Fascinada pelo entretenimento e pela comunicação, Maria Pedro Pinto sempre sonhou ser locutora de rádio. Começou por estagiar na Antena 1 e 3 do grupo RTP. Mais tarde, geriu as redes sociais de alguns reality shows, como o “Love On Top” e a “Casa dos Segredos” e, hoje, é repórter e gestora das redes sociais da magazine digital “Selfie”. No horizonte que se espera pouco longínquo, a jovem de 27 anos ambiciona trabalhar como apresentadora de televisão.
Antes de entrar no mundo da comunicação, cantava todas as semanas num bar, em Cascais. A música era o seu sonho de infância?
Não tinha muita consciência se era bem um sonho. Gostava muito de cantar e as pessoas diziam-me que cantava bem. Quando comecei, só cantava em casa, portanto, só os meus amigos sabiam. Se me perguntassem: “Gostas mais de cantar ou de comunicação?” Eu diria que não sabia, porque sentia que era um todo, um espetáculo. Aquilo a que acho muita graça é o espetáculo em si, onde canto e falo muito. À medida que vamos crescendo e temos de tomar decisões é que definimos o que gostamos e queremos fazer. Aí é que começamos a materializar esses sonhos.
Foi graças ao espetáculo que se apercebeu que a sua vida profissional passava pela comunicação?
O meu verdadeiro sonho passava sempre pela comunicação. Sabia que o que mais gostava de fazer era entreter os outros, o que é uma coisa muito vaga, muito abrangente, pois posso entreter as pessoas de mil e uma maneiras, tanto a cantar, como a falar porque sou muito divertida, entretenho os outros. A minha base sempre foi o entretenimento. Tinha e tenho essas duas maneiras de as entreter: cantar e falar.
Antes de terminar o secundário, tinha de decidir a área em que iria ingressar no ensino superior. Os meus pais e os avós também influenciaram, de alguma maneira, pois veem sempre os hobbies artísticos como: “Filha, isso é muito giro, mas depois não dá muito dinheiro. Tens de ter um trabalho a sério e depois podes fazer isso”. Então, pensei: “Se calhar, cantar não é um trabalho muito sério e para ganhar dinheiro também não é muito bom”. No entanto, também não fui muito esperta, uma vez que em comunicação não iria fazer logo dinheiro (risos). Ainda assim, dizer que sou licenciada em Comunicação Social já é algo mais à séria. Pensei: “Gosto muito de falar e dizem que me destaco nas apresentações orais, por isso já sei”. Junto o falar e a música e torno-me locutora de rádio. A minha tia tinha trabalhado numa rádio, por isso, era algo que já sabia mais ou menos como era. Foi por aí que cheguei ao curso de Comunicação Social. Fui ao encontro daquilo que gostava de fazer. Não sou de tirar um curso só por tirar. Ir para algo que não gostasse seria um sofrimento e não valeria a pena. Em Comunicação Social, foi diferente. Penso que correu bem.
Após a licenciatura, realizou um estágio. Foi nesse momento que percebeu que queria ser locutora de rádio?
Na Universidade Católica, tinha uma cadeira preferida que se chamava Comunicação Radiofónica. Foi aí que pensei que talvez pudesse enveredar por esse caminho. Achei muito divertido porque foi o primeiro contacto com a rádio e com um estúdio, com o microfone e aqueles botões todos. O curso era todo muito teórico, mas lembro-me de ter Comunicação Televisiva e de existirem diversos estúdios, tanto de televisão como de rádio. No final dessa cadeira, tínhamos de realizar um produto final, uma curta-metragem. Quando ouvíamos Comunicação Televisiva, achávamos que íamos falar para as câmaras, mas não aconteceu.
A experiência na rádio levou-me a estagiar nas Antenas 1 e 3, do grupo RTP, pois havia um protocolo entre a universidade e a RTP. Estagiei na parte da programação, onde fazia os alinhamentos. Cheguei a estar em estúdio durante as manhãs na Antena 3 e a fazer a tarde na Antena 1. Na altura, estava muito contente porque queria ir para a rádio e estava numa. Como a minha tia tinha trabalhado numa rádio e existiam algumas pessoas que a conheciam, tinha alguma vantagem. Aquilo era muito familiar para mim. Ainda assim, um dia, os estágios chegam sempre ao fim.
