Com mais de 20 anos de carreira, a jornalista da TVI recorda o seu percurso profissional, partilha as experiências como repórter e deixa algumas revelações sobre causas a que não consegue ficar indiferente. A mais recente: o livro que começou a escrever sobre solidão.
A casa que lhe é tão familiar, como é a redação de informação da TVI, foi o lugar escolhido por Conceição Queiroz para uma entrevista que se previa breve, mas que se estendeu entre sucessivos diretos e pequenos intervalos. Nascida em Moçambique, longe do brilho dos ecrãs, a repórter revela que nunca tinha pensado trabalhar em televisão, mas uma professora do 11º ano influenciou-a a optar pelo jornalismo e a desistir da ideia de seguir Direito, opção que julgava ser a melhor para defender os mais fracos. Nos dias de hoje, uma grande vertente do seu trabalho é investigar acontecimentos e dar a conhecer cenários preocupantes para exercer a nobre missão de informar e, sobretudo, ajudar a alterar realidades. Uma das causas que defende com maior convicção diz respeito à mutilação genital feminina.
Acredita que mesmo tendo seguido um rumo diferente do que tencionava, o objetivo de “defender os mais fracos” se mantém, ainda que com uma expressão profissional diferente?
O jornalismo é uma missão. É, acima de tudo, um compromisso com a verdade. Depois, tem a missão de defender os mais fracos. Não defendemos de forma direta, mas o nosso trabalho acaba por ser de denúncia. Vamos descortinar uma série de detalhes que partilhamos com o grande público. Se por um lado, serve para informar, por outro, sensibiliza. Se tocarmos num ponto específico do cancro, por exemplo, o tumor do intestino que é aquele que mais mata em Portugal, já adotamos uma atitude pró-ativa. No fundo, estamos a dizer às pessoas que têm de fazer aquele teste, de procurar um médico, de estar atentas aos primeiros sintomas, etc.. Olhando para aquilo que é a opinião pública, acaba por ser um trabalho muito esclarecedor.
Já trabalhou em imprensa, rádio e televisão, não só em Portugal como em Cabo Verde. Que recordações guarda dessas diferentes linguagens e experiências?
São mundos completamente diferentes. Tive uma sorte incrível por ter feito o percurso todo. Há quem tenha caído de paraquedas na televisão, mas não foi o meu caso. Nunca quis sequer trabalhar em televisão. Comecei pela imprensa, estive na Rádio Clube Português e depois fiquei desempregada. Foi nessa altura que ponderei tentar a televisão. Curiosamente, comecei por tentar na RTP África por razões óbvias. Achei que seria mais fácil, mas fui rejeitada. Foi a TVI que, de facto, me deu a oportunidade. São linguagens completamente diferentes. Rádio tem a sua magia. A imprensa permite-te escrever muito mais, entrar em detalhes, fazer aquilo a que chamamos o jornalismo literário e no qual se devia investir mais em Portugal.
Infelizmente, são poucos os jornalistas que sabem o que isso é. Temos o jornalismo literário, o jornalismo narrativo, que se torna muito mais apaixonante e cativante. Hoje, as pessoas praticamente não leem. A imprensa escrita tem essa coisa boa de apaixonar o leitor, dependendo da forma como partilhamos a informação. A televisão é ver e ouvir em primeira mão. É dizer que aconteceu um acidente e existem cinco feridos. Cinco minutos depois, acrescentar que dos cinco feridos três perderam a vida e, um minuto depois, informar que morreu toda a gente. É avassaladora a vida do jornalismo de televisão. Eu adoro, de facto. Passei pelos três caminhos. São 24 anos em televisão. É a minha paixão, curiosamente porque não queria nada com a televisão. Cresci sem ela em Moçambique, não me dizia absolutamente nada.
Jornalismo em mudança
Sem literacia mediática suficiente, há públicos que nem sempre conseguem discernir entre o que é o jornalismo e conteúdos de blogues e sites, que muitas vezes propagam fake news. Considera esta realidade preocupante para as gerações futuras?
