É uma técnica desconhecida para muitos e, geralmente, é apenas associada ao combate à celulite. A verdade é que os benefícios da mesoterapia homeopática são reconhecidos pela própria medicina convencional, como tratamento complementar. Com a ajuda de uma terapeuta e de um médico de clínica geral, descubra como esta técnica pode ser útil para a sua saúde e bem-estar.
A Organização Mundial de Saúde entende homeopatia como a administração de produtos naturais em vez de combater diretamente a doença. Os medicamentos são destinados para estimular o corpo a combater diversos problemas de saúde. Como revela Susana Galvão Parreira, terapeuta de mesoterapia homeopática, esta técnica da medicina complementar “traduz-se na utilização de ampolas de produtos homeopáticos, mais ou menos de 3 mililitros cada e com pouca consistência química”.
O tratamento é eficaz em algumas aplicações muito específicas. “A mesoterapia pode tratar muitos problemas de nível estético e de saúde, como é o caso da sinusite, insónias, artrose, grandes e pequenas articulações, dores e edemas, enxaqueca, inflamações no geral, varizes, cicatrizes, entre outros”, refere a terapeuta. No caso da insónia, especifica, “um dos compostos é a camomila, portanto, são compostos naturais”. Segundo Susana Galvão Parreira, esta técnica também permite “estimular a lipólise (queimar as gorduras), melhorar a circulação sanguínea e linfática, promover a reabsorção e a diminuição do edema, mais conhecido por drenagem e reestruturação dos tecidos. Tem ação descontraturante, anti-inflamatória, anti edematosa e analgésica”.
Como funciona?
Antes de qualquer administração, é necessário um questionário prévio para conhecer os antecedentes familiares do paciente, se toma medicação, é fumador e qual é o nível de atividade física, antes de chegar ao consultório. “Se for alguém que correu e depois vai à consulta, não é aconselhado porque, quando se injeta no meso da pele, há uma irrigação muito grande de sangue e o produto acaba por não fazer o efeito desejado. A idade também é um fator importante, se teve algum antecedente de saúde mais grave, como por exemplo, um AVC. Em casos extremos, pede-se o nome e número do médico de família. O facto de já ter realizado mesoterapia alguma vez também é importante para nós”, indica.
O historial clínico do paciente também é importante na prescrição desta terapêutica:”Quais os tratamentos a que já se submeteu na medicina convencional, se também já teve na medicina chinesa e só agora está na mesoterapia. Em casos extremos, por exemplo, no caso de artroses, pedimos um raio-X.” Depois do questionário, o terapeuta analisa e escolhe o melhor método de tratamento em função de cada caso.”
Da medicina complementar à estética
A mesoterapia homeopática pode, avança a especialista, “servir de medicina complementar em casos de artroses, reumatismo, tendinites, calcificações, neuropatias, dores articulares, problemas circulatórios e modulação hormonal. Na estética, pode beneficiar no combate à celulite, obesidade, gordura localizada, rugas de expressão, estrias, cicatrizes, manchas, fibroses, queloides, varizes, entre outros”.
A terapeuta em mesoterapia homeopática revela o que a levou a enveredar por esta área: “Quando estava a tirar o curso, vi uma variz a desaparecer perante os meus olhos, a professora secou uma variz de uma paciente”. A manutenção ideal do tratamento varia em função do caso, mas a maioria dura entre dois a seis meses, o que equivale a uma ou duas vezes por semana.
Efeitos secundários
Mesmo que recorra a substâncias naturais nos tratamentos, a mesoterapia homeopática pode causar efeitos secundários, embora não existam muitos casos descritos na literatura especializada. A terapeuta adianta, no entanto, que “os efeitos adversos mais comuns podem ser dor, eritema e pequenos hematomas”.
Após dada a injeção – continua – “pode ficar um durão, parecida com uma picada de uma melga. É uma fibrose na área injetada, mas que desaparece ao fim de dois dias e não tem qualquer tipo de mal para a saúde da pessoa. É apenas reação da derme ao inserir a agulha. O corpo tem uma reação muito pequena porque o que é inserido na meso é o líquido da ampola, que reage, mas este é igualmente absorvido”. Outro efeito secundário pode ser, segundo Susana Galvão Parreira, “a sensação de quente na pele, mais irrigada na área tratada e pode dar comichão. Tudo isto por causa do estímulo da picadela”.
