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-Início»Entrevistas»Simone de Oliveira: “Do que tenho mais medo é de cair no ridículo!”
Foto retirada da página de Facebook Simone de Oliveira a Cantora dos Poemas

Simone de Oliveira: “Do que tenho mais medo é de cair no ridículo!”

Inês Branco 02 Out 2018 Entrevistas

Entre cigarros e gargalhadas, Simone de Oliveira fala da “montanha-russa” que tem sido a sua vida durante 80 anos de existência. Numa entrevista que nada teve de formal, a artista relembra os atribulados 60 anos de carreira. Saltitando entre o passado e os temas atuais esta conversa, na casa que alega “estar repleta de história”, revela curiosidades acerca da mulher para além da fama.

A Simone é uma mulher muito requisitada por jornalistas e estudantes, para dar todo o tipo de entrevistas. Qual foi a entrevista mais estranha que já lhe fizeram?

(Acende o cigarro) Houve duas entrevistas que me marcaram muito! A primeira foi a da Alice Vieira. Eu não conhecia a escritora e não foi uma entrevista nada fácil para mim! A segunda, penso que foi uma que o Batista Bastos (escritor) me fez e a primeira pergunta que me colocou foi se eu já tinha lido Marx, ao qual eu respondi: “não, mas já li o Tintim!” Eu sou muito mais uma anarca que sabe muito bem onde estão as coisas! Eu acho que as pessoas têm de ser pessoas, têm de ser gente! Podem gostar de azul, amarelo, encarnado, mas têm de ser honestas, corretas, bem-educadas. Agora, se são azuis, encarnadas, amarelas ou verdes, é-me indiferente! É-me indiferente a religião, a cor, o clube de futebol, a escolha política… É me completamente indiferente. Eu gosto é de pessoas!

Antes de iniciar a entrevista, confessou ser difícil gerir o seu “eu” exterior com o seu “eu” interior! Porquê?

Sim, é difícil gerir! (ar cansado) Tenho 80 anos. A grande maioria das pessoas tem uma certa dificuldade em acreditar em mim, mas tenho. Eu tenho muita genica por dentro e à qual, por fora, o corpo não corresponde. Por dentro, a minha alma, a minha cabeça, a minha sensibilidade, os meus gostos, não são de uma mulher de 80 anos! Eu gosto de conduzir, gosto de beber um bom vinho tinto, gosto de me deitar tarde, gosto de sair à noite, vou há muitos anos ao mesmo restaurante onde tenho uma mesa que tem uma cadeira com o meu nome e muitas fotografias minhas que o meu queridíssimo amigo António Mendonça (dono do estabelecimento) decidiu emoldurar há 40 anos. Toda a gente pensa que o restaurante é meu, mas não, sou péssima em negócios!

Sente que esse ramo não é para si?

Geri, há muitos anos, um restaurante chamado O Candelabro e um outro chamado Casa de Simone, que geri durante dois anos. Ao fim desses anos e depois eu dar tudo por tudo, o dono disse-me que não tinha feito nada por aquela casa. Paguei todos os jantares dos meus amigos, todos os copos que beberam e só não pagava o meu jantar porque o dono me oferecia. Consegui fazer daquele restaurante um dos melhores de Lisboa. Um dia, disse boa noite e saí. De seguida, o restaurante fechou!

Acha que as pessoas têm noção de quem é a Simone?

Não, mas problema o delas. Eu sou o que está a ver! Não pode ter apanhado a Simone em mais Simone de casa do que hoje! (gargalhadas)

Recentemente, esteve em cena um musical que retrata a história da sua vida, o musical Simone, encenado e escrito por Tiago Torres da Silva, e do qual a própria Simone fez parte. Como é que se reduz numa hora e meia de espetáculo, uma história de 80 anos repleta de acontecimentos marcantes?

