Quando chegou a Carnaxide para apresentar a meteorologia, era conhecido por José Augusto. Passados quase 30 anos, José Figueiras é das figuras inconfundíveis quando se pensa em entretenimento na SIC. Adorado pelos nossos compatriotas espalhados pelo Mundo, não há quem não o conheça. Nem que seja pelo famoso tirolês…
José Figueiras Augusto, de 52 anos, começou por estudar Línguas e Literaturas Modernas, mas terminou o curso de Jornalismo no CENJOR. Fez um estágio na Radiodifusão Portuguesa e passou para a SIC, em 1992. Atualmente, apresenta o programa ‘Alô Portugal’ e faz várias presenças em eventos junto dos emigrantes.
O programa que tem vindo a conduzir, ‘Alô Portugal’, é principalmente concebido para as comunidades portuguesas no estrangeiro e, por esse motivo, apenas era transmitido na SIC Internacional. Contudo, em agosto de 2018, ganhou espaço na SIC generalista e com um estímulo inicial acrescentado: assegurar as audiências para ‘O Programa da Cristina’. Quais os desafios que esta transição trouxe para o programa e, consequentemente, para o José?
A responsabilidade é a mesma. Um dos desafios que trouxe é o horário, porque começamos agora de manhã e em direto. Trouxe-nos outro tipo de público [público de Portugal], portanto, ajustámos os conteúdos do programa. Mas a essência é a mesma. Inicialmente foi pensado para os nossos portugueses que estão fora do país, no entanto, percebemos que o programa faz todo o sentido estar na generalista.
O José Figueiras apresenta o ‘Alô Portugal’ desde 2009, estou certa?
Sim, sim.
Como tem sido a evolução do programa? Visto que já atingiu valores mínimos, como por exemplo, a 17 de dezembro de 2018 conquistou 29,7 mil espectadores, correspondente a 0,3% de audiência média e 3,1% de share…
Atenção, todos os programas têm altos e baixos. Agora consegue-se ver melhor as audiências, porque o programa é transmitido em Portugal. Mas é natural, foi também a entrada para a generalista que apanhou os telespectadores desprevenidos. Com muito orgulho, o nosso programa, e falo em nome da equipa, tem estado a crescer de uma forma fantástica, acho que é por aí que nos guiamos. Agora no início, as pessoas também estavam: “O que é que está a dar? O que é isto?”
Com a introdução do programa na grelha da SIC generalista, o José recebe uma ajuda feminina na apresentação, a Ana Marques. Como tem sido esta adaptação, agora em dupla, após vários anos a conduzir um programa sozinho?
É assim, a dupla é essencial. Sempre fui apologista e sempre partilhei a ideia de que um programa a dois, muitas vezes, tem mais dinâmica que um programa com uma só pessoa. Aqui como [o ‘Alô Portugal’] vai para a generalista, a ideia era sempre ter alguém. Inicialmente também se pensou que conduzisse o programa sozinho, depois, que se calhar até púnhamos mais uma pessoa para dar algum dinamismo. Até mesmo a nível de ausências, cada um consegue repartir a parte do outro. É assim, são duplas que existem, como em todos os programas.
O José Figueiras sempre foi muito acarinhado pelos nossos “compatriotas” espalhados pelo mundo, usando a sua designação. Há uma certa responsabilidade quando se “transmite” um país que é Portugal?
(Sorriso de orelha a orelha) Há uma responsabilidade e um dever de partilhar o que é nosso pelo mundo inteiro. O nosso ‘Alô Portugal’ fez bem essa ponte, ganhou um carisma muito interessante junto dos portugueses e não só. Porque nós falamos dos portugueses e estamos sempre a pensar que é o nosso compatriota, emigrante, que está em França, na Alemanha, mas não. Também chegamos ao mundo lusófono, onde existe a língua portuguesa. Isto significa que tenho, e digo isto com algum orgulho e com muita modéstia, fãs no Brasil, mas gente brasileira genuína que não tem ligação nenhuma a Portugal. Fui conquistar esse público brasileiro. É engraçado que, depois, através das redes sociais, nomeadamente o Facebook, as pessoas dão feedback do nosso programa. Só posso ficar contente, pelo menos sinto que o programa foi bem recebido lá fora.
