A Universidade Autónoma de Lisboa foi palco do primeiro UALCOM, evento que decorreu a 21 de janeiro, planeado na unidade curricular do 3º ano Desafios Atuais da Comunicação da Licenciatura em Ciências da Comunicação, ministrada pela professora Sónia Sá. O UALCOM trouxe consigo uma mensagem de consciencialização à comunidade Autónoma sobre diversos temas como saúde mental, educação e literacia política, imigração e refugiados, relação entre seniores e meios digitais, inclusão e sustentabilidade no universo da moda, violência doméstica ou alterações climáticas, tendo por base os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
O entusiasmo de toda a comunidade Autónoma foi notório desde o primeiro minuto. A sessão de abertura, pelas 15:00h, contou com discursos dos coordenadores gerais Carolina Esteves, Duarte Costa, Inês Sofia e Vasco Morgado que destacaram a dedicação e a perseverança dos 110 alunos que organizaram o evento, bem como toda a ajuda prestada pela universidade. Seguiram-se Reginaldo Rodrigues de Almeida, vice-presidente da CEU e diretor do Departamento de Ciências da Comunicação, Paula Lopes e Bruno Reis, subdiretores do departamento, que congratularam os alunos e salientaram a importante mensagem de sensibilização e troca de conhecimentos entre a comunidade académica e a sociedade civil.
A relação entre os meios digitais e os seniores
Os participantes, em passo acelerado, dirigiram-se para o Auditório 2 onde teve lugar o primeiro projeto: “Avós da Mudança”. Este centrou-se num debate que deu a conhecer as vantagens e os riscos existentes na relação dos seniores com as novas tecnologias e a literacia digital. Contou com a participação de Paula Lopes, docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Autónoma e referência nacional na investigação de literacia mediática e digital, e Yne Manuella, investigadora na Universidade da Beira Interior que se dedica ao estudo dos níveis de literacia mediática em seniores.
Beatriz Neves, responsável pelo projeto, percebeu que “os seniores tinham dificuldades em lidar com as novas tecnologias” e considerou que “seria importante abordar este tema de forma a explicar como facilitar a vida aos mais velhos”. Paula Lopes refere que, “se existir uma aposta imediata na educação para os media nos jovens, estes, no futuro, serão seniores mais conscientes, mais cidadãos e mais participativos”. Ao longo do debate foram visíveis o interesse e a boa disposição do público. Maria Helena, de 88 anos, afirma que “a sessão foi muito instrutiva para que os mais velhos aprendam e não se deixem enganar”.
Há um refúgio em cada um de nós
Imigração e refugiados foram os temas trazidos pelo projeto “Refúgio”. O público teve a oportunidade de colocar questões a um vasto painel de convidados: Acácio Pereira, presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Ana Sofia Barros, membro do Alto-Comissariado da Nações Unidas para os Refugiados, Cyntia de Paula, presidente da direção da Casa Brasil de Lisboa, Hugo Seabra, gestor de projetos na Fundação Calouste Gulbenkian, e Bárbara Lobo, docente dos departamentos de Direito e de Ciências da Comunicação da Autónoma.
“Os migrantes têm de ter os mesmos direitos e o mesmo tratamento que os cidadãos portugueses”
Ao longo do debate foram abordados temas como as dificuldades que os imigrantes enfrentam na obtenção de documentos. Acácio Pereira deixa um alerta: “os migrantes têm de ter os mesmos direitos e o mesmo tratamento que os cidadãos portugueses”. Outro dos tópicos destacados foi a grave crise de refugiados que a Europa enfrenta potenciada pelos conflitos no Médio Oriente e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia. Ana Sofia Barros refere que “neste momento, o número total de refugiados ronda os 113 milhões” e que “os países devem criar mais infraestruturas de acolhimento e integração para as pessoas que vão chegando, cada vez em maior número”.
Eduardo Pereira, membro do “Refúgio”, destaca a importância do projeto: “Portugal é um país com um grande fluxo migratório, por isso, decidimos dar a conhecer a realidade vivida pelos imigrantes aqui.”
Sustentabilidade e inclusão no universo da moda
Sabia que para produzir um par de calças de ganga são utilizados 7.300 litros de água? O projeto “All You Need is Less” deu a conhecer o elevado desperdício que existe no fabrico de peças de vestuário e como este desperdício coloca em causa a sustentabilidade do planeta.
A designer Belisa de Sá afirma que, “se todos tivermos a consciência daquilo que estamos a vestir, poderemos fazer a diferença na defesa do meio ambiente”.
Além da sustentabilidade, os padrões de beleza e os estereótipos criados também tornam a moda um meio pouco inclusivo, originando que a sociedade dê cada vez mais importância ao aspeto físico. “Magnólia” e “Minha Realidade, minha verdade”, outros dois projetos desenvolvidos demonstraram que todos somos únicos e que cada um tem algo que o distingue do outro.
Luísa de Carvalho, do projeto “Magnólia”, explica que “o objetivo é parar e pensarmos em nós e naquilo que nos torna únicos”.
Telma Ruas, docente da Autónoma, defende “a inclusão de todos na sociedade e a moda não é exceção”, considerando ainda que, “atualmente, se dá uma importância exagerada aos aspetos exteriores de cada um”.