(Acende outro cigarro) É complicado! O Tiago foi muito objetivo porque focou quatro ou cinco momentos daqueles que eram mesmo para ser focados. Foi

Cartaz do musical “Simone”

extremamente elegante no que escreveu, porque a minha vida teve muitos baldões, para cima e para baixo, muitas coisas complicadas e, apesar dos pesares, resumindo e concluindo, aquilo bateu certo! Bateu tão certo, que vai ser reposto agora, no Casino Lisboa. Com a mesma equipa, com os mesmos queridos atores e atrizes e colegas que deram alma, vida e coração, e que foram extraordinários e verdadeiramente brilhantes no trabalho que fizeram! Tenho que agradecer a todos porque sem eles o espetáculo não teria acontecido como aconteceu. O facto de eu estar a representar e a cantar é evidentemente uma coisa boa e é um espetáculo que gosto muito de fazer! O facto é que esgotámos todas as casas por onde passamos. O mais extraordinário foi o Coliseu do Porto, que tem 2800 pessoas e esgotou dez noites seguidas, comigo a dizer no camarim “Vocês são é malucos”. Há uma frase que costumo dizer quando é algo assim de extraordinário que é: “Está tudo bêbado!” É a minha grande frase! (gargalhadas)

Como é que encara este êxito?

Não sei explicar! Pensei que o espetáculo fosse bom, mas não me passou pela cabeça, em nenhum momento, que fosse… quer dizer, esgotou tudo…! Eu lembro-me que, não sei se foi na estreia ou no dia a seguir, o Paulo [técnico na equipa de produção] foi medir o tempo dos aplausos e foram dez minutos. Foi ótimo!

Como é que sente este abraço do público que já recebe há 60 anos de carreira?

Tive a sorte dos músicos e dos autores deste país (quer os da música, quer os poetas), fazerem canções para mim que foram ficando ao longo da vida. Tive a sorte de ser uma pessoa extremamente profissional. Eu posso estar a morrer, mas estou lá! Não sou nada vedeta, nem me aturava a mim própria, se o fosse. Era uma canseira…! (gargalhadas) Como costumo dizer, eu tenho os prémios todos e as condecorações todas dadas pelos presidentes da república. Imagine bem, eu agora ir para a rua a pensar nisso… ficava tão cansada, tão cansada, que voltava para trás para me deitar, que eu gosto muito de dormir! Gosto imenso e preciso, porque nos últimos dois anos cantei muito.

Como e porque escolheu vir para esta casa, que já alegou ser tão especial?

Escolhi viver aqui porque, quando comecei a namoriscar o Sr. Varela, eu vivia na Costa da Caparica e o Sr. Varela tinha pânico de atravessar a ponte. Eu vivia

Simone de Oliveira e Alberto Varela Silva (José Raposo) no musical “Simone”

naquela casa e adorava-a, mas, tempos mais tarde, a COPCON (Comando Operacional do Continente) tirou-ma! A minha filha estava a trabalhar no Porto e foi lá. Perguntou-me se tinha mudado a fechadura, eu respondi que não e ela respondeu: “Mas eu não consigo abrir a porta!” (termina outro cigarro). Ela foi à polícia e o chefe que estava cá fora perguntou: “A menina é filha da Simone de Oliveira, não é? Então diga à sua mãe que a sua casa foi aberta, sem dizerem nada, tiraram tudo e puseram num contentor”. De seguida, fui a tribunal, perdi e ainda paguei 50 contos para tirar a mobília do contentor. Mas já disse ao coronel Otelo Saraiva de Carvalho: “o senhor roubou-me a minha casa!” Disse-lho na cara. Não lhe perdoo! (um pouco emocionada) Chorei tanto…

Depois disso, estive no primeiro andar deste prédio mais ou menos um ano e, de seguida, viemos para esta casa. O Sr. Varela morreu aqui, portanto eu vivo cá desde o tempo da Revolução, ou seja, há 44 anos. As pessoas dizem que esta casa tem uma coisa qualquer que não sabem explicar e eu costumo dizer que foi uma casa onde aconteceu tudo, lágrimas, coisas boas, coisas péssimas, doenças, mortes, estreias, não estreias… é uma casa que tem uma história de uma vida a dois e onde eu vivo sozinha há 22 anos.

Voltando ao meio profissional, já trabalhou com vários jovens artistas que, de uma maneira ou outra, estão a seguir o mesmo caminho que a Simone. Contudo, é evidente que o meio artístico de hoje é diferente do de há 60 anos atrás. Sente que, nos dias de hoje, é mais difícil vencer neste ramo?

