Atual diretor de comunicação da Federação Portuguesa de Basquetebol e comentador de NBA na Sport TV, Ricardo Brito Reis é das figuras com maior mediatismo no que toca ao basquetebol em Portugal. Nesta entrevista, fala sobre o seu percurso académico e profissional, sobre projetos e, claro, sobre basquetebol.
É licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Independente de Lisboa. Como surgiu a decisão de seguir esta área?
Sempre que pensava no que queria fazer no futuro, tudo o que menos queria era uma profissão que me fizesse ficar fechado dentro de quatro paredes. Tinha de ser algo que me permitisse ter algum dinamismo, que a rotina não fosse sempre igual. Na altura, interessava-me muito o jornalismo de investigação, gostava muito de ver e ler coisas desse género. Foi com base nessa ideia que decidi seguir o curso de Ciências da Comunicação.
E o jornalismo de desporto? Já entrava em cena ou ainda não?
Não, nada. Na verdade, nunca quis ir para jornalismo de desporto, até porque acho que o jornalismo de desporto tem muito pouco de objetivo, é muito subjetivo e de opinião, e isso colide com a minha ideia de jornalismo.
Conta com várias ações de formação no Cenjor. Acredita que estas formações foram úteis para a sua carreira e desenvolvimento de competências?
Foram determinantes. No último ano da licenciatura, como tinha um professor que era na altura diretor do Cenjor [Fernando Cascais], quem era finalista de comunicação tinha de escolher duas ações de formação como se fossem cadeiras obrigatórias. Optei por escolher Atelier de Rádio e o Atelier de Televisão, pois já éramos “massacrados” com cadeiras de imprensa escrita. A verdade é que senti que nesses seis meses no Cenjor aprendi mais do que no resto do curso inteiro.
Após ter passado no Cenjor uma primeira vez, percebi que havia ali tantos cursos e tantas formações boas que nunca deixei de lá estar. Posto isto, enquanto trabalhava na rádio, como só entrava à tarde, ocupava as minhas manhãs a fazer cursos. Fiz uma série deles.
“Foi aí que o jornalismo de desporto começou a ingressar na minha vida”
Falemos agora da experiência na Rádio Nova Antena. Quais eram as funções que desempenhava?
Fazia edição de noticiários e também reportagem de rua. Como era uma rádio local, o ambiente e o foco era também local, portanto, fazia reportagens desde ir às assembleias municipais e reuniões de câmara, até àquelas coisas mais pequenas que existem nas comunidades locais. Essas reportagens de proximidade foram uma aprendizagem enorme.
Outra das questões que era bastante positiva em trabalhar numa rádio local era a liberdade e margem que tinha para propor conteúdos. Foi aí que o jornalismo de desporto começou a ingressar na minha vida. Em 2006, propus um programa diário que se chamava “A caminho da Alemanha” e fiz ali um pequeno programa sobre o Mundial de Futebol. Foi precisamente isso que me despertou para o lado do jornalismo de desporto e acabei por perceber que tinha ali tudo para fazer alguma coisa relacionada com basquetebol, sendo nessa altura que lancei aquele que foi o primeiro site dedicado à modalidade em Portugal, o Ressalto.com.
Passou depois pela Liga de Clubes de Basquetebol. Como surge esta oportunidade?
Na altura, como já tinha o site, fazia várias entrevistas. Uma das vezes, entrevistei o presidente da liga e ele percebeu que estava a trabalhar só para o basquetebol, que não se tratava de algo rentável. O facto de ele sentir que tentava promover muito o basquetebol num projeto que não me dava nada, que fazia por “carolice”, acabou por gerar um convite para entrar na Liga de Clubes de Basquetebol. Aceitei. Achei que fazia sentido investir nesta vertente mais desportiva.
Em 2008, junta-se ao jornal A Bola. Já se focava inteiramente no basquetebol ou também escrevia sobre outros desportos?
