Antigo aluno da Autónoma e atual animador da Mega Hits, Diogo Pires conta-nos como se apaixonou (ainda criança) pela rádio e fala também sobre a sua experiência enquanto voice actor e o admirável mundo dos podcasts. Um talento precoce com os pés bem assentes… no trabalho.
Fale-nos um pouco sobre si. Quem é o Diogo Pires?
Sou um rapaz que tem muita aptidão para a tecnologia e, desde muito cedo, utilizo isso para comunicar. Comunicar, sobretudo, com o meu pai que emigrou quando tinha 10, 11 anos. Tínhamos um hábito muito engraçado, quando ele ainda estava cá. Todas as semanas, íamos a uma loja de discos, comprávamos sempre um CD e nesse fim de semana ouvíamos. Quando emigrou, continuei a comprá-los e falávamos diariamente via Skype. Tínhamos esse hábito, no qual eu lhe mostrava as músicas do disco que tinha comprado. Penso que esta é a primeira experiência que tive próximo daquilo que faço hoje. Foi assim que me apaixonei pela rádio. Sou da rádio muito antes de ser da comunicação. O gosto pela comunicação, como um todo, surgiu anos mais tarde. Aliás, acho que foi o curso da UAL que me deu a grandeza de visão dos vários campos nesta área.
Antes de chegar à UAL e, mais tarde, à Mega Hits, já tinha colaborado com várias rádios. A RTL, emissora local no Alentejo, quando tinha 12 anos; a Top FM, rádio açoriana, em que fazia os programas desde casa; Blast, rádio online da sua autoria… Era a sua brincadeira de criança?
Lembro-me de brincar com outras coisas [risos], como qualquer miúdo, mas a grande maioria do tempo queria fazer rádio. Ainda hoje quero. Acredito que está presente na minha vida desde uma altura em que não era suposto estar. Nessa altura, era suposto estar na rua a brincar, mas preferia ficar em casa a procurar e ouvir outras rádios. Copiar aquilo que ouvia.
O trabalho enquanto voice actor foi uma consequência daquilo que ia fazendo na rádio?
Sim, seguramente. Comecei a gravar os meus primeiros spots quando iniciei numa estação nacional, a Top FM, uma rádio açoriana. A primeira experiência foi em 2011, um anúncio para um stand de automóveis [risos] de Ponta Delgada. Foi muito giro. ‘Estragava’ a voz toda, achava que, com 14 anos, tinha de estar ao patamar dos ‘monstros’ de 40 e 50 anos que já faziam isso há muito mais tempo do que eu. Mas foi, claramente, a rádio que me levou a ingressar na carreira de voice actor. Hoje, considero que é um dos meus trabalhos, faz-me muito feliz. Não acho que faça só uma coisa, seria triste para mim pensar assim
É também autor do podcast Manual de Boas Ideias. Quais as diferenças que vê entre podcast e rádio?
A popularidade do podcast em Portugal é algo muito recente, isto é uma forma de media muito bem instituída em países como os Estados Unidos, Reino Unido [pausa]. Em novembro, falei no Podes, único festival de podcasts em Portugal, sobre a quantidade absurda de podcasts que existem registados no mundo. São mais de 4,2 milhões de conteúdos neste formato. O podcast é um complemento brutal à rádio. A grande diferença em relação à rádio está na predisposição com que as pessoas vão consumir. Enquanto na rádio é esperado encontrar alguém que fale connosco, quando se ouve um podcast vamos à procura de nos sentirmos acolhidos na comunidade que ouve o mesmo conteúdo.
“Estou a descobrir o que é ter, pela primeira vez, uma comunidade que segue com muito afinco algo que faço. É um prazer muito grande e uma responsabilidade brutal”
Esteve também relacionado com um podcast que explora o conceito de solidariedade por vários países da Europa [Europe Talks Solidarity]. De onde surgiu o interesse e possibilidade para participar neste projeto?