De facto, o ‘Alô Portugal’ é um programa internacional…
É mesmo. Uma vez, fui a Cabo Verde, em trabalho, e as pessoas diziam: “Olha o apresentador. A gente vê o ‘Alô Portugal.’” (fala com pronúncia de Cabo-Verdiana). Eu ficava: “Caramba, o programa chega aqui.” É isto que eu quero referir e sublinhar: chega ao nosso nicho da comunidade, mas não só, chega a todo o lado. Do Brasil, as pessoas ligam para o programa, não é aquele Brasil do Rio de Janeiro, chega a determinados sítios que nem imaginas: “Estou aqui em Florianópolis, acompanho o teu programa.” (fala com pronúncia do Brasil). Ou seja, isso faz com que a nossa responsabilidade seja maior. Pensamos: “Ui, isto afinal não é para o nichozinho, isto é para todo o lado!”, mas cá [Portugal], a responsabilidade também continua a ser enorme.
Até porque quem vê o programa não são só os nossos compatriotas, mas também quem quer conhecer o país.
Sim, sim.
E posteriormente podem vir a visitar Portugal…
Olha, tenho um episódio que te posso contar. Um dia tivemos cá [no ‘Alô Portugal’] uns senhores que representavam a região centro, estiveram a promover o hotel, a região, e eu dizia no programa: “Então pronto, um dia que venham para esta região, passem por este hotel e bla bla bla.” Digo isto com toda a modéstia e toda a sinceridade, ofereceram-me um voucher para eu lá ir, mas nunca pude ir. Eles ligaram-me uma vez e disseram assim: “Zé, estamos a ligar-te para saber quando é que queres cá vir e, olha, queremos agradecer-te.” Eu a pensar: “Mas agradecer o quê?” E eles: “Eh pá, queremos agradecer-te, porque uma vez estávamos aqui no hotel e chegou um grupo de 15 brasileiros. Quando passo na receção [gerente do hotel que foi ao programa] dizem: ‘ah é, o menino que a gente viu na TV.’” (fala com a pronúncia do Brasil). Eu disse: “Não acredito, olha a dimensão e a força que às vezes estas coisas têm.”
O programa consegue promover não só o país como um todo, mas também áreas que podem estar despovoadas, como o interior e não só.
Abrimos o apetite, cá esta, é a nossa função. Mostramos aquilo que é nosso, essa é a mais-valia do programa, é o sucesso, modéstia à parte.
Os novos media e a televisão
Com o emergir dos novos media, mais concretamente, plataformas digitais, é inevitável uma adaptação. Como se tem adaptado a esta nova realidade, uma vez que há uma maior exposição? Sei que usa Facebook, Twitter, Instagram…
Sim, mas isso já uso há algum tempo. Adaptei-me de uma forma super normal. Confesso, que não sou nenhum expert nestas coisas (risos). Há pessoas que têm não sei quantos milhares de seguidores, eu vou tendo alguns. Mas é assim: eu gosto é de fazer o meu trabalho, vou publicando, mas não ando à procura de publicar isto para ter não sei quantos likes. Não, nem estou para aí virado. No Facebook passam-se até dias ou semanas que nem lá vou. Sei que cada vez é mais importante, não estou completamente desligado. Se calhar, podia ser mais atual, mais a toda a hora, a todo o minuto, mas também não tenho interesse em partilhar uma vida para além da profissão, também me resguardo um bocado.
Os novos media acarretam vários desafios, um deles diz respeito à televisão e aos seus conteúdos. Considera ser necessário reinventá-la para se manter face às novas tecnologias e aos novos formatos?
