Madalena Aragão iniciou o seu percurso em televisão na novela “Rainha das Flores”, da SIC. Com 15 anos, já fez teatro, televisão e cinema, ainda assim revela que procura evoluir cada vez mais no mundo da representação. Em entrevista, a jovem atriz fala sobre algumas personagens que já interpretou e sobre o seu sonho de ganhar um óscar.
A Madalena é atriz há quatro anos e já participou em diversos trabalhos, nomeadamente nas novelas “Paixão”, “A Teia” e “Quer o Destino”. A representação era a área que queria seguir?
Não me lembro de ter começado a gostar de representar. No entanto, a minha mãe diz que comecei a ter interesse pela representação aos três anos e depois fui explorando esse interesse, ao fazer teatro em casa e na escola.
Sempre teve o apoio da sua família?
Sim, totalmente. Os meus pais sempre me disseram que podia fazer o que quisesse, desde que fosse feliz.
Começou o seu percurso em televisão na novela “Rainha das Flores”, da SIC. Ainda se recorda do seu primeiro dia de gravações? Estava nervosa?
Lembro-me de que não estava nada nervosa! (risos) O meu primeiro dia foi em exteriores, então, foi um bocadinho estranho. Também me recordo que a minha ‘madrinha de cena’ era a Rosa do Canto, que fez de minha avó. Ainda hoje lhe mando uma mensagem, todos os anos, no dia dos avós. Lembro-me de que foi maravilhoso, falei com todas as pessoas e perguntei sobre tudo.
Enquanto atriz, quais são as áreas nas quais tem evoluído mais?
Não sei (risos). Eu sempre fiz mais televisão. Em contrapartida, fiz menos teatro e, no cinema, ainda só fiz duas curtas-metragens. No entanto, tenho o sonho de fazer um pouco de tudo, por isso, espero evoluir em todos os aspetos.
Quando a Madalena deseja alguma coisa luta até a ter? É determinada?
Totalmente. Eu gosto muito de lutar pelas coisas que quero. Quando digo às pessoas “eu quero ser atriz” e as pessoas me respondem “então, e o teu plano B?”, eu digo: “plano B? O plano B é voltar a tentar o plano A”.
“A minha inspiração é poder fazer aquilo que amo todos os dias da minha vida”
Interpretar uma personagem implica estudo e preparação prévios, mas também precisa de alguma inspiração. Onde encontra a sua?
Bem, a minha inspiração é poder fazer aquilo que amo todos os dias da minha vida, e a minha família é tudo…
Tem alguma experiência da sua vida pessoal que sirva de inspiração para as cenas mais emotivas?
Faço as coisas como se eu fosse a personagem. Não há bem uma inspiração, pois torno-me a personagem naquele momento e ‘aquilo’ sai-me naturalmente.
Quando termina um trabalho, é difícil despedir-se das personagens?
Sim, muito. Quando era miúda e comecei neste mundo foi complicado o jantar final, pois não tinha muito a noção de que o projeto tinha acabado. Ultimamente, tenho chorado imenso. Quando acabámos o “Quer o Destino”, chorei ‘baba e ranho’. Depois, ainda tivemos o jantar final, o live da novela, um almoço, e quando estou, finalmente, a conseguir desapegar-me, acontece alguma coisa que me conecta. Às vezes, é complicado.
Quais foram as personagens que sentiu mais dificuldade em se despedir?
Definitivamente, a Ana do “Quer o Destino” e a Júlia da “Rainha das Flores”. Como tinha apenas 10 anos e uma vez que foi a minha primeira personagem durante um projeto muito longo foi um bocado complicado. Quanto à personagem de “Quer o Destino”, vivemos muito o trabalho e também porque começou uma pandemia a meio da novela. Nós já tínhamos uma relação muito forte, mas com a pandemia conectámo-nos ainda mais. Criámos uma família e foi mesmo bom.
Nos ensaios, consegue aprender com os atores mais experientes?
