A Grécia prepara-se para desafiar as instituições europeias e colocar o Euro em ponto de mira, logo agora que a moeda única passou a contar com a Lituânia, num grupo privado que já se estende a 19 países.
Com uma Dívida Pública de 177% do PIB, o Siryza promete uma política anti-austeridade, com um raciocínio simples: o país só volta a crescer se lhe perdoarem metade do que deve. A Grécia só volta a ter soberania económica, e a sacudir a asfixia lenta em que caiu nos últimos anos, se o Estado deixar de canalizar grande parte das receitas para pagar juros e amortização de capital. Só desta forma é possível recuperar os 25% do PIB que evaporaram desde a explosão da crise financeira, em 2008.
Mesmo em grego, a mensagem é escorreita: ou a troika aceita um hair-cut valente – pelo menos 50% do total da dívida, depois de já terem concedido dois outros perdões no passado – ou BCE, FMI e Comissão Europeia perdem os 240 mil milhões de euros que injetaram no sistema financeiro da Grécia, nos últimos 5 anos.
Um sacrifício que se estende, igualmente, aos privados, que apostaram que o BCE cobria a dívida grega, comprando obrigações a dez anos, e arriscam-se, agora, a ficar sem nada. Basta que um novo governo helénico, saído das legislativas marcadas para 25 de Janeiro, declare incumprimento e saia do Euro para os braços de Vladimir Putin, desejoso de dar troco à Europa depois às sanções impostas por causa da Ucrânia. E a sofrer uma profunda erosão do rublo, com a descida do preço do petróleo.
Nesta equação, há pelo menos uma certeza: com a abstenção elevada e um crescente desacreditar dos gregos nas forças políticas tradicionais, o Siryza abre o jogo e mostra ao que vem: não mais austeridade, brecha na muralha do Euro ou perdão de dívida, porque a Rússia está à nossa espera e a Grécia tem uma importante reserva de hidrocarbonetos por explorar, a par de uma situação estratégica no seio da NATO.
Qual a resposta da Europa? Aceitam-se apostas para a enorme nebulosa que aí vem. Mas as sirenes tocam em Bruxelas. Isso, é garantido. Tão alto quanto em Berlim, que se prepara para fazer pressão e lançar o fantasma do descalabro económico em Atenas, se os eleitores não derem a vitória à Nova Democracia, de Samaras.
Pedro Pinto *
* Pedro Pinto é Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional, Jornalista e Professor na Universidade Autónoma de Lisboa