Na Histórias com H de hoje fazemos uma vénia ao esforço e dedicação de uma lenda dos Jogos Olímpicos. Neste episódio, Kerri Strug, a ginasta olímpica estadunidense, ocupa a manchete da nossa rubrica.
No desporto, tal como na vida, nada bom acontece por acaso. Na Histórias com H de hoje fazemos uma vénia ao esforço e dedicação de uma lenda dos Jogos Olímpicos.
Hoje, Kerri Strug, a ginasta olímpica estadunidense, ocupa a manchete da nossa rubrica da memória. Se é certo que deu muito ao seu país, também é certo que para o fazer se sacrificou mentalmente, mas principalmente fisicamente. Entre os seus inúmeros feitos olímpicos, decidimos enaltecer o que acabou por se imortalizar e que explica por si só, a luta de um desportista.
De 4 em 4 anos (jogos sazonais), existe um período de tempo muito curto em que é possível fazer história, marcando um nome e um país para sempre. É uma oportunidade de uma vida, que começa e acaba em questão de segundos. Mas o treino e a preparação começam muito antes – são centenas de horas de sacrifício e persistência. Todos nós, amantes do desporto, nos lembramos daqueles serões na televisão a ver excertos dos Jogos Olímpicos. Mesmo que alguns não conheçam nem simpatizassem com alguns dos desportos, havia qualquer coisa de chamativo, uma atmosfera diferente que abrilhantava aqueles dias e que prendiam à televisão os mais comuns dos cidadãos.
No meio deste sentimento todo, era fácil esquecer que os atletas que víamos na televisão, a levar os seus corpos ao limite, tinham estado anos a preparar aquele momento. Anos que se condensavam em meros segundos. Mas essa mesma dedicação e sacrifício, ocasionalmente, se transformavam e permitiam ao telespetador vislumbrar o que é a vida de um desportista de alta competição: as lágrimas de felicidade ou de pura frustração; o abraço forte de um atleta ao treinador, que espelhava as horas em que estiveram juntos a treinar arduamente; até aqueles breves momentos de concentração pura antes do começo de uma prova.
Por isso mesmo, hoje relatamos e revivemos um momento que fala por si só, como referi há pouco.
Viajemos para o ano de 1992. Kerri Strug tinha 14 anos e competia pela primeira vez junto à equipa feminina dos Estados Unidos da América. KerrNa Histórias com H de hoje fazemos uma vénia ao esforço e dedicação de uma lenda dos Jogos Olímpicos. Neste episódio, Kerri Strug, a ginasta olímpica estadunidense, ocupa a manchete da nossa rubrica. e a sua equipa ganharam nas Olimpíadas de Barcelona a medalha de bronze, ficando atrás da União Soviética (a chamada Equipa Unificada, devido ao recente rompimento da mesma). Kerri era a mais jovem em todas as equipas femininas nestes Jogos, algo que indicava à jovem um futuro de grandes conquistas. Em 1994, dois anos depois, sofre uma lesão nas costas, que a obriga a parar seis meses. Depois desta intempérie, Kerri volta a entrar em cena, fazendo parte da equipa que ganha a prata no Campeonato do Mundo de 1995. Nesta altura, a ginasta estava já no topo das suas habilidades e carreira, tendo em conta que a carreira de uma ginasta é, sem dúvida, de rápido desgaste e torna-se muito efémera.
Entremos novamente na máquina do tempo d’O Desportista. No ano de 1996, jogar-se-iam os Jogos Olímpicos de Atlanta. Nesta altura, Kerri, com 18 anos, já tinha ganho uma reputação digna de estrela e considerava-se já ser uma veterana ao que o desporto diz respeito. Exemplo disso mesmo é a quantidade de fãs que aplaudiam todas as suas intervenções nestas Olimpíadas “jogadas em casa”. A equipa que a acompanhava era considerada a favorita para arrecadar o ouro, frente às russas, que também tinham a sua cota de favoritismo, e às duras e competitivas romenas. No começo da competição, as russas dominavam e mostravam para o que tinham vindo. Mas, e de forma brilhante, a equipa da casa deu a volta e chegou-se à frente, comandando de forma quase imaculável. A vitória já se esperava, estava próxima. Contudo, e de forma completamente inesperada, tanto Strug como a colega Dominique Moceanu caíram registando uma pontuação deveras pobre. Strug tinha agora a possibilidade de se redimir. Seria a última a saltar e a poder pontuar.
Seria tudo muito simples se não houvesse um revés. Na primeira tentativa, a jovem tinha torcido o tornozelo, danificando tecidos importantes dos tendões e ligamentos. Kerri estava agora em dores horríveis e inimagináveis. Tanto que pensou em não arriscar e não fazer o segundo salto. Antes de saltar, a jovem questionou a sua treinadora se era mesmo preciso fazer o salto, “Precisamos disto?”. A sua treinadora Kàrolyi respondeu, “Kerri, precisamos que vás mais uma vez. Precisamos mais uma vez de ti para chegar ao ouro. Tu consegues, é melhor conseguires.”
Neste momento Kerri não mais olhou para a treinadora. Apenas se focou naquilo que tinha a fazer. As dores eram secundárias.
Kerri ganhou impulso e aterrou sobre o “vault” com os dois pés de forma brilhante (mas apenas brevemente, tirando assim o seu pé magoado rapidamente), saudando no final o júri. Segundos depois, colapsaram de dores. Pontuou 9.172, que permitiu com que a mesma ganhasse a medalha de ouro.
É este o espírito de entrega que vos falei. São estes momentos que dispensam apresentações e qualquer outra informação. É esta entrega que agarra o espetador à televisão em semanas de J.O. São meses e meses de entrega e sacrifício de Kerri para entregar tudo no final sem receber recompensa. No final, e com uma lesão grave nos tendões, mas com a imortalidade garantida. Kerri é considerada uma heroína dos Jogos. Nos Estados Unidos e no mundo, serve como exemplo para a perseverança face ao contexto limitador, seja ele físico ou psicológico. Como outro dos grandes do desporto, Nemanja Vidic disse: “Podes tratar um nariz partido. Mas se deixares alguém marcar um golo, nunca poderás dar um remendo no teu orgulho.”