Política e jovens
A política também foi abordada no UALCOM. O projeto “Politiquices” trouxe “um lado da política que fosse acessível a todos, algo que nos acrescentasse e ensinasse”, como refere Catarina Lavrador, responsável pelo projeto. Simultaneamente, com os contributos de Sónia de Sá, docente da Autónoma, João Maria Jonet, assessor político do PSD, Miguel Dias, presidente da Juventude Popular de Loures, e Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António e finalista da Licenciatura em Ciências da Comunicação, foi debatida a falta de interesse dos jovens portugueses na política.
Miguel Dias discorda desta ideia: “considero que existe um interesse cada vez maior dos jovens na política” e sublinha a importância deste tipo de iniciativas para “fomentar o interesse e a curiosidade dos mais novos na política”. Por sua vez, João Maria Jonet deixa uma sugestão: “neste momento, os partidos estão vazios de pessoas, portanto, um grupo mobilizado de jovens conseguiria transformar a política por dentro”.
Descomplicar a saúde mental
A mente é uma das parte mais importantes do nosso corpo. Porém, falar de saúde mental é falar de um assunto tabu. O objetivo do projeto “Descomplicada-Mente” foi “desmistificar a saúde mental e descomplicar silêncios que, por vezes, não são assim tão silenciosos”, refere Anouk de Valk, responsável pela iniciativa.
“Descomplicada-Mente” contou com os testemunhos dos humoristas António Raminhos e Nilton, João Pereira, licenciado em Ciências da Comunicação pela Autónoma, e da psicóloga Cristina Patrício. Através de uma conversa informal, puderam contar as suas experiências e como as conseguiram ultrapassar.
“Cuidar da saúde mental deveria ser uma prioridade”
Segundo dados da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Económico (OCDE), em 2022 a percentagem de jovens com sintomas de depressão foi 50% superior, comparativamente com a generalidade da população.
Cristina Patrício sublinha que “cuidar da saúde mental deveria ser uma prioridade”. António Raminhos deixa ainda como recomendação: “as pessoas não devem ter receio do desconhecido, é importante procurar ajuda, porque, no fim, vais saber mais sobre ti e isso irá sempre compensar”. João Pereira insiste para que existiam mais iniciativas como esta, porque “com o passar dos anos, fomos deixando a nossa saúde mental de lado e quando foi preciso falar, novamente, sobre ela, toda a gente estranhou este fenómeno, porém, ele sempre existiu”.
Por outro lado, o projeto “Mente Leve” criou um conjunto de atividades com intuito de dar ao público uma sensação de bem-estar e para que estes “encarassem a sua saúde mental de forma mais leve”, conta Beatriz Galveias.
Violência doméstica
O projeto “Hope Path” tratou no UALCOM o flagelo da violência doméstica. Segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), no ano passado 28 mulheres foram assassinadas, 22 em relações de intimidade. Todos os feminicídios foram cometidos por homens. Sofia Morais explica que “o intuito do projeto é consciencializar as pessoas de que a violência doméstica é um crime público e que qualquer pessoa o pode denunciar”.
“O número de vítimas a denunciar situações de violência tem vindo a aumentar”
O “Hope Path” deu aos visitantes uma experiência impactante e emocionante, estes tiveram a oportunidade de ver e ouvir testemunhos de mulheres que sobreviveram a situações de violência doméstica. Além disso, foi possível assistir a uma palestra dada pela Associação de Apoio à Vítima (APAV). Inês Rodrigues, da APAV, salienta que “o número de vítimas a denunciar situações de violência tem vindo a aumentar”. Contudo, “apesar de existirem mecanismos legais para protegerem as vítimas, nem sempre são colocados em prática”.
Alerta para salvar o planeta
O projeto “Ano Zero” pretendeu passar uma mensagem de alerta através de imagens representativas de um cenário apocalíptico, para os diversos problemas que o planeta enfrenta na atualidade. Para Miguel Duarte, “a iniciativa teve como objetivo levar as pessoas a refletir e perceber que a distância entre o que vivemos hoje e estas imagens não é tão espaçada como se pensa”.
O “Ano Zero” promoveu, ainda, um debate que contou com a presença de Maria Amélia Martins-Loução, professora, bióloga e presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia, Bárbara Lobo, docente dos departamentos de Direito e Ciências da Comunicação na Autónoma, Daniel Cardoso, docente dos departamentos de Relações Internacionais e Ciências da Comunicação na Autónoma, Madalena Mascarenhas, docente do Departamento de Psicologia na Autónoma, Gonçalo Cardoso, docente de Geografia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e José Miguel Dias, docente de Ciências da Computação no Iscte.
Miguel Duarte destaca a maior consciencialização dos jovens para a crise ambiental: “começam a ter uma tendência de se preocuparem mais”. Bárbara Lobo justifica que “estamos numa altura em que a crise climática é muito divulgada, como isso afeta as nossas vidas e os jovens acabam por ser os grandes responsáveis pela transformação e reivindicação, tendo a capacidade de atrasar o avanço da destruição ambiental”.
A Universidade Autónoma de Lisboa começou 2023 a abrir as portas ao público. Assim, proporcionou uma tarde de várias literacias aos alunos e participantes. UALCOM: um evento. 10 projetos. 110 alunos. Mais que números fala-se de partilha. Uma iniciativa que não ficará por aqui, porque o conhecimento é a chave da evolução e o foco é o futuro. UALCOM = Inclusão + Sustentabilidade!