João Paiva, 28 anos, é natural do distrito de Viseu, onde se licenciou, em 2016, em Comunicação Social. Rumou à editoria de Desporto da TVI, onde está até agora. Em entrevista ao UALMedia, conta a sensação do primeiro direto na Champions League e como um gap year originou uma verdadeira viagem ao jornalismo.
Começando pela infância, como era o João nessa altura? Os sonhos e objetivos passavam já pela comunicação?
Era o terror de qualquer professor primário e qualquer educador. Só fazia traquinices. Andava sempre de um lado para o outro, era muito irrequieto. Tinha alguns sonhos, mas, curiosamente, de início não queria ser jornalista, mas sim advogado. De tal modo que o caminho acabou por se cruzar com o jornalismo e ainda bem. Escolhi Humanidades ainda no secundário, devido ao facto de querer ser advogado, e depois mudei para jornalismo.
No final do 12º ano, decidiu fazer um gap year onde se dedicou ao voluntariado na Guatemala, Bolívia e Argentina. De que forma é que esta experiência o marcou?
O gap year foi a melhor experiência da minha vida até agora. Hei de ter ainda muitas experiências profissionais mas, pela idade que tinha e por tudo o que aconteceu durante esse ano, acho que não vou encontrar algo semelhante. Foi tudo muito curioso. Termino o secundário e há uma fundação local – Lapa do Lobo – que ia oferecer um gap year pago, ou seja, uma viagem para um destino à escolha, a quem fizesse o melhor projeto. Trabalhei no projeto de novembro a julho desse ano letivo, juntamente com um colega e estabelecemos metas, mas tínhamos de ter tudo bem estabelecido: cidades que queríamos visitar, onde iríamos ficar, hotéis, como iríamos de um lado para outro e os custos aproximados, tudo… Com os serviços de voluntariado praticamente acordados, se ganhássemos o projeto era só fechar com as organizações. Acabámos por ganhar e, a partir daí, começou a viagem. Em outubro de 2012 – já há quase 10 anos –, partimos para a América. A ideia era fazer desde o Canadá até à ponta da Patagónia, Ushuaia… Basicamente, era percorrer o continente americano de uma ponta à outra e foi isso que cumprimos. Atravessámos 12 países em seis meses: Estados Unidos, México, Canadá… percorri a maior parte dos países sul-americanos.
E foi aí que surgiu o gosto pela comunicação?
Fiz questão de fazer o gap year para parar, pensar e ver se era exatamente isso que queria. Foi entre o 11º e o 12º ano que comecei a perceber que a advocacia não era bem o que queria exercer e o jornalismo era uma boa opção. Gostava da área da comunicação e, a certa altura, quando surgiu a opção do gap year, pensei: “Consigo adiar esta decisão durante mais um ano e, ao mesmo tempo, consigo fazer alguma coisa com isto.” O voluntariado não tinha nada a ver com jornalismo, eram ações com crianças, dava aulas, por exemplo. Ao mesmo tempo que fazíamos a viagem, tínhamos de escrever crónicas por onde passávamos e documentar tudo em fotografia e vídeo, e foi nessa altura que pensei: “Isto vai ser o último teste.” A verdade é que voltei ainda com mais certezas de que era isso que queria; portanto, só ajudou.
Em 2016, rumou a Lisboa com destino à TVI como jornalista estagiário na editoria de Desporto. Como foi a mudança de Carregal do Sal, no distrito de Viseu, para a capital?
É uma grande mudança, mas o gap year ajudou. Vivia em Carregal do Sal, mas decidi mudar-me para Viseu enquanto tirava a licenciatura, porque teimei que queria viver o espírito académico. Estive lá durante três anos e foi a melhor decisão que tomei. Viseu era um meio mais pequeno, mas durante o gap year tinha já passado por cidades como Nova Iorque, Washington, Rio de Janeiro e isso deu-me bases, mas é sempre diferente fazer disto uma rotina. Aliás, quando cheguei a Lisboa, no dia 1 de maio de 2016, nunca pensei chegar cá e ficar aqui durante seis anos. Na altura, não sabia ainda se ficava no estágio, mas agora estou mais que habituado à cidade. No entanto, há aqui algumas coisas na cidade que têm de mudar, como por exemplo a designação de imperial para fino, as pessoas deixarem de fazer piadas quando digo que vou calçar umas sapatilhas… É este tipo de coisas que Lisboa ainda tem de mudar, mas aos poucos eu vou mudar Lisboa (risos).
O estágio chegou ao fim e acabou por ficar a trabalhar na TVI. Como se destacou para conseguir ficar a trabalhar no canal?
