Triatleta do Sport Lisboa e Benfica, Melanie Santos é uma das personalidades mais jovens nesta modalidade, com diversas provas de peso no percurso. A preparar-se para os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020, a desportista compartilha a importância dos estudos, apesar de ser atleta de alta competição, o futuro do clube que representa e a comparação a Vanessa Fernandes.
Com apenas 23 anos e natural de Basileia, Suíça, a triatleta já esteve presente nos Jogos do Mediterrâneo 2018, onde ganhou o ouro. Arrecadou a medalha de prata, na Taça do Mundo, na Hungria, e posicionou-se em segundo lugar, na Taça da Europa de Triatlo de Quarteira. Estas foram algumas das provas que realizou na sua, ainda, curta carreira de atleta. A aposta do momento é a preparação intensiva para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. A sua preparação passa por treinar todos os dias da semana, entre quatro a seis horas diárias com quatro treinos diários. Ao conciliar o desporto com os estudos na licenciatura de Marketing e Publicidade, na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, no futuro a triatleta pretende juntar as duas paixões.
O seu lema é “a única forma de concretizar um bom trabalho é amarmos o que fazemos”. Onde vai buscar forças e determinação para investir tanto naquilo que acredita, nomeadamente, como atleta de alta competição? E como surgiu a aventura pelo triatlo?
Adoro o triatlo e a alta competição. É o que me faz criar objetivos para continuar. Sempre fiz natação desde muito pequena. O triatlo surgiu um bocado por convite feito pelo pai de uma amiga minha para experimentar. Nadava bem, fazia os corta-matos escolares, tinha bons resultados. Porque não experimentar o triatlo? Resolvi experimentar. Estou cá até hoje, correu bem.
Está a tirar uma licenciatura em Marketing e Publicidade, na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. Apesar de ser atleta de alta competição, esse é o caminho a seguir?
Sem dúvida. Os estudos são como um plano B, caso na carreira de atleta haja uma lesão ou tenha que acabar de repente. Um dia, a carreira vai ter que acabar, vamos ter que trabalhar e ter um sustento para a vida. O marketing é uma área que gosto porque comunico bastante com as pessoas. Gosto de fazer desporto, mas não me via a ser treinadora e o marketing consegue relacionar o desporto e, ao mesmo tempo, ter uma vida social mais ativa.
E quando terminar a carreira no desporto, como é que estes dois universos se irão complementar?
Vou querer trabalhar numa marca desportiva e com atletas. Com o meu conhecimento de alta competição como atleta, vou conseguir ajudar marcas a criarem uma melhor ligação entre os atletas que apoiam e a tirar mais vantagens disso.
As lesões musculares são uma constante na vida dos atletas. Como é que ultrapassa estes momentos? Aproveita, por exemplo, para se dedicar mais aos estudos?
Depende das lesões. Há situações em que podemos continuar a treinar. No caso da minha, agora não posso treinar. Vou estar um mês sem poder treinar, ou seja, ser sedentária, pela primeira vez. Nessas alturas, aproveito para meter a faculdade em dia, acabar as disciplinas que tenho por fazer, estar com os amigos, ir jantar fora, ter uma vida social que, às vezes, com os treinos não conseguimos ter e fazer coisas além de triatlo. O apoio da família é fundamental.
O futuro no Benfica
Em 2016, assinou por quatro épocas pelo Sport Lisboa e Benfica, deixando um passado no Alhandra Club. Como é que foi todo o processo para atingir o lugar onde hoje se encontra?
Iniciei triatlo no Alhandra, um clube mais pequeno, mas que a nível nacional é bastante bom e muito forte. O Benfica foi como se tivesse subido três degraus a nível nacional, porque é um grande clube, tem uma visibilidade enorme, grandes apoios tanto a nível desportivo como médico. Foi o salto para deixar de ser triatleta amadora e passar a profissional.
Faltam dois anos para o seu contrato com o Benfica terminar. É para continuar? Tem vontade de continuar no clube da Luz?
Sim, sem dúvida. O Benfica foi o clube que me acolheu a seguir ao Alhandra. Não tenho intenções de mudar. Estou bastante bem no clube. A seguir a 2020, não há aquela coisa que tens que ficar connosco, mas gostava bastante de continuar no Benfica.
Qual das três modalidades prefere? Qual é a mais exigente?
Corrida e natação faço desde pequena, mas neste momento gosto das três de igual modo. Apesar de que quando comecei, era capaz de dizer que a bicicleta era o que mais me incomodava. Sabia andar de bicicleta, mas não em termos competitivos. Elas têm uma preparação muito parecida. A única diferença é que a bicicleta acaba por ter uma preparação mais longa que as restantes modalidades.
Qual a diferença do triatlo para as outras modalidades?
