Ana Moreira é uma comunicadora de energia contagiante, presente tanto na rádio como na televisão. Voz icónica da M80, também brilha na Benfica TV e RTP, onde transforma cada programa numa experiência única. Com uma habilidade rara a envolver o público, Ana é uma verdadeira contadora de histórias, sempre a reinventar-se e a inspirar com autenticidade e paixão.
Começou na rádio em 2004, na Cidade FM, e desde então tem construído uma carreira sólida neste meio. Cidade FM, Rádio Comercial, M80… são muitas memórias e histórias. O que a fez apaixonar pela rádio?
A vida foi um acaso. Queria ser repórter de guerra e fiz estágio na Rádio Renascença, durante a segunda guerra do Iraque. Trabalhei com adrenalina, mas percebi que não estava tão feliz. Sempre que tinha uma notícia, sentia aquele entusiasmo, mas o “antes” do trabalho não me agradava. Depois fiz um casting na Mega, não fiquei, tentei jornalismo corporativo, mas também não gostei. Quando soube que a Cidade FM ia começar, arrisquei e fui até ao diretor, Nuno Gonçalves, e disse-lhe: “Eu venho trabalhar aqui”. Ele fez-me um teste e, sem resposta, mandei-lhe um e-mail a dizer: “Ou um sim ou um não!”. No dia seguinte, ele ligou-me a perguntar quando podia começar. Foi assim que comecei na rádio e apaixonei-me logo.
A sua trajetória inclui o regresso à Cidade FM e, desde 2010, é uma das vozes mais conhecidas da M80. Isso mostra uma grande versatilidade ao longo da sua carreira. Como foi a transição da rádio mais jovem e vibrante, a Cidade FM, para o ambiente mais nostálgico e clássico da M80?
A transição da Cidade FM para a M80 foi interessante, porque, apesar de tocarmos músicas dos anos 80, 90 e 2000, não nos vemos como uma rádio nostálgica. Quando saí da Cidade FM, já tinha 30 anos e percebi que a minha vida social já não acompanhava o público da rádio, e não sentia que estava a falar para aquele público. Quando me chamaram para a Comercial, pensei que não era a altura certa, mas aceitei. Na M80, senti-me mais adulta, comecei a tratar os ouvintes por “você”, mas a parvoíce manteve-se, só que mais moderada. Na Cidade FM, a vibe era diferente, a equipa tinha uma energia única.
No meio desta jornada na rádio, a música sempre foi uma parte essencial. Disse uma vez na M80 que a vida tem sempre uma banda sonora e escolheu Pure Shores, das All Saints, por representar o “ir”. Para onde é que você, Ana Moreira, quer “ir”?
Para mim, “ir” é viajar. Viajar é um dos meus maiores prazeres. Mas “ir” não é só viajar, é também ir em busca de novos programas, novas ideias. No tempo da Cidade FM, a equipa estava sempre a viver novas experiências, a sair à noite, a explorar novos lugares, e isso ampliava a nossa visão para trazer coisas novas para a rádio. Eu sempre procurei acrescentar, explorar e aprender com o que o mundo tem para oferecer.
A paixão pela televisão: “É quase uma coisa que não custa”
Além da rádio, tem um percurso relevante na televisão, começando em 2009 com a Benfica TV e, mais recentemente, na RTP. Como surgiu a oportunidade de entrar na televisão?
A oportunidade de entrar na televisão surgiu de forma natural. Na Benfica TV, uma amiga que lá trabalhava sabia que eu gostava de futebol e que percebia de “bola”. Então, um dia chamaram-me para fazer comentários, antevisões ou até pós-jogos. Mais tarde, na RTP, fui contactada pelo diretor de programas e convidada para o ‘Domingo à Tarde’, mas o programa foi interrompido pelo Covid. Depois, comecei a ser chamada para testar para o ‘Sete Maravilhas’, esporadicamente, e depois para o ‘Faz Faísca’, onde fiquei durante três anos. Também sou repórter do ‘Casa ou Cozinha’ e continuo na Benfica TV. Às vezes, no meio de tudo isto, sinto que vou ter um burnout, mas vou conseguindo equilibrar tudo.
