Conhecida por ser uma das locutoras mais bem-dispostas da RFM, Carolina Camargo ponderou seguir Direito, mas, ainda assim, a paixão pela Comunicação Social prevaleceu. Desde que experimentou fazer rádio na universidade que teve a certeza que tinha escolhido o caminho certo. Estreou-se na RFM como produtora e, hoje, é uma das vozes mais ouvidas da estação. Em entrevista, a locutora revela que as prioridades são o trabalho e a família. Quando entra em estúdio, aquele tempo é dela e é para dar aos outros.
Na página da RFM, consta que quem a conhece bem sabe que não podia dedicar-se a outra atividade profissional a não ser a comunicação. Sempre soube que o seu futuro passaria por esta área?
Não. Em criança era muito introvertida, tanto que a minha mãe costuma dizer que era um ‘bicho do mato’. Só na adolescência é que me tornei uma pessoa muito comunicativa. Ainda assim, na faculdade, houve a possibilidade de tirar o curso de Direito, mas, para ser sincera, decidi escolher a licenciatura em Comunicação Social porque achava que era mais fácil e porque era um bocado preguiçosa para estudar o suficiente, a fim de ser bem-sucedida em Direito. Como o curso de Comunicação Social era muito abrangente e ainda não tinha decidido o que queria ser, ingressei e acabei por escolher o caminho certo. ‘Sem saber ler nem escrever’, fui parar ao sítio certo porque não me vejo a fazer outra atividade.
Já referiu o que a incentivou a escolher Comunicação Social ao invés de Direito. No momento de decisão, o que lhe chamou mais a atenção na área da Comunicação Social?
A escolha entre a área da Comunicação e a de Direito surgiu no momento de ir para a faculdade. Ainda tive algumas dúvidas, mas depois decidi escolher Comunicação, uma vez que, além de ter muitas saídas profissionais, estava com um pouco de receio de Direito. Relativamente à rádio, enquanto tirei o curso na Universidade Católica, tive uma cadeira semestral e prática de rádio. Quando experimentei fazer rádio na faculdade, pensei: “Estou no sítio certo e é por isto que estou aqui!” A partir daí, tive a certeza absoluta de que tinha tomado a decisão correta.
Como é que considera que a área da comunicação tem evoluído ao longo dos anos?
O mundo da comunicação tem sofrido uma mudança enorme e é com muito orgulho que tenho assistido a essa evolução. Todos os meios têm sido extremamente rápidos e eficazes no acompanhamento da tecnologia e, com isto, refiro-me à passagem do analógico para o digital, a tudo o que se relaciona com o online e com os media sociais, com os vídeocasts, com os podcasts, entre outros. Hoje em dia, se não estamos nas redes sociais, não estamos em lado nenhum. Portanto, esta capacidade dos meios se repartirem em diversas plataformas como websites, aplicações, redes sociais, entre outros, é extraordinária. Além do mais, existe uma multiplicidade de meios com conteúdos diferentes, porque nem sempre o conteúdo que passa na rádio ou na televisão é igual ao que se desenvolve no digital, e nós, enquanto profissionais do meio, também temos crescido muito com esta progressão.
“A rádio continua a ser um meio de comunicação relacionado com a emoção por excelência”
Revelou que a sua paixão pela rádio surgiu na universidade. O que é que a rádio lhe dá que os outros meios não dão?
Costuma-se falar muito na magia da rádio, até porque a mesma é considerada um cliché, ainda assim, adoro clichés, porque eles estão cheios de verdade. Mesmo com todo este desenvolvimento tecnológico, a rádio continua a ter uma mística diferente que os outros meios de comunicação não têm, uma vez que nos expressamos somente através da voz e do som. Claro que, hoje em dia, existe uma facilidade enorme de as pessoas nos verem, de contactarem connosco e de saberem quem somos, mas, apesar disso, o talismã do nosso trabalho diário está depositado na audição e toda esta envolvência é muito emocional. Sou uma apaixonada por música e poder trabalhar numa área que tem tanto valor na minha vida é um privilégio, por isso é que digo: “Faz aquilo que gostas e não terás de trabalhar um único dia da tua vida.” A meu ver, a rádio continua a ser um meio de comunicação relacionado com a emoção por excelência e, além do mais, não tenho de expor a minha imagem, pois exibo o que quero e da forma que quero nas minhas redes sociais. O facto de poder conservar a minha privacidade e só mostrar o que pretendo é muito importante para mim. A televisão, apesar de ter conteúdos magníficos e de ser um meio que me fascina, dá uma exposição completamente diferente. Neste aspeto, a rádio dá-nos algum refúgio.
Atualmente, é uma das locutoras da RFM. Como surgiu a oportunidade de trabalhar na estação?