É preciso ter algum cuidado com os blogues, com todo o respeito que tenho por eles. É preciso ter muito atenção na forma como se absorve a informação. Felizmente, apareceu agora o ‘Polígrafo’, um novo site lançado na semana do ‘Websummit’, que surge na sequência das fake news. O termo fake news é discutível porque se são falsas, não são notícias. É preciso ter prudência com a quantidade de informação disponibilizada. É uma nova forma de detetar mentiras, dizer se aquilo que é dito é real ou não. É um trabalho realizado de uma forma muito minuciosa. Tenho muito cuidado com o cruzamento da informação. Na grande reportagem, sentia mais isso. Sou obcecada pela documentação. Se não temos a certeza, é melhor não adiantar. É preferível confrontar o máximo de fontes possível e ter a certeza daquilo que vamos avançar porque é um perigo. Como jornalista, se falamos em credibilidade, significa que as pessoas têm de acreditar em nós lá em casa. Tem de existir convicção e empatia com o telespetador.
Como é que ganhou essa convicção?
Há coisas que não se compram, de facto. O jornalista tem um papel fundamental. Não estudei Comunicação Social. Licenciei-me em Sociologia e sou mestre em História. Posteriormente, formei-me em Jornalismo, na escola de formação para jornalistas, Cenjor. Neste momento, estou a tirar um doutoramento em Estudos Portugueses, com especialização em Literatura. São áreas muito diferentes, mas dão-nos as ferramentas que necessariamente precisamos se quisermos fazer carreira como jornalista. Lembro-me quando morreu Fidel Castro. Foi na madrugada de uma sexta-feira. Estava de serviço e entrámos logo numa emissão especial, em direto na TVI. Foram cerca de 5 a 6 horas no ar, sem rede, sem teleponto.
Se não tivesse esse conjunto de conhecimentos sólidos sobre Cuba, sobre a sua revolução, não conseguia estar no ar. Não digo que o jornalista tem que ser obrigado a saber tudo, seria impossível, mas há um mínimo. Sempre tive esse cuidado. As últimas palavras da minha mãe no hospital, antes de morrer, foram ao encontro disso mesmo. Pediu-me que investisse, acima de tudo, na minha formação. Nunca me esqueci das suas palavras. Talvez por isso nunca tenha saído dos bancos da escola. Realmente, o saber não ocupa lugar e, nesta profissão, a quantidade de ferramentas que tivermos nunca serão demais garantidamente.
De que forma a proximidade crescente entre informação e entretenimento constitui um desafio ou uma ameaça para o jornalismo?
Nem uma coisa nem outra. Entretenimento é entretenimento e informação é informação. Prefiro não os cruzar. Isso pode acontecer e acontece como sabemos. O conceito banalizou-se um pouco. Qualquer pessoa pega num microfone, faz umas perguntas e as pessoas lá em casa acham que é jornalista, mas não é. Sou muito radical no que toca a esta temática. Temos que saber separar as águas e fazer uma escolha. Tive convites para fazer cinema e publicidade, não só em Portugal, a ganhar milhares de euros, bastava apenas entregar a Carteira Profissional e dedicar-me a esses novos projetos, durante um ano, e tinha a minha vida feita. Podia recuperar depois a carteira e voltar, mas abri mão disso. Recordo-me de ter recusado um convite para ser o rosto de um novo centro comercial, em Luanda. Na altura, pagavam-me 50 mil dólares por uma tarde a fazer uma sessão de fotografias, mas o meu amor ao jornalismo era maior. É uma questão de consciência. Jamais o faria. Temos que fazer escolhas. A minha paixão e o gostar muito do que faço têm que estar primeiro do que o dinheiro, até porque nunca serei rica nesta profissão.
Contadora de histórias
Do início da sua carreira até hoje, que momento destacaria como sendo aquele que mais a tocou?
São tantos. A coisa mais violenta que vi como jornalista foi a mutilação genital feminina. Já vi crianças a morrer, a passar fome, miúdos que não faziam refeições há dias e dias, mas nada tão violento como isto. Estamos a falar da parte mais sensível do corpo da mulher, de crianças com apenas cinco anos sujeitas a algo que eles chamam cultura. O que é cultura? Cultura é uma discussão, é preciso esbater essas fronteiras e ir mais além. Mutilação genital feminina é um grande negócio. Aquelas matriarcas das aldeias que o praticam são muito bem pagas. Esta situação também acontece pela garantia de fidelização para o homem que se ausenta, muitas vezes, porque é comerciante. Por longas temporadas, têm aquela garantia que não vão ser traídos pela mulher que têm em casa. Estando mutiladas, elas não têm prazer sexual, o que é absolutamente ridículo.
