Carolina Vasconcelos, jovem estudante da escola Chapitô, foi semifinalista do concurso televisivo Got Talent Portugal, na edição de 2016. Em entrevista, fala do seu talento: cyr wheel.
Cyr wheel é uma modalidade circense pouco conhecida, principalmente em Portugal. Carolina Vasconcelos, apesar de ter apenas 18 anos, já sabe bem o que quer fazer no futuro e sabe que esse futuro passa por esta prática acrobática num círculo de alumínio que pesa 20 quilos. Carolina afirma que não é preciso ter força para praticar esta ‘arte’, mas sim jeito. Em Portugal, há apenas um professor que ensina esta modalidade.
Vais fazer 18 anos este ano e o teu currículo já é espantoso. Já estagiaste no Porto, Canadá… Mas quando é que percebeste que querias fazer circo?
Primeiro, comecei na dança aos 13 anos. Aos 15, entrei no Chapitô para estudar circo e foi ali que percebi que era isto que queria. Comecei a ver os outros e a ver vídeos, comecei a interessar-me.
Já estás no 3º ano no Chapitô. O que é que os teus pais acharam dessa decisão?
Os meus pais e os meus avós sempre me apoiaram desde início. Apesar de os meus avós terem ficado um pouco preocupados por poder não ter futuro, agora apoiam-me a 100%. Sei que tenho sorte nisso, muitos colegas meus estão no Chapitô contra a vontade dos pais.Estava na dança e queria seguir dança. Gostava de ver circo, mas nunca tinha pensado nisso. Só que, para seguir dança, tinha que esperar três anos. Foi mesmo a minha mãe que me sugeriu ir para o Chapitô. Então, pensei que seria mesmo a melhor opção porque iria adquirir mais conhecimentos na área das artes, teatro, técnicas circenses, também na dança e, passado três anos, seguia dança. Mas agora já não quero dança. Apesar de ser muito trabalhoso, adoro. Entro às 9:00 horas na escola todos os dias. Tenho teatro, dança, expressão corporal, técnicas circenses, acrobacia, história das artes, português e inglês. Depois, para além desse horário das aulas, este ano, como é o último, tenho que preparar a minha PAP (Prova de Aptidão Profissional). Então, fico na escola a ensaiar com o meu grupo e chego a casa só por volta das 22 horas.
Fala-me sobre a experiência no Got Talent. Foste tu que te inscreveste? Qual foi a sensação de ser semifinalista?
Sim, fui eu que me inscrevi. O ano passado, um amigo meu inscreveu-se, chegou mesmo às finais e gostou imenso. Então, este ano, vi o anúncio e inscrevi-me. Não tinha nada a perder, por isso fui. Foi fantástico ter chegado à semifinal, eu pensava que não ia conseguir. Na primeira audição caí e o nível este ano está super alto, principalmente em circo. Fiquei muito contente de ter sido semifinalista. Senti que valeu a pena apesar de alguns amigos meus me dizerem que não devia ter ido. Os programas de televisão têm o problema de serem totalmente comerciais, nós temos a consciência disso quando lá vamos. Nós, quem faz circo, não queremos ir lá para sermos conhecidos, nós queremos mostrar o trabalho que fazemos, mas as pessoas não percebem isso.
O que levaste ao Got Talent é realmente um talento novo. Como descobriste a prática de cyr wheel?
No primeiro ano no Chapitô, temos que fazer várias técnicas circenses. No segundo, temos que escolher apenas uma para nos especializarmos e já não temos que fazer as outras. No final do primeiro ano, já toda a gente sabia o que queria fazer menos eu. Fazia imenso trapézio, mas não era bem aquilo que queria. Até que, um dia, vi um vídeo de uma artista chamada Angélica Bongiovonni, foi a primeira vez que vi cyr wheel. Fiquei completamente apaixonada! Mais tarde, tive a sorte de conseguir ir ao Canadá e fazer um estágio com ela, o que para mim foi ótimo.
Como é que esta prática surgiu?
Pelo que sei, começou no Canadá, onde o Daniel Cyr pegou na roda alemã, que é como se fossem duas rodas entrelaçadas, tirou uma e ficou a cyr wheel. Com música e dança, cria-se o espetáculo.
Quais são os requisitos para fazer cyr wheel? A cyr pesa 20 quilos, por isso, força é preciso ter…
No início, quando se começa, temos a tendência de usar a força porque ainda não temos o jeito. Eu, no início, usava muito a força de braços e ficava com dores musculares. À medida que comecei a fazer, comecei a aprender o jeito. Hoje, não faço força nenhuma, é só equilíbrio. O segredo da cyr é passar a força para o jeito e, quando se apanha o jeito, é tudo mais fácil.
Onde esperas chegar com o cyr wheel?
Agora, quero entrar numa escola superior de circo lá fora ou numa que agora há no Porto muito boa, e fazer o curso. Depois, gostava de entrar numa companhia como o Cirque du Soleil, mas isso é o objetivo de todas as pessoas que estudam circo. Por fim, quando já não conseguir dançar mais, gostava de dar aulas em Portugal, de dança e cyr wheel. Por enquanto, a única pessoa que ensina esta modalidade é o Bruno Machado, no Porto, que também estudou no Chapitô. O circo em Portugal ainda está muito mau, as pessoas precisam de abrir a mente para o verdadeiro circo. Vê-se isso nas votações do Got Talent, as pessoas de circo ficam todas para trás. Passam pessoas com talento, é certo, mas já há tantos programas para esses talentos que acaba por ser um pouco injusto. Os portugueses ainda vêem muito o circo como um espetáculo de animais e isso é errado. O Cirque du Soleil é dos melhores do mundo e não usa animais. Estamos em 2016, já não devia de haver esse tipo de circo.