Sinopse:
“Evanston não fica muito longe de Naperville nos subúrbios de Chicago, mas os jovens Will Grayson e Will Grayson bem que podiam viver em planetas diferentes. Quando o destino os leva à mesma encruzilhada, os Will Graysons veem as suas vidas a sobreporem-se e a seguirem novas e inesperadas direções. Com um empurrão de amigos novos e velhos – incluindo o enorme e enormemente fabuloso Tiny Cooper, jogador ofensivo na equipa de futebol americano da escola e autor de musicais – Will e Will embarcam nas suas respetivas aventuras românticas e na produção épica do musical mais extraordinário da história.”
Crítica:
“Will e Will”, escrito por David Levithan e John Green, conta a história de dois rapazes que partilham o mesmo nome, mas veem a vida de maneira completamente diferente. Will Grayson 1, cujos capítulos são escritos por Green, pretende passar o seu secundário despercebido, fugindo das luzes da ribalta (algo difícil, visto que o seu melhor amigo, Tiny, adora ser o centro das atenções) e Will Grayson 2, escrito por Levithan, é um jovem homossexual que sofre de depressão, cuja única felicidade durante o dia é falar com a sua paixoneta online, Isaac.
Inicialmente, parece que estamos a ler dois livros completamente diferentes. Nos capítulos ímpares, dedicados a Will Grayson 1, vemos claramente o estilo de Green: um romance jovem no qual o personagem principal possui um conjunto de características que o fazem diferente dos outros, mas que ao mesmo tempo fazem com que nos identifiquemos com ele; um melhor amigo que serve para dar um lado cómico à história; um interesse romântico que motiva a personagem principal. Nos capítulos pares, dedicados a Will Grayson 2, Levithan escreve a sua personagem de uma maneira mais subtil e criativa: Não existe capitalização, e a história é contada maioritariamente por mensagens e diálogo, para além de existir uma tentativa de tocar em assuntos importantes, como a homossexualidade e a depressão.
Lemos sobre o dia a dia de cada um, algo que apesar de ser inicialmente interessante e de nos permitir conhecer melhor as personagens, rapidamente se torna aborrecido pelo facto de não acontecer nada em concreto: não há conflito, não há objetivo final para nenhum dos Will Grayson, estão ambos apenas a viver. Quando finalmente os dois Will se conhecem, a história ganha maior interesse, mais exatamente na vida de Will Grayson 2, que acaba por ser mais afetada por Tiny do que por Will Grayson 1, acabando os Will por não afetarem a vida um do outro em grande escala.
Há que admitir: os capítulos de Will Grayson 2 são muito melhor conseguidos do que os de Will Grayson 1. Levithan não só apresenta a história num formato diferente (sempre em minúsculas e dependendo maioritariamente de diálogo para contar a sua história) como tenta tocar em assuntos atuais, de uma maneira bastante subtil, mas eficaz, algo que nos faz desejar que existissem mais capítulos sobre este Will Grayson. Vemos o mundo pelos olhos de uma personagem com depressão, algo tratado como uma doença e não como uma característica da personalidade da personagem. Seguimos também Will 2 enquanto este aceita a sua homossexualidade e tenta descobrir-se a si mesmo. Os capítulos de Will Grayson 2 mexem com o nosso lado emocional, conseguem-nos até comover nalgumas partes.
Comparado com Will Grayson 2, Will Grayson 1 acaba por ser uma personagem algo aborrecida. O seu “romance” com Jane é fraco e as duas personagens não têm muita química. A personalidade de Will Grayson 1 também é pouco desenvolvida, não passando das suas duas regras de vida, “não queiras saber muito” e “cala-te”, o que faz dele um pouco antissocial, uma característica partilhada por Will Grayson 2. No entanto, esta faceta de Will 1 não é tão bem conseguida como em Will 2, chegando Will 1 a parecer antipático em vez de apenas relutante a falar com outras pessoas. As suas interações com o seu melhor amigo, Tiny, é que acabam por dar à personagem alguma amabilidade. De facto, Tiny acaba por ser a personagem que faz a história desenvolver-se.
Tiny, escrito por John Green, é um estereotipo homossexual andante. É descrito logo na primeira página como “muito, muito gay”, e poucas outras características tem para além da sua orientação sexual. Tiny é grande, emocional, apaixona-se por um rapaz novo todas as semanas, gosta de cantar e dançar, consequentemente gosta de musicais e de ser o centro das atenções – tanto que um dos focos principais da história é o facto de ele querer escrever um musical acerca de si mesmo. Ele é o humor na história, o melhor amigo de Will 1 e o eventual interesse romântico de Will 2, ajudando-o a aceitar a sua homossexualidade. O contraste entre Will 2 e Tiny está bem escrito, no entanto, no que toca a personagens LGBTI, Will 2 está melhor conseguido (algo que era de esperar, visto que Levithan já tinha escrito alguns romances LGBTI antes deste, ao contrário de Green), sendo uma personagem complexa e bastante humana, enquanto que Tiny acaba por ser uma grande piada utilizada para avançar a narrativa. É também apresentada a relação platónica entre Will 1 e Tiny. Apesar de tanto Tiny como Will 1 serem personagens pouco complexas, a amizade deles está muito bem narrada. Percebemos o porquê de serem amigos e o amor platónico entre os dois. No entanto, a personagem de Tiny acaba por ofuscar um pouco a de Will 1, e a certo momento a história passa a ser “Tiny e Will” em vez de “Will e Will”, ou seja, os autores acabam por fugir um pouco à sua ideia inicial de dois rapazes com o mesmo nome que, eventualmente, se encontram e afetam a vida um do outro, passando a ser Tiny o foco principal dos capítulos de Green, deixando Will 1 para trás.
Sente-se que os dois autores não concordam no que querem que seja a história. Green escreve um romance jovem normal e com algum sentido de humor (se bem que à custa de Tiny) e Levithan escreve algo mais dramático e cru, os conflitos interiores de um adolescente que ainda se está a descobrir. Por esta razão, quando tentam juntar as duas histórias, estas acabam por chocar um pouco. Separadamente, tanto Green como Levithan conseguem fazer romances jovens apelativos, no entanto, esta tentativa de junção dos dois acabou por falhar devido a estilos e temáticas diferentes. Até o final do livro parece um pouco “e viveram felizes para sempre”, resolvendo de uma maneira bastante leviana questões que deviam ter sido aprofundadas.
Este livro tinha potencial para ser muito bom. Tanto Green como Levithan são escritores experientes e cada um deixa a sua marca no respetivo Will. Apesar de ter uma história parada, é uma tentativa de retratar temas importantes como a depressão, a homossexualidade, o amor e a amizade. É uma leitura rápida e leve para quem procura algo simples, mas tocante.
Se gostaste de “Will e Will: Um Nome, Um Destino” também gostarás de “A Cada Dia” de David Levithan.