Duas voluntárias do Estabelecimento Prisional de Tires queriam reconstruir a vida da população reclusa e ex-reclusa. Cinco anos depois, atuam em três estabelecimentos prisionais, têm uma loja e oficina próprias, venda online, mais de 80 parcerias e um prémio de Inovação Social da Fundação EDP. Falamos do projeto Reklusa.
Toda a loja está decorada com trabalhos para venda das reclusas e ex-reclusas que colaboram com o projeto. Há malas dos mais diversos tamanhos e feitios, almofadas de praia, bolsas, nécessaires, porta-chaves, colares e pulseiras. Entre o Rato e o Jardim das Amoreiras, quatro montras e duas portas abertas identificam a marca: Reklusa. «Bom dia! Posso ajudar?», diz Patrícia Ramada, funcionária da loja, de sorriso no rosto. Acumulam-se caixas e sacos cheios de produtos Reklusa, no interior da loja. Preparam uma ação de vendas num centro comercial nortenho.
Na oficina (inaugurada no dia 22 de Maio e financiada através do prémio atribuído pela Fundação EDP), três colaboradoras trabalham com concentração. Neste momento são três mas, até 2016, o objetivo é empregar mais dez. Todas ex-reclusas, duas das colaboradoras foram inseridas de imediato pelos serviços prisionais após a sua saída; a terceira, pediu ajuda à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para a sua reintegração no mercado de trabalho. Têm contratos de trabalhos por 12 meses e, depois, terão que seguir com as suas vidas e dar o seu lugar, a sua oportunidade, a outra reclusa.
Números & Factos
• Em 2014, existiam 13600 homens e 837 mulheres presos em Portugal;
• 70% dos reclusos passam cerca de 17 horas/dia fechados nas celas;
• 20 reclusos recebem anualmente formação através da Reklusa em três estabelecimentos prisionais;
• 90% dos reclusos apoiados pela Reklusa são do sexo feminino;
• Os reclusos trabalham cinco horas/dia na confeção dos artigos Reklusa;
• Venderam 2600 unidades em 2013.
Joana, a colaboradora responsável pela oficina, cose na máquina de costura. Diz que «é um projeto que muda a vida de muita gente. Mudou a minha vida!». As outras duas concordam, abanando a cabeça em sinal afirmativo. «Temos estado em obras e vamos ter uma ação comercial no norte. Sente-se, esteja à vontade», diz Inês Seabra, uma das criadoras do projeto. Conta que a Reklusa nasceu das suas mãos e das de Mafalda Lima Raposo, duas voluntárias do Estabelecimento Prisional de Tires que, após se depararem com um grave problema social (a reintegração, a todos os níveis, da população reclusa e ex-reclusa), quiseram criar uma solução e, simultaneamente, assegurar a sustentabilidade económica da sua ideia.
Acreditam na criação de uma sociedade mais justa e segura, reconhecida por acreditar na capacidade de mudança de cada um e por dar uma segunda oportunidade à população reclusa e ex-reclusa. «Lá porque cometemos erros uma vez na vida, não significa que tenhamos de o fazer repetidamente. Todos merecem uma segunda oportunidade», diz Inês.
Atualmente, têm oficinas em três estabelecimentos prisionais. As oficinas permitem aos reclusos uma diminuição do tempo em cela, ocupando-o com a prática de um ofício, e ainda o desenvolvimento de novas competências e aptidões.
Os reclusos que trabalham no projeto, nas oficinas dos estabelecimentos prionais (EP), são escolhidos pelos guardas dos mesmos. Quanto às colaboradores da oficina das Amoreiras (ex-reclusas), são escolhidas em parceria com a direção dos EP aquando da sua saída ou encaminhadas pela Santa Casa da Misericórdia.
Ajudas, parcerias e workshops
Como apoiar?
• Faça a consignação de 0,5% do seu IRS;
• Donativos em espécie;
• Donativos em dinheiro;
• Campanhas de marketing social;
• Angariação de fundos;
• Colaboração de voluntários;
• Patrocínios;
• Ser sócio.
«Os tecidos são caríssimos», explica Joana. Por isso, todos os produtos são oferecidos pelas mais diversas instituições. «Às vezes, são restos; outras, dão-nos mesmo os rolos [de tecido]. Tudo material nacional», continua. Assim, une-se o reaproveitamento de materiais (que seriam deitados ao lixo) ao contributo para a economia portuguesa, através do uso de produtos nacionais e a posterior venda dos mesmos.
Todos os produtos, sem exceção, são feitos por reclusas e ex-reclusas. Alguns são confecionados nos EP, outros na oficina da sede. Todos são encaminhados para a loja. As parcerias realizam-se com as mais diversas instituições, desde a Lanidor até ao Ginásio Clube Português, que vão da oferta de matérias-primas, bens e serviços até à contribuição monetária.
As ajudas de particulares passam também pelas matérias-primas e os contributos, mas a principal colaboração da população faz-seatravés do voluntariado (na loja, nas ações comerciais, etc.). “Posso começar a carregar?” Uma voluntária chega à loja da Reklusa para ajudar no transporte das caixas que vão para a ação comercial no norte.
“Temos cada vez mais parcerias. A internet e a abertura com que as coisas são feitas fazem com que cada vez mais instituições e pessoas conheçam o projeto e queiram ajudar. Os workshops também ajudam muito”, afirma Inês. “É mais uma forma de abrirmos as nossas portas à comunidade.” Todas as semanas há workshops de costura, crochê, tecelagem e pintura. Todos a cargo de profissionais competentes nas referidas àreas. Qualquer um pode participar.
Mais informações em Reklusa
<strong>Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Técnicas Redactoriais”, no ano letivo 2014-2015, na Universidade Autónoma de Lisboa.</strong>