É atriz desde os 9 anos, mas tornou-se ainda mais conhecida como youtuber. O crescimento nas redes sociais levou-a a querer ter ainda mais contacto com os seguidores e assim nasceu o canal “Esta Miúda Não Existe”.
Ao longo da conversa ficou vincada a dedicação da atriz. Lidar com as câmaras é algo ao qual sempre esteve habituada e a área da comunicação tornou-se indispensável à sua vida. Da televisão ao teatro e do Curso de Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa, ao “mundo dos Youtubers”, um percurso do qual se orgulha e que afirma ter sido uma grande aposta.
Apesar de ter trabalhado em alguns spots publicitários desde os 5 anos, estreou-se nos ecrãs com a novela “Doce Fugitiva” tendo apenas 9 anos. A representação já era algo que queria para a sua vida ou não passou de um acaso?
Desde os meus cinco anos talvez, que era aquela menina que ia às lojas e aos centros comerciais e tinha imenso à vontade com as pessoas. Por exemplo, quando experimentava roupa numa loja tinha a mania de vir fazer desfiles para os corredores e achavam-me imensa piada. Houve um dia em que uma amiga da minha mãe perguntou-lhe porque é que ela não me inscrevia numa agência e os meus pais disseram que, se eu quisesse, me inscreviam. E queria e gostava, porque era muito vaidosa e ainda hoje sou. Quando me inscreveram comecei por fazer desfiles de moda e, entretanto, começaram algumas participações simples em novelas, porque uma coisa leva à outra.
Ainda com 5 anos, sem saber ler nem escrever, houve um grande casting na antiga Feira Popular com um texto para decorar e estava lá imensa gente. Como não sabia ler nem escrever, a minha mãe ajudou-me a decorar o texto e, quando realizei o casting, correu tudo muito bem. A partir daí, comecei a fazer participações especiais. Depois passei para uma outra agência e entrei na “Doce Fugitiva”, na TVI. Mas sempre quis ter ligação a este mundo e os meus pais sempre me apoiaram muito.
Após a novela “Doce Fugitiva”, surgiram muitos outros programas televisivos nos quais participou, como os “Morangos com Açúcar” e “Conta-me Como Foi”, alargando a sua presença nos ecrãs. Até hoje, qual foi o que mais apreciou?
Gostei mais da Carolina, de “Morangos Com Açúcar”. Se bem que é muito difícil ter uma resposta. É como perguntar a uma mãe se gosta mais de um filho ou do outro. Todos os papéis que interpretei são diferentes, o que implica também desafios diferentes e, por exemplo, a Ritinha, na “Doce Fugitiva”, foi a minha primeira personagem. Lembro-me perfeitamente disso, de gravar a minha primeira cena com apenas 9 anos. Isto foi algo muito especial para mim, no sentido em que foi o meu primeiro contacto mais a sério com o mundo da televisão e gostei muito mesmo. Mas o que me marcou mais e no qual tive oportunidade de explorar mais coisas, também por ser mais velha e estar mais atenta ao que acontecia à minha volta, foi no papel de Carolina. Tinha mais consciência e podia arriscar ou improvisar mais. Por isso, posso dizer que foi o que mais apreciei.
Entre o teatro e o cinema
O seu talento para representar também se estendeu aos teatros. Prefere representar para os ecrãs ou os palcos?
Já tive mais oportunidades na televisão, mas o teatro dá mais gosto e prazer por que se tem um contacto muito grande com o público e temos também uma reação instantânea. Conseguimos perceber se estão a gostar ou não e, quando gostam, obtemos uma reação incrível.
A nível de representação, acabamos também por representar mais em teatro. Exploramos muito mais coisas desde emoções, corpo… É um local onde a linguagem corporal tem de estar muito presente. E a voz, a voz é muito importante. Em televisão, a representação é muito mais … não queria dizer minimalista, mas os níveis são mais baixos, no aspeto em que decoramos o texto para aquilo e, se correr bem à primeira, dificilmente voltamos a pegar naquele texto. Já no teatro, temos meses de ensaios e trabalhamos muito os textos e as coreografias. Neste momento, estou a fazer um musical para este Natal e tenho ensaios todos os dias.
Como recorda a experiência de participar na primeira longa-metragem infantil portuguesa “O Planeta Adormecido”?