Eu não sei se é mais difícil ou se é mais fácil. Sei que é mais rápido. Existem daqueles “booms”, mas depois eu quero ver é a continuidade…! Nós temos um meio

Equipa do musical “Simone”, em periodo de ensaios

muito pequenino! Eu digo sempre: “Saiam daqui!”. Nem que façam um disco em espanhol e vão ali para Espanha, porque aqui, chega-se a uma certa altura, fica-se ali. Eu venho de um tempo em que ainda não havia estas estradas! Não havia os auditórios que há, nem nada disso. Mas hoje há tudo e, em determinada altura, já não há mais nada para fazer porque se chegou ao topo. E quando se chega ao topo muito cedo, tem de se partir para outra coisa qualquer e tentar cantar pela Europa. Aliás, aconteceu com todas as fadistas portuguesas que cantam maravilhosamente bem e levaram realmente os grandes poetas portugueses para todo o mundo.

Tal como o musical “Simone” transmite e várias notícias indicam, já passou por vários momentos difíceis da sua vida, como por exemplo ter vencido o cancro, por duas vezes. Onde é que uma mulher no auge da sua carreira e, consequentemente, com tantas coisas a acontecerem em simultâneo, vai buscar forças para ultrapassar mais este obstáculo?

(em tom de brincadeira) Olha, não sei!

É uma mulher de fé?

Eu sou muito mais de acreditar num para lá das energias. Sou um bocadinho para lá do exotérico! Mas eu nunca pensei que morria! Claro que chorei, claro que disse aquilo que todos nós dizemos: “porquê a mim que não fiz mal a ninguém?” Mas, em verdade lhe digo, nunca pensei que morria. Nunca me passou pela cabeça. Quando tinha 50 anos, tive o primeiro e o outro… já não sei, já me esqueci! Sei que a seguir pus a prótese na anca e agora no joelho. Eu sou toda cosidinha a ponto cruz! (gargalhadas) Tive a sorte de não fazer quimioterapia e só queria que todas as mulheres que tiveram ou que estão para ter cancro tivessem a sorte que tive! Eu só desejo isso. Mas não sou exemplo para ninguém porque fiz radioterapia enquanto fazia uma telenovela. Naquele tempo, nunca contei a ninguém sobre a doença! Continuei a fazer a minha vida e passei isto. No dia em que deixar de ser isto, então não estou cá!

Algo que não faz só parte da sua história, mas sim da história de Portugal, foi o acontecimento de 1969, quando venceu o Festival da Canção com o êxito Desfolhada [sendo esta uma das canções que compõem o musical]. Qual é a sua opinião acerca da canção portuguesa vencedora deste ano, O Jardim, de Cláudia Pascoal?

(Afirma com um ar sereno) Pois, o jardim estava lá, mas eu não lhe senti o cheiro! (gargalhadas) Já fiz comentários a dizer que falta isto e aquilo, e penso que elas até

Simone de Oliveira: “Desfolhada”

ficaram um pouco tristes, mas é o que eu penso! Mas esta gente pensou que ia ficar classificado em que lugar? Em último. Estas músicas não têm nada a ver com o que eu gosto na música. No entanto há gente nova que eu gosto muito! Gosto muito da Beyoncé, por exemplo. O momento do ano passado foi um momento único e penso que não se repetirá tão cedo! Houve ali uma conjugação dos astros todos, estiveram nele, na beleza da melodia e na diferença de não haver nem coisas a andar de um lado para o outro, nem luzes… realmente, eu lembro-me que, quando a Rússia dá 12 pontos a Portugal, pensei: “está tudo bêbado!” (gargalhadas) Eu não sou muito de rezar, mas quando ele [Salvador Sobral] foi operado, mandei-lhe as preces todas. É um artistaço e o fundamental é que seja feliz!

Já foi jornalista, locutora de continuidade, apresentadora de concursos e programas de televisão, atriz de teatro, cinema e televisão, cantora, entre outros. Quais as razões para uma mulher tão dotada como a Simone escolher entrar em todas essas aventuras?