Considera que o estágio é essencial para levar as pessoas a descobrirem a sua verdadeira vocação?
Claro que sim. Só o facto de estarmos em contacto com o mundo do trabalho muda tudo. Na faculdade é diferente porque dizem: “Isto vai acontecer assim, um dia vai ser assim”. Depois, há a realidade. Somos estagiários, mas trabalhamos e estamos a aprender como os outros. Nunca senti: “Aquela vai fazer menos ou sabe menos porque é estagiária”. Sentimos que estamos a trabalhar a sério. Só o facto de estarmos lá e de termos contacto com outras áreas da rádio já torna a experiência diferente e mais gira.
Além da programação, chegou a ser locutora?
Não. Era estagiária e não cheguei a ser locutora. Trabalhava com alguns locutores por causa do alinhamento. Quando eles chegavam para começar uma emissão, já tinham as músicas, os spot publicitários, as rubricas, tudo alinhado. Era isso que fazia. Parecia fácil, mas logo idealizei que não era. Acabou o meu estágio, por isso não cheguei a ser locutora. Após o estágio, contratar as pessoas é um grande milagre. Na altura, esse milagre não aconteceu. Era porque não tinha de ser. Apesar de o meu sonho ser trabalhar como locutora, não aconteceu.
Da rádio passou para os conteúdos digitais do reality show “Love On Top“. Como aconteceu a transição?
Foi pouco tempo depois. Entretanto, o estágio acabou. Fui para casa encontrar trabalho como qualquer pessoa e pensei: “já brincámos a isto dos estágios, agora vou arranjar um trabalho a sério.” Na altura, enquanto estava em casa, a minha melhor amiga já trabalhava na TVI, no digital. Estagiou e ficou lá. Disse-me que era preciso alguém para fazer as redes sociais e o site do reality show que iria estrear: o “Love On Top”. Perguntou-me se estaria interessada. Pensei: “Gosto muito de reality shows, é algo que eu vejo”. No que é que o trabalho consistia e consiste: é preciso uma pessoa trabalhar das 9h às 17h e depois há outra que tem de estar entre as 17h e a uma da manhã. Quando entrava, tinha de ligar o computador e ter o TVI reality sempre ligado. Havia uma parte no site que era ao minuto, como se fosse o Twitter, e tínhamos de realizar vários posts daquilo que estava a acontecer naquele momento para que as pessoas que não estivessem a ver fossem ao site e soubessem. Tinha de descrever as atividades que faziam. Como se pode imaginar, seria muito giro se estivessem a dormir. Se estivessem a discutir também não seria muito divertido, porque tinha de estar minuto a minuto a escrever alguma coisa. Se quisesse ir à casa-de-banho, por exemplo, não podia.
Havia uma pessoa a ver o site ao minuto, como disse, mas havia outra a cortar os clips de 30 em 30 minutos. Víamos capturas de 30 minutos que nos iam “caindo” no computador e cortávamos novamente nos momentos mais interessantes. Por exemplo, o tal discutiu com a tal. Cortávamos essa parte e partilhávamos nas diversas plataformas, fosse o site ou as redes sociais. O trabalho era muito isto e, para não ficar em casa, quis ver como era. A minha amiga disse à assistente dela e quando cheguei à TVI comecei a fazer esse trabalho. Apesar de ser o digital e de não trabalhar diretamente em televisão, só o facto de estar naquela empresa permite o contacto com o meio. Vou conhecendo as pessoas, vou ao estúdio porque tenho de fazer qualquer coisa, vamos gravando quem lá está. Dei por mim na redação, ao lado do estúdio, onde fazem o “Jornal da Uma” e das oito. Vi que aquilo também era engraçado.
Sentiu dificuldades na transição da rádio para a televisão?
Tinha aquele preconceito, que ainda acontece em televisão, em que só as pessoas muito bonitas e muito magras é que vão lá parar. Claro que as outras também muito divertidas e que têm imenso carisma também entram, mas as bonitas têm mais facilidade. Na rádio, não tinha esse problema. Era o que pensava. Quando comecei a ter aquele contacto com as entrevistas aos concorrentes e a ter de enfrentar a câmara, é que percebi que não era preciso ser bonita e magra para aparecer. Acho que foi aí que tive a tal ligação com a televisão. Estava distraída com o querer ser locutora de rádio e não percebi que na televisão poderia fazer o que disse logo de início: entreter as pessoas e trabalhar para elas. Queria que durante aquele tempo em que estamos a falar para elas, que estivessem a rir e que fossem alegres. Foi isso que percebi. Se amanhã me ligassem e me perguntassem se queria fazer um programa de rádio, eu ficaria feliz. Se calhar gostava, porque já não tenho uma ligação com a rádio há muito tempo. Não quer dizer que não ache graça à rádio, apenas conheci outras coisas.