O triatlo junta os três maiores desportos a nível nacional: natação, ciclismo e corrida, que são bastantes conhecidos em Portugal e há muitos praticantes. O triatlo acaba por ser um desporto bastante dinâmico. Não treinamos sempre a mesma coisa. Por exemplo, uma pessoa que está a começar a modalidade, se estiver cansada de correr, pode ir nadar, andar de bicicleta que o resultado é o mesmo. Por isso, é um desporto bastante dinâmico, muito interativo com a natureza, é excelente.
Recentemente, foi anunciado o patrocínio de uma cadeia de supermercados que a acompanhará no seu percurso desportivo até aos jogos de Tóquio. Que peso tem este apoio e o que representa para o desenvolvimento do triatlo português?
É muito, muito importante, fundamental. Muitas das marcas só se lembram dos atletas olímpicos, quando falta um ou dois anos para os Jogos Olímpicos, que é quando querem apostar em tudo. A seguir aos jogos, como acabaram, não querem apostar em nada. E o Lidl acaba por ser um grande revolucionário, posso assim dizer, porque quer apostar no desporto não só quando é a altura em que a comunicação social dá importância aos atletas nacionais, mas antes disso. Este patrocínio vai fazer com que as outras marcas ou empresas vejam que realmente vale a pena apostar no desporto, não só pelas medalhas que Portugal pode trazer, mas também pela imagem que podemos transmitir às pessoas do que é praticar desporto de alta competição, os valores do desporto. Acho que isso era fundamental para a geração mais nova.
Expectativas elevadas para Tóquio 2020
Falando desse mesmo desenvolvimento do triatlo nacional, que medidas a Federação pode adotar para conseguir uma maior adesão do público e maior mediatismo da modalidade?
O triatlo tem evoluído bastante. Antigamente, o triatlo era com um percurso mais longo e agora estão a torná-lo com um percurso mais curto para as pessoas verem mais vezes os atletas, o que acaba por trazer mediatismos à modalidade. Quanto mais publicidade for feita melhor, ou seja, haver uma maior divulgação da modalidade. Trazerem até bloggers, pessoas com visibilidade. Chamarem-nas a tentar praticar o triatlo. E como, em Portugal, conta muita o ser conhecida, creio que trazia bastante mediatismo à modalidade. E depois incentivar as gerações mais novas. Quem sabe, tentar implementar o triatlo no desporto escolar.
Que importância terá os Jogos Olímpicos de 2020 no seu desenvolvimento pessoal? Que objetivos tem traçados?
Antigamente, podia dizer que ir aos jogos não passava pelos meus planos. Neste momento, ir é como atingir uma meta que nunca pensei que fosse possível. Antes, pensava que era impossível e, agora, vejo que está a dois passos de acontecer. Nem sei bem como vou reagir no momento porque vai ser um dia muito importante. Mesmo que a prova corra mal – espero que não – mas mesmo que as coisas não corram como planeei, o facto de ter conseguido essa meta de estar nos 50 melhores triatletas do mundo que vão discutir uma medalha nesse dia é uma honra. E posso dizer que ser uma das 50 melhores do mundo, onde somos biliões, é fantástico.
Como é a sua rotina? Como se prepara para estes desafios maiores?
Treino todos os dias da semana, entre quatro a seis horas diárias, e tenho quatro treinos diários. São anos de preparação, mas a verdade é que é uma prova de triatlo normal. Acaba por ser a prova mais importante da carreira de um atleta.
É considerada por muitos a nova Vanessa Fernandes. Considera um elogio ou um peso no seu desempenho?
É uma responsabilidade, mas não sinto peso. A Vanessa é uma excelente atleta. Muito, muito boa, mas crescemos em gerações diferentes no triatlo. Na altura dela, o triatlo era muito diferente do que é agora. E a Vanessa, em poucos anos, tornou-se a melhor triatleta do mundo. Até agora é a que tem mais vitórias seguidas. O triatlo evoluiu bastante e estou a fazer o meu percurso e espero não ser vista como a substituta da Vanessa, mas como a Melanie Santos.
Jogos do Mediterrâneo 2018 ganhou o ouro, taça do mundo medalha de prata, taça da Europa de triatlo, na Quarteira, onde ficou em segundo lugar… Tem uma postura humilde, mas também realista. Que metas maiores ainda espera alcançar?
Pela idade, ainda sou muito nova para o triatlo. As melhores do mundo, ou seja, as campeãs do mundo atuais têm todas 29, 30 anos. Tendo 23, ainda tenho esperança que se me aguentar até aos 30 consiga ainda andar mais. É um desporto que tem durance. Acredito que ainda tenho muito para evoluir. Vou crescer bastante como atleta e como pessoa, mas isto é uma pergunta complicada em termos de resultados, porque depois uma pessoa fica marcada. Mas claro que ser medalhada no campeonato do mundo de elites passa pela cabeça de qualquer atleta e, quem sabe, fazer um lugar de honra nos Jogos Olímpicos.