Jornalista há cerca de uma década e na redação do Canal 11 há quatro anos, Maria Inês Pedroso tem vindo a afirmar-se com um dos rostos do jornalismo desportivo em Portugal. Mas garante que ninguém trabalha sozinho em televisão.
Há cada vez mais mulheres no desporto. Como é ser mulher neste mundo?
Ainda há algum preconceito, não devo negá-lo, mas prefiro olhar para isso de outra forma. É algo cada vez menos recorrente pelo caminho que muitas mulheres têm feito no mundo do desporto. O nosso dia a dia é fazer jornalismo, é trabalhar na comunicação. Felizmente, nos dez anos da minha caminhada noto que as coisas vão sendo diferentes. Não é pelo género, é por aquilo que cada um, enquanto pessoa, consegue acrescentar à profissão, de acordo com a sua visão do mundo e com as suas competências.
Já sentiu algum tipo de discriminação?
As mulheres continuam a ter de provar mais. Talvez tenha sentido isso como contra-pergunta, uma tentativa de testar o meu conhecimento. No geral, senti pouca discriminação. Isso tem a ver com a caminhada que cada um faz, com o espaço que criamos e como trabalhamos. Estar sempre preparada é a melhor resposta.
Tem feito cobertura dos campeonatos femininos, como foi o caso da FIFA Women´s World Cup. Como foi acompanhar a Seleção Portuguesa de Futebol Feminino [Navegadoras] nesta competição?
Foi incrível. É um Campeonato do Mundo, é sempre uma experiência única. Foi na Nova Zelândia e isso traz um conjunto de aspetos que são ingredientes positivos para a experiência. É uma diferença total de horário e de culturas. É uma sensação fantástica. Foi o acompanhar da primeira vez das ‘Navegadoras’ numa competição, acompanhar as emoções destas mulheres que estavam a fazer história pelo país…
Foi uma das suas melhores experiências enquanto jornalista?
Sim, acompanhar a competição, trazer e contar histórias através de reportagens, estar com os portugueses do outro lado do mundo e perceber o quão acolhedor e gratificante foi para eles receber a seleção feminina a muitos milhares de quilómetros de distância de Portugal.
Um jogo da seleção nacional masculina e da seleção feminina já têm o mesmo impacto?
Estamos a falar de uma seleção masculina que tem uma história de muitos anos e uma caminhada feita de outra forma. Depois temos uma seleção feminina que começou a trilhar o seu caminho há pouco tempo. Tem ganhado cada vez mais impacto no dia a dia das pessoas que gostam de futebol. Tem vários marcos europeus e mundiais assinalados, mas estamos a falar de situações que culturalmente viveram momentos diferentes.
“Os jogos maiores envolvem outras dinâmicas, até em termos de mediatismo”
N’ A Bola TV acompanhou vários campeonatos, tanto nacionais como internacionais. Quais são as diferenças entre todos estes campeonatos?
A função do jornalista está sempre relacionada com os mesmos princípios. De manhã, podemos estar a fazer um jogo da Liga 3 e, à tarde, um da Taça de Portugal. Temos de ter tudo bem estruturado e estudado e saber mudar o chip, seja um jogo da Liga 3 ou um jogo da Liga dos Campeões. Os jogos maiores envolvem outras dinâmicas, até em termos de mediatismo.
Acompanhou a Liga dos Campeões em 2015, em Haifa, Israel. O que é fazer uma cobertura jornalística num país como Israel?
Não estávamos a falar de um país com a situação atual. Vivia tempos de conflito, mas numa fase mais tranquila do que a que se vive, lamentavelmente, hoje em dia. Nunca me senti insegura nem em perigo na cidade de Haifa. Mais uma vez, à boleia do futebol, conheci novos estádios, adeptos e cidades. Foi, mais uma vez, trabalhar com as condições e com a cultura de cada país, são sempre desafios muito interessantes.
Há alguma diferença na forma como se trabalha em países que estão em situações mais delicadas?
