Jornalista e coordenador de informação da Sport TV, Tiago Peres Costa fala da sua paixão pelo desporto rei, das vivências enquanto jovem nos relvados e de como é aliar o trabalho à paixão pelo futebol.
Como surge o futebol na sua vida? É uma paixão familiar ou não teve qualquer influência?
Não sei precisar como apareceu o futebol na minha vida, mas as primeiras memórias que tenho são de adorar jogar futebol. Lembro-me de estar na Escola de Futebol Humberto Coelho, a primeira escola de futebol no país. O meu pai conta-me que, nos primeiros jogos, estava encostado ao poste a ver os outros miúdos a jogarem e perguntar-lhe as horas porque estava farto e queria ir embora [risos]. Ele conta-me isto e não acredito, porque desde que me lembro, adoro jogar futebol e adoro ver futebol. Não sei precisar como apareceu esta paixão. Não foi por influência dos pais ou familiares. O meu pai jogou andebol e não é ”grande espingarda” a jogar futebol [risos]. Sei que apareceu e ainda bem.
Em declarações à Sport TV+, revela que deixou a carreira nos relvados devido a lesão e dedicou-se ao jornalismo de desporto. O Tiago como jogador era mais talentoso que o Tiago jornalista ou sente-se melhor no estúdio?
Era mais talentoso no futebol, no estúdio é mais capacidade de trabalho. A questão da comunicação é muita leitura, trabalho e preparação. É importante pois quanto melhor nos prepararmos, estamos adaptados a qualquer coisa que fuja do normal. A nível de talento, acho que o talento para a bola era superior, porém, tinha menos capacidade de trabalho [no relvado] do que profissionalmente.
Começou a sua experiência profissional na Rádio Renascença. Neste momento, é essencialmente repórter de campo em jogos. Quando deixou de jogar, o jornalismo foi uma escolha óbvia?
Não. Só deixei de jogar depois de quatro operações aos joelhos e sempre pensei em seguir algo ligado ao desporto. Sempre adorei desporto, sou muito eclético, mas obviamente com paixão pelo futebol. Ponderei até ser árbitro. Fui para Comunicação Social na Universidade Católica com o objetivo de ser jornalista, mas obviamente que o meu foco era ser jornalista de desporto. Atualmente não sou só repórter de pista, fui promovido a coordenador e tenho estado mais na régie. Tenho feito menos jogos, com muita pena minha. São diferentes fases da carreira.
Todos temos clube, porém o jornalista tem de ser imparcial. Teve dificuldade de separar o Tiago adepto do Tiago jornalista?
É fácil. Não tenho clube. Consigo vibrar por todos, tenho uma paixão pela modalidade. E é fácil de explicar: desde novo, ia ao Estádio da Luz e ao antigo Estádio de Alvalade. Comecei a ver futebol por prazer, a desfrutar do jogo. Depois, comecei a ver o Porto do José Mourinho. Vibrava, era apaixonado. Chorei de felicidade quando ganharam a Taça UEFA, a Liga dos Campeões e a Taça Intercontinental. Sofro com a seleção nacional, em véspera dos grandes jogos nas grandes competições, durmo mal [risos].
A visão de um apaixonado
Prefere um conto de fadas como o Leicester (campeão inglês em 2105/2016) ou o Girona, atual 1º classificado da Liga Espanhola?
Sim. Defendo sempre os mais “pequenos”. Gosto das histórias emotivas, tal como o Leicester, o Girona, a própria Grécia [no Euro 2004] para mal dos nossos pecados, apesar de, nesse caso, ter ficado muito triste [risos]. Há muita gente que não gosta dos formatos das competições europeias [Liga das Nações, Liga Europa e Liga Conferência] e eu sou o maior defensor disto. Sou o maior defensor da abertura das competições europeias, apesar de muita gente ter criticado a criação da Liga Conferência, porque ia ter jogos entre equipas da Islândia e das Ilhas Faroé. Venham eles!
Frequentemente, os jornalistas de desporto são acusados de ter tendência por determinado clube. Sendo que, recentemente, foi acusado de mau profissionalismo pelo Departamento de Comunicação do FCP devido a uma pergunta a Mehdi Taremi e às suas simulações, sente a pressão dos adeptos em especial nas redes sociais e esses comentários têm influência na sua vida?