Considera então a mutilação genital feminina a reportagem que mais lhe custou realizar, a mais dura do ponto de vista emocional?
Foi a reportagem mais difícil, a que mais me chocou. Perdi oito quilos e fui-me muito abaixo. Apesar de me considerar uma pessoa bem informada, não imaginava que ainda se praticava da forma como se pratica, em Portugal inclusivamente. Moro no Marquês de Pombal e encontrei no centro da cidade, perto do Rossio, pessoas que o fazem. Tínhamos uma câmara oculta e falei com pessoas que me disseram que, se tivesse uma criança, poderia trazê-la que eles tratavam do assunto rapidamente por um preço razoável. Foi chocante.
Como é que a sua ação jornalística tem contribuído para o esclarecimento e, de certa forma, acabar com essa prática ancestral?
Depois da minha reportagem, realizou-se uma série de conferências, palestras pelo país inteiro. Fui convidada de Norte a Sul para falarmos abertamente sobre o tema, sensibilizar a nível de escolas, o que me deixou muito feliz. Não passou em branco. Foi uma forma de despertar consciências de que ainda existe, ainda se pratica e aqui tão perto de nós, não apenas na Guiné Bissau ou no Quénia. Waris Dirie é uma modelo muito conhecida. Foi mutilada aos cinco anos numa aldeia do seu país, Somália. Fugiu para Londres e, mais tarde, iniciou carreira como modelo, conseguindo então reconstruir a sua vida. Waris foi vítima da forma mais violenta por infibulação. Para quem desconhece o termo, é o ato de coser os lábios vaginais. É horroroso.
Com o dinheiro que ganhou, conseguiu fazer uma reconstrução e ter um filho. Baseei-me muito no seu livro para fazer a reportagem. Foi uma história muito comovente porque foi absolutamente fantástico. Falamos de algo que pode ser feito com qualquer objeto cortante e uma operação que pode levar mais de dez horas. Não é qualquer pessoa que tem dinheiro para poder submeter-se a esta cirurgia e, portanto, é tudo muito perturbante.
Gosto muito da área da saúde. Depois da mutilação genital feminina, sobretudo, os temas de oncologia impressionam-me também pela forma como investimento na área da saúde acontece, em Portugal. Falta essa política pró-ativa de ir atrás das pessoas, mesmo nas zonas mais afastadas, das menos informadas e dizer-lhes que têm de o fazer. Doze a 13 pessoas por dia morrem vítimas do cancro do intestino, um dos mais mortíferos. É também, curiosamente, dos mais fáceis de evitar. Dez por cento das causas estão associadas a fatores genéticos e, contra isso, não podemos fazer nada. Os restantes 90% estão associados a fatores ambientais, ao nosso estilo de vida, às nossas escolhas do dia a dia, o que torna mais fácil sensibilizar. Sou muito a favor daquilo que é a prevenção primária. Quanto mais cedo se chamar atenção, melhor será a sua interiorização porque é um processo. Não é de um dia para o outro que dizemos alguém para não comer dez chocolates por dia, por exemplo.
Conquistas e prémios
Sente que, de alguma forma, é uma pressão ou uma responsabilidade acrescida estar no pequeno ecrã sendo mulher e tendo origem africana? Alguma vez enfrentou alguma espécie de preconceito dentro e fora das redações pelas quais passou?
É sempre de grau máximo a minha responsabilidade no pequeno ecrã, independentemente do facto de ser mulher e africana. O público trata-me normalmente muito bem. Não me posso queixar. Quero acreditar que as pessoas já se habituam a lidar com a diferença de forma natural. Da direção, jamais me poderei queixar. Obviamente que não há preconceito, caso contrário, não me seriam dadas tantas oportunidades e esse importante voto de confiança. Em relação a outras coisas pontuais acontecem sempre. “Não devias ser pivot porque tens sotaque de África”, “Estás a tirar o lugar a muitos portugueses”, “Mais um prémio? Com quem dormiste?” Ganhei 15 ou 16 prémios nestes 24 anos de jornalismo. Primeiro, surpreendo-me pela ignorância. Depois, desprezo. Não faço caso. Não perco tempo. Sei que o mundo está louco, mas as pessoas têm de se resolver.
Com uma carreira que contempla grandes reportagens e trabalhos de investigação premiados pela Unesco, Liga Portuguesa Contra o Cancro e pela AMI – Jornalismo Contra a Indiferença. Qual é o sentimento que fica de ver o seu trabalho reconhecido por estas entidades?
