Filipe Eusébio Paulo, nascido a 18 de Dezembro de 1996 em Albufeira, faz toda a formação no Algarve, praticamente sempre no Imortal exceto o último ano de júnior, no Portimonense. Aos 18 anos, vem fazer o primeiro ano de sénior para Lisboa, no Oeiras. Como surgiu a oportunidade de vir jogar para Lisboa?
Sim, faço a formação toda no Algarve e, na altura do meu segundo ano de júnior, quando mudei para o Portimonense, como entrei para a faculdade, acabei por desistir passado algum tempo. A ideia que tinha era vir estudar para Lisboa. Entrei na FMH na altura estava a estudar Ciências do Desporto, fiz a licenciatura em três anos, até cheguei a começar um mestrado depois, mas saí depois de pouco tempo. Nessa altura, vim para Lisboa morar e o Oeiras acabou por ser um dos clubes que era mais perto da minha casa e decidir ir para lá jogar.
Depois de 18 anos no Algarve foi para um contexto diferente, cidade diferente, clube diferente e a transição formação-seniores por vezes acaba por não ser fácil. Como foi esse primeiro ano de sénior?
Foi estranho [risos], foi algo estranho. Na altura tínhamos muitos jogos e éramos três guarda-redes. Então éramos divididos por jogos e, como eu era o mais novo, acabei por não jogar tanto como os outros. São coisas que fazem parte e nós, jogadores, sabemos que o ano em que subimos aos seniores não é muito fácil.
“O Ruben é um grande líder, as pessoas vão atrás dele”
Na época a seguir, vai jogar para o Casa Pia, onde ganha a edição 2018/19 do Campeonato de Portugal, e onde conhece o Ruben Amorim. Como foi trabalhar com o Ruben?
Foi bastante bom. Eu até estava na equipa B do Casa Pia e quando o Ruben lá chega, no meu segundo ano lá, ele viu alguns dos meus jogos e chamou-me à equipa A. As coisas foram correndo bem e chegámos a ser campeões e a subir de divisão na época a seguir.
Depois estivemos juntos mais uns bons anos no Sporting e sempre correu bem. Nota-se que ele é alguém que percebe muito de futebol e de como se deve comunicar com as pessoas.
Acredita que o Ruben vai ter sucesso em Inglaterra?
Acredito, sim. O Ruben é um excelente treinador, tem uma ideia muito específica e é também um grande líder, as pessoas vão atrás dele.
Tem ainda uma passagem de um ano pelo Real SC em 2019/20 e em 2020 chega ao Sporting e foi precisamente nessa primeira época que acaba por ser Campeão Nacional. Diria que foi o melhor momento da sua carreira?
Sim, foi sem dúvida. Fui para o Real SC depois de estar no Casa Pia. No Casa Pia subimos de divisão, mas eu tive uma lesão grave e acabei depois por não seguir com a equipa para a segunda liga e fui para o Real SC. Nesse ano, veio a pandemia. Nessa altura, o Ruben estava no Braga, mas pouco tempo depois foi para o Sporting. Estávamos sem jogar, como estávamos na pandemia, os clubes pararam, ia retomar só a primeira liga para terminar o campeonato. Lembro-me que o Ruben, no fim da época, ligou-me a perguntar se eu queria ir para o Sporting. Quando o Ruben me ligou, pensava que ele estava a brincar [risos]. Eu estava no Real SC e ir para o Sporting eu pensava que ele estava a brincar, ele é um bocado gozão [risos] Mas depois ele ligou-me outra vez a dizer que ia falar com o meu empresário e as coisas aconteceram. Depois o resto foi excelente, é o Sporting, não há muito a dizer.
Como foi ver toda aquela gente sair à rua para festejar? Consegue descrever essa sensação?
Consigo. Começou logo quando saímos da academia, estava tudo cheio à volta. O caminho da Academia ainda é longo e é um caminho descampado e com mato à volta. A estrada estava toda cheia de pessoas, a rotunda de Alcochete estava a abarrotar, vínhamos na ponte toda a gente a apitar. Íamos na faixa do meio da ponte e nas outras duas faixas estava malta fora dos carros. Quando chegámos a Alvalade, como não podia haver público, as pessoas tinham-se juntado todas à volta do estádio, foi incrível. Depois, no jogo ganhámos e saímos para a festa na rua. Íamos de autocarro com as pessoas sempre a acompanhar-nos, foi especial.
O título foi algo inesperado ou pelo menos que surpreendeu muita gente, já que o Sporting vinha de uma fase difícil e não era apontado por ninguém à corrida pelo título. No início da época, acreditava que seria possível?
Nessa época começamos logo mal. Fomos logo eliminados pelo Lask na Liga Europa, mas o que pensávamos era sempre ir jogo a jogo e ninguém pensava mais à frente que isso. Por mais que seja estranho ninguém pensar por exemplo “se ganharmos o próximo jogo ficamos com 6,7,8 pontos de avanço e assim, ali toda a gente pensava apenas no jogo a seguir. Claro que depois chegou ali a uma parte que víamos que havia uma possibilidade e começámos a acreditar mais, mas no início estávamos apenas focados no jogo a jogo.
Tocando mesmo nesse ponto do jogo a jogo e do que acabou de dizer que houve ali uma parte que viam que havia a possibilidade de serem campeões, qual foi o momento ou fase da época que viram que o título podia ser uma realidade?
Esse campeonato teve muitas peripécias. Teve o Coates a salvar-nos várias vezes. Há ali um jogo muito importante contra o Gil Vicente, estava a chover torrencialmente e estávamos a perder já a acabar o jogo e conseguimos ainda ganhar, tivemos também um golo de sorte, a bola bate na lama e não ressalta, e engana o guarda-redes. Ao longo da época, tivemos alguns jogos assim, fomos acreditando. Depois ainda houve uma fase, já quase a acabar o campeonato, em que começámos a perder uns pontos, mas estávamos focados em ganhar, o que acabou por acontecer.
Fica mais dois anos no Sporting e, em 2023/24, na época passada, assina com o Mafra. Acaba lá a época e este ano está ainda sem clube. Como tem lidado com esta fase de estar sem competição?
Não é nada fácil para um jogador estar sem clube, sem competição. Claro que nenhum jogador quer isso, mas não estou a lidar tão mal como pensava. É algo complicado não estares no clube todos os dias, algo que estás habituado a fazer diariamente, diria que é uma autossuperação todos os dias.
Ao longo de todos estes anos e depois de ter partilhado balneário com tantos jogadores, para si qual foi o melhor companheiro de equipa com quem jogou?
Não é fácil dizer. Existem muitos, principalmente aqueles que saíram do Sporting para grandes clubes. Matheus Nunes, Nuno Mendes, todos com características diferentes, mas que faziam a diferença. Quem estava com eles via a diferença que faziam e a evolução que tiveram. Até o próprio Dani, que teve uma evolução brutal, mas se fosse escolher… talvez Matheus Nunes ou Nuno Mendes.
