Conhecida pela boa disposição e ar descontraído, Catarina Palma veio ao mundo para contar histórias. A repórter televisiva e radialista, voz do “Top 10 às 10” da Mega Hits, conta como a paixão pela arte de comunicar surgiu desde muito cedo.
Formou-se em Comunicação Social na Universidade Católica Portuguesa e, embora tenha apostado na rádio e televisão, o grande sonho sempre foi ser atriz. Numa esplanada, numa conversa descontraída, insistindo no tratamento por “tu”, Catarina Palma confessa as saudades de voltar ao estúdio, a forma como o digital funciona como uma mais-valia no seu trabalho e a essência que descobriu no meio pelo qual se apaixonou.
Em entrevista à revista Caras, disseste que quando nasceste o teu pai achou que tinhas cara de pivô e daí ter escolhido o teu nome. A comunicação foi algo que te foi imposto ou surgiu naturalmente?
Surgiu naturalmente, durante muito tempo quis ser atriz. Primeiro, quis ser Pocahontas, depois, atriz (risos). Não me vejo, nem nunca me vi, atrás de uma secretária a trabalhar. Sou muito cabeça no ar, gosto de falar e de comunicar, e acho que a forma como as pessoas comunicam tem sempre uma mensagem que chega ao outro lado de uma maneira diferente. Os meus pais sempre me ensinaram isso. Não me ‘mandaram’ para Comunicação, mas o meu pai achou que eu ia ser pivô. Na verdade, era muito tímida e não gosto de jornalismo. Acho que só se gostares muito de jornalismo é que consegues ser realmente boa, portanto, ser pivô nunca foi o meu sonho. Acabei por ir para Comunicação porque gosto da forma como as pessoas comunicam comigo e, se calhar, comecei também a comunicar dessa maneira. No fundo, não fui bem eu que escolhi Comunicação. Isto vai ser super piroso (risos) mas a vida levou-me ao ponto onde estou agora, porque nunca tinha pensado em rádio. Só quando entrei é que pensei: “Ah, isto faz todo o sentido!”
Destacas-te, como já sublinhaste, por seres comunicativa e espontânea. Consideras estas características fundamentais para conseguir vingar na área?
Espontaneidade é algo que se ganha. Até podes ser, mas depois aperfeiçoas a tua espontaneidade porque só é boa se for benéfica para aquilo que estás a fazer. Se fores impulsiva, nem sequer funciona. Comunicativa, de uma certa maneira, tens de ser, mas como já disse, era muito tímida e há imensos atores, jornalistas e entertainers que são tímidos, mas que, por uma razão que ainda não percebi qual, conseguem comunicar quando estão a falar para outra pessoa e isso é muito interessante. Com o microfone, consigo falar com toda a gente; sem o microfone, entro em pânico. É necessário seres comunicativo, mas não no teu dia a dia.
Fazes teatro amador, tendo formado o grupo “Caroço” e és também repórter no “Faz Faísca”, na RTP, mas, ao que parece, a rádio é a tua grande paixão. Tens alguma referência neste meio?
Todas as pessoas com quem trabalho são uma referência, mas a que me mostrou mais foi o Rui Maria Pêgo. É um grande comunicador e, como trabalhei com ele, consegui perceber a forma como a cabeça dele funcionava. É nato naquilo que faz. Todas as outras pessoas que fazem rádio, só conheço pelo nome ou por ouvir. Gosto, obviamente, mas prefiro seguir-me por pessoas que conheço realmente. Não só o Rui Maria, mas também a Maria Correia, a Filipa Galrão, todos têm características que admiro e penso: “Ok, devia ser mais como a Filipa, a Maria, a Mafalda, o Conguito ou o Alexandre, como toda gente.” É essa junção de pessoas com quem tenho a sorte de trabalhar que faz com que queira ser melhor.
“Quando trabalhamos no entretenimento, ele nunca é só para nós entretenimento, é sempre mais alguma coisa”
Quando terminaste a licenciatura surgiu a oportunidade de ires para a Mega Hits. Foi sempre o teu grande objetivo?
Quando entrei na Mega, ainda não tinha terminado a licenciatura, fiquei pendurada por uma cadeira: Sociologia. Por acaso, cruzei-me com um professor de rádio no corredor que disse: “Catarina, vá para projeto de rádio.” A minha mãe sempre me disse que precisava de ir para a terapia da fala, por falar muito rápido, e não percebia porque é que os professores de rádio gostavam tanto de mim. Houve um casting para a Mega e, de repente, ganhei esta oportunidade. Acabei por agarrá-la e conhecer uma vertente que desconhecia, a rádio, um meio de comunicação completamente diferente. Não estamos habituados a vê-la, apenas a ouvi-la. Eu comecei a valorizar muito a rádio. Obviamente, há aquela parte em que estás completamente apaixonada e agora já é aquilo que conheço. Só quando entrei em televisão é que comecei a valorizar ainda mais a rádio e, atenção, adoro televisão, mas são duas coisas completamente diferentes. A rádio tem uma magia especial porque namoras com as pessoas com quem conversas, ficas a conhecê-las e as pessoas também te conhecem. Na verdade, estás ali, é a tua voz, e não há uma câmara para a qual tens de ser a melhor pessoa do mundo.
A rádio e a televisão estão cada vez mais indissociáveis das redes sociais. Alguma vez sentiste a obrigação de te tornares mais ativa no digital?