Acima de tudo, é sempre uma grande surpresa. Não trabalho a contar com prémios. É o valorizar do trabalho de bastidores que muitos não conhecem e, nesse sentido, deixa-me muito feliz. Costumo dizer que uma grande reportagem é sempre uma carta fechada. Não tenho noção de qual será a reação da opinião pública, por isso, há sempre essa expectativa de como as pessoas vão encarar o trabalho, vão interpretar e se eu conseguir descodificar ainda melhor. O telespectador tem que entender à primeira, principalmente, em televisão.
Assumiu numa entrevista que se deixa envolver muito pelo seu trabalho de investigação. Tendo em conta um dos princípios básicos do jornalismo, a imparcialidade, consegue manter a objetividade e a imparcialidade nesses casos ou assume defender a causa em que acredita?
É impossível ficar-se indiferente enquanto se vê uma mulher, um ser humano e ainda mais criança ser mutilada. É impossível ficar indiferente a ver uma criança morrer à fome à nossa frente, como já presenciei. É impossível ficar indiferente quando me preparo para entrar num campo, onde me dizem que daqui para a frente o lugar está minado e existe um risco elevado de pisar uma mina e morrer. Pediram-me para decidir se queria entrar ou não. Pensei segundos, minutos e liguei para o meu pai apenas para ouvir a sua voz. Desliguei a chamada e decidi entrar. Nesse mesmo campo onde entrei e corria o risco de morrer, viviam crianças que corriam exatamente o mesmo risco que eu.
É muito complicado ficar indiferente. Tudo aquilo mexe connosco. Na construção do trabalho, a imparcialidade tem que existir. O próprio texto, forma como criamos a reportagem, os excertos do que é dito nas entrevistas, a responsabilidade de decidir o que vai para o ar, tem muito do jornalista. É muito difícil atingir objetividade total de que se fala no jornalismo. Mesmo num direto a nossa perspetiva está lá sempre. O que é chamado de “vários” pode ser apenas duas a três pessoas. Com isto quero dizer que é a nossa leitura, o nosso olhar, a nossa interpretação que passa. Objetividade total no jornalismo não existe.
Alguma vez foi ameaçada ou sofreu retaliações em consequência do seu trabalho?
Já aconteceu algumas vezes, o que é normal, faz parte da profissão.
Em 2015, foi convidada pelo diretor de informação da TVI para conduzir o jornal de fim de semana do canal. Tem preferência por alguma das funções dentro do que é o seu exercício profissional?
Não sou saudosista. Sei encerrar ciclos. Preciso de estar muito bem resolvida para seguir em frente. Sou muito conhecida pela minha resiliência. Temos que saber lidar com as adversidades. A vida é assim e ainda bem que assim é. A grande reportagem foi a minha vida. De repente, tenho um desafio novo, em que deixei de estar na rua onde passei grande parte tempo e passei a estar mais “presa” ao estúdio, que é um desafio imenso. Adoro as duas coisas. Não posso dizer que tenho saudades porque fiz exatamente aquilo que queria ter feito. A grande reportagem é um registo, ser pivot é outro desafio que estou a adorar.
Gostava de experimentar trabalhar noutro canal ou quer que a TVI seja, para sempre, a sua casa?
Não faço ideia. Vinte e quatro anos depois de ter abraçado o jornalismo, há um sentimento de gratidão muito grande à TVI. Foi aqui que cresci. Fiz rádio e imprensa, mas foi aqui que tive a grande oportunidade de saber o que é fazer uma grande reportagem, como é que se constrói. Tenho uma grande paixão pela entrevista, saber fazer perguntas é muito importante. Estou bem aqui.
Por convite de algumas editoras, deu continuidade a algumas peças jornalísticas que acabou por aprofundar em livros. É o caso de “Meninos de Jamba” e “Serviço de Urgência”. Que significado essas obras têm para si?
É fabuloso. Nunca pensei que algum dia pudesse entrar no mercado livreiro deste país que é dificílimo. Não é fácil escrever e vender livros em Portugal, mas fui desafiada nesse sentido com o ‘Serviço de Urgência’. Foi um trabalho que me deu também um enorme prazer concretizar. Passei três anos na urgência do Hospital Santa Maria para escrever o livro e apenas uma semana para realizar a reportagem, curiosamente. Foi extraordinário quando me convidaram para transformar a reportagem em livro. A minha primeira reação foi logo: “mas eu não sei escrever”. Tenho muito respeito pelos escritores e achei que não estaria preparada. Adoro desafios e, por isso mesmo, aceitei e aos poucos fui escrevendo. Quando lancei o livro, já ia na segunda edição. Correu muito bem.
