Todos os anos, milhares de famílias de diversas nacionalidades chegam a Portugal à procura de melhorar a sua qualidade de vida. Uma realidade que traz, contudo, alguns problemas de integração, desde logo entre os mais novos. Estarão as nossas escolas preparadas para os receber? Como será a comunicação entre alunos e meio escolar?
Sexta-feira, 9:30h. Uma manhã de sol. Na escola básica Dr. João das Regras, no concelho da Lourinhã, está a decorrer o intervalo da manhã. Muito barulho, uma energia contagiante, os alunos aproveitam para carregar baterias antes de enfrentarem as aulas. Entre eles, há estudantes de várias nacionalidades. Um dos maiores desafios dos alunos estrangeiros é enfrentar a língua que os separa dos restantes colegas. Zakhon Alshuk, de origem bielorrussa e aluno do 9º ano, afirma que no início usava o tradutor para falar com os colegas. “Tinha também o meu colega Maxim que sabia falar russo”, acrescenta. “Sem ele ficaria mais difícil.”
A língua inglesa é comum a quase todos e, por vezes, a salvação para criar uma ligação entre estes alunos e o meio escolar. “Muitos professores falavam inglês, porque era impossível eu perceber português”, explica Zakhon Para a maioria destes alunos, a maior dificuldade é não conseguir acompanhar a matéria, com naturais reflexos no desempenho escolar. “Há cerca de um ano não percebia a matéria toda “, confessa.
Do outro lado, o desafio que os separa é o mesmo: a comunicação. Ou a falta dela. Nicole Jorge, aluna do 9º ano da turma de Zakhon, explica que a fase inicial foi difícil “porque eles tinham de se adaptar e nós também tínhamos de arranjar forma de comunicar com eles”, mas depois foi-se tornando mais fácil. Admite, contudo, existirem vantagens por compartilharem o dia-a-dia com estes novos alunos de diversas origens. “Aprendemos sempre novas coisas e eles acabam por nos mostrar a realidade que acontecia na escola deles”, confessa Nicole, ressalvando a importância de incluí-los sempre da melhor forma.
Ensinar para além da língua materna
Também os professores enfrentam muitos desafios na hora de lecionar. Para o sucesso é fundamental que os alunos colaborem, garante João Ferreira. Segundo o professor de Português, se houver empenho e derem o seu melhor, “é possível colmatar muitas dessas dificuldades” e fazer um trajeto ascendente nas suas competências comunicativas. “Muitas vezes os alunos já têm essas dificuldades e mantêm uma postura desleixada e pouco empenhada e assim é difícil conseguirem acompanhar”. A melhor forma de combater esta realidade é ajudá-los. “Eu procuro que eles se integrem o mais possível”, garante. Dependendo do nível em que se encontram em Português, a integração pode ser maior ou menor, até porque, para aqueles que não têm destreza para fazer as mesmas atividades que os colegas, “fica tudo ainda um pouco mais difícil”.
Com todas as dificuldades que lhes são enfrentadas, estes alunos têm de ter critérios de avaliação algo distintos dos restantes. “O progresso vai-se se avaliando através dos trabalhos que vão realizando. Fazem-se algumas fichas e testes para, de alguma maneira, os pressionar a estudarem as matérias”, conta João Ferreira. Existem também casos de alunos que conseguem superar todas estas dificuldades. “O progresso é sempre lento, embora seja um aluno muito dedicado. Eu já tive casos desses, são casos raros, mas já tive alunos estrangeiros que têm ritmos de trabalho e empenho, e conseguem fazer uma progressão notável”, conclui o professor.
Na disciplina de Educação Moral Religiosa Católica, as estratégias pedagógicas utilizadas são um pouco divergentes. Maribel Silva, professora, recorre muito às imagens. “Costumo apresentar a matéria por imagens. Depois solicito que cada um deles, à sua maneira, se manifeste e comunique sobre elas, quer seja sobre o conhecimento ou sobre as suas emoções.” O tradutor é, na maioria das vezes, a solução para o entendimento entre os alunos e os docentes. “Tive um exemplo de um aluno que tinha mais dificuldade e dei-lhe a autorização para ir ao tradutor, para traduzir aquilo que queria transmitir”, refere Maribel Silva. Sempre que possível, os professores também optam por juntar os colegas que falam a mesma língua em grupos. Quanto à avaliação, garante que há algum critério, mas que é um processo evolutivo, “até porque a participação deles é sempre um pouco mais reduzida”.
Promover a inclusão
As funcionárias têm um papel fundamental nesta escola, com uma energia e sorriso contagiantes. Quando a integração não é bem sucedida, os intervalos podem ser um terror. “No intervalo, vou sempre ter com eles, normalmente com dois ou três alunos da turma e tento estar ali uns minutinhos. Depois, deixo o aluno encarregue aos outros colegas. Deixo também que a própria turma em si tenha essa responsabilidade de os ajudar a integrarem-se”, explica Zita Gomes.
Um trabalho que começa logo aquando da receção dos alunos. Pedro Damião, diretor da escola, garante que têm um professor que faz o acolhimento aos alunos e às famílias, “para lhes dar orientações sobre a escola e sobre o sistema educativo português”, assumindo-se este como interlocutor direto e próximo. Os recursos de apoio são, também eles, fundamentais. “O agrupamento disponibiliza aulas de apoio para estes alunos, em Português Língua Não Materna, integrando um dos grupos constituídos para o efeito”, conta Pedro Damião. O professor responsável por esta disciplina é normalmente um professor do 1.º ciclo. Se os alunos estiverem matriculados no ensino regular, terão as mesmas aulas que os restantes colegas e serão disponibilizados os mesmos recursos. A bem de todos.