Quando houve os primeiros ataques de grande dimensão no conflito Israel-Hamas, tivemos vários jogadores que estavam a jogar em Israel e a entrar no Futebol Total em direto via WhatsApp. Outros que já estavam em Portugal, como o Hélder Lopes, por exemplo, veio ao programa partilhar uma experiência menos positiva, explicar aquilo que viveu. Os temas são tratados e falados desde que tenha uma ligação direta com o desporto.
Em 2016, saiu d’ A Bola TV e ingressou na TVI, onde fez trabalhos numa vertente generalista. Quais foram os maiores contrastes que sentiu?
A maior diferença é em termos de temas. Os procedimentos, a forma, a maneira como se trabalha é igual. Na TVI com outra exposição, com outro impacto e com muitos temas no dia a dia, com a sensação de poder fazer várias coisas diferentes. Em vez de fazer a Liga 2 de manhã e a Liga 3 à tarde, estava de manhã a falar de política e à tarde de manifestações, inundações, festivais, o que a atualidade me trouxesse.
“As pessoas acabam por sentir uma proximidade com o canal”
Em 2019 entrou para o Canal 11, da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Foi uma mudança pacífica?
Não foi uma escolha simples. Tinha começado a fazer algo interessante na TVI, mas o projeto do canal e o que poderia fazer no Canal 11 cativou-me. Voltar a trabalhar no desporto, e em particular no futebol, isso fez-me avançar. No 11, vi crescer o edifício na Cidade do Futebol, comecei da base a criar tudo aquilo que tinha que ver com o canal. Começar um projeto do zero é extremamente aliciante.
É positivo ter a federação na retaguarda?
É importante que haja uma organização com o poder, com a estabilidade e com a saúde da FPF. No nosso dia a dia, trabalhamos naturalmente ligados às competições da federação promovendo o nosso canal, mas falando de tudo sem constrangimento. Não penso muito nessa ligação e pertença.
O que tem o Canal 11 de diferente?
O Canal 11 trata todo o tipo de competições. Tanto tratamos uma competição da Liga 3 como uma Primeira Liga Árabe, que hoje em dia tem nomes como Cristiano Ronaldo e Benzema. Tem de se medir os espaços mediáticos atendendo ao impacto de cada competição. Como trabalhamos com competições inferiores às ligas profissionais, chegamos a muita gente. O Canal 11 tem um papel importante no tratamento que dá aos jogadores, treinadores, às provas e aos jogos de cada uma das competições. As pessoas acabam por sentir uma proximidade com o canal.
É um canal mais próximo da população?
Chega a determinadas competições e grupos que se sentem abraçados e presentes, não se sentem esquecidos. Sentem que há uma câmara de televisão lá a transmitir os jogos e se não fosse o 11 não acontecia. O futebol feminino (Liga BPI) que tem um impacto cada vez maior, é transmitido no Canal 11. Promove a importância das competições.
Já trabalhou em vários programas dentro do canal. Destaca algum deles?
Destaco o ’11 na Hora’ porque é o meu dia a dia, são noticiários desportivos e aquele em que tenho somado várias horas de ecrã no Canal 11. O ‘Futebol Total’ é um formato que passa em horário nobre, com intervenientes e comentadores muito especiais. É um programa desafiante pelo horário, pelo formato, pela exposição e pelos temas, é um trabalho de moderação muito interessante. Destaco também o ‘História de Portugal’ que é um programa de entrevista a internacionais portugueses, onde posso estar perto de alguém que marcou o percurso com a camisola da seleção vestida.
Quais são as características que devem definir um bom comunicador?
Paixão por aquilo que se faz, porque o caminho nem sempre é fácil. Verdade e rigor. O à-vontade, a forma correta de se comunicar. O conhecimento e o talento. O talento faz parte porque a televisão é muito próxima das pessoas, entramos em casa das pessoas, é uma responsabilidade. A televisão é um meio que tem imagem, som e esse conjunto de coisas faz da televisão um meio mais exigente, mas fica mais completo e divertido. O coletivo é a melhor palavra, o saber trabalhar em equipa, a entreajuda. Ninguém trabalha sozinho em televisão.