Posteriormente, vem ‘Os Meninos da Jamba’ de uma região do sul de Angola muito castigada pela guerra civil. Já estou a preparar o quinto livro sobre um tema que afeta e atinge muita gente. Pouco se fala do assunto e pouca atenção se dá, mas é um problema grave da saúde pública: a solidão. Vou tentar explorar e encontrar caminhos para construir o livro. Ainda estou na fase de me encontrar para definir como vou abordar a questão. Escrevo, acima de tudo, por temas que me apaixonam e a solidão é uma deles. Há milhões de pessoas pelo mundo que vivem sozinhas nas suas habitações contra a sua vontade, ou seja, que gostavam de estar acompanhadas e vivem numa solidão profunda, muitas vezes, desencadeada pelos chamados “3D”: desemprego, divórcio e doença. Quando isto acontece, a nossa vida pode mudar drasticamente.
Paixões em suspenso
Também dedica algum do seu tempo a escrever guiões para filmes. O cinema e a escrita são algumas das suas tantas paixões?
Se pudesse e tivesse dinheiro, dedicava-me apenas à dança e ao cinema. Poucos sabem, mas a dança é um sonho e o cinema também. Quando saí da ‘Grande Reportagem’, ganhei mais tempo. Realizei um curso de representação, escrevi e encenei uma peça. Sou gémeos, tenho essa liberdade de ter inúmeros pensamentos paralelos. Não gosto de projetos inacabados. É um investimento muito grande que fazemos nas apostas profissionais, do nosso tempo, da nossa vida que fica de certa forma condicionada para me dedicar a algo. O jornalismo pede muito essa entrega total.
Esquecendo um pouco a Conceição-jornalista, quais são os seus sonhos e objetivos?
Acima de tudo, quero ter saúde. Vivi sempre com muito pouco. Se tiver saúde, faço normalmente tudo o resto. Para além disso, gostaria de frequentar uma escola de dança e ver um dos meus filmes premiados. São sonhos básicos.
Num meio tão competitivo, repleto de profissionais igualmente com talento onde existe por si só uma enorme concorrência, que conselhos tem para dar a pessoas que se estão a formar e a lutar para um dia terem lugar no jornalismo?
O foco é muito importante. Inicialmente, há que ter a certeza de que querem seguir jornalismo. Caso estejam certos de que querem fazê-lo para o resto da vida, têm que se entregar, agarrar todas as oportunidades que surgirem, mesmo aquelas que impliquem trabalhar as 15 e 16 horas. Na grande reportagem, não tinha horários. Chegava a fazer 18 horas e a dormir na TVI para garantir que a reportagem de 40 minutos ficava pronta para ser emitida no dia seguinte. Eu cresci assim. No meu início de carreira, trabalhei sem ganhar um cêntimo porque sabia que era aquilo que me apaixonava. Tinha a certeza que o melhor ainda estava por vir se continuasse a entregar-me, trabalhando como trabalhava. A televisão é um bocadinho cruel. Por vezes, parece que não há espaço para novos talentos por estarem tão agarrados às caras “lindas”. O importante é mesmo não desistir.
Destaques:
“As últimas palavras da minha mãe no hospital, antes de morrer, foram de encontro a isso mesmo. Pediu-me que investisse, acima de tudo, na minha formação. Nunca me esqueci das suas palavras. Talvez por isso nunca tenha saído dos bancos da escola.”
“É impossível ficar indiferente quando me preparo para entrar para um campo onde me dizem que daqui para a frente o campo está minado e existe um risco elevado de pisar uma mina e morrer. Pediram-me para decidir se queria entrar ou não. Pensei segundos, minutos e liguei para o meu pai apenas para ouvir a sua voz. Desliguei a chamada e decidi entrar.”
“Na grande reportagem, não tinha horários. Chegava a fazer 18 horas e a dormir na TVI para garantir que a reportagem de 40 minutos ficasse pronta para ser emitida no dia seguinte. Eu cresci assim. No meu início de carreira, trabalhei sem ganhar um cêntimo porque sabia que era aquilo que me apaixonava.”