Colabora com a Benfica TV e, como adepta do Benfica, isso deve ter sido um sonho tornado realidade. Como é trabalhar para o canal do seu clube do coração?
É muito bom, porque envolve paixão. É quase uma coisa que não custa, mas, claro, trabalho é trabalho. Trabalhar de borla nunca, porque isso é desprestigiar o trabalho. Não se vai oferecer aquilo que se tem para vender, é o que se sabe fazer. Acima de tudo, [em relação ao Benfica] é o orgulho que o meu pai teria. Estar ligada ao Benfica, algo que sempre consumi, é algo muito familiar para mim. Eu ia a Braga, Guimarães, via os jogos com os meus pais, toda aquela experiência era familiar. Foi uma experiência muito fixe e ainda mais porque aconteceu de forma inesperada.
A sua experiência na RTP começou com o ‘Domingo à Tarde’, um programa em direto com uma dinâmica completamente diferente da rádio. O que a fascinou nessa mudança?
Não acho que seja tão difícil ou diferente da rádio, por ser direto. Na rádio, já mexia muito as mãos, era uma característica minha. Na rádio, trabalhamos muito as palavras para lhes dar vida; na televisão, encarava as coisas da mesma forma. Não deixava momentos mortos, estava sempre atenta ao que o convidado dizia para apanhar o momento e evitar o silêncio. Havia gente que me dizia no auricular: “Calma, Ana, isto não é rádio, tem tempo”, mas isso é vício de quem faz rádio.
Foi repórter no ‘Faz Faísca’ durante três anos, um período certamente de grande importância na sua vida pessoal e profissional. Quais são as memórias especiais que guardou dessa experiência?
Foi, principalmente, conhecer muita gente interessante. Era um programa em formato magazine. Acompanhava muitos eventos culturais e conhecia pessoas que admirava. Estar por trás desses projetos foi muito giro. Além disso, diverti-me imenso porque aquilo era baseado em brincadeira, era sobre desconstruir os convidados para eles fazerem palhaçadas connosco. Foi muito giro, aquele programa era a minha cara.
A liberdade criativa no seu podcast: “Falamos sobre tudo e nada”
Mais recentemente, em 2022, criou um podcast com a Vanda Miranda chamado “Mas o que é que se passa aqui?”, onde abordam diversos temas de cultura, histórias pessoais e da sociedade. Como surgiu a ideia para o podcast?
A ideia surgiu num festival em Vilar de Mouros, quando estávamos a falar sobre vários assuntos e, de repente, esquecemo-nos que estávamos a fazer rádio. Gostamos muito de dar a nossa opinião e temos sempre algo a acrescentar. Pensámos: “Isto dava um podcast.” Foi uma forma de nos juntarmos, nos divertirmos e veio um programa que fala sobre tudo e nada.
Como é trabalhar com a Vanda Miranda no podcast?
A Vanda é uma inspiração, um dos nomes máximos da rádio. Ela tem graça só de existir, de respirar, ela pega numa coisa e dá-te a volta. Surpreende-me sempre, consegue sempre dizer algo inesperado, às vezes fico em choque. Eu sou a mais púdica, fico sempre “Ai, Vanda, que horror!” Mesmo quando faço programas fora do podcast, só o facto de trabalhar com ela, sinto que estou sempre a aprender.
Sendo natural de Viana do Castelo, refere que essa cidade teve um grande impacto na sua vida. De que forma a sua cidade natal, Viana do Castelo, moldou quem é hoje?
Viana do Castelo moldou a minha personalidade. O povo do Norte é muito intenso, seja na felicidade ou no drama. A minha educação foi focada em objetivos, sempre me ensinaram a trabalhar para me destacar. Sou muito orgulhosa da minha origem e, na rádio, a minha pronúncia e empatia ajudam-me a ser diferente. Eu sou do Norte, e isso está tatuado [mostra a tatuagem] em mim.