No mundo produzem-se mais de 300 milhões de toneladas de plástico, incluindo milhões de garrafas e sacos todos os anos. Mais de 150 milhões de toneladas existem atualmente nos oceanos, uma estimativa de 4,8 a 12,7 milhões de toneladas entra por ano nos oceanos. Os dados são da página oficial do Parlamento Europeu e, segundo uma estimativa feita até 2050, os oceanos poderão conter, por peso, mais plástico que peixe.
A primeira vez que foi abordada a dimensão do problema foi em 1997, quando o americano Charles Moore e a sua tripulação passavam pelo Oceano Pacífico e avistaram um monte de objetos de plástico, hoje mais conhecida por “ilha de plástico”. Segundo um artigo de Teresa Sofia Serafim, no jornal Público em março de 2018, estima-se que esta ilha tenha 1,6 milhões de quilómetros quadrados, o que equivale a mais de 17 vezes o tamanho de Portugal continental, dos Açores e Madeira. Esta acumulação de plástico flutuante que circula nos oceanos está relacionada com o facto de a gestão de resíduos ser inexistente em muitos países, em especial no continente asiático, com economias emergentes e elevado número de habitantes.
Segundo um artigo publicado no site oficial do Parlamento Europeu, quando usamos um saco de plástico, não pensamos no sofrimento que vamos ou podemos causar se não fizermos o tratamento adequado e optarmos por deitar no lixo. O impacto do plástico no meio ambiente e nos oceanos tem ameaçado espécies marinhas, milhares de animais, o ecossistema, mas em última análise a vida e a saúde dos humanos, que comemos plástico através da cadeia alimentar, mas a forma como nos afeta ainda é desconhecida. Um artigo do Público, de Ana Maria Henriques, de 16 de Março de 2019, revelou que uma baleia deu à costa nas Filipinas com 40 kg de plástico no estômago e terá morrido de “choque gástrico” devido à quantidade de plástico ingerido. Aconteceu nas “ilhas de plástico” acumulado, que estão a provocar danos demasiado grandes para a humanidade. Além de ser um problema que afeta a saúde humana e dos seres vivos, também afeta o setor económico, comunidades dependentes do mar, e os profissionais da indústria, pois apenas 5% do valor das embalagens plásticas permanecem na economia.
Reverter a situação, é possível?
“Pode-se tentar recuperar esse lixo. No entanto, existem alguns problemas, pois muitos organismos vivem e refugiam-se nessa sopa de plástico. Existem algumas soluções de encaminhamento [desse plástico de baixo valor, degradado ou contaminado], mas, até ao momento, o custo da remoção não parece compensar o valor que esse plástico representa para a economia”, indica Paula Sobral, professora da Universidade Nova de Lisboa (UNL), em declaração ao artigo de Teresa Sofia Serafim.
Segundo a página oficial do Parlamento Europeu, a União Europeia pretende a proibição total para artigos plásticos descartáveis para os quais já existem alternativas noutros materiais. É o caso dos cotonetes, talheres, pratos, palhinhas, pequenas colheres de café e varas de balões. Quer ainda alertar os utilizadores para a eliminação correta, através de sensibilização.
A ONU também lançou uma campanha global em fevereiro de 2017, com o nome ‘If You Can”t Use It, Refuse It’ (Se não podes usar, recusa), que consiste na proteção dos oceanos contra a poluição do plástico, sendo que 51 países já aderiram a esta iniciativa. No site oficial, a organização mostra exemplos de como a reutilização de plástico ajuda as pessoas mais carenciadas, através de diferentes artigos, desde mochilas e ponchos.
A ‘Seas At Risk’ (SAR), uma associação europeia de várias organizações não-governamentais ambientais que trabalham na área do meio marinho [da qual fazem parte o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), a Liga Para Proteção da Natureza (LPN), a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e a Sciaena – associação de ciências marinhas e cooperação] publicou um novo estudo que fornece factos condenáveis sobre a quantidade de plástico descartável, que é utilizado na vida quotidiana que contribui significativamente para a poluição dos oceanos. Segundo João Branco, presidente da Direção Nacional da Quercus, Associação Nacional de Conservação da Natureza, “os plásticos são fabricados a partir de petróleo e demoram demasiado tempo a desaparecer do meio natural. Todas as espécies de tartarugas marinhas, metade de mamíferos marinhos e um quarto das aves marinhas já foram emaranhados pelo, ou ingeriram, o lixo marinho. O estudo mostra que é preciso reduzir drasticamente o consumo de plástico descartável, as beatas, as garrafas de plástico e as palhinhas. Relativamente à solução, várias medidas são apresentadas e poderão ser implementadas a vários níveis, desde o Estado ao cidadão comum, das cidades às empresas portuguesas. A Quercus conta com a atitude responsável e o compromisso de todos para avançar com a transição necessária, utilizando melhor os recursos e contabilizando todos os custos do plástico, reduzindo assim o impacto dos plásticos no Ambiente e no meio marinho em particular. A Quercus também já solicitou publicamente que os sacos de plástico sejam banidos em Portugal.”
Hoje reduzir o uso do plástico é mesmo necessário!
Começam a surgir negócios que combatem o uso do plástico, como escovas de dentes de bambu, pratos de farelo de trigo, palhinhas de cartão ou de algas, gotas de água comestíveis e cápsulas de champô dissolúveis, com o uso de açúcar, algas, cortiça, celulose, batatas, milho, trigo, são matérias-primas que substituem o plástico.
“As pessoas têm uma consciência cada vez mais aguda, primeiro em relação ao desperdício que produzem, depois em relação ao plástico e, em particular, sobre os descartáveis e o impacto que têm no ecossistema”, refere Eunice Maia, proprietária da Maria Granel, a primeira mercearia biológica a granel em Portugal, em declarações para um artigo da revista Visão.
Esse artigo, de Sónia Calheiros, publicado em setembro de 2018 na Visão, refere que dois jovens, Pedro Cadete e Luís Simões, fundaram a empresa Soditu, e iniciaram um projeto de descartáveis amigos do ambiente, que consiste em palhetas feitas com microalgas de água doce. São de alto valor nutritivo e assim substituem as palhetas de plástico. Com esta iniciativa é possível poupar até 384 toneladas de plástico por ano. O uso de algas marinhas, que é matéria prima, foram criadas para envolver as “gotas” de água, para substituir as garrafas de água. Este é um projeto da empresa Ooho Water, que foi um dos vencedores do prémio Lexus Design 2014.