Patrícia Tavares estreou-se como atriz, em 1990, na série musical “Chuva de Maio”, na RTP. Aos 42 anos, já fez um pouco de tudo no mundo da representação: telenovelas, séries, cinema e teatro. Em entrevista, fala sobre o seu percurso a nível profissional e deixa um conselho aos jovens que gostariam de trabalhar na área que a apaixona.
Desde o início da sua carreira que é conhecida como Patrícia Tavares, mas sei que o seu nome é Sónia Patrícia Tavares Oliveira Matos Ferreira. Porque não Sónia Ferreira?
Quem escolheu o meu nome [artístico] foi o Rogério Samora, numa entrevista. Na altura, devia ter 10 ou 12 anos, não faço grande ideia. Ele era protagonista de um filme e eu fazia figuração e andava sempre atrás dele. Como gostei sempre de andar atrás dos artistas, era um bocado chata. Mas as pessoas, por norma, gostavam de mim e criei uma relação com ele muito gira. No meio da entrevista, chamou-me e disse: “esta miúda vai ser atriz!” Perguntou-me: “Como é que te chamas?” Disse o meu nome completo e ele pensou e disse: “ficas Patrícia Tavares”. Acabou a entrevista exatamente a dizer: “aos 12 anos, Patrícia Tavares, promessa de atriz”. E fiquei Patrícia Tavares para sempre.
Saiu de casa aos 17 anos. Parto do princípio que sentiu que estava preparada para essa mudança na sua vida. Como lidou com esta nova realidade?
Muito bem, também achei que estava preparada! (risos) Lidei muito bem, fez-me crescer um bocadinho mais rápido do que o normal. Mas sentia que estava preparada, economicamente estava independente e foi um processo que acabou por me saber muito bem. Não voltei mais para casa, portanto, as coisas acabaram por correr bem.
Quando foi ao “Programa da Cristina”, em 2019, disse que “desde os 8 anos que digo aos meus pais que quero ser atriz e quero continuar a ter o privilégio de me manter nesta profissão”. Quando é que teve a noção de que era mesmo isto que queria fazer para o resto da sua vida?
Eu acho que aos 8 anos já tinha isso muito bem definido, queria mesmo fazer parte deste universo em que tenho tido o privilégio, a sorte e o trabalho de me conseguir manter. E espero que me consiga manter por muitos anos!
No “Alta Definição”, em 2015, disse ao Daniel Oliveira que, no início do seu percurso profissional, ouviu muitos “nãos”. Como lidou com isso? Alguma vez pensou em desistir do sonho?
Quando fui escolhida para a “Roseira Brava”, estava ali no limite em que tinha de decidir o que ia fazer da vida e, como dizes e muito bem – e muitos parabéns pelo teu trabalho de pesquisa -, tinha já ouvido muitos “nãos” e estava na altura de tomar decisões. Tu sabes isso melhor do que ninguém. Aos 16 anos, somos ali um bocadinho encostados à parede e temos de decidir o que queremos fazer da vida. Nessa fase, tinha ouvido muitos “nãos”, como já te disse, e estava a pensar se não seria melhor escolher outra coisa. Mas, curiosamente, a vida presenteou-me com o primeiro grande papel na televisão, a Anabela na “Roseira Brava” e, desde aí, nunca mais parei, graças a Deus e também ao meu trabalho, porque nada se consegue sem trabalho.
“Aprecio a vida da maneira mais simples”
No mesmo programa, disse: “O meu mundo profissional é tão distante da minha vida que é fácil esquecer-me do resto.” Sendo uma figura pública, como consegue distanciar a vida pessoal da profissional?
Acho que tem a ver com a forma como lidas com as coisas, sou uma pessoa que gosta de coisas muito simples. Aprecio a vida da maneira mais simples, gosto de andar descalça, de estar em casa, de passear no campo, de ir molhar os pés ao rio… Valorizo muito essas coisas, porque a minha vida profissional obriga-me a estar muito penteada, muito maquilhada, quase sempre de saltos altos, porque sou pequenina e para estar mais perto dos colegas… Portanto, quando posso estar na minha vida, gosto de estar assim, descomprometida, sentir-me bem e ser eu, e consigo!