Foi incrível. Foi uma personagem que também adorei e foi, acima de tudo, um desafio. Tinha acabado de fazer uma série na RTP2, “A República das Perguntas”. E uma das pessoas dessa produção tinha ligações com o realizador desse projeto e disse que ia sugerir o meu nome porque tinha gostado de trabalhar comigo. Acabei por ter uma reunião com ele para me apresentar o projeto. Tinha 13 anos e foi muito especial. Ser protagonista é um peso completamente diferente. Tinha quase o filme todo nas minhas mãos porque a Camila, a minha personagem, lia uma história e essa história ia acontecendo. Tinha uma ligação do início ao fim. Era eu que tinha o fio condutor de todo o argumento do filme. Só tenho pena que não tenha estado tanto tempo em cena porque o cinema português é sempre um bocado esquecido ou desvalorizado pelo público, infelizmente.
Mas foi mesmo muito especial porque foi a minha primeira experiência em cinema e é algo muito diferente da televisão porque se trabalha muito mais as cenas. É quase como uma mistura de teatro com televisão.
Um programa da sua autoria
“Talentos da Linha” foi um programa da sua autoria. O que a levou a querer realizar este projeto?
Sou diretora e apresentadora deste programa, mas, antes disto, já tinha apresentado alguns concursos de talentos e foi aí que me apercebi que não havia nada do género em Oeiras. Como tinha uma ligação à câmara, porque já tinha apresentado alguns desfiles e eventos na zona, tive facilidade em apresentar o projeto e o presidente da autarquia gostou imenso e aprovou-o. Não foi nada muito planeado. Pensei que fosse ser uma ideia gira, por não haver nada do género, e tentei arriscar. Tive sucesso, o que foi ótimo. Já tivemos cinco edições e temos mais para vir. As pessoas ainda hoje me perguntam quando é que os “Talentos da Linha” vão voltar e é muito bom. Também é bom sentir que posso dizer que, com a minha idade, fui diretora, produtora e apresentadora de uma coisa tão grande e que envolve tanta logística, dinheiro e recursos humanos.
Apesar da ligação constante ao mundo da representação, acabou por se licenciar em Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa. Porquê esta opção?
No secundário, tirei o curso de Línguas e Humanidades, mas e queria muito ter ido para a Escola Profissional de Teatro de Cascais (IPTC). Não fui porque fui parva… as minhas amigas iam para o liceu dito “normal” e quis ir com elas. Os meus pais sempre me disseram para ir para teatro, mas acho que ia ser um bocado complicado. A escola ficava longe da minha casa e ia demorar horas de transportes, visto que ainda é no interior de Cascais e assim decidi tirar Línguas e Humanidades e, no caso de continuar a querer tirar teatro, ia para o Conservatório. Foi algo que também acabou por não acontecer.
Em relação ao curso de Línguas e Humanidades, acabei por não gostar, não tinha interesse e comecei a pensar naquilo que poderia fazer da minha vida. Os meus pais só me diziam para perder uns anos e ir para teatro, mas não queria perder uns anos, nem ficar em humanidades, mas queria teatro. Tinha a certeza. No entanto, acabei por terminar o curso de Línguas e Humanidades e, nessa altura, recebi informações de amigos sobre o conservatório que diziam que não era assim tão bom como aquilo que dizem ser. Aconselharam-me que mais valia tirar um curso fora desta área e ter sempre um plano B, mas esse meu plano B tinha de estar ligado à comunicação porque é algo que quero, sempre quis e que adoro. Assim, candidatei-me às licenciaturas de Ciências da Comunicação, Jornalismo, mais uma vez Ciências da Comunicação e, por fim, Sociologia. Escolhi este último porque foi a disciplina que mais apreciei no secundário.
Quando saíram os resultados, não entrei em Jornalismo nem em Ciências da Comunicação por umas décimas e acabei por ser colocada em Sociologia. Gostei imenso do ambiente e como na minha cabeça já não achava que ia conseguir entrar na segunda fase em Ciências da Comunicação, anulei a candidatura. Foi um erro porque teria entrado.
Não me arrependo do meu percurso académico. Se as cosias aconteceram assim é porque tinham uma razão para o ser. Tive sempre boas notas e o curso de Sociologia também me ajudou muito a nível pessoal e no teatro, pois esta área faz com que estudemos as interações das pessoas a vários níveis e muitas das minhas unidades curriculares eram baseadas em comunicação.