Influência na minha vida e na minha carreira, zero. Recebi umas 20, 30 mensagens nas redes sociais, automaticamente bloqueei e reportei. Não liguei grande coisa, porque entendi aquele episódio como uma estratégia de comunicação do Futebol Clube do Porto e aí faço mea culpa, porque o meu inglês não foi o melhor, apenas tentei que o Taremi esclarecesse o que diziam dele, tentei colocar a questão dizendo: “Há quem diga que é um grande jogador e há quem diga que é um simulador, qual é a opinião do Taremi?” Tentei dar os dois lados e pedindo ao protagonista para esclarecer. O meu inglês não foi o melhor, o jogador não tinha sido escolhido por mim para a flash, o que me dá a entender que o Porto queria que houvesse confusão. E houve.
Quanto à comunicação dos clubes em Portugal, sente que ajuda à “clubite aguda” por parte dos adeptos e incendeia o clima do futebol?
Está mais calmo em relação ao que era há cinco ou dez anos. Havia um ódio incrível entre clubes que não era positivo para a modalidade. Acaba por afastar pessoas dos estádios e do futebol português. Cada vez há mais pessoas a gostar de ver futebol internacional em detrimento do futebol português. Os jovens preferem um jogo de Premier League, entre o Arsenal e o Fulham, a um Moreirense – Farense e creio que não deveria ser assim. Os departamentos de comunicação são muito fechados em Portugal, sentimos a diferença quando vamos lá fora. Então em comparação com o Norte da Europa, onde disponibilizam os jogadores que queremos nas vésperas dos jogos… Lembro-me de ir acompanhar a seleção da Suécia e, na véspera de um jogo contra Portugal, perguntaram que jogadores queríamos e antes do treino disponibilizaram-nos, para além da conferência oficial. Em Portugal, ouve-se muito pouco os protagonistas. Há que melhorar.
O olhar do coordenador
Atualmente, é coordenador na Sport TV. Olhando para países como Inglaterra, Espanha, França ou Itália, o que traria no que concerne à cobertura desportiva em Portugal?
Maior abertura dos clubes, como acontece nesses campeonatos. Em França, na Ligue 1, existe comunicação dos jogadores ao intervalo. Cá, aos poucos, na Segunda Liga, já temos um jogo por jornada com essa abertura dos jogadores antes de recolherem aos balneários, mas ainda parece muito forçado. Existem magazines dessas ligas, cá há um magazine semanal que a Sport TV transmite da Primeira e Segunda Liga, mas ainda há pouca coisa feita em relação à promoção do jogo. Concordo que com esta direção da Liga de Pedro Proença, há um esforço nesse sentido, mas ainda há muito caminho a percorrer. Em termos de jogo, há que melhorar as faltas, em Portugal. O tempo útil de jogo é muito baixo. Vi uma estatística que mostrava que em nove jogos da Segunda Liga, não chegava a 55% de tempo útil de jogo, o que é muito pouco. Já na Primeira Liga, há um esforço para mudar. Pegando numa entrevista recente do Bernardo Silva, ele afirma que se o jogador se atira para o chão e o árbitro apita, obviamente que se vai continuar atirar. Já nas outras ligas e no Campeonato do Mundo, por exemplo, o jogador atira-se para o chão e o árbitro não apita uma, não apita duas vezes, o jogador não irá repetir. É uma diferença tremenda.
Que balanço faz da sua carreira até agora e o que sente que ainda falta fazer enquanto jornalista de desporto?
Estou a gostar muito. Estou há 15 anos na Sport TV. Comecei por ser jornalista de redação, repórter de pista, fiz reportagens no estrangeiro e agora sou editor/coordenador, não deixando de ser jornalista, passei também a apresentar e sou muito realizado. Gostava de experimentar num futuro próximo a narração de jogos. No futuro, vejo-me, quiçá, a ser comentador, acho que podia agregar valor ao comentário desportivo. Gostava também de fazer a cobertura de um Campeonato Europeu ou um Campeonato do Mundo de seniores. Já estive em campeonatos da Europa de Sub-21 e são experiências incríveis que nos dão grandes bases.