A escolha do sítio onde queria estagiar foi logo um primeiro passo. Na Escola Superior de Educação de Viseu, quem tivesse a melhor média, daqueles que queriam televisão, poderia escolher qual era o canal em que queria estagiar. Como tinha das melhores médias, acabei por ir para a TVI. Nunca pensei em ir para Desporto. Sempre pensei nas editorias do Internacional, Política, Sociedade… mas gostava de desporto, só não equacionava fazer disso vida. Acabou por ser um acaso, uma vez que o estágio decorreu no verão de 2016, percebi que iria acompanhar o final de campeonato e a taça da liga, que a TVI transmitia, o Euro 2016 e os Jogos Olímpicos. Não havia nada em termos de política internacional nessa altura, não iria sair da redação, portanto, iria estar muito preso. Por isso, percebi que o local onde teria trabalho era no desporto e decidi tentar. O facto de haver muito trabalho, deu-me a possibilidade de fazer muita coisa e mostrar um pouco mais de mim. Se tivesse ido para outra editoria, provavelmente não me teria destacado tanto. Para além dos três meses, convidaram-me a ficar mais três em estágio e aceitei. Estar mais três meses em Lisboa, sem receber, foi uma aposta que fiz e acabou por ser uma aposta ganha.
Nunca quis voltar para Viseu?
Essa é uma questão sensível. Ir para Viseu neste momento e tão cedo na carreira, não seria uma opção viável. Obviamente que pode haver essa possibilidade, nunca digo que não, nem a Viseu nem a outra cidade. Na minha opinião, nunca se pode dizer que não porque podem surgir oportunidades muito boas noutro lugar. Voltar para Viseu seria sempre especial. Ainda agora estive uma semana em Tondela – estivemos a fazer os preparativos para a Taça de Portugal –, estava pertíssimo de casa e claro que desperta aquele sentimento de nostalgia. Podia ir ter com os meus pais, ir comer a casa… há sempre esse sentimento, mas para quem saiu de casa há tanto tempo, perdeu-se o hábito desse tipo de vida. Não surgiu ainda tal opção, talvez no futuro…
No dia de estreia da CNN Portugal, numa publicação no Instagram, despediu-se da TVI24 e afirmou que foi ali que teve de sair da zona de conforto no meio de uma pandemia. Como foi essa mudança?
Qualquer jornalista que tenha trabalhado naquela altura acabou por mudar rotinas: foi diferente para todos. Nas primeiras duas semanas, fizemos algumas peças sobre o fim das competições desportivas, mas a partir daí comecei a fazer peças sobre casos de Covid-19, sobre escolas, lares, fiz diretos à porta de escolas… Tivemos de mudar, mas também nunca fiz uma especialização em jornalismo de desporto. Tirei um curso de Comunicação Social, quis jornalismo, portanto, dá para jornalismo de desporto, dá para jornalismo de saúde, dá para jornalismo de guerra. Acabei por ver tudo isto com normalidade. É o meu trabalho e é isto que tenho de fazer. Saí da minha zona de conforto porque foram cinco anos a fazer desporto e, do nada, vais fazer ali uma outra coisa, mas acabou por correr bem.
Fez diversos trabalhos na TVI, desde a cobertura da Taça de Portugal à da Liga dos Campeões, por exemplo. Qual foi o trabalho que teve maior impacto para si, a nível profissional mas também pessoal?
Marcam-nos sempre de alguma forma. Isso é um cliché, mas há sempre histórias para contar. Diria que os primeiros trabalhos são os que marcam sempre. O primeiro direto é uma adrenalina, não sabes bem onde te meter quando pegas no microfone e estás sempre muito nervoso. Nunca me vou esquecer da sensação. Depois, há sempre a primeira vez que fazes alguma coisa que querias fazer: reportagens de pista, Liga dos Campeões… esses primeiros entram logo no patamar dos mais especiais. Depois, há momentos periódicos, como agora, recentemente, o jogo do Benfica com o Liverpool. Estive em Enfield e era um objetivo pessoal. Viver aquele ambiente foi das coisas que mais me marcou.
A televisão ainda atravessa uma fase de mudança, onde as novas tecnologias e o online têm vindo a assumir uma grande relevância. Sente diferença na televisão quando começou para os dias de hoje?
Sinto, sobretudo com esta mudança para a CNN Portugal. Não se nota diretamente no meu trabalho, porque faço as peças, reportagens e diretos sem me preocupar com a entrada dos conteúdos nas plataformas digitais. Ao mesmo tempo, mudámos a nossa forma de fazer televisão. Faço televisão de forma diferente de quando estava na TVI24. A CNN Portugal acaba por ter outros critérios, outros padrões. Existem sempre pequenas coisas em constante mudança, porque depois também é televisão, está em movimento e, se estivermos sempre a fazer o mesmo, o público vai acabar por não nos ver.
Vê-se a trabalhar no jornalismo para o resto da vida ou imagina-se a experimentar outras áreas?
Há muita coisa que gostaria de experimentar, como, por exemplo, a rádio, mas por agora acho que a televisão ainda me satisfaz. Não existe uma pessoa que tenha trabalhado na rádio e que tenha dito “detestei a rádio, a rádio é horrível”. Toda a gente tem muitas saudades da rádio, toda a gente gosta muito da rádio, portanto gostava de experimentar. Acima de tudo, tenho muita curiosidade. Quem sabe um dia?