A TVI e a RTP são empresas bastante diferentes. Na RTP, as pessoas com quem trabalhamos são mais velhas. Não quer dizer que seja uma coisa má, mas na TVI somos quase todos da mesma idade. Portanto, há uma facilidade na relação. Identificamo-nos todos uns com os outros e o ambiente é mais descontraído. As bases, como a organização e a realização, são a mesma coisa. Na altura, não me custou, pois não estava a entrar num meio completamente estranho. Gostava de reality shows e isso fez com que não estranhasse. Até que não fiz uma Casa dos Segredos não descansei e cumpri esse objetivo.
O reality show já é quase um ADN da TVI. Trabalhei nas redes do “Love On Top”, “Casa dos Segredos” e, depois pelo meio, cheguei a fazer outros programas que demoravam menos tempo. Não tinha de estar 24h sobre 24h a partilhar conteúdos, como foi o caso do “A Tua Cara Não Me é Estranha”. Este programa só era exibido ao sábado, não dava de semana e não tinhas de estar diariamente a segui-lo. Foi em 2017 que comecei a SELFIE e deixei os reality shows. Um reality show é muito engraçado, mas não é algo em que se queira trabalhar para o resto da vida. É um trabalho muito stressante.
Atualmente é repórter na “Selfie”, na TVI, que se dedica a acompanhar a atualidade de figuras públicas. Que desafios é que este projeto lhe traz?
Muitos. Aquilo que comecei a fazer na “Selfie”, em relação àquilo que fazia não tem nada a ver. Estou lá como repórter e gestora de redes sociais. As redes sociais continuaram a ser minhas porque é uma área que gosto. O Facebook e o Instagram são as que usamos diariamente, depois o Twitter recebe os conteúdos destas automaticamente. Se com o digital na TVI comecei a ter mais contacto com outras pessoas e com os estúdios, com a “Selfie”, isso aconteceu o triplo. A ideia desta plataforma é isso mesmo. É ser um magazine digital dos famosos, que vai falando da vida de cada um, pois é isso que as pessoas gostam de saber. Claro que nos vamos adaptando ao longo dos anos, criando rubricas. Por exemplo, na “Selfie Tarot”, temos uma taróloga que faz as previsões, fazemos lives no Facebook; temos o astrólogo Paulo Cardoso, o médico dentista João Espírito Santo. As pessoas gostam muito de estar em contacto com as pessoas para tirarem as suas dúvidas. Depois, também tínhamos uma rubrica de entrevistas, a “Selfie” sem filtros, que é realizada pela minha coordenadora Cátia. Uma pessoa é convidada para o público a conhecer melhor, para além daquilo que veem na televisão e nas redes. Além das notícias diárias, também temos estas rubricas em que vamos acompanhando ou as novelas ou os programas da manhã e da tarde, ligadas aos bastidores, daquilo que não se vê no universo TVI. Existe o fator proximidade, em que o público cria uma relação com determinado famoso e quer saber o que ele faz diariamente. Quando a “Selfie” começou, havia uma coordenadora e duas repórteres. Hoje em dia, temos mais duas repórteres.
Quais os seus projetos marcantes na Selfie?
Na altura, fui acompanhar uma cena na novela “Jogo Duplo”, em Alcácer do Sal. O elenco era João Catarré, Sara Prata e Diogo Infante, por quem tenho grande admiração, além de serem pessoas extraordinárias e divertidas. Com a Cristina Ferreira são sempre divertidas. Hoje já é mais normal, mas mal que chegamos, é estranho. Uma pessoa fica nervosa. Gostava muito das sessões dos primeiros episódios das novelas, quando os atores se juntam e vemos a sua alegria. É inevitável não nos sentirmos contente com eles a assistirem ao produto final. É um orgulho para o canal.