Sim, sempre. A rádio passou muito para o digital, portanto, não faz sentido existir numa rede social apenas como um nome. As redes sociais são nome, cara e conteúdo, e já que tenho a possibilidade de ser cara e dona desse conteúdo faz todo o sentido aproveitar essa plataforma, ou seja: “Esta sou eu, por acaso faço rádio e televisão, e porque faço estas duas coisas e não outras?” Porque é o produto final, e o meu é, por exemplo, o Instagram.
Criaste o projeto “Amigos da Japa” de forma a promover a adoção de cães abandonados. Sentes que o objetivo de consciencialização foi cumprido?
Não. A consciencialização é uma coisa que tem de ser o nosso foco principal, eu própria não tinha consciência. Obviamente, sabia que não se podia abandonar cães e que tinham de ser adotados, mas a partir do momento em que vi e ouvi os cães quando entrei pela primeira vez na Casa dos Animais, senti-me inútil e muito pequenina na sociedade. Não faz sentido, nós, humanos, monopolizarmos o planeta. Faz sentido continuar a lutar por aqueles que já estavam cá antes. A consciencialização não passa só por ter que adotar cães, passa por tratá-los bem, isto é tão óbvio para mim e devia ser para as outras pessoas. É isso que tento mostrar todos os dias.
No fim do dia, quando regressas a casa, como consegues desligar da rádio e televisão como profissão e encará-las como um momento de lazer?
Não, nunca o fazes. Quando trabalhamos no entretenimento, ele nunca é só para nós entretenimento, é sempre mais alguma coisa. O último live do Bruno Nogueira foi inacreditável, ele mudou o panorama do entretenimento nacional. Estava a ver aquilo como espectadora, mas também como enterteiner e comecei a pensar: “Ok, esta pessoa acabou de mudar tudo numa época onde quase nada muda.” É quase como um estudo. Nós vemos o entretenimento não só para nos entretermos, mas também para aprender mais. É um estudo para aprender como podemos fazer isso de forma diferente e agarrar numa situação e mudá-la.
“Não fingimos que está tudo bem quando não está”
Atualmente, devido à pandemia mundial tiveste que exercer o teu trabalho a partir de casa. Como tem sido esta experiência?
Horrível, já não quero mais (risos), não sou uma pessoa que adora estar em casa. Gosto quando quero, num domingo, quando está a chover. Estou há 60 dias fechada num T0, com o meu namorado e dois cães. Sou uma pessoa muito caótica, desorganizada de cabeça e quando vou para a rádio, não vou só para a rádio, mas para o sítio onde trabalho. Portanto, estar em casa, levantar-me, dar três passos e já estar a fazer rádio, preparar uma reportagem ou mesmo tratar do IRS, na minha cabeça não dá, está sempre confusa, nem liga nem desliga.
Se não tiver espaço para arrumar os pensamentos fica tudo caótico. É o que tem acontecido. Nas duas primeiras semanas, foi incrível, adorei. A partir daí, foi: “Estava a brincar, não quero mais!” Estou sempre com a sensação esquisita de que falta alguma coisa. Na verdade, é a vida normal.
A Mega Hits tem sido um dos grandes aliados dos ouvintes no contexto atual. Consideras que o papel da rádio vai muito além de informação e entretenimento, tendo também impacto em aspetos como a saúde mental?
Sim, porque ao contrário da televisão, que é um bocado “olá, olha para mim, está tudo bem”, não estás a ver nem a pensar em mais nada. Na rádio, acabas por não ter essa componente visual, transmites aquilo que estás a sentir, mesmo que não queiras, com a voz. Acho importante. Pelo menos a Mega faz isso muito bem, não fingimos que está tudo bem quando não está. O que fazemos é ver, se algo não está bem, o que podemos fazer para mudar e, se fiz isto para mudar, talvez vá funcionar contigo. Ou então falamos de coisas completamente mundanas, tentamos distrair a pessoa desse estado de espírito que é estar fechado em casa numa quarentena.
No podcast “Alerta Trend!”, disseste que a televisão é um meio que estereotipa cada vez mais a beleza. Consideras que, atualmente, a imagem e as audiências são mais importantes do que profissionalismo e talento?
Não considero que pessoas bonitas não sejam talentosas ou profissionais. Acho é que, a partir do momento em que tens duas pessoas com o mesmo talento e uma é mais bonita… vão sempre para essa pessoa. Há programas que estão a tentar mudar isso e outros que continuam a ir mais pela beleza. As pessoas com mais visibilidade noutros meios têm mais entrada para a televisão, porque a televisão já não é o meio. Agora temos 77.000 meios, portanto, se nos 76 uma pessoa tiver muita fama e for conhecida é muito mais fácil entrar para a televisão porque é só um. Não quer dizer que seja injusto, há pessoas muito talentosas que começaram noutro meio e acabaram por entrar para a televisão ou para a rádio por mérito próprio. Antes de julgarmos, devemos conhecer um bocadinho do background da pessoa e olhar para o que está a fazer nesse momento. E se está a fazer bem, merece.
Para finalizar, sentes-te realizada ou existe alguma ambição para o futuro?
Não me sinto realizada de todo! (risos) Tenho 27 anos, ainda me falta fazer muita coisa. Descobri que não quero ser só uma coisa e acho que é uma liberdade muito grande poder viver num mundo onde isso é possível. Não tenho de ser só radialista ou repórter de televisão, posso ser uma artesã de cerâmica, atriz, voluntária na Casa dos Animais de Lisboa e também posso querer fazer equilibrismo no Chapitô. Tudo o que me interessar e com que me identificar, vou abraçar com os dois braços e agarrar com muita força.