Maria Manuela Guerra Lima Cortez e Almeida nasceu em Lisboa a 26 de janeiro de 1935. Nos palcos desde os cinco anos, estreou-se no teatro de revista em 1958. Manuela Maria é um dos grandes nomes do teatro e da televisão portuguesa. Atualmente, com 84 anos, continua a representar e a gerir a Casa do Artista.
Os seus pais tinham uma companhia de teatro itinerante e aí deu os primeiros passos no mundo das artes. Qual foi o momento em que percebeu que era isto que queria fazer na sua vida?
Várias peças envolviam crenças, tal como a peça de Inês de Castro. Era onde nós (crianças) entrávamos, sempre sem falas. Quando começávamos a falar em palco, adquiríamos outro estatuto e eu comecei a falar aos cinco anos. Foi neste momento que passei a ser profissional.
A Manuela Maria pisou vários palcos como, no Parque Mayer, o do Teatro Villaret. Sente que trouxe algo de novo ao teatro português?
Não, eu é que aprendi. Nós aprendemos todos os dias. O que nós levamos da vida é a aprendizagem. Este é o meu lema. Eu tenho 84 anos, mas continuo a aprender.
Estreou-se no teatro de revista em 1958 com a peça “Vamos à Lua”, no Teatro ABC. Seria justo dizer que a sua vertente de eleição é o teatro, visto que nasceu nesse meio?
A preferência é teatro porque existe o público, o nosso grande juiz, e a essência maior da representação. Tinha cinco irmãos e todos eles saíram, mas eu não, eu gostava era de representar. Quem me quisesse ver feliz, via-me no palco.
Nunca sonhei fazer teatro em Lisboa. A oportunidade surgiu porque fui a Odivelas com a peça “Amor de Perdição” e, quando já estava pronta para entrar, vieram-me dizer que o Vasco Santana, o Henrique Santana e a Maria Helena Matos estavam na plateia para ver o espetáculo e eu disse: “Ai que eu não quero entrar!” (risos) Claro que tive que entrar. No fim da peça, foram lá dentro cumprimentar-nos e ele [Vasco Santana] perguntou-me: “Tu não gostavas de ir para Lisboa representar?” E eu fui. Apresentaram-me ao Vasco Morgado e estreei-me no Teatro ABC, porque havia uma vaga.
Dos palcos para os plateaus de cinema. Atriz de cinema e atriz de teatro, como dissemos. Em 1968, aceitou uma proposta de António da Cunha Telles para contracenar no filme “O Cerco”, entrando no cinema sem tempo de refletir. Como foi esta transição?
Adoro cinema, mas não gosto de fazer cinema. É muito frio. Mas foi muito engraçado. Estava a representar no Teatro Laura Alves e disseram-me que o António da Cunha Telles queria falar comigo. Disse-me que gostava que eu entrasse no filme, mas que era para gravar naquela noite, depois do espetáculo (risos).
É uma atriz regular na televisão devido à sua participação em novelas e séries, tais como “Nem o Pai Morre, nem a Gente Almoça”, “Terra Mãe”, “Os Lobos”, “Doce Fugitiva” e “Remédio Santo”. Guarda algum projeto com mais carinho do que os outros?
Eu gosto é de estar. Todos me agradam. Não consigo escolher um papel, e digo-lhe isto com a maior sinceridade. Todos os papéis são desafiantes porque tenho que interiorizar. Não se pode representar sem interiorizar as personagens, senão, não convenço ninguém. E o que é indispensável é convencer!
É um dos cinco membros fundadores da Casa do Artista. Como surgiu a ideia?
Muitos artistas terminavam a sua carreira e ficavam num quarto alugado, muitas vezes sós. Tivemos algumas situações difíceis de colegas que acabavam assim. Então, achámos que se justificava lutar por isso. E lutámos. E vencemos.
“Aqui não é permitido envelhecer” é o lema da instituição Casa do Artista. Porquê a escolha desta frase?
Surgiu. Ninguém esteve a estudar uma legenda. Aqui é permitido envelhecer por fora, mas nunca por dentro.
É, de certa forma, uma homenagem aos artistas portugueses?
Não só a artistas. Embora esta casa seja a Casa do Artista, os estatutos referem “pessoas do espetáculo”. Não somos só nós (atores) que fazemos o espetáculo. Portanto, toda a gente que está na área do espetáculo tem direito a vir para a Casa do Artista.
Em 2010, a Manuela Maria foi condecorada Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique. Este ano, foi homenageada pela Junta de Freguesia de Carnide. Como é que olha para estas homenagens e conquistas profissionais? Sente-se realizada profissional e pessoalmente?
Nós nunca estamos totalmente realizados. Agradeço muito, e agradeço especialmente ao público. Se cheguei até aqui foi porque o público me aceitou. Não fiz nada de especial, apenas fiz aquilo que gosto de fazer.
Se pudesse, mudaria algo no seu percurso?
Não (risos)! É a minha carreira, os meus colegas. Alguns já desapareceram, infelizmente. Conheci muita gente que o público adorava. Trabalhei com pessoas fantásticas e que me acarinharam sempre muito. Devo-lhes isso!