São dois projetos onde o meu envolvimento foi, substancialmente, diferente. No ‘Europe Talks Solidarity’, a produtora que estava a fazer o podcast convidou-me para eu narrar os episódios. O trabalho que fiz neste projeto foi de voice actor, apesar de, na 1ª temporada, ter chegado a realizar entrevistas aos vários académicos. Na 2ª temporada, já não era a ‘minha cena’ e por isso pedi para me afastar das entrevistas e fiquei só na narração. Este foi um capítulo que já se fechou, aprendi muito com ele. O ‘Manual de Boas Ideias’ é o meu podcast, foi uma ideia que tive em 2020, algo que escrevi nas notas do telemóvel e ficou parado tempo demais. Não lancei o podcast mais cedo porque sempre que sentia vontade de o fazer tinha acabado de sair outro na mesma categoria e, para mim, não fazia sentido. Uma das frases que mais ouço no trabalho é: ninguém precisa de mais um podcast, existem tantos. Eu gosto de mudar um bocadinho essa frase: ninguém precisa de mais um mau podcast. Acho que esta é a verdade da questão e, por isso, na passagem de ano, decidi trabalhar na ideia que tinha nas notas do telemóvel. Realizei três entrevistas, peguei nelas, mais na imagem da possível capa e o nome, levei tudo ao meu diretor e pedi-lhe a sua opinião. A minha ideia era eu lançar o podcast sozinho, mas a resposta que tive dele foi: acho que isto faz todo o sentido, o projeto é a tua cara, mas terás muito a ganhar se o juntares à oferta da Mega. Vamos devolver-te em estúdios, em promoção. A partir daqui o projeto tornou-se num trabalho conjunto, comecei a gravar nos estúdios da Mega e integrámos o podcast na oferta da mesma.
Sente-se realizado nos dois projetos?
Consigo retirar coisas muito positivas dos dois. Qualquer projeto que abraço é sempre uma oportunidade para crescer, nem que seja no meu autoconhecimento. No ‘Europe Talks Solidarity’, percebi muito cedo o que não gostava e não queria fazer: as entrevistas. Dizer isto é um ‘bocado’ contrassenso por ter um podcast de entrevistas [risos], mas a diferença está no dizerem-te para falares com determinadas pessoas ou quereres mesmo falar com elas. Acredito que esta tenha sido uma das mais valias do ‘Europe Talks Solidarity’. Percebi que consigo conduzir uma entrevista, até acho que o faço bem, mas não fico realizado. Por outro lado, este projeto ensinou-me a contar histórias numa língua que não é a minha. O podcast é 100% em inglês e existem imensas diferenças linguísticas na forma de contar histórias, nos trejeitos, nas entonações, nas próprias intenções que queremos passar. Em relação ao ‘Manual de Boas Ideias’, só tenho experiências positivas. Estou a perceber que sou bom a conduzir conversas com pessoas que admiro. Sou um curioso nato pelas histórias de empreendedorismo que trago para os ouvintes, estou a descobrir o que é ter, pela primeira vez, uma comunidade que segue com muito afinco algo que faço. É um prazer muito grande e uma responsabilidade brutal.
“Não tenham vergonha”
Está satisfeito com o seu percurso ou ainda falta caminho a percorrer?
Ui! Falta muito [risos]. Estou super realizado com aquilo que estou a fazer. Eu tinha um objetivo para lá de fazer rádio, era fazer rádio na Mega Hits. Estou muito feliz onde estou e a fazer o que estou a fazer, mas há muito mais que quero explorar. Trabalho noutras coisas, tenho uma equipa a trabalhar comigo, nada a ver com a rádio, com a comunicação, sim. A sala da rádio para mim está fechada, está cheia, não vou ter mais nada para além do que já tenho no momento. Todos os outros campos da minha carreira e da minha personalidade, estou a encontrá-los e a perceber o que faz sentido fazer. Portanto, não, ainda não estou 100% realizado, acho que nunca vou estar.
Que conselhos daria a alunos de Comunicação que pretendam seguir um percurso profissional parecido ao seu?
Não tenham vergonha [pausa]. Acho que isto é algo poucas vezes dito. Vergonha, digo, de ir bater às portas, se sabem no que são bons, façam disso a vossa bandeira. Distingam-se de todos os outros, acredito que esta seja uma das aprendizagens que trago do meu podcast. No episódio onde entrevistei a Mafalda Rebordão e a Sara Aguiar [fundadoras do Ponto Zero], contaram-me uma frase fantástica, uma frase que não é minha, é delas, mas acredito que responde muito bem a esta pergunta: “acho que em Portugal falta descaramento”. Esta coisa de não ter descaramento e de não ter vergonha são duas características que podem levar-nos muito longe na comunicação.