Frederico Rosa, 42 anos, presidente da Câmara Municipal do Barreiro, falou ao UALMedia sobre a gestão de expetativas das pessoas e sobre dar a cara nos bons e maus momentos. Construir pontes, físicas e literais, para atração de empresas, cativar investimento e criar emprego: “Há mais riqueza para distribuir.”
Na edição de 2021 do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking, o Barreiro cresceu em todos os itens e alcançou o melhor score de sempre, encontrando-se neste momento em 47º lugar a nível nacional e em 11º lugar a nível regional. O que pretende fazer para que o Barreiro continue a alcançar maior visibilidade?
O mesmo que temos feito desde que chegámos aqui. O Barreiro precisava de se renovar, com uma premissa: não tens varinhas mágicas para resolver os problemas todos de uma vez. Olhar para o Barreiro e ver que um investimento público vai atrair de seguida investimento privado, que vai trazer mais receitas para a câmara para fazeres mais investimento público. Para fazer crescer esses rankings, criámos um regulamento de incentivo ao investimento. Estamos a liderar também pelo exemplo e a mostrar às pessoas que os primeiros a acreditar no Barreiro somos nós!
Passeando pelo Barreiro, nota-se a presença de obras como a requalificação da Avenida da Liberdade, com o objetivo de resolver problemas diários de tráfego e acesso ao terminal rodo-ferro-fluvial. Quais as principais dificuldades na execução de projetos como este?
Aumentar a zona para as pessoas, ou seja, passeios mais largos, na premissa de que as cidades são para as pessoas, não para os carros. Primeiro é a nível interno, a burocracia para teres obra na rua. Depois é a parte que mais prazer me dá, que é a parte da gestão das expectativas das pessoas, porque toda a gente quer uma rua nova, mas de preferência que ela seja feita durante a noite. Ninguém quer o pó, as máquinas, os problemas do trânsito. Uma obra destas muitas vezes são dez meses. É o que digo sempre: nos bons e nos maus momentos, dares a cara. O resultado final da experiência que temos tido tem sido positiva. A comunicação é a chave e nós nem sempre temos comunicado bem.
O seu adversário, Carlos Humberto, referiu num artigo publicado no Diário de Notícias a 6 de setembro de 2021, que não se identifica com as opções tomadas nestes últimos quatro anos e que poderão ter agravado questões como desemprego, mobilidade, envelhecimento e segurança. Quer comentar?
Sim, é normal que não esteja de acordo comigo e não há problema nisso, por isso é que me decidi candidatar. São duas visões diferentes de cidade. Os rankings não conferem aquilo que ele diz, porque crescemos em receitas. Há mais riqueza para distribuir. Os programas que ele cortou, hoje estão todos reforçados em dobro. Os números não mentem. Olho com respeito, porque estão a defender aquilo que acreditam, estão a defender o seu percurso político.
“Vamos ter capacidade de nos reinventar”
O Barreiro foi considerado durante décadas parte da história industrial e financeira de Portugal, marcada pela Companhia União Fabril. Neste momento, o Barreiro é considerado um dormitório. O que pretende fazer para dinamizar o emprego no Barreiro, para que os habitantes possam trabalhar no concelho?
Se no Barreiro, que está no centro da Área Metropolitana de Lisboa, chegares em 15 ou 20 minutos a qualquer lado, podes trabalhar no Barreiro ou não, mas de certeza que o Barreiro é um bom sítio para viver. É muito importante construir essas pontes, físicas e literais, para que possas ter condições de atração de empresas. Vamos ter agora a nova start up, novos espaços, vou ter mais ferramentas para cativar o investimento e criar cá emprego. Isto é um processo longo. É nesta trilogia de qualidade de vida, habitação e sermos atrativos para receber investimento, de preferência qualificado, que vamos ter capacidade de nos reinventar para um Barreiro que já foi uma capital de indústria em Portugal.
De acordo com as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística de 2020, relativamente à taxa de criminalidade por localização geográfica, no estudo de 15 de junho de 2021, o Barreiro é o segundo concelho com maior taxa de criminalidade na Área Metropolitana de Lisboa. Considera a videovigilância uma opção?
Sim, considero, tudo tem que ser considerado opção. Uma das coisas em que estamos a trabalhar é o reforço da fiscalização. Não sou adepto de estados policiais, mas sou adepto de zonas seguras, todos somos!
A melhor câmara de vigilância são as pessoas. É um problema que tem de se olhar de frente e equacionamos nestas três vias: reforço de meios, reforço de tecnologia, mas também reforço de atividade e vivência da cidade. Apesar de Portugal ser o terceiro país mais seguro do Mundo, nunca nos podemos esquecer disso.
Os barreirenses têm que se deslocar à Moita para lhes ser administrada a terceira dose da vacina contra a COVID-19, enquanto a primeira e a segunda dose foram administradas no Barreiro. Esta situação é sinónimo de falta de condições de vacinação no concelho?
Objetivamente é, não tem é a ver com a câmara. Só se vão vacinar à Moita porque quem está a vacinar não é a câmara, mas sim os agrupamentos do centro de saúde que decidiram que no Barreiro não queriam [administrar a vacina]. Há coisas que diria que são de difícil entendimento, mas pronto… O Barreiro teve um centro de vacinação que era uma referência nacional, funcionou muito bem e agora vai voltar a ter, porque a capacidade de logística nós temos, só não damos vacinas e, finalmente, concordaram em vir para o Barreiro para a terceira dose.
Que alternativas oferece a câmara para quem não tem como se deslocar ao centro de vacinação?
A câmara tem os autocarros normais… O problema é que as pessoas não vão todas à mesma hora vacinar-se e isso faz com que o transporte dedicado seja uma impossibilidade. O que resolve o problema é teres o centro de vacinação no sítio onde tens 75 mil pessoas mais 25 mil na Baixa da Banheira que moram do outro lado da rua do Barreiro! Houve entidades que demoraram tempo a perceber… Quando se está afastado a tomar decisões é mais fácil, mas acerta-se menos.
“É preciso muito investimento que não é valorizado”
A água do Barreiro para consumo público distribuída pela Câmara Municipal é, segundo a Entidade Reguladora de Serviços de Águas e Resíduos, de excelente qualidade, colocando-se numa posição de destaque no panorama nacional. Em 2021, os serviços de abastecimento de água obtiveram a certificação do seu Sistema de Gestão de Qualidade, de acordo com a norma portuguesa, concebida pela APCER. Considerando a água um bem essencial à vida, qual o esforço que exige para que seja de excelente qualidade para os habitantes do Barreiro?
A água é o tema das próximas décadas e no Barreiro é um tema sensível. Quando chegámos, a maior parte das condutas eram em fibrocimento e há que fazer a renovação integral. Garantir a nível de construção que não se impermeabilize certas zonas para haver infiltração nos aquíferos porque, se não respeitarmos o ciclo urbano da água, os aquíferos qualquer dia deixam de existir. Existem muitas ligações indevidas, comprámos um robot que entra nas condutas, vai filmando e vamos identificando para poder retificar. É preciso muito investimento que não é valorizado, está debaixo da terra, as pessoas não veem. O próximo passo é colocar inteligência nas condutas, tornar uma smart city, para teres capacidade de intervir e antecipar problemas antes de eles ocorrerem. Vai ser um passo grande e queremos ser um dos primeiros em Portugal a fazê-lo.