Sempre, sempre (bastante seguro). Em televisão, temos de nos reinventar, porque senão tudo é igual e tudo já está feito. Alguém que vem com uma ideia maravilhosa e, quando vamos pesquisar, esse programa já foi feito há dois anos num sítio qualquer. Portanto, temos de reinventar. Isto é como a história de um bolo: o bolo é sempre o mesmo, eh pá, vamos lá experimentar pôr aqui um bocadinho mais disto ou daquilo, e isso passa pela criatividade. Agora acomodar é que não, o bolo que vem para a mesa é sempre o mesmo, então vamos reinventando as coisas. Estou convencido que, daqui a uns anos, a televisão está numa outra dimensão. Fazemos nós a nossa grelha em casa e acabou, excluímos aquilo que não queremos ver.
E depois da televisão…
Depois de quase três décadas de carreira profissional, ainda há algum formato televisivo que gostasse de ter realizado ou que ainda ambiciona realizar num futuro próximo?
Quantas décadas disseste? (surpreendido).
Quase três décadas.
Ai, agora é que dei por mim, são mesmo quase três décadas! Tocaste no ponto, mas a sério, já três décadas?? Ai, meu Deus (bastante surpreendido).
Todos os dias, há sempre uma coisa nova que gostava de fazer. Acho que pelas minhas características, e pelo que as pessoas me conhecem, gosto de conversar e de fazer qualquer coisa que seja sempre para cima, bem-disposta. Cada um é especialista na sua área e não posso ser perfeito em todas as áreas, há temas que me são mais sensíveis. Nem tudo é festa, nem andamos sempre a dançar o samba e o vira. Acho que uma das características que [um programa] tem de ter é conversa, boa disposição, uma energia fantástica e música. Esses ingredientes fazem o programa que quero sempre fazer. Pode ser o ‘Alô’, como pode ser um programa à noite, na rua, um daqueles programas ao vivo, com povo, com música, com essa essência. Acho que essa é a minha característica. Agora fazer um programa à noite onde tivesse um entrevistado e falasse da carreira dele, para já não, não é a minha onda, não vou conseguir fazer isso bem, percebes?
É verdade, também não se adequa ao que nós, enquanto telespectadores, estamos habituados a vê-lo fazer.
Acho que é um bocado isso, há pessoas que têm o perfil exato para fazer um determinado programa e outros têm perfil para outro. Como o que é muito sério, “amanhã não vai para o palco aos gritos” (voz fina). Fica estranho. Sou apologista de que se esta não é a tua área, não vás por aí. E um programa para mim, que seja a minha cara, tem de ter estes ingredientes: para cima, boa disposição, alegre, até podemos falar de uma forma mais séria, por vezes, mas tem de ter boa energia. Portanto, esse é o programa que quero fazer um dia, é o que estou a fazer e o que tenho feito desde há uns tempos.
Depois destas três décadas, ainda podem surgir novas oportunidades.
(Finge ser idoso com uma bengala e uma voz rouca) Acho que consigo fazer um programa com uma bengala, nem que não me levante e aponte com a bengala: “muito obrigado, podes ir para ali cantar” (risos). Também costumo dizer a brincar, mas de forma muito séria: atenção, não tenho que fazer televisão até ao final da minha vida! Acho que se chega a uma altura em que se quer partir para outra. A minha profissão foi aquilo, foi giríssimo, diverti-me durante não sei quantos anos, e agora? Agora, vou fazer umas coisas que não tive tempo para fazer, percebes? Mas é em televisão? Não, não tem nada a ver com televisão. Esta é a minha forma de estar na vida, há pessoas que não. É como os cantores, que vão até aos 80 anos…não vale a pena. Foi o meu ADN, foi a profissão que me abraçou, que eu nem sequer abracei. Eu fui à procura dela, mas depois ela é que me abraçou.
Quando a luz da câmara se desligar e as luzes se apagarem, tenciona mudar-se para os Açores, visto que investiu há pouco tempo numa casa e em animais na ilha de Santa Maria, ou tem outros planos em mente?
