Apresentadora de televisão, locutora e atriz. Mas também autora, sportinguista, filha mais nova, boa amiga, desportista, bom garfo e, segundo a própria, uma das vozes mais “espetaculares” da rádio portuguesa. Uma vida e carreira de sucesso que, em 2021, sofreu um forte abalo, quando foi diagnosticada com um cancro da mama. Fomos perceber o impacto que a doença teve na sua vida e como a sua personalidade positiva e bem humorada ajudou a enfrentá-lo.
Mal chegamos aos estúdios da RFM, na Quinta do Bom Pastor, em Lisboa, Joana revela-nos que esta é a sua segunda casa. Desce as escadas com um sorriso aberto, que lhe é tão característico. Transmite-nos segurança e à-vontade. O interior é composto por várias salas de produção, sonorização, auditórios e estúdios, que estão bem equipados e protegidos do ruído. Pelo caminho, encontramos dois colegas e amigos, Rodrigo Gomes e Paulo Fragoso, sendo visível a familiaridade e a cumplicidade entre todos. A comunicadora está, de facto, em casa. E nós também.
Vários estudos comprovam que a infância tem influência sobre a vida adulta. Sente que as pessoas com quem privou e as experiências que teve ajudaram a construir a pessoa que é hoje? Quais foram as maiores referências dessa época?
Obviamente que ajuda. Não só a família, como depois a escola. Os nossos primeiros tempos ajudam assim a moldar aquilo que somos. Para além de já trazermos connosco o nosso feitio e a personalidade, isso tudo ajudou a construir esta Joana. Na primária, a pessoa muito presente era a minha avó, com quem passava muito tempo. Tive a sorte de ter uma avó que dava muito apoio. No ensino primário, a minha mãe deixava-me sempre em casa dela. Passava lá as manhãs, almoçava e depois ia para a escola. Esta era a minha rotina e é a referência mais importante do início da minha vida. Era lá que eu fazia os trabalhos de casa. Fazia poucos, porque passava mais tempo ao espelho a fazer teatrinhos. A minha avó fazia-me o almoço todos os dias, a comida era sempre igual, porque eu só gostava de bifes de peru panados com arroz branco. Que bons tempos. Vi-a muita televisão, durante as férias, com ela e com a minha irmã Andreia. Gostava muito do Herman José, com “O Tal Canal”. Era a minha grande referência na televisão.
Quer partilhar mais algum episódio desses tempos que esteja gravado na sua memória?
Não tenho assim muitos episódios em mente, porque a minha memória é muito má [risos]. Lembro-me do dia em que me estreei num palco, foi no Teatro Tivoli. A minha escola era perto da Avenida da Liberdade e o trabalho final foi lá apresentado. Na altura, fiz de Amália Rodrigues e dancei fandango, portanto vesti-me de ribatejana. Foi muito importante, naquela altura a apresentação final tinha um grande peso. Acaba por ser uma boa memória antiga.
É do signo Leão. E sportinguista — ou seja, leoa. Acredita nas coincidências?
Acredito que há coincidências, sim. Mas, às vezes, não há… Enfim, são coisas engraçadas. A ‘cena’ do Sporting vem porque o meu pai (que era do Benfica) nunca ligou muito ao futebol. Gostava mais do desporto automóvel. Passávamos os domingos inteiros a ouvir os carros de Fórmula 1 na televisão. A minha mãe não é que ligasse muito, mas falava mais do Sporting. A presença dela era mais assertiva e acabou por passar-me o gosto pelo ‘clube verde’.
Licenciou-se em Comunicação Social na Universidade Católica Portuguesa (1996-2001). Houve dúvidas na escolha do curso?
Houve dúvidas não na escolha do curso, mas no local onde iria fazê-lo, porque tinha três opções na altura: Escola Superior de Teatro e Cinema, Conservatório, e para o curso Ciências da Comunicação, a Universidade Nova de Lisboa e a Católica. Na altura entrei nos três e a minha dúvida ali foi: “qual delas agora?” Pensei que fosse a vida a decidir por mim, mas não, obrigou-me mesmo a escolher. Optei pela Católica, porque comparando com a outra faculdade, pareceu-me que o currículo do curso era mais interessante e o nome da faculdade também tinha grande peso. O teatro, enfim, foi a paixão que ficou posta de lado, mas uma pessoa vai brincando com personagens de vez em quando.
“A rádio e a televisão são os meus grandes amores”
Ao longo da sua carreira foi apresentadora na TVI (programa “Caia quem caia”), SIC (“Êxtase”), Canal Q (“Inimigo Público”) e Sporting Tv (PodCast “ADN de Leão”). E, claro, tem sido locutora de rádio. Aceitar novos desafios faz parte da sua personalidade?