Acho que as pessoas, por norma, estão à espera de uma imagem um bocadinho diferente, que eu seja mais alta. Às vezes, as pessoas reconhecem-me pela voz, quando estou assim à paisana, como costumo dizer. Depois abro a boca e aí é que as pessoas me reconhecem. Porque sou assim, gosto de viver assim e consigo viver assim. Também escolhi viver num sítio muito pequenino, onde as pessoas todas se conhecem muito bem e onde toda a gente se respeita muito. Então, isso permite-me ter uma vida simples.
“A maioria das pessoas sabe quem eu sou. E isso, para mim, é o meu aplauso fora do teatro”
A fama traz algumas vantagens e desvantagens, nomeadamente a falta de privacidade. Sente que as vantagens em ser uma figura pública compensam as desvantagens?
Não sei bem se compensam ou não, uma coisa vem com a outra, quando escolhes ser uma pessoa que se torne conhecida do grande público. E ainda bem, porque o reconhecimento vem daí, das pessoas te reconhecerem, das pessoas saberem quem tu és, o teu nome, não é só “ai, conheço-te da televisão”. Não, as pessoas sabem quem sou, sabem o meu nome. Não todas, obviamente, mas a maioria das pessoas sabe quem sou. E isso, para mim, é o meu aplauso fora do teatro, pois no teatro recebo os aplausos no fim.
Na vida quotidiana, a forma que tenho de as pessoas se relacionarem comigo é virem ter comigo. Agora, claro que depois tem esse lado da exposição da tua vida, mas que, honestamente, acho que é uma coisa que se aprende. Não posso dizer que não houve alturas chatas na vida, em que a minha vida tenha sido exposta de uma forma menos simpática, mas, de maneira geral, acho que consigo ter a minha vida sem grandes aparatos mediáticos. E a exposição mediática talvez seja a procura que os jornalistas fazem, não todos, mas uma parte do jornalismo faz uma exposição chata. De resto, a exposição que tenho enquanto Patrícia Tavares para o público, para mim, é muito boa.
Durante o seu percurso profissional já fez séries, telenovelas, cinema e teatro. De todas estas áreas, qual é aquela em que se sente melhor a trabalhar?
Ser atriz é ser atriz em todas essas áreas, e tenho a honra e o privilégio de já ter experimentado todas. Gostaria de fazer muito mais cinema, mas em Portugal não se faz muito cinema. Agora um bocadinho mais, mas, ainda assim, não tanto quanto seria desejável. Adoro estar em cima do palco, não há sensação melhor do que estar em cima do palco. Mas também gosto muito da rapidez e da agilidade mental que é exigida quando se faz televisão. Na realidade, o que gosto mesmo é de ser atriz!
Que projeto lhe falta fazer para se sentir totalmente realizada?
Todos! (risos) O dia em que me sentir totalmente realizada é sinal de que alguma coisa está errada. Falta-me fazer todos [os projetos], todas as coisas que a vida me trouxer, sei que me vão fazer falta e que me vão enriquecer quer enquanto atriz, quer enquanto pessoa.
“Esta profissão exige muito respeito, muita cumplicidade, e é preciso estar muito atento”
Existem muitos jovens que sonham ter uma vida como a sua. Que conselhos lhes daria?
Existem muitos jovens que querem ser atores e existem muitos que querem ser conhecidos. É uma grande diferença. Para os que querem ser atores, acho que, primeiro, devem apostar na formação e não desistir, porque ouvir “nãos” faz parte deste processo. Estar muito atento, porque se aprende muito com os outros e existe uma aprendizagem constante nesta profissão, aprende-se todos os dias. Todos os dias tens de procurar uma zona diferente para resolver uma situação ou outra. E serem perseverantes na realidade, não serem deslumbrados, não acharem que sabem tudo, porque nunca se sabe tudo!
Trabalhar é fundamental, exigir de ti para poderes dar aos outros. Esta profissão exige muito respeito, muita cumplicidade, e é preciso estar muito atento. Acho que a melhor forma e aquela com que mais se aprende é, de facto, a observação das pessoas. Construímos personagens e é através da observação e do trabalho de pesquisa que constróis uma personagem, mas também é observando aqueles atores que já cá estavam há mais anos e que têm muito para ensinar.