Foi a vida que me pôs isso de frente. Quando perco a voz a seguir à Desfolhada, perco os agudos todos e ganho esta voz maravilhosa, ainda bem que perdi aquela. Não gosto nada daquela vozinha! Naquela altura usava-se mas, se tivesse mantido aquela voz, tinha ficado a menina dos festivais! Na altura, quando perdi a voz e tive três anos sem cantar, tive a sorte de ser convidada, depois de dar uma entrevista na rádio, para fazer um programa de rádio. A vida obrigou-me e disse-me: “agora não podes ir para ali. Tens de ir para um sítio qualquer!” E eu tinha um rapaz e uma rapariga para sustentar. Houve uma coisa que me custou muito fazer! Eu fiz de locutora de continuidade do Casino da Figueira da Foz, onde recebi os prémios todos, e doeu-me as entranhas entregar bolas e bicicletas. Apresentei todos os meus colegas, de nariz no ar e a morrer por dentro, mas de pé como as árvores, porque as árvores morrem de pé. No entanto, gostei muito de fazer isso, porque foi no ano em que apresentei o Carlos do Carmo [cantor] e ele chamou-me para cantar com ele. Deu-me uma coisa má! Mais tarde, em 1973, fui ao Festival da Canção e ele perguntou-me: “estás capaz de cantar?”, ao qual eu respondi que não. Ele disse-me: “tenho uma cantiga para ti! Chama-se Apenas o Meu Povo”. Foi feito para mim naquela altura, porque a minha mãe tinha morrido, e eu fui em nome dela! Fui para o Maria Matos e dizem-me a meio do ensaio: “e se tu logo perdes a voz, o que é que a gente faz?”, ao qual respondi: “eu nunca mais vou perder a voz!”

É uma história de vida muito rica!?

Apesar de tudo o que já aconteceu, a vida tem sido extraordinária comigo e tenho obrigação de ser uma mulher feliz! Tive uns pais espantosos, tive uma infância e

A menina dos festivais

uma adolescência maravilhosas e, a seguir a isso, foi o caos total e absoluto com aquele casamento em que fugi de casa porque sofria de violência doméstica. Nem eu nem o senhor com quem estava acreditávamos que os meus pais me aceitavam de volta. Quando quis sair, o senhor trancou a porta e eu disse: “se não meu deixas sair pela porta, eu salto pela janela!” Como ele percebeu que eu saía mesmo pela janela, abriu a porta e saí. Os meus pais aceitaram-me de volta e eu olhei para o meu pai e disse: “se não me quiser aqui em casa, eu vou para a rua, mas para lá não vou outra vez!” Foi um período muito difícil. Depois disso, tive muitos mais acontecimentos na minha vida. Quando era nova, era muito brincalhona! É engraçado que eu não sou uma mulher alegre! Talvez já o tenha sido. Dizem que eu sou muito alegre, mas deve ser uma forma que tive de arranjar para ir ultrapassando as coisas todas muito complicadas que a vida me deu! A maneira era fazer rábulas de teatro com as coisas más, mas já chorei muito.

Agradece todo o carinho que as pessoas tiveram nesses momentos e que continuam a ter por si?

Sim, sim. Não tenho muitos amigos, mas valem por cem! Já me cruzei com muita gente e, como costumo dizer, só não trabalhei com o António Silva e com o Vasco Santana. De resto, trabalhei com toda a gente! Já me esqueci de letras no palco, mas nunca tive ninguém que me tratasse mal, antes pelo contrário, era tida tanto como mulher como génio. Era o “lá vai ela” como diziam por causa deste meu ar. Penso que isso teve muita força porque sou de dizer as coisas de que ninguém está à espera nos sítios mais inusitados e sou de perguntar! Quando pergunto, ao mesmo tempo tenho o meu alter ego, a Mariazinha, e ponho-me assim: “Ai Mariazinha, tu cala-te!” Eu bato-me pelas minhas ideias, mas também reconheço quando estou errada e sou capaz de pedir desculpa. Ao longo do tempo, tive de aprender a moderar-me e sou mais calma, mas sou de resposta pronta! Sou uma pessoa naturalmente bem-educada e incapaz de não corresponder à gratidão das pessoas. Sou muito grata às pessoas!

