“Jornalismo, sempre” foi o mote que juntou centenas de pessoas no Cinema São Jorge para o 5º Congresso de Jornalistas. Se, por um lado, os desafios da profissão se tornaram o principal foco de debate, o futuro do jornalismo também. A Autónoma foi a única instituição de ensino superior parceira do evento com as alunas Bárbara Machado, Bianca Silva, Catarina Cerdeira, Jéssica Oliveira, Juliana Neto, Mariana Carvalho e Mariana Rebocho, e os professores Miguel van-der Kellen e João de Sousa do Departamento de Ciências da Comunicação participado ativamente na redação que foi criada para cobrir o congresso.
Sete anos após o último Congresso dos Jornalistas foi reafirmada a necessidade de os profissionais celebrarem o que foi conquistado e, sobretudo, de se organizarem em prol da melhoria das suas condições de trabalho. Sendo 2024 o ano do 50º aniversário da Revolução de Abril, confirmou-se o contexto ideal para concretizar a reunião entre “camaradas” preocupados com o futuro do jornalismo e da democracia.
Perante a responsabilidade de integrar um evento de tal magnitude, foi necessária uma preparação prévia das alunas, de modo a estarem aptas para integrar a redação do congresso. O Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR) esteve encarregue da formação da equipa, num total de 32 horas. Neste local, conseguiram ter contacto com módulos ligados a rádio, escrita, vídeo, fotografia e redes sociais. Catarina Cerdeira, finalista da Licenciatura em Ciências da Comunicação, revela que: “as expectativas estavam elevadas, conhecia o prestígio do CENJOR e dos seus formadores.”
As alunas da Autónoma estiveram inseridas numa equipa de um total de 112 alunos, de 21 instituições de ensino superior, de todo o país. Dado que seria bastante complicado realizar formações para tantas pessoas ao mesmo tempo, fomos repartidos em diversos grupos.
A 4 de novembro de 2023 iniciaram o primeiro módulo. A acompanhá-las estavam alunos da Universidade do Algarve, da Universidade Europeia e uma aluna da Universidade de Coimbra. “À medida que as formações iam passando, as relações de uns com os outros fortaleciam-se cada vez mais”, afirma Juliana Neto. Ao qual a também finalista Mariana Carvalho acrescenta: “o facto de estarmos com colegas de outras universidades foi importante porque todos demonstrámos ter experiências distintas, o que levou a uma maior entreajuda”.
O tempo foi passando e a ajuda intensiva por parte dos formadores fez-se sentir. A aluna de 3º ano Bianca Silva admite que através da formação aprendeu “diversas dicas a nível de imagem, voz e escrita” e que consolidou com “os tópicos teóricos que já tinha abordado no decorrer da licenciatura”.
A 9 de dezembro davam por terminada a formação. Daqui a um mês estariam prestes a entrar naquele que seria o 5º Congresso dos Jornalistas.
“Não sabia bem o que estava a aceitar, só com o avançar do tempo é que percebi a oportunidade incrível que me foi dada”
Com o início do congresso, o foco das alunas era só um: “darmos o nosso melhor no decorrer daqueles quatro dias”. Se, por um lado, algumas criaram expectativas, outras nem por isso. “Antes de ir tentei não esperar demasiado para não me desiludir”, refere Bianca Silva.
Ao contrário de Bianca, Bárbara Machado expressa que “esperava ter uma experiência prática” que lhe permitisse “aprender as várias valências do jornalismo numa redação ‘real’”. Entre o debate do que esperar ou não deste projeto, Jéssica Oliveira assume que quando a convidaram “não sabia bem o que estava a aceitar, só com o avançar do tempo é que percebi a oportunidade incrível que me foi dada”.
Num evento desta dimensão é indispensável a preparação teórica de todos os envolvidos. Assim, as formações foram essenciais para as alunas conseguirem realizar o trabalho como membros da redação: “A apresentação do WordPress, no módulo de escrita, permitiu que conseguisse entender o funcionamento de uma ferramenta essencial para a publicação de artigos no site do congresso”, salienta a estudante de 2º ano, Mariana Rebocho.