No último ano do meu curso na Universidade Católica, tive de fazer um estágio, sendo que era necessário apresentar o relatório de estágio para conseguir concluir o curso. Na altura, a Católica tinha protocolos com vários órgãos de comunicação e, como já sabia que queria rádio, inscrevi-me para estagiar na RFM como produtora. Desde aí, fiz o segundo semestre do 5º ano na RFM. Como o resultado foi positivo, continuei como produtora. Com o passar do tempo, tive a oportunidade de fazer um casting de voz para a Rádio Renascença, visto que esta e a RFM pertencem ao mesmo grupo. O meu estágio passou de curricular a profissional quando mudei para a Renascença e fui locutora de trânsito durante dois anos. Entretanto, comecei a fazer programas de rádio na Renascença, onde fui locutora durante cinco anos e, agora, encontro-me na RFM. Foram muitas curvas, no entanto, saí da faculdade, fui para o estágio e nunca mais de lá saí.
Pode partilhar algumas das experiências mais marcantes que tem vivido na RFM?
Gosto muito de fazer exteriores. São momentos especiais por várias razões, sendo que uma delas é o facto de sairmos do estúdio para contactar diretamente com as pessoas. Embora tenha experiências em estúdio que adoro, posso dizer que os melhores momentos são os exteriores. Ter feito festivais de verão, antestreias de filmes mundiais, entrevistas a artistas internacionais, ter assistido ao Rock in Rio Brasil em 2013, entre tantas outras oportunidades, são experiências únicas que a rádio nos dá. Os ouvintes costumam dizer “vocês divertem-se muito” e é impossível dizer que não, o que não quer dizer que seja fácil. Lembro-me perfeitamente de um dos primeiros trabalhos que fiz quando cheguei à RFM, que foi uma ação designada “O fenómeno”, em que, pela primeira vez, realizámos uma emissão de rádio num carro em movimento. Estávamos presos num mini camião, com um portátil e a fazer rádio à vista de todos. Estava nervosíssima. Às tantas, a emissão teve início e os carros começaram a apitar, o que provocou em nós algum nervosismo, mas, ao mesmo tempo, uma sensação de adrenalina muito grande.
“As músicas são dedicadas ao ouvinte e não ao locutor. Faço rádio para o outro e não para mim”
Significa que a rádio coloca o outro em primeiro lugar?
Sempre. A rádio é colocar o outro como prioridade. As pessoas costumam-me dizer “passas as músicas que gostas”, quando, na verdade, não. Passo as músicas que os ouvintes gostam e, felizmente, revejo-me muito nesses temas. Por acaso, a minha idade enquadra-se no público-alvo da RFM, mas, mesmo que não fosse assim, as músicas são dedicadas ao ouvinte e não ao locutor. Faço rádio para o outro e não para mim.
Já revelou que é uma pessoa muito comunicativa e que gosta de estar com os outros. Como é que enfrentou o confinamento?
O confinamento foi extremamente difícil e demorei um bocado a perceber o quão mal me fez, visto que não lido bem com o isolamento e com o facto de não poder estar com a minha família e com os amigos. Até mesmo na rádio, tínhamos planos de contingência que nos obrigavam a trabalhar de forma faseada. Não havia momentos de convívio em que os colegas pudessem conversar, fumar um cigarro ou tomar um café. Toda esta situação fez-me pessimamente mal porque não sou uma pessoa de viver assim.
Considera que, durante o confinamento, as pessoas afeiçoaram-se ainda mais à rádio?
Sim. A rádio tem uma capacidade de se reinventar muito grande e, durante o confinamento, aconteceu um fenómeno muito interessante, porque pela primeira vez na história da rádio fizemos emissões a partir de casa. Desde aí, as pessoas identificaram-se ainda mais connosco. Estávamos a fazer teletrabalho, tal como elas. O facto de as pessoas sentirem que também tínhamos de gerir tudo em simultâneo foi muito impactante para a vida delas, assim como para as nossas.
É casada e mãe de dois filhos, locutora de rádio e também se dedica à escrita e ao exercício físico. Como tenta gerir o tempo?
No dia a dia, pratico exercício físico, pelo menos duas ou três vezes por semana, gosto de me dedicar à escrita, aos meus filhos e a todas as atividades que eles fazem, como karaté e natação. Tenho a vida profissional e ainda uma casa para gerir, por isso, posso dizer que são dias preenchidos. Antigamente, ficava desanimada por não conseguir fazer tudo, agora penso: “Faço até onde conseguir, o que não conseguir, paciência!” Por exemplo, no confinamento, nunca parei de trabalhar presencialmente, o meu marido fez teletrabalho e os meus filhos tinham aulas online todos os dias. Nessa altura, percebemos que não conseguíamos gerir a casa, os miúdos, o trabalho e tudo ao mesmo tempo. Entretanto, eu e o João concordámos em falar com a equipa do colégio e decidimos que os nossos filhos não iam mais às aulas. Era possível que eles continuassem a assistir às aulas, mas a ansiedade iria ser muito maior, logo, foi a melhor decisão. As pessoas têm de assumir escolhas, respeitarem-se a si mesmas e ao próximo, porque, às vezes, atrapalhamos a vida do outro quando queremos chegar a todo o lado. O que mais quero é continuar a dar o melhor no trabalho e ter tempo para me dedicar aos meus filhos. O resto… vou gerindo.