Lembro-me de ter ido para Viana do Castelo para acompanhar a novela “A Herdeira”, para gravarem o genérico. Era com Rita Pereira, Kelly Bailey, Lourenço Ortigão, Pedro Barroso, entre outros. Fomos e viemos no mesmo dia e foi muito divertido. Andar por lá e ver as gravações. Aquele genérico em particular era gravado no meio da rua, ou seja, havia pessoas. Estava em contacto com o elenco e a via o que estava a acontecer. Foi muito giro. Depois, existem as entrevistas e os momentos nessas entrevistas. Tenho como último exemplo a entrevista que realizei a Nuno Eiró, na estreia do programa “Esta Manhã”, na sua chegada de regresso à TVI. Era uma conferência de imprensa, por isso, também estava a Cristina. Antes de a entrevistar, disse-me: “Só te respondo se cantares um bocadinho para mim primeiro.” E eu: “Agora?” (risos). Porque tinha estado no “Em Família” e ela ouviu-me. Existem estes momentos divertidos em entrevista.
Que tipo de conhecimentos adquiriu e adquire diariamente ao gerir as redes sociais da “Selfie”?
Vou percebendo o que as pessoas gostam de ver. Olhamos para as redes sociais e pensamos: “Isto deve ser uma ciência exata”, mas não é. Ou seja, hoje podemos ter um post a um alcance incrível e depois ter um semelhante e, se calhar, nem chegou tanto às pessoas. Perguntamo-nos porquê, mas são situações para as quais não encontramos resposta. Depois, temos o algoritmo do Facebook, que muda constantemente. À medida que vamos conhecendo as pessoas, começamos a perceber os seus gostos, onde é que mais clicam, o que lhes chama mais à atenção. Infelizmente, as desgraças são as que chamam mais à atenção. O nosso objetivo é que os nossos posts tenham um grande alcance e que as pessoas interajam com eles.
Sendo a sua principal fonte de informação as redes sociais, quais os principais obstáculos que estas lhe trazem? Fala-se muito de fake news. Debate-se com notícias falsas diariamente?
As redes sociais são um veículo tão rápido que existe uma facilidade enorme de alguém criar uma notícia falsa e chegar ao país inteiro em segundos. Tal como existe uma facilidade dos famosos estarem em contacto com as pessoas, para a transmissão de notícias falsas ainda mais. Depois, também há a questão do bullying, nas redes sociais. O facto de as pessoas estarem resguardadas atrás de um computador ou de um telefone faz com se sintam na liberdade de poderem fazer tudo; sentem-se protegidos. Pensam: “Vou fazer isto e não me vai acontecer nada” ou porque existem as contas falsas ou porque pensam que ninguém sabe a sua morada. Como se não fosse nada, dizem: “Estou só a escrever uma mensagem, um comentário.” Nos jovens, acontece muito. Eles conhecem-se na escola, vão para casa e já não se falam. Mentira. Eles chegam a casa, mas se praticam bullying na escola, irão praticar principalmente através das redes sociais. Acho que esta proximidade, esta facilidade de contacto, por um lado é muito boa e ainda bem que acontece, mas depois também tem este lado negativo. Acho que não passa pelo não sabermos utilizá-las. A pessoa que toma a iniciativa de mandar mensagens e de insultar a outra sabe o que está a fazer. Eles encontraram nas redes sociais uma ótima ferramenta de estarem protegidos e de continuarem a insultar os outros. O grande obstáculo é este.
Que outros sonhos ainda espera concretizar?
Quando somos uma pessoa sonhadora, há sempre mais qualquer coisa para fazer. Dizem que o melhor está sempre por vir, não é? Projetos futuros, neste momento, é a minha “Selfie”, onde estou. Por agora, é onde vou amanhã. Gosto muito de trabalhar com aquelas pessoas e isso é muito importante, pois passo tanto tempo na empresa, tantas horas, a maior parte do meu dia é lá. Se lidamos com pessoas que não nos tratam bem e de que não gostamos, é muito chato. A certa altura, o ser humano não aguenta. No meu caso, tenho a sorte de trabalhar com pessoas que gostam de mim e, por isso, torna-se mais leve. Claro que nunca vou deixar de lado o querer entreter as pessoas, de diverti-las. Gostaria de, um dia, poder ser apresentadora de televisão. É o meu sonho e quero concretizar. Se é amanhã ou daqui a dois anos, não sabemos, mas é uma coisa que gostaria de fazer. Adoro programas de talentos. Não sei se é por gostar de cantar, mas adoro.