Faz, sim senhora. Sempre tive presente que à partida ia para uma área de comunicação e não iria optar pela imprensa escrita. A rádio e a televisão são os meus grandes amores. Acontece porque houve a possibilidade na minha vida de fazer duas coisas que fossem conciliáveis, aliciantes e projetos nos quais eu me sentisse segura. Claro que aceitei sempre os desafios.
Li um texto que fizeram para si no seu aniversário (publicado no site da RFM) em que revela que o seu lema de vida é “para a frente é que é o caminho e vamos sem medos”. Foi assim que encarou o ano de 2021?
Exatamente. Quando uma pessoa recebe um diagnóstico de cancro de mama, uma coisa que ninguém quer e que ninguém está à espera, pensa “vamos lá então avançar, arregaçar as mangas” e saber onde é que tenho de me apresentar, a que horas e a que dias. Olhar para o novo desafio de frente, porque é assim que conseguimos tirar forças a esse mal que acabou por bater à porta e, felizmente, correu bem.
O sorriso de orelha a orelha é algo que a caracteriza. Durante esse período desapareceu? Ainda por cima foi tudo vivido durante a pandemia…
Não desapareceu, manteve-se sempre. Tenho muitos dentes na boca e é para mostrar! Acabou por ser a melhor altura para tudo se ter passado. Não podia fazer muitos programas nem ir a lado nenhum, mas também ninguém podia. Sentia-me sempre segura quando ia ao hospital, mesmo em pandemia.
“No primeiro diagnóstico, disseram que não tinha nada e que fizesse mais exames daqui a seis meses”
Foi mais uma vez desafiada, desta vez pela Oficina do Livro para partilhar a sua história. É desafiante olhar para o passado?
É desafiante olhar e, quando comecei a reunir as coisas para escrever o livro, surpreendi-me com as fotografias. O livro chama-se “Escolhi Viver” e a escolha de viver começa num momento em que decido pedir uma segunda opinião. No primeiro diagnóstico, disseram que não tinha nada e que fizesse mais exames daqui a seis meses. O resultado da segunda ecografia era positivo e dos mais agressivos. Depois é desafiante olhar para aquele período da minha vida, ter de estruturar uma linha temporal, e pergunto-me muitas vezes: “eu já estive assim e passei por essa fase?” Na altura, sentia-me completamente bem. É muito gratificante perceber que, às vezes, há dificuldades pelas quais passamos e nunca sabemos se temos forças. Fico orgulhosa de mim. Olhar para aquela Joana que estava a viver aquela fase menos boa e perceber que estava cheia de força de viver.
Pensou no impacto que viria a ter nas outras pessoas?
Nem por isso… ou melhor, pensava que poderia ter, porque fiquei surpreendida por ter recebido toda uma onda de amor, de carinho e de apoio através das partilhas que iam sendo feitas no meu Instagram. Continua a haver pessoas a enviar-me mensagens, muito regularmente, a dizer que acabara de ler o livro e isso é muito inspirador. Depois do livro ter saído, não fazia ideia que pudesse ser uma experiência tão forte para muita gente.
O livro é o fechar deste ciclo menos bom?
Sim, aquilo não é para ter sequelas, não é como nos filmes. O Rodrigo às vezes diz “o livro está melhor que o filme”. Há um spoiler muito grande, não é, todos já sabemos o final. Se Deus quiser (e eu também quero), espero que tenha sido um período da minha vida que ficou ali registado. É bom não esquecermos o passado, sobretudo não esquecermos aquilo que já vivemos. A mensagem do meu livro é, diariamente, lembrarmo-nos que somos a pessoa mais importante das nossas vidas, que temos o possível e as coisas necessárias para nos sentirmos bem connosco. É um exercício diário.
É uma pessoa de fé?
Sou uma mulher de fé e agarrei-me a viver claramente por mim e pela minha família. Temos de ter fé em nós próprios e perceber que, às vezes, as coisas não correm como queremos e não têm o desfecho desejado, mas não temos de culpar o universo ou Deus.
Sente-se uma mulher realizada ou há algo que ainda queira fazer, seja a nível pessoal ou profissional.
Sinto-me bastante realizada, mas acredito sempre que há espaço para me surpreender e encontrar novas formas de realizar-me ainda mais. A beleza da vida é dar-nos espaço à surpresa e podemos encontrar a felicidade em sítios que não estamos à espera. Que nos surpreenda a vida, que é bonito viver assim.
Como é que se define numa palavra?
Ia dizer “espetacular”, porém pode ser pouco modesto. Mas vou dizer e acho que é assim que temos de nos encarar, e que é bom sentirmo-nos assim. Eu sou espetacular.