Ex-jornalista de lifestyle e agora criadora de conteúdos, Carmo Lico destaca-se pela sua autenticidade na comunicação. Ganhou notoriedade no digital, especialmente no TikTok, onde partilha o seu conhecimento sobre produtos de beleza, tentando manter a ética e a credibilidade, ao transitar do jornalismo para o mundo das marcas.
Entrou na Universidade Autónoma e licenciou-se em Ciências da Comunicação. O que a levou a escolher a área da comunicação?
Porquê Comunicação? Não sei. No secundário, estive em Artes e tinha a ideia que queria Design de Comunicação, que é basicamente paginação de revistas. Quando entrei em Design de Comunicação, percebi que não achava assim tanta piada avaliar arte. Para mim, a arte era algo muito subjetivo e irritava-me ter de quantificar algo que considerava tão artístico. Pensei: “Bom, se calhar Comunicação é algo um bocadinho mais tangível, talvez faça mais sentido optar por Comunicação.”
Durante os três anos em que estive em Design de Comunicação, tentei sempre mudar para Ciências da Comunicação na Nova, porque era a melhor referência que tinha. Mas acabei por escolher a Autónoma, onde percebi que a licenciatura é muito mais prática, o que, para mim, fazia mais sentido.
No ano letivo 2016/17, recebeu o prémio de melhor aluna da Licenciatura em Ciências da Comunicação. O que a motivou?
Acho que o brio. Também acho que foi muito importante o facto de ter entrado em Ciências da Comunicação com 21 anos, acho que isso teve muita influência para ter sido a melhor aluna de curso. Não entrei a brincar. Estava ali porque queria estar ali. Foi uma escolha minha e acho que, quando tu tens noção do que estás a fazer e da importância daqueles três anos para o resto da tua vida, isso faz toda a diferença.
“Sabia que não queria fazer um estágio, nem oferecer o meu trabalho”
Quatro meses após acabar a licenciatura, a Visão convidou-a para fazer parte da equipa. A universidade deu bases para esta entrada no mercado de trabalho?
Sim. Quando terminei a licenciatura, sabia que não queria fazer um estágio, nem oferecer o meu trabalho. Percebo que, em algumas áreas, faz sentido, especialmente se não te sentes segura com o teu trabalho. Nesse caso, um estágio pode ser uma forma válida de ganhar confiança e experiência. Com o portefólio que tinha e a experiência adquirida ao longo do meu percurso na Autónoma, sentia-me preparada para entrar no mercado de trabalho. Ou seja, podia ir a uma entrevista de emprego, apresentava o meu portefólio e dizia: “Isto é o que sei fazer. Aceito que não gostem, mas não aceito que digam que não sei fazer.” É claro que tenho muito para aprender e que irei crescer imenso onde quer que trabalhe. No entanto, acho importante valorizares o teu próprio trabalho e acreditares nas tuas capacidades.
Começou a escrever para a Activa, uma revista que é reconhecida por ter uma equipa de mulheres incríveis que trabalham todos os meses para inspirar os leitores. Como foi fazer parte desse grupo?
Foi muito giro. A Activa pertence ao mesmo grupo da Visão, por isso, o meu trabalho não mudou tanto, continuava a ir para o mesmo sítio, na mesma redação. Internamente, já falávamos sobre a possibilidade dessa mudança acontecer. Então, quando finalmente aconteceu, fiquei muito feliz. Foi fantástico trabalhar com a equipa da Activa. É composta por pessoas que estão lá há muito tempo e que sabem o que estão a fazer. Por um lado, tinha algum receio de me juntar a uma equipa tão consolidada e ser vista como um elemento de fora. No entanto, fui muito bem recebida e, acima de tudo, deram-me algo que considero essencial: espaço para ser eu mesma.
“O meu foco era escrever conteúdos que, enquanto leitora, teria gosto em ler”
Escreveu que, na Activa, o seu trabalho permitia inspirar os leitores. Havia adaptação de conteúdos para conquistar mais leitores?