Claro. Nos ensaios, nas gravações e em tudo. Sou uma esponja que absorve tudo o que lhe dizem.
“Todas as pessoas nos ensinam coisas diferentes”
Observa cada atitude e, quando pode, pergunta sempre mais?
Sim, e nem sempre é com os mais experientes. Todas as pessoas nos ensinam coisas diferentes, logo, aprendo com todas: com os técnicos, com a produção, com as maquilhadoras, com os atores mais e menos experientes… há sempre algo para aprender.
Pelo que vi em entrevistas suas e em entrevistas feitas a atores da novela “Quer o Destino”, o elenco tinha uma relação muito saudável. Como foi fazer parte do elenco dessa novela?
Foi incrível. Formámos uma família que sei que vai ficar para a vida. Ainda hoje falamos no grupo da novela e comentamos as fotografias uns dos outros. Não foi, de todo, algo do momento em que: “Ok, fizemos o projeto juntos e, como acabámos, já não nos falamos mais.” Não. Integraram-me ali dentro e criámos uma grande relação.
Como foi ter a Sara Barradas como mãe e o Filipe Vargas como pai? Vocês desenvolveram mesmo uma relação de pai, mãe e filha?
Sim, completamente (risos). Não podia ter pais melhores e o Filipe Vargas ensinou-me muita coisa. Ele começou com 35 anos, portanto, ensinou-me muito. Ele e a Sara têm imensa cultura geral, então, tivemos várias ‘discussões’ para expormos as nossas opiniões.
A sua personagem chamava-se Ana Catarina, uma jovem meiga, madura e que teve de lidar com uma situação bastante complicada. O que aprendeu mais com a personagem?
Aprendi a ser positiva, porque depois de tudo o que aconteceu à ‘coitadinha’ da Ana, ela conseguiu manter-se de pé e ser muito forte. Aprendi a ser feliz e a nunca desistir de nada, pois ela é uma miúda que agarra as coisas e não as larga.
Como é que os atores conseguem manter uma boa relação durante as gravações?
Não sei bem como…nós temos ensaios antes das gravações e conhecemo-nos quase todos lá. Depois disso, convivemos uns com os outros todos os dias.
Pelo que a Madalena dá a entender, surge de uma forma natural. Contudo, nas gravações da novela notou-se um ambiente saudável entre os atores. O que faziam para que esse ambiente fosse tão genuíno?
Não sei. São apenas boas pessoas, com bons princípios e com imenso talento. Obviamente que houve dias em que estava cansada, mas eles estavam lá para mim. Assim como quando eles estavam cansados, eu estava lá para eles. Formámos uma família desde o primeiro dia, que vai ficar para sempre. Não há uma maneira de manter, aconteceu e, agora, já não os largo! (risos)
Sei que tem aulas de teatro desde 2017 com a coordenadora Sofia Espírito Santo. Na sua opinião, quais têm sido as maiores aprendizagens no mundo do teatro?
Já não tenho aulas de teatro, mas deixa-me à-vontade.
Ou seja, ajuda-a a descontrair e a dar expressão ao corpo?
Sim. A Sofia dá-nos um à-vontade diferente. Ali, somos quem somos e ninguém nos julga. Ganhamos um à-vontade que trazemos cá para fora, porque aprendemos a aceitar quem somos. Faz com que sejas mais feliz ao aceitares quem tu és e não fiques a pensar: “Quem me dera ser como aquela pessoa dali ou de acolá.” Tu és tu.
“No teatro, não tens a segurança de alguém te dizer ‘corta’ quando te enganas. Se te enganas… ou resolves ou ninguém resolve”
Conta com três anos de experiência no teatro. O que sente quando entra em palco?
Nervos. Acho que irei sempre sentir nervos, pois é uma responsabilidade diferente. Nas novelas, sentes nervos no primeiro dia ou na primeira semana. No teatro, não tens a segurança de alguém te dizer “corta” quando te enganas. Se te enganas… ou resolves ou ninguém resolve. São nervos, é responsabilidade e, principalmente, é vergonha quando está lá a minha família e começam a gritar o meu nome (risos).