A intenção era especializar-me cada vez mais no basquetebol, até mesmo pelo que já tinha construído no Ressalto e na liga de clubes. Mas, como havia pouca gente, de vez em quando mandavam-me ir fazer um jogo de andebol ou outra modalidade.
Ao longo da sua carreira foi sempre criando e mantendo projetos paralelos, tal como o Ressalto.com, que já mencionou. Acredita que foram importantes para a sua carreira?
Foi a coisa mais importante para a minha carreira. Quando criei o Ressalto.com não estava a pensar em ir trabalhar para um jornal ou sequer trabalhar na área. Fazia-o porque gostava genuinamente. Mais tarde, quando crio o primeiro podcast sobre basquetebol em Portugal, o MVP, foi porque tinha à disposição os estúdios do Cenjor e porque o podcast ainda não existia muito em Portugal. O único objetivo era manter-me em contacto com a modalidade e gerar bom conteúdo.
Acredita que a experiência em rádio ajudou a conseguir o lugar na Sport TV?
Acho que foi tudo. A experiência em rádio dava-me o à-vontade de trabalhar com a voz e falar num microfone, o facto de andar há vários anos a trabalhar na área do basquetebol também ajudou.
Que objetivo profissional ainda pretende alcançar?
Na verdade, sou um eterno insatisfeito. Neste momento, trabalho na federação como diretor de comunicação durante o dia, e já é um trabalho que me ocupa muito tempo. De noite, quando devia ir para casa e descansar, chego, janto e vou para a SPORT TV comentar jogos. Dito isto, nem tenho tempo para dormir, mas a verdade é que não consigo deixar de fazer mais coisas. Tenho o podcast Bola ao Ar, e tenho o Borracha Laranja que me custa muito a manter. Mas são estes projetos que me dão gozo e que não sei se, mais tarde, não me poderá servir para mostrar como portfólio. Mas em termos de objetivos, estando na federação e na SPORT TV, estou nas minhas ‘cadeiras de sonho’. Não consigo imaginar nada melhor em Portugal. Melhor, só se fosse para a NBA. (risos)
“É muito importante o sonho…”
Desde a entrada de Neemias Queta para a NBA, sente um crescimento na comunidade de basquetebol em Portugal?
É uma diferença muito grande. Foi um impacto inacreditável, não só nos adeptos, que ficaram mais ligados ao jogo, mas também nos jogadores. Conheço pessoas que não veem basquetebol português, mas adoram NBA. Com a entrada do Neemias na NBA, acho que estes adeptos acabaram por pensar: “Então, mas se o Neemias saiu daqui, talvez haja qualidade, vamos lá ver uns jogos.” Este fator acabou por ser fulcral, pois os pavilhões estão mais cheios. Acredito que parte disso seja devido ao Neemias.
O Neemias abriu as portas da NBA a Portugal e abriu as mentalidades das pessoas que até já vivem um pouco dentro do basquetebol, mas que não acreditavam que fosse possível. Até os miúdos começam a jogar basquetebol agora, porque sonham que podem um dia chegar à NBA. É muito importante o sonho, porque é o sonho que naqueles dias em que não queremos sair da cama nos faz levantar e dizer: “vá, vamos lá treinar um bocado”.
Enquanto espectador astuto da formação, acredita que vamos ter outro português na NBA em breve?
Sim, acredito que o Rubén vá chegar à NBA. Em termos de qualidades atléticas nesta idade, é melhor que o Neemias. Falei com ele e sei que ele quer ir para a NBA. Acredito que consiga.
Para terminar, o que falta ao basquetebol para ser a segunda maior modalidade em Portugal?
A federação tem investido bastante para melhorar o basquetebol. Este ano, tivemos pela primeira vez uma equipa portuguesa na Liga dos Campeões, o Benfica. E cada vez mais existem jogadores ex-NBA a vir experimentar o nosso campeonato, isso é algo que também atrai gente aos pavilhões. Acho que o caminho do basquetebol está a ser trilhado de uma forma sustentável para crescer cada vez mais.