Sucesso nas redes sociais
Essa ligação com a comunicação é que fez com que começasse a dar mais atenção às redes sociais, nomeadamente, ao Instagram?
O meu crescimento no Instagram não foi nada propositado. Nunca tomei uma decisão de começar a postar mais fotografias, nem nada do género, para crescer nesta rede social. Simplesmente, acho que algumas pessoas ainda se lembravam de mim, por ser atriz e ter participado em “Morangos Com Açúcar” e, quando dei por mim, o meu número de seguidores estava a aumentar exponencialmente. Foi tudo sem planos, apenas acabou por acontecer.
A sua vida no Instagram começou a tornar-se bastante ativa e o contacto com os seus seguidores mais regular. Foi isto que a levou a criar um canal de YouTube?
Não sabia que trabalhar com o Instagram era realmente uma coisa. Tinha a noção que as pessoas tinham muitos seguidores, que lhes ofereciam coisas, mas não sabia que isto era um trabalho e só quando comecei a crescer na rede social é que percebi.
Sempre partilhei muitos instastories do meu dia-a-dia e, mais tarde, comecei a receber muitas mensagens a dizer para criar um canal de Youtube. Ainda durou muito tempo, mas pensava para mim: “Não tenho uma câmara, não sei editar, não tenho um cenário… Do que é que vou falar? Será que as pessoas vão ver?”. Tinha milhões de dúvidas e perguntas. Na minha opinião, isto são coisas que, no fundo, se queremos, conseguimos. Se nos esforçarmos, conseguimos juntar dinheiro para uma câmara e se quisermos aprender a editar aprendemos.
E assim, há um ano, mais ou menos, comecei a ponderar criar o canal porque já tinha acabado a faculdade, o teatro e estava basicamente parada. Segui para a frente com a ideia e correu bem. Foi algo que gostei muito e que hoje ainda gosto mais. Sempre gostei de estar em frente à câmara e como já estava habituada às pessoas verem-me na televisão, nunca achei que fosse estranho verem-me num outro ecrã.
De onde vem o nome do seu canal, “Esta Miúda Não Existe”?
É algo que os meus pais e os meus amigos estão sempre a dizer-me. Foi no momento em que estava a comprar a minha câmara para dar início ao canal que fiz uma daquelas coisas mesmo “à Sandra” e a minha mãe disse-me, mais uma vez, “esta miúda não existe” e fez-se um click. Era e é o nome perfeito.
Em pouco menos de um ano, já conta com quase dez mil seguidores. Onde arranja inspiração para os temas que desenvolve para o canal e para os subscritores?
Nos primeiros meses do canal, acabei por continuar aquilo que fazia no Instagram porque não via muito de YouTube até ter criado o meu canal. Quer dizer, via, mas não era assídua.
Comecei com um vídeo de apresentação e mais alguns que me davam a conhecer melhor aos meus subscritores e, depois, sempre fui atrás da opinião deles. Fui sempre perguntando o que é que eles preferiam ver, se era desafios, tags, vlogs, etc. e se tinham gostado ou não. Como a maior parte das vezes, fui uma pessoa que falava muito pelo Instagram, desde desabafos a coisas normais do dia-a-dia, as pessoas pediam-me para falar disso, daquilo que realmente importava e naquilo em que me baseava.
Ainda assim, tenho uma nota gigante no telemóvel com todas as ideias que me surgem, seja a que hora for. Não gosto de roubar ideias e gosto de me manter original e genuína, a menos que sejam desafios que possam ser diferentes de pessoa para pessoa.
Graças às redes sociais, acabou por se tornar numa espécie influencer. É complicado lidar com a confiança que os seus seguidores depositam em si?
Um bocadinho, mas não diria complicado. É uma responsabilidade. Há coisas que ninguém partilha, porque parecendo que não, as redes sociais estão a tornar-se alvo de um público cada vez mais novo. Posso gravar um instastorie e ter uma criança de 9 anos a ver. Por exemplo, os meus primos, que têm essa idade, pedem aos pais o telemóvel para poderem ver os meus vídeos. É algo real, algo que acontece. Aliás, até tenho um vídeo no meu canal com a minha prima Matilde, com a autorização dos pais dela, claro, e teve imenso sucesso. Imensa gente pede-me para a voltar a trazer ao canal e é por isso que tento ter sempre cuidado, porque alguém mais novo pode estar a ver.