Tem um canal no Youtube e um blogue com o nome: “Madalena não é queque”, onde fala sobre a sua vida e partilha as suas dúvidas sobre o crescimento. Quando os criou, qual foi o seu principal objetivo?
O canal do Youtube foi definitivamente por diversão. Pensei: “Olha, porque não? Vou fazer um vídeo para o Youtube.” Gravei, editei com o meu telemóvel e diverti-me. Em relação ao blogue, criei-o com o intuito de aprender português, porque a minha mãe dava-me ‘na cabeça’ por não saber escrever. Então, para lhe provar que sabia, fiz um blogue. Para além disso, criei-o com o objetivo de mostrar às pessoas que o facto de fazer projetos e de ter mais exposição por aparecer na televisão não significa que não sou uma rapariga como todas as outras. Tenho os meus problemas, os meus dias bons e os meus dias maus. Depois, também o fiz para expressar as minhas dúvidas. Quem nunca teve dúvidas sobre o seu primeiro sutiã ou sobre a sua primeira menstruação? (risos)
É aluna de quadro de mérito. Como gere o seu tempo entre os estudos e a representação?
Não sei muito bem, mas tento arranjar tempo. A minha mãe ajuda-me imenso e dá-me ‘nas orelhas’. Ela ajuda-me a fazer horários e a conseguir ser mais organizada. As gravações são como uma atividade extracurricular que amo fazer. Há raparigas que vão para a ginástica, rapazes que se dedicam ao futebol, e eu vou para as gravações.
Li numa entrevista que aconselha o livro “Todos os Dias São Para Sempre”. Costuma ler muito? Considera a literatura importante para o crescimento?
Sim, muito. Quando era pequena não gostava de ler, preferia brincar na rua. Entretanto, comecei a ler “Geronimo Stilton”, com o mundo da fantasia. Se pudesse e se ainda gostasse, lia outra vez, mas infelizmente já não tenho idade (risos). Depois, fui passando para outras coleções e comecei a ler livros soltos.
Até porque a leitura ajuda bastante no português, certo?
Sim, ajudou-me imenso. Eu sinto-me uma realizadora, porque leio o livro e imagino como ficariam as cenas se fosse eu a realizar a história. Imagino-me a representar, a realizar, a fazer tudo. Quando vês um filme, não podes fazer isso, pois já foi realizado e representado. Nos livros, cada página que lês é uma cena diferente, tens a oportunidade de fazer o teu filme. É isso que amo ao ler um livro: poder imaginar.
No futuro, pretende continuar a apostar na sua formação enquanto atriz? O estrangeiro é para si uma opção?
Sim. Para mim, tudo é uma opção, continuando a estudar. É uma opção ir para o estrangeiro, para o conservatório, continuar a fazer workshops, apostar em formação, dar sempre o meu melhor e ganhar um óscar. Ir para a Netflix, para a HBO e ganhar um óscar. É isso que eu quero! (risos)
“Com as pedras do meu caminho, faço um castelo”
Como se vê daqui a 15 anos, a nível profissional?
Vejo-me na Netflix, na HBO e, ao mesmo tempo, a ganhar um óscar (risos). Também me vejo a fazer um filme com a Meryl Streep como minha avó (risos). Devagar se vai ao longe. Vou brincando ao dizer: “Eu vou ganhar um óscar!” Não sei se o vou ganhar, porque tenho os pés bem assentes no chão e sei que a possibilidade é pouca, mas é algo de que gostava muito. Obviamente que há sempre obstáculos, mas com as pedras do meu caminho, faço um castelo.
Ou seja, a Madalena vai contornando as suas expetativas e nunca deixa de sonhar?
Os atores são sonhadores e nunca querem fazer apenas uma coisa. Um ator já quis ser médico, engenheiro, já quis ser tudo. Por isso é que decide ser ator, pois pode ser tudo o que quiser. Pode sonhar.