Não. Claro que escrevia a pensar na pessoa que vai ler, mas, ao mesmo tempo, também escrevia muito para mim. Acredito que a melhor forma de fazeres bem as coisas é fazê-las de forma que tu gostes, que te identifiques. O meu foco era escrever conteúdos que, enquanto leitora, teria gosto em ler. Isso levou-me a fazer algo que não é muito comum em Portugal: escrever na primeira pessoa. Os meus textos começavam sempre com um parágrafo introdutório sobre mim.
Escreveu para revistas tão distintas como a Visão, a Prima e a Activa. De que forma conseguiu adaptar o seu estilo a cada um desses públicos?
A Ativa e a Prima eram revistas onde podia ser um bocadinho mais eu. Nessas revistas tinha a liberdade de escrever com um cunho pessoal, conquistando os leitores também através da minha experiência. Na Visão isso não acontecia tanto, porque o foco é informação pura e dura, algo mais objetivo. Por isso, custava-me muito mais escrever para a Visão. Sentia que precisava de sair de mim mesma e criar quase uma personagem: alguém mais sério e impessoal. Afinal, as pessoas que me liam na Visão procuravam a informação, não a minha personalidade ou estilo.
@carmolico Sim, isto é um problema sério. Não, o problema não são as crianças. Voltamos ao tema que me fez criar este perfil: crianças e skincare. #criançaseskincare #skincarecrianças #skincareadolecentes #skincareportugal
“Comecei a fazer vídeos para construir a minha identidade enquanto jornalista de beleza”
Partilhou nas redes sociais que a edição de outubro da Activa era a última que assinava, pois decidiu entregar a carteira de jornalista. Usou as palavras “tem tanto de assustador, como de entusiasmante”. O que motivou essa decisão?
Quando comecei a fazer vídeos para o TikTok, não te vou mentir, não comecei a fazer vídeos só porque sim. Comecei a fazer vídeos para construir a minha identidade enquanto jornalista de beleza. Ou seja, para que os leitores e as marcas me identificassem como uma jornalista especializada nesses temas, alguém que poderia levar as pessoas a comprar a revista, como, aliás, aconteceu. E ficava muito feliz quando isso acontecia.
Acontece que as coisas no TikTok escalaram muito rápido. Dei por mim a ser convidada para eventos como jornalista de beleza. Ou seja, convidavam-me para os eventos como jornalista da Activa, mas, ao chegar lá, diziam: “Gosto imenso dos teus vídeos.” E ficava a pensar: “Mas, espera lá, estou aqui como jornalista. Tens de dizer que gostas dos meus textos, não dos meus vídeos.” Isso fez-me perceber que o que estava a produzir no TikTok tinha muito mais alcance do que os textos que escrevia para a revista.
O facto de poder trabalhar com marcas trouxe-me uma possibilidade que me deixou profissionalmente realizada, pois continuava a falar sobre beleza, mas agora com a oportunidade de colaborar diretamente com as marcas. No entanto, havia um obstáculo: a ética. Para seguir esse caminho, teria de entregar a carteira de jornalista. Contudo, percebi que continuaria a fazer o meu trabalho com o mesmo rigor e brio. Ou seja, as marcas não compram a minha opinião, compram um espaço no meu perfil e o meu alcance.
Essa transição, de jornalista para criadora de conteúdos, deve ter trazido muitas mudanças. Como foi essa adaptação?
Posso acordar à hora que quiser [risos]. Efetivamente, uma das melhores coisas é ter essa liberdade, e o facto de trabalhar só comigo mesma é a melhor coisa. A pior coisa, no entanto, é que, ao trabalhar sozinha, dependo apenas de mim. Por isso, é preciso um autocontrole e uma disciplina maiores. Mas acho que vale a pena, porque, ao mesmo tempo, trabalho ao meu ritmo.
Como se sente em relação à flexibilidade que esta mudança trouxe?
Dizias muito bem, estava tanto assustada quanto entusiasmada. E é um facto, porque a parte do entusiasmo tem a ver com agora ter uma liberdade que não tinha antes, mas, ao mesmo tempo, também deixou de haver a garantia de um ordenado fixo no final do mês. Passado um mês, se perguntassem agora, diria apenas que estou entusiasmada. Acho que é daquelas decisões em que, de repente, para tomá-las, é preciso colocar muitas coisas na balança, mas quando a tomas com confiança — como foi o meu caso —, e depois de muita análise, as coisas acabam por fluir e acontecer.