Sinopse:
“Tal como basta apenas um instante para se morrer, também basta apenas um instante para se viver. Fecha-se simplesmente os olhos e deixa-se que todos os receios fúteis se esvaiam.”
“O meu nome é Tom Hazard. Pareço ter 40 anos, mas não se deixe iludir… sou muito mais velho do que isso. Séculos mais velho. E este é o meu perigoso segredo.
Fui contemporâneo de Shakespeare, vivi em Paris nos loucos anos 20, cruzei os mares de uma ponta a outra. Eternamente a fugir do meu passado e à procura daquilo que me foi roubado. Mas sem identidade ou raízes, a vida eterna pode tornar-se um vazio.
Numa tentativa de voltar à normalidade, arranjei trabalho como professor de História. (Quem melhor para relatar o passado do que alguém que o viveu realmente?) Talvez desta forma consiga perder o medo de viver.
A única regra para pessoas como eu é nunca se apaixonarem. Infelizmente, descobri isto tarde demais.”
Crítica:
“Como Parar o Tempo”, de Matt Haig, escritor e jornalista inglês, é um romance sobre Tom Hazard, que sofre de uma condição que o faz envelhecer mais lentamente que um ser humano normal. Ele é praticamente imortal. Faz parte de uma sociedade de pessoas como ele, “os Albas”. Esta sociedade tem várias regras: Tom tem de mudar de vida e de lugar passado determinado tempo, para ninguém perceber que ele não envelhece. Não pode aparecer em fotografias. E, acima de tudo, não pode apaixonar-se.
Esta é uma leitura que todos podem apreciar. Conta várias histórias, todas elas vividas por Tom na sua longa vida. O livro é, ao mesmo tempo, um romance, um mistério, uma ficção científica e uma reflexão filosófica sobre o tempo.
Desde a primeira página, que impressiona de maneira bastante positiva. A história não tem capítulos e está dividida em 5 partes, declarando sempre a data e o local do acontecimento, escrita quase como um diário de memórias, indo do tempo moderno até aos tempos de Shakespeare. Toca também de uma maneira incrível no tema do “tempo”, difícil de abordar na ficção por ser um conceito relativo e instável. Haig consegue transportar-nos aos locais e séculos em que Tom viveu, quase que sentimos que estamos nessa época.
O livro tem várias partes que nos movem e nos fazem pensar. O personagem Tom apresenta momentos de introspeção filosóficos extremamente interessantes, se bem que um pouco fatalistas (mas quem não o seria depois de viver milhares de anos?). Devido à sua longa vida, Tom já teve uma abundância de experiências: passamos pela sua infância com a mãe, em França; o seu primeiro romance em Inglaterra, em pleno século XVI; as suas viagens pelo mar com James Cook; os seus dias como pianista, em Paris. É difícil misturar história com ficção sem cair no erro de a descrever de modo impreciso, no entanto, Haig faz isso quase impecavelmente, incluindo na história Shakespeare, James Cook, F.Scott Fitzgerald e Omai. O autor consegue fazer com que todas estas personalidades históricas sejam humanas, reais, como se fossem pessoas que o leitor conhece.
Outra característica onde o livro se destaca é o romance, quer seja no século XVI entre Tom, o tocador de alaude, e Rose, uma vendedora de maçãs, quer seja na atualidade entre Tom, agora professor de História (cujas aulas são bastante interessantes de ler) e Camille, a professora de Francês.
O romance com Rose é de aquecer o coração. É um primeiro amor jovem, puro, num mundo que para eles é cruel. Muitas das passagens mais belas do livro estão nesta parte, principalmente quando Tom vivencia o seu primeiro beijo. Esta parte da história acorda o romântico em todos nós e faz o coração palpitar como o de Tom.
O romance com Camille parece não se comparar com o de Rose. Isso é porque, de facto, não se devem comparar. Tom tem um romance jovem, apaixonado, puro, com Rose. O romance com Camille é mais maduro, é um romance de conforto, de enfatuação, simples, mas potencialmente forte. Honestamente, desilude um pouco Camille apenas se envolver realmente na história já muito tarde no livro.
Existe ainda a comunidade do “Albas”, liderada por Hendrich, o vilão manipulador da história. Tom junta-se a esta sociedade para encontrar a sua filha Marion, que teve com Rose, filha essa que sofre da mesma condição que ele. Esta vertente da história tem um ar de mistério e traz uma certa tensão à narrativa mas, ao mesmo tempo, é a menos interessante do livro, tornando-se quase previsível. Hendrich é um óbvio vilão desde o momento em que aparece e podia-se ter feito algo mais com este conceito dos “Albas”, e até mesmo com a personagem de Hendrich.
Apesar de ter vivido tudo isto, de passar centenas de anos a tocar música, de se apaixonar, de se aventurar, de fazer as vontades de Hendrich, e muitos outros feitos, o verdadeiro desafio de Tom continua a ser perceber o seu propósito no Mundo. É esta autodescoberta, introspeção e memórias de Tom que fazem do livro o que é. Aconselho-o a quem já se colocou a mesma questão, a quem se considera um amante de História ou um romântico incurável. Um livro verdadeiramente intemporal, que nos transporta pelas memórias de quem apenas quer saber como parar o tempo.
Se gostaste de “Como Parar O Tempo” também irás gostar de “Os Humanos”, de Matt Haig.