No caso do Instagram, é claro que os meus stories não são vistos por todos os meus seguidores, mas tenho sempre de pensar que podem chegar a muita gente. É uma responsabilidade pensar que tudo o que digo pode ser interpretado de forma diferente e ser uma influência para algo ou alguém. Não quero que as pessoas façam tudo o que faço, nem que comprem tudo o que partilho por ser giro. Mas sei que estão à espera que, se partilhar um produto, que o mesmo seja realmente bom e que funcione. E experimento tudo. Não partilho nada que não goste ou que não tenha experimentado. Seria uma falta de noção. Por isso, partilho o que gosto e o que quero. Gosto de lhes transmitir confiança e sei que depositam confiança em mim. Às vezes, recebo mensagens a pedir conselhos sobre namorados, discussões com amigas e sinto que têm uma proximidade comigo, que me veem como uma amiga.
O que considera ser os pontos positivos ou negativos da sua exposição nas redes sociais?
Pontos positivos são, sem dúvida, conseguir ajudar e influenciar pessoas em situações boas. O meu principal objetivo é e sempre foi tentar ajudar as pessoas. Não perco nada com isso e as pessoas podem ganhar. E sigo-me por isto. Porque é que não hei de partilhar se tenho essa oportunidade e confiança das pessoas em mim. Esse é o grande ponto positivo: saber que ajudei e que as pessoas seguiram os meus conselhos.
Pontos negativos, privacidade, talvez. Os instagramers, youtubers, influencers, seja o que for, só partilhamos aquilo que queremos. Somos nós que criamos a nossa privacidade. Não partilho situações mais íntimas, acaba por ser tudo q.b.. O que pretender que seja privado, consigo porque as minhas redes sociais estão nas minhas mãos. No entanto, há pessoas que sentem que podem perguntar, que têm esse direito e chegam mesmo a ir muito ao íntimo de uma pessoa. Mas também penso que se chegam a determinado assunto foi porque, de certa forma, me expus sobre tal.
Completou 22 anos recentemente. Porque é que gosta tanto de celebrar o seu aniversário?
Fazer anos é sempre aquela altura onde faço uma introspeção ao ano que passou. Para mim, a passagem de ano é quando faço anos e não no final do ano. Gosto sempre de ver o que fiz no ano que passou, quais foram os meus pontos negativos e os positivos, onde errei, onde é que posso melhorar e por aí.
Outra coisa boa dos aniversários é a união. É voltar a estar com quem não se vê há muito tempo, por inúmeras razões. Juntar amigos ou família é algo que me deixa feliz. Também gosto de festejar, como é óbvio, mas é mesmo a união que me deixa realizada.
Que perspetivas tem para o futuro?
Não sou uma pessoa que gosta de se focar no passado, nem sou aquela pessoa que gosta de planear o futuro. O que aí vem é algo que não está nas minhas mãos e uma pessoa nunca sabe muito bem o que pode vir a acontecer. Há uns dias, não sabia que ia ser chamada para realizar um musical de Natal, com ensaios todos os dias.
É difícil projetar o futuro. Há um ano, não me via assim, pois ainda nem sequer tinha criado o meu canal. Mas, no que depender de mim e daquilo que posso controlar, vou manter-me focada a 100% no Instagram e no Youtube, mas essencialmente no Youtube. Quero que o meu canal cresça, que as pessoas me sigam, subscrevam e vejam os meus vídeos porque realmente gostam. Conto mesmo muito com os meus seguidores porque são eles que fazem isto ter sentido, me ajudam a crescer e é por eles que também o faço.
Também adorava voltar a trabalhar em televisão e, se não for mesmo televisão, que seja algo que goste e ligado à comunicação. Gostava de tirar um mestrado em algo que realmente goste e que possa usar na minha vida profissional. Algo que possa realmente aplicar na minha vida. Estudar nunca é de mais, principalmente, se lhe dermos uso. Mas lá está, é difícil de planear, é incerto e as coisas, às vezes, acontecem do dia para a noite e não são planeadas.