O movimento #MeToo foi o primeiro passo revolucionador da história no que diz respeito ao assédio sexual nas mulheres. Embora com alguns anos de atraso, comparativamente ao Me Too Americano, Portugal está, finalmente, a ganhar voz.
Este movimento nasceu nos Estados Unidos, em outubro de 2017, com o propósito de incentivar as mulheres a mostrarem solidariedade umas com as outras, levando-as a denunciar casos de assédio sexual. O resultado foi, incrivelmente, avassalador. A partir da partilha de um tweet da atriz Alyssa Milano, este assunto que é tão presente na vida de tantas mulheres fez com que cada uma de nós não se sentisse sozinha. Levantou-se, portanto, a ponta de um grande e indeterminado véu.
Em Portugal, as vozes começaram a surgir timidamente, mas, aos poucos, já se fazem ecoar um pouco por todos os cantos do país. As revelações corajosas e francas da atriz Sofia Arruda, no programa Alta Definição da SIC, muito contribuíram para esse efeito. Temos, agora, o dever de refletir sobre o tema, as consequências na vida das vítimas e como podemos mitigar esta realidade que é banalizada por muitos. Não podemos ficar indiferentes e urge um debate sério e profícuo. Para tal acontecer, é essencial afastar os radicalismos de género e outras ideias preconcebidas que nada acrescentam à discussão e só distrai daquilo que é primordial.
Poucas são as pessoas que, nunca tendo passado por tal experiência, conseguem compreender a aflição e a agonia que o assédio sexual pode originar. Grande parte das mulheres vê o assédio sexual como uma afronta à sua dignidade que visa enfraquecer a autoestima, assim como o desempenho profissional. Estas experiências negativas podem originar sérios danos psicológicos, nomeadamente isolamento social, depressão, ansiedade e stress, podendo limitar a capacidade da mulher ao nível da construção da carreira e do seu desenvolvimento pessoal.
Joana Emídio Marques, escritora e jornalista, foi pioneira, em Portugal, ao revelar corajosamente o nome do seu presumível agressor. Ao fazê-lo, incentiva a que outras mulheres também denunciem as caras que estão por trás das suas histórias de assédio. Não basta referir que se foi vítima, é importante denunciar. Estas revelações, da escritora e jornalista, surgiram na revista Sábado, num artigo intitulado “O direito a não ter medo”. Depois da revista Sábado ter ido para as bancas, os comentários jocosos nas redes sociais e os ainda mais humilhantes artigos de opinião publicados em jornais de referência trouxeram a confirmação do porquê de este movimento não ter chegado mais cedo a Portugal e ter surgido de uma forma tão tímida e frágil.
Recentemente, Catarina Furtado, apresentadora sobejamente conhecida, revelou também ao semanário Expresso que foi assediada por três superiores hierárquicos no início da sua carreira, bem como a atriz Cláudia Lucas Chéu numa crónica para a revista Máxima, onde descreveu o assédio que foi vítima quando fazia teatro no início de carreira.
É por esta frontalidade e coragem que devemos agradecer à Sofia Arruda, à Joana Emídio Marques, à Catarina Furtado, à Cláudia Lucas Chéu e a todas as outras mulheres que, sabendo do seu alcance público, dão voz a todas as vítimas anónimas.
É impreterível sensibilizar a sociedade para um assunto que, não raras vezes, é menorizado; para um comportamento que é permanentemente normalizado. Afinal, em que mundo vivemos?
Acresce ainda dizer que o Movimento #MeToo teve este impacto avassalador devido, em parte, às redes sociais. A revelação de uma passou a ser a de muitas em todos os cantos do mundo e em diferentes setores da sociedade.
Os homens assediavam porque podiam e as mulheres estão atualmente a falar sobre isto, porque, nesta nova era, as mulheres finalmente podem. E tudo leva a crer que é apenas a ponta do iceberg. Que sejam cada vez mais as mulheres que tenham a coragem de dizer #EuTambém.