Ex-diretora da ELLE Portugal, Sandra Gato é um exemplo de resiliência e inovação no jornalismo de moda e na comunicação estratégica. Durante quase uma década à frente da revista, abordou temas como sustentabilidade, diversidade e o novo feminismo, ajudando a transformar a ELLE num reflexo das mudanças sociais do seu tempo. Hoje, aplica a sua paixão pelo storytelling na Lemon Zest.
Num espaço acolhedor e carregado de memórias, Sandra mostra-se acessível e franca, partilhando momentos marcantes da sua carreira e oferecendo um olhar sobre o futuro da moda e da comunicação. Entre recordações das suas experiências na direção da ELLE e os desafios de manter a relevância num mercado editorial em constante mudança, a “ex-jornalista” revela como o storytelling continua a ser a essência do seu trabalho, mesmo no universo empresarial. Atualmente, ajuda marcas a construir narrativas, unindo criatividade e estratégia para comunicar de forma autêntica e eficaz. Uma entrevista concedida em casa dos seus pais, o ambiente ideal para uma conversa descontraída, mas repleta de reflexões inspiradoras.
O público associa-a à ELLE, mas atualmente quem é Sandra Gato?
[Risos] Ainda sou jornalista. Acho que ser jornalista é algo que fica connosco para sempre. Mas, agora, sou também uma consultora de comunicação, o que me permite continuar a fazer o que sempre adorei: contar histórias. A minha ligação ao mundo editorial e à ELLE foi única e definiu grande parte do que sou profissionalmente, mas atualmente estou numa fase mais focada na comunicação estratégica, especialmente no setor do lifestyle.
Dirigir a ELLE foi um marco na sua carreira. O que a motivou a aceitar o cargo?
Dirigir a ELLE foi um desafio impossível de recusar. Trabalhar naquela revista desde os 22 anos fez com que a conhecesse em todos os detalhes. Quando surgiu o convite, senti que era o próximo passo natural, embora nunca tenha sonhado com essa posição. Foi uma experiência incrível, mas cheia de responsabilidades, especialmente numa fase em que o mercado enfrentava transformações profundas.

A liderança na ELLE: desafios e aprendizagens
Quais foram os maiores desafios que enfrentou durante a sua direção?
A pandemia foi um dos maiores desafios. Fazer uma revista inteira em teletrabalho foi algo sem precedentes. Além disso, enfrentar a ascensão dos influenciadores e a mudança das prioridades das marcas trouxe complicações económicas para revistas como a ELLE. Adaptei-me sempre, mas ver o mercado editorial encolher foi difícil.
Entre os muitos projetos que liderou, há algum que considere inesquecível?
Sem dúvida, a edição comemorativa dos 25 anos, com a Sara Sampaio. Fizemos quatro capas diferentes, algo inovador na altura. Além disso, temas como sustentabilidade, diversidade e o novo feminismo marcaram a minha direção e mostraram que a ELLE era mais do que moda – era um reflexo da sociedade.
Que impacto acredita que a ELLE teve no panorama editorial em Portugal?
A ELLE foi uma referência durante décadas, não só na moda, mas também como promotora de discussões relevantes sobre feminismo, sustentabilidade e diversidade. Era uma revista que desafiava normas e apresentava um conteúdo sofisticado, tanto em termos visuais como editoriais. Tenho orgulho de ter contribuído para esse legado.
A transição para a comunicação estratégica
Como foi a transição para a Lemon Zest, após tantos anos no jornalismo?
Foi uma transição muito natural, mas desafiadora. Já tinha afinidade com áreas como lifestyle e gastronomia, o que facilitou a adaptação. Contudo, sair de uma posição de liderança para um papel mais colaborativo foi uma mudança grande. Encontrei novas formas de trabalhar e continuei a aprender todos os dias. O meu trabalho sempre foi contar histórias. Agora, faço-o de uma nova forma.
Quais as diferenças mais marcantes entre liderar uma redação e trabalhar numa agência de comunicação?
Na ELLE, o trabalho era muito colaborativo, e as redações tinham uma energia única. Agora, na Lemon Zest, o trabalho é mais focado e individualizado, mas igualmente exigente. Sinto falta do momento em que recebíamos a revista pronta, com o trabalho de um mês materializado num objeto físico.
O que aprendeu com a experiência de liderar equipas na ELLE que aplica agora na Lemon Zest?
A gestão de pessoas foi uma das lições mais importantes. Na ELLE, aprendi a lidar com diferentes personalidades e a motivar a equipa para superar desafios, desde cumprir prazos apertados até criar conteúdo inovador. Hoje, uso essas competências para colaborar melhor e compreender as necessidades dos clientes na Lemon Zest.
A moda e a comunicação digital
A moda e a comunicação são mundos que exigem constante inovação. Como encara esse desafio?
Sempre com curiosidade e vontade de aprender. A moda mudou muito com a entrada dos influenciadores e a era digital, e a comunicação também. Na Lemon Zest, aplico a minha experiência no jornalismo para criar conteúdos autênticos e relevantes, mas adaptados ao que o público procura hoje.
Como vê a relação entre marcas de luxo e influenciadores digitais?
É uma relação que trouxe muitas mudanças. Na ELLE, percebi que os influenciadores se tornaram uma peça importante para as marcas, mas é fundamental manter o equilíbrio entre a promoção e o conteúdo editorial. O desafio está em garantir que a autenticidade não se perca nesse processo.
Que conselhos deixaria aos jovens que desejam seguir uma carreira no jornalismo ou na comunicação?
Mantenham-se curiosos e resilientes. O mundo muda rapidamente, mas a paixão por contar histórias é atemporal. Invistam em aprender, experimentem novas ferramentas e não tenham medo de falhar – cada recomeço é uma oportunidade de crescer.