O mundo encontra-se virado do avesso. Inevitavelmente, a Covid-19 passou a comandar e a orientar todas as ações do quotidiano, com a agravante de que o vírus parece longe de estar controlado. Apesar de a situação estar a gerar mal-estar social com forte impacto na saúde mental, os especialistas sublinham que existem estratégias simples para manter o equilíbrio: combater os pensamentos negativos com otimismo e manter a boa forma física.
Ter uma mente saudável e uma boa condição física é uma combinação essencial para usufruir de uma vida mais duradora e proveitosa. O equilíbrio entre a mente e o corpo é uma preocupação que deve, por isso, ser incutida desde tenra idade, uma vez que a infância e a adolescência são fases fulcrais no desenvolvimento em termos cognitivos e sociais. Ana Gomes, psicóloga clínica doutorada em psicossomática, dá o exemplo de como a atitude dos pais em tempos de pandemia pode ter impacto na perceção que as crianças têm do mundo e de como reagir: “Elas reveem-se bastante naquilo que é transmitido em casa. Se a mãe é muito ansiosa e se isto do vírus potenciou ainda mais este estado, ela irá transmitir essa forma de estar aos filhos.”
Com a Covid-19, o dia a dia, como o conhecíamos, sofreu alterações forçadas e todos os hábitos, caprichos, vontades e necessidades foram colocados à prova. De acordo com a Sociedade Portuguesa Psiquiatria Saúde Mental, mais de um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica. Portugal é ainda o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, ou seja, cerca de 4% da população adulta apresenta uma perturbação mental grave, 11,6% de gravidade moderada e 7,3% de gravidade ligeira.
Em estado de pandemia e com os riscos que a Covid-19 acarreta, estes números tendem a aumentar. Como explica Ana Gomes, “não se pode pensar que a pandemia e o confinamento causaram em linha direta só um tipo de impacto. Provocou várias consequências, em função da pessoa e da sua capacidade de adaptação às circunstâncias”. A psicóloga lembra que os portugueses não reagem da mesma forma às situações, além de que o ambiente e a realidade familiar em que vivem são determinantes para manter ou perder o equilíbrio. “De facto, existem situações em que a pessoa, por estar confinada em casa com a família, sente um impacto altamente negativo porque essas famílias, por si só, já eram problemáticas, nomeadamente onde poderia existir situações de abusos, maus-tratos.” Todavia, Ana Gomes tem identificado algumas vantagens no isolamento: “Para a maior parte dos meus pacientes, o facto de estarem em casa tranquiliza-os e ajuda a melhorarem a sintomatologia que traziam antes da consulta.”
Muitos são os especialistas na área da psicologia e da saúde que reforçam que o retorno à suposta normalidade foi a fase mais difícil. A terapeuta considera que “o grande problema nem foi o confinamento, mas sim o regresso à rua, à rotina, ao trabalho e aos transportes públicos”. A psicóloga mostra-se pessimista quanto ao desenvolvimento da pandemia e das suas consequências na sociedade, receando que “o pior em termos de saúde mental ainda esteja para vir”. E justifica: “Não temos o domínio e controlo necessário nas nossas ações. Podem surgir sintomatologias complicadas.”
Combater o sedentarismo
O ser humano necessita de interagir e comunicar, mas, por vezes, tem medo do desconhecido. Como tal, os especialistas em saúde mental sublinham a importância de ativar um estilo de vida saudável e pensar positivo para preservar o equilíbrio mental. A psicóloga clínica aconselha as pessoas a “ter ocupações e estratégias lúdicas”.
Para além de exercitar a mente, é importante praticar exercício físico. O objetivo é que toda a sociedade sedentária se torne ativa. Em isolamento, esta regra torna-se prioritária. Muitos foram os estudos e as notícias que provaram a relevância da atividade desportiva. De acordo com um estudo realizado pelo Sistema de Vigilância e Monitorização da Atividade Física e Desportiva, durante o tempo de isolamento social,houve uma interrupção mais acentuada no sedentarismo. “Os portugueses referem ter mais oportunidades para ser mais fisicamente ativos durante o período de confinamento físico.” O número de praticantes de desporto aumentou, o que significa mais benefícios em termos de saúde. Assim e como reforça o estudo, “45% das pessoas que eram fisicamente inativas no período de pré-isolamento social iniciaram a prática de atividade física regular durante o período de confinamento físico”.
O equilíbrio é a chave
O programa nacional da Organização Mundial de Saúde recomenda a todos que concretizem meia hora diária de exercício físico, “atividades que promovam a aptidão cardiovascular e o reforço muscular.” Diogo Nisa, personal trainer, tem um lema: “O que me motiva é conseguir fazer a diferença na vida de alguém. Deixa-me feliz ver cada vez mais as pessoas a terem a noção que atividade física tem para a nossa longevidade e saúde mental.”
Das mensagens mais importantes que deixa passar para os portugueses é que o corpo humano foi criado para mexer: “Então, temos que o usar para o seu propósito. Nada de extremismos, nem 8 nem 80.” O que realmente importa é praticar, mas não de forma exagerada. “Devemos ‘colocar alarmes’, criar uma rotina e, ao mesmo tempo, fazer exercício físico moderado. Há estratégias que podem e devem ser utilizadas. Uma delas é a cada hora levantar e sentar da cadeira dez vezes”, recomenda.
Embora se note um aumento na prática de atividade física, é preciso combater o sedentarismo. Diogo Nisa explica que se pode obter força e motivação. “Devemos procurar companhia para fazer pequenas caminhadas, ter um objetivo em mente, tentar divertir-se ao máximo.” Hoje em dia, os ginásios físicos foram trocados pelas redes sociais. No entanto, o técnico lembra que “há profissionais que fazem serviço ao domicílio ou mesmo acompanhamentos online”. A grande dica é que “acima de tudo, sejam felizes, tentar ter uma vida menos sedentária e incutir isso aos mais novos”. O personal trainer lembra que “a Netflix e comer pizza têm o seu lugar, mas andar de bicicleta em família e comer o peixe cozido também. Equilíbrio é a chave.”