Além da imprensa, a redação guardava mais duas valências: a rádio e as redes sociais. Juliana Neto teve a oportunidade de integrar todas as três áreas de trabalho e por isso, considera que a sua experiência foi “única” e bastante “completa”.
No decorrer do congresso, cada uma pôde desenvolver vários trabalhos: para Jéssica Oliveira, uma das pivôs da emissão de rádio, os seus momentos marcantes prendem-se em conversas com figuras importantes da política portuguesa: “foi um privilégio entrevistar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas”. Ainda no âmbito político, Bianca Silva e Juliana Neto realizaram a cobertura do painel “O papel do Estado”. Neste trabalho, a dupla de finalistas da licenciatura de Ciências da Comunicação teve a oportunidade de entrevistar líderes parlamentares de dois partidos políticos. No caso de Bianca, a deputada Paula Santos, do Partido Comunista Português (PCP) e Juliana, o deputado Joaquim Miranda Sarmento, do Partido Social Democrata (PSD). “Consegui unir duas das minhas grandes paixões: a política e a rádio”, assume Juliana Neto, ao qual Bianca Silva complementa: “esta peça foi fulcral para confirmar a área que quero seguir: jornalismo de política”.
Neste evento dedicado ao jornalismo, não se falou apenas de política, mas também das condições atuais da profissão. Mariana Rebocho e Bárbara Machado, alunas do 2º e 3º ano respetivamente, destacam um momento que as marcou à porta do Cinema São Jorge. “Quando a professora Ana Pinto Martinho disse em plena redação que os trabalhadores do grupo Global Media iriam fazer uma manifestação na entrada do congresso, pensei logo ‘tenho de ir cobrir isto’”, relata Mariana. Para Bárbara este momento que assistiu “vai ficar para sempre marcado”, na sua memória.
Após quatro dias intensos de trabalho, perceberam na prática como realmente funciona uma redação. Bianca Silva sublinha que esta experiência foi muito importante para compreender “como tudo é organizado, como o trabalho é dividido, e em como os prazos de entrega das peças são bastante apertados”. Mariana Rebocho, concorda com Bianca e confessa o que sentiu ao deixar a redação: “no último dia saí a pensar quero fazer isto para o resto da minha vida”.
“Aprendi a trabalhar em equipa e sobre a pressão do constante imediatismo a que o jornalismo está sujeito”
Com o fim do congresso, refletiram sobre a experiência. Se, por um lado, ficaram bastante preocupadas com a precaridade da profissão, por outro, sentiram que o futuro poderá ser bastante risonho. “É desanimador ouvir testemunhos tão negativos quando se sonha um dia ser profissional na área”, afirma Bianca Silva. Já Catarina Cerdeira acredita que “com o nosso trabalho conseguimos passar a mensagem que o futuro do jornalismo está em boas mãos e que vale a pena lutar”.
No decorrer da interação e convivência com muitos jornalistas, conseguiram ainda perceber como funciona a profissão. Tendo ficado marcado na mente de Mariana Rebocho que “ser jornalista não é fácil. Nunca vamos sair a uma hora certa, não é uma profissão das 9h00 às 18h00”.
Nos próximos anos cada uma irá seguir o seu caminho com um elemento a mais na sua bagagem: a experiência no congresso. “Aprendi a trabalhar em equipa e sobre a pressão do constante imediatismo a que o jornalismo está sujeito”, revela a aluna finalista, Bianca Silva. Pela perspetiva de Bárbara Machado, a autonomia foi um elemento fundamental neste projeto: “muitas vezes tivemos de improvisar e encontrar estratégias para que a informação fosse curta, concisa e ao mesmo tempo, acessível a toda a gente.”
Para Catarina Cerdeira, “aprendemos assim a gerir o tempo, a improvisar no momento, a aperfeiçoar a edição de reportagens, a ouvir e a errar. Tudo o que nos foi ensinado vai ser um grande trunfo para o futuro”.