Contra indicações do tratamento
A mesoterapia homeopática também tem algumas contra indicações bem definidas. “Não se pode aplicar esta técnica a pacientes em que a avaliação não tenha dado um diagnóstico conclusivo. Também não se deve administrar em peles que foram expostas ao sol”, adianta. Susana Galvão Parreira refere ainda que “não pode ser administrada em grávidas, nem mulheres que estejam a amamentar porque como o corpo vai receber a anestesia da epidural”. E explica por quê: “O corpo da mulher sofre muito com o parto e com a gravidez em si. As articulações ficam mais móveis e mais recetíveis às agressões. O corpo está em alerta e, por isso, recomenda-se um repouso da epidural.”
A doença oncológica é outras das situações em que este tratamento está contra indicado. “As pessoas que tiveram cancro devem esperar um ano para o corpo ficar sem receber informação química, mas não é porque haja algum efeito secundário, mas sim por que é recomendado o corpo repousar antes de fazer sessões de mesoterapia.” Também não é recomendado aplicar esta terapia em crianças porque deve ter o sistema imunitário desenvolvido o suficiente para que consiga auto tratar.”
Complemento da medicina convencional
Ibraimo Maulide, médico de clínica geral, esclarece que “os tratamentos à base de terapias naturais promovem processos que procuram seguir recomendações básicas da medicina, como a melhoria da dieta, a prática física e o repouso”. No seu entender, “podem trazer benefícios e bem-estar aos doentes, desde que não interfiram com medidas determinadas pelo acompanhamento médico. Por essa razão, é importante que não se realizem este tipo de terapias, sem que o médico assistente do doente esteja devidamente informado”.
O clínico afirma ainda que “os riscos e as desvantagens existem quando a adesão às terapias naturais implica a rejeição ou o recurso tardio ao acompanhamento médico, o que pode atrasar o diagnóstico ou o tratamento de doenças”. Antes de recorrer a este tratamento, deve, sublinha o médico, “informar-se sobre o profissional, falar com o seu médico de família para que os resultados sejam os melhores”.
As origens dos tratamentos naturais
A homeopatia foi mencionada pela primeira vez por Hipócrates (462-377 a.C), mas foi o médico Samuel Hahnemann (1755–1843) que estabeleceu os princípios básicos da homeopatia: lei de similaridade, direção de cura, princípio do remédio único, a teoria do mínimo de dose diluída e da doença crónica. Procedimento médico adotado pelo clínico francês Michel Pistor, em 1958, a mesoterapia consiste na aplicação direta na região a ser tratada, de injeções intradérmicas de pequenas quantidades de medicamentos, em doses baixas e muito diluídas.
A história que impulsionou a técnica de mesoterapia é bastante conhecida. Pistor recebeu um paciente com crise de asma e ministrou-lhe procaína endovenosa, buscando obter broncodilatação. Além de asmático, o doente apresentava um défice auditivo crónico. No dia seguinte, voltou e disse ao médico que, após 40 anos de surdez, conseguiu ouvir novamente o sino da igreja, relacionando a melhoria auditiva à injeção recebida. O médico passou a administrar injeções intradérmicas na região afetada, com melhorias significativas na evolução do paciente. Michel Pistor definiu a técnico pela necessidade de “aproximar o local dos tratamentos, do local das doenças?”.
A mesoterapia homeopática foi integrada nos sistemas nacionais de saúde de muitos países, incluindo a Índia, o México, o Paquistão, o Sri Lanka e o Reino Unido. Em Portugal, a mesoterapia homeopática é legal e a regulamentação da sua prática está prevista na Lei n.º 45/2003 e Lei 71/2013. Porém, existe uma luta que move o setor de medicina complementar, no sentido de conseguir, junto do Governo, que este tipo de tratamento possa ser considerado para efeitos de IRS, como acontece com a medicina tradicional. Se o serviço for prestado por um especialista de medicinas não convencionais, o utente paga o tratamento com IVA. O projeto de lei ainda está a ser revisto.