O ir para os Açores é uma coisa que digo como imagem, mas não tenho que ir para os Açores, nem me via lá uma vida inteira (sentimento de desabafo)! Mas há mais coisas para fazer. Quero ter mais tempo para fazer aquilo que não me foi permitido ao longo de quase 30 anos, já viste? Eu tinha a tua idade e tinha sonhos de ser exatamente isto, ser muito comunicativo. Tive uma fase onde quis ser tudo, mas tinha de comunicar. Podia ser guia turístico, intérprete, comissário de bordo, eu queria falar com as pessoas.
Já teve a experiência de ser comissário de bordo. Como correu?
Já tive, foi muito gira. Ainda hoje as pessoas dizem: “Eh pá, adorava ser piloto.” E eu digo: “Adorava ser comissário de bordo.” Ainda dou por mim, ao fim destes anos todos, a pôr o cinto no avião e a dizer (as normas de segurança). Mas era isto que eu queria, portanto, acho que o universo nos aponta as coisas e não sou nada destas coisas de misticismos, mas acho que era para aí que estava apontado. O meu pai dizia: “Tu tens de ter uma profissão, ser um bom serralheiro, ou podes estudar e podes fazer o teu curso universitário.” Eu dizia: “Sim, mas eu quero mais do que isso.” Deixa-me dizer-te uma coisa, ele se calhar até tem razão. Essas foram as coisas que me ficaram, mas, se calhar, o universo puxou-me para este lado, tinha de ser a comunicar. Agora por estar um pouco mais disponível, pois a vida também nos permite isso, se calhar queria fazer outras coisas. No outro dia dei por mim a falar com os meus filhos, e estava a dizer: “Eh pá, vim da Decathlon, vi uma mochila tão gira.” Começa logo o meu filho: “Pai, não acredito, vais meter um saco-cama e vais viajar pelo mundo, o jovem que viaja pelo mundo!”( risos) Mas era isso mesmo que eu gostava de fazer, era ter um dia disponibilidade para pegar num saco-cama e ir dois meses dar uma voltinha.
E porque não?
Pois, mas se me perguntas, mas quando? Isso não está na minha meta, ser para o ano ou daqui a dois anos. Deus queira que ainda trabalhe muitos anos nesta área. Não quero é acabar os meus dias na televisão. Há mais mundo lá fora, é isso que costumo dizer. Isto é uma passagem, quero fazer outras coisas. E são esses os meus objetivos.
Circulam rumores e boatos sobre a vida de figuras públicas, e o José também é alvo disso mesmo. Em março de 2019, houve várias notícias sobre uma alegada saída da SIC. Estando há 27 anos a trabalhar em televisão, primeiro na RTP e depois na SIC, como tem sido lidar com os rumores que são criados sobre si e a sobre a sua família?
É assim, tu és um alvo perfeito. Por exemplo, nesta entrevista tu podes fazer uma manchete de uma frase que eu tenha dito aqui e isso depois alimenta uma série de coisas. Essa história de que o Figueiras estava de saída da SIC foi exatamente o que te acabei de contar. Perguntaram-me sobre o futuro e eu disse que queria ter tempo para mim e viajar. Juntaram: “O Zé agora até comprou uma casita nos Açores e tal.” Depois dizem-me muito surpreendidos: “Mas está cansado da SIC?” Não, acho é que chega a uma altura em que queremos fazer outras coisas e estamos cansados de uma vida de fazer o mesmo. E eu próprio disse isto. Qual é a notícia que sai? “Figueiras, cansado da SIC, pensa sair para ir para os Açores.” São pequenas coisas que tu dizes. Agora custa-me dizer que [os jornalistas] são uns mentirosos, é apenas a forma como as coisas são ditas e como se escreve. Só tens de saber lidar com isso, e acho que esse é o melhor anticorpo, o deixar falar. Mas isto é normal, tens de ter um escudo, que vais ganhado ao longo do tempo, porque se tu entras e és logo dizimado e espezinhado, podes não estar suficientemente preparada e desistes. Mas não desistam, aprendam a fortalecerem-se! Pensem: “Vou meter mais um escudo, mais uma proteção.” Depois, aprendem a defender-se.