Com uma carreira cheia de peripécias e diferentes experiências, já tendo pisado palcos por todo o mundo e trabalhado com tantos artistas, hoje olha para tudo isso e sente-se uma mulher realizada profissionalmente?

Tenho uma vida cheia de coisas boas e de coisas más! Não sei muito bem o que é isso de ser uma pessoa realizada, depende daquilo que a pessoa tem na alma. É tudo tão efémero! Existem, naquele momento, as palmas e os milhares de pessoas de pé a gritar o meu nome, e eu fico assim… (pasmada) mas, depois, tenho uma coisa que, naturalmente, umas vezes joga contra mim e outras joga a meu favor: é que, depois, eu venho para casa e estou sozinha! Meto a chave à porta e não está cá ninguém. Ás vezes é mau, mas a realidade é essa! No entanto, tenho tido a sorte de receber palmas de várias maneiras! Na rua, no que as pessoas me dizem… é ótimo!

Já passei por muitos lugares. Em Monte Carlo, só duas pessoas tinham cantado lá: a Amália e eu! (gesticula) Vou sempre cantar ali com a bandeira às costas, sempre com a porcaria do hino, sempre por Portugal. Eu disse: “está bem, pronto” e Portugal foi-me pondo peso em cima! E agora, cada vez que é a Simone, é automaticamente a Desfolhada, automaticamente Portugal. Ás vezes, isso pesa! Eu não tenho o direito de errar, eu não posso errar! Em relação ao público, as pessoas (artistas) não têm dores, não têm mágoas, não têm dias em que estão menos bem… aqui é muito simples, as pessoas pintam a cara, põem o vestido, estão ali maravilhosas e cantam. E o resto? Eu estava a fazer uma comédia no dia em que faleceu a minha mãe!

Tenciona algum dia reformar-se?

Eu reformei-me aos 65 anos, só que continuo a trabalhar! Deixarei de trabalhar quando a vida me der razões. Tenho pânico de perder a memória, pois tenho uma memória de elefante, de ficar incapacitada de qualquer maneira… são as únicas razões que me farão dizer: “pronto, tenho de aceitar o que a vida me dá”. Tentarei ter a dignidade suficiente para perceber que agora é para parar. Porque do que eu tenho mais medo é de cair no ridículo! Felizmente tenho pessoas à minha volta que, se for preciso, mo dizem.

Se conseguisse voltar atrás no tempo, percorria o mesmo caminho ou tomava outro rumo?

Se houver outras vidas e eu voltar cá numa outra vida, só espero que seja tão boa como esta!

74   
80 anos atriz Entrevista Música simone de oliveira 2018-10-02
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Sandra Felgueiras: “Para mim, o jornalismo de investigação é a pedra mais preciosa de todo o jornalismo”
Da ideia à estante. Os bastidores do mercado literário português
José Alberto Carvalho: “O jornalismo é a única força que pode travar o desvario coletivo”
Margarida Davim: “O jornalismo deixou-se contaminar por lógicas imediatistas e perdeu pé”
Filipa Fonseca Silva: “Tenho várias vozes na minha cabeça que não me largam”
O regresso nostálgico de Angry Odd Kids
As Passarinhas: mais do que uma adega, uma marca cultural
José Morgado: “Portugal não tem cultura desportiva de modalidades”
A arte como meio de crescimento pessoal: “O teatro obriga-nos a ser mais empáticos”
Filipa Martins: “Tento ser honesta em cada página que escrevo”
Professores da UAL entre os vencedores do Programa Lisboa, Cultura e Media
João Mira Gomes: “A Europa não será um ator global se se fechar sobre si própria”
José Pedro Aguiar-Branco: “Um Governo sem jornais, isso nunca”
Sport Queijas e Benfica: “Somos muito mais do que um pequeno clube de formação, somos uma família”
Tiago Monteiro: “Tenho muitos objetivos em mente, mas a chama de competir continua”
Filipe Santa Bárbara: “O jornalismo deveria estar a gritar mais do que está